Palavras-chave: Adolescente, Internato e Adaptação Social



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Transcrição:

ADAPTAÇÃO SOCIAL DOS ADOLESCENTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO - CAMPUS VITÓRIA DE STO ANTÃO EM REGIME DE INTERNATO RESUMO: Alessandra Xavier de Morais¹ xavierdemorais@yahoo.com.br O ingresso do adolescente em um internato, principalmente quando este tem um perfil dos campi agrícolas, se reveste de especial peculiaridade. Oriundos de zona rural e filhos de agricultores, esses adolescentes vivenciam aspectos intensos em sua nova dinâmica de vida, o que é indiscutivelmente margeado por instabilidades. Então, como compreender a adaptação social dos adolescentes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco - Campus Vitória de Santo Antão em regime de internato? Usaremos como estratégias de intervenção e coleta de dados a análise dos questionários aplicados no ato do processo seletivo e grupo focal, dos quais examinaremos os registros emergentes do grupo, por adotar um caráter de dinâmica psicológica, evidenciando sentimentos e racionalidades. Adotaremos como tratamento dos dados a Análise de Conteúdo. Acreditamos que este trabalho possa desenvolver estratégias de intervenção para enfrentamento junto ao público adolescente, subsidiando diferentes profissionais de instituições de ensino que também adotam o regime de internato como regime de permanência, bem como construir uma literatura sobre adaptação social voltada para adolescentes no citado regime. Palavras-chave: Adolescente, Internato e Adaptação Social 1. INTRODUÇÃO Existe um universo de conhecimento retratando que a condição de um sujeito que vive como interno em uma instituição escolar deve ser considerada em si mesma como um aspecto relevante. A mudança de vida ocasionada por este ingresso acarreta uma série de expectativas, atitudes e sentimentos diante da sua instável e provisória

situação. Entende-se por mudança de vida aquelas demandas ou fatos intensos que acontecem na vida dos sujeitos, exigindo deles recursos específicos para enfrentá-los, garantindo o mínimo de adaptação aos mesmos. O Ateneu de Raul Pompéia (1991) ilustra muito bem a idéia de mudança de vida quando o autor inicia o romance com as ¹ Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Educação do Ensino Agrícola da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Psicóloga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco Campus Vitória de Santo Antão (IFPE). fortes palavras do pai de Sérgio: Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta. Pode-se imaginar a ruptura com a vida no universo da adolescência que se iniciava. A adolescência é, por si só, um tema delicado e que vem sendo objeto de estudos sistemáticos desde o século XVIII. Entretanto, o período denominado adolescência recebeu maior atenção na segunda metade do século XIX e no decorrer do século XX. A extensa literatura existente fornece numerosas teorias que vêm sendo desenvolvidas no sentido de explicar o fenômeno da adolescência. A palavra adolescência é derivada do verbo latino adolescere significando crescer ou crescer com maturidade. [...] a adolescência não é só o conjunto das vidas dos adolescentes. É também uma imagem ou uma série de imagens que muito pesa sobre a vida dos adolescentes. Eles transgridem para serem reconhecidos, e os adultos, para reconhecê-los, constroem visões da adolescência. (CALLIGARIS, 2000, p. 35) A adolescência não pode ser considerada somente do ponto de vista de seus conflitos e processos internos, mas também deve ser considerada biossocialmente, com a devida ênfase nos sistemas de valores em conflito e dos múltiplos papéis que precisam assumir. Stanley Hall² foi o pioneiro na introdução da adolescência como objeto de estudo da Psicologia, concebendo-a como uma fase da vida do indivíduo identificada como uma etapa marcada por tormentos. Ao se trazer uma concepção sócio-histórica que concebe o sujeito como um ser histórico, constituído nas relações sociais e, sobretudo fazendo parte de uma cultura, BOCK (2007), por sua vez, considera a adolescência como uma construção social e não como um período natural do desenvolvimento. Um ser que tem características forjadas pelo tempo, pela sociedade e pelas relações, imerso nas relações e na cultura das quais retira suas possibilidades de ser e suas impossibilidades. Um homem que está situado no tempo histórico e que terá sua constituição psíquica determinada por essa condição.

A relação indivíduo/ sociedade é vista como uma relação dialética, na qual um constitui o outro. O homem se constrói ao construir sua realidade. (Ibid., p.67) O trabalho com adolescente nos permite uma aproximação com as inquietudes naturais desta fase e, sobretudo, uma observação do seu campo social, reunindo assim ² STANLEY HALL apud MUSS (1971) questões consideradas relevantes, como a construção das relações interpessoais, as redes de vínculo com o outro e a constituição dos laços sociais. Essa experiência de ser aluno interno, principalmente em instituições de perfis agrícolas, como o das antigas escolas agrotécnicas (hoje denominadas Institutos Federais), se reveste de especial peculiaridade, visto que emergem aspectos como uma nova dinâmica de vida, o afastamento dos antigos amigos, a separação familiar e suas expectativas sobre esta nova experiência. Indiscutivelmente todo este processo é margeado por instabilidades decorrentes dessa experiência. Nossa pesquisa tem como objetivo geral compreender o processo de adaptação social de adolescentes em regime de internato, tomando como campo de investigação o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) - Campus Vitória de Santo Antão. E, em síntese, os objetivos específicos são: explorar as mudanças de vida pelos quais esses adolescentes estão passando e as estratégias de enfrentamento a essas mudanças; entender como os adolescentes lidam com a separação familiar ao ingressarem no regime de internato; compreender como se processam os novos vínculos de amizade dos adolescentes dentro do novo ambiente escolar, e avaliar a qualidade das redes de sociabilidade formadas na instituição em seu potencial adaptativo.

A pesquisa será realizada através de um estudo de caso, optando-se por uma pesquisa de base qualitativa. O total de sujeitos internos na Escola é de 180 alunos, mas só serão investigados 18 discentes, estudantes do 1, 2 e 3º anos do Ensino Médio Integrado ao Ensino Profissional do Curso Técnico em Agropecuária, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco Campus Vitória de Santo Antão. Adotaremos como critério de inclusão alunos do sexo masculino, oriundos da zona rural, com baixa condição sócio-econômica e filhos de agricultor. Entende-se por pesquisa qualitativa, aquela capaz de incorporar questões do significado e da intencionalidade [...] tomada tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas (MINAYO, 1994, p. 10). Usaremos como estratégias de investigação e coleta de dados; análise dos questionários aplicados no ato do processo seletivo da Escola e o grupo focal³. ³ Grupo Focal fundamentado em KIND (2004) que sustenta esta estratégia no conceito de grupo operativo desenvolvido por Pichon Rivière, onde o grupo focal é tomado como um grupo que se organiza em torno de uma tarefa específica, com o propósito de fornecer informações acerca de um tema anteriormente determinado. De mão do material obtido na pesquisa e do referencial teórico, adotaremos como tratamento de dados a Análise de Conteúdo, sendo entendida como conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter [...] indicadores (quantitativos ou não), uma interferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...] destas mensagens. (BARDIN, 1977, p. 42) Acreditamos que o trabalho possa apontar estratégias de intervenção neste processo de enfrentamento junto ao público adolescente, subsidiando diferentes profissionais de instituições de ensino que também adotem o regime de internato como opção de permanência, como também construir uma literatura sobre adaptação social voltada para adolescentes em regime de internato. 2. DO INTERNATO CONCEITUAL AO INTERNATO ESCOLAR AGRÍCOLA Entende-se por internato, conforme Goffman (1974, p. 11), um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levando uma vida fechada e formalmente administrada.

Como a palavra internato sempre carregou uma conotação negativa vinculada ao símbolo de punição e castigo, percorreremos para um melhor entendimento Àries (2006), que revela características do internato nos séculos XV a XVIII. Segundo o autor, os alunos jovens ou velhos eram abandonados a si mesmos: Alguns, muito raro, viviam com os pais. Outros viviam em regime de pensão, quer na casa do próprio mestre, quer na casa de um padre ou cônego, segundo as condições fixadas por um contrato semelhante ao contrato de aprendizagem. Estes últimos eram os mais vigiados, ou ao menos os mais seguidos. Pertenciam a uma casa, à família do clérigo ao qual haviam sido confiados, e nesse caso havia uma espécie de compromisso entre a educação pela aprendizagem, [...] e a educação escolar de tipo moderno. Essa era a única forma de internato conhecida. (ÀRIES, 1914 1984, p. 109) O internato assume um papel de enclausuramento e controle total, sendo visto no século XIX como um lugar ideal que oferece disciplina e educação: Os mestres tenderam a submeter o aluno a um controle cada vez mais estrito, no qual as famílias, a partir do fim do século XVII, cada vez mais passaram a ver as melhores condições de uma educação séria. Chegou-se a aumentar os efetivos outrora excepcionais dos internos, e a instituição ideal do século XIX seria o internato. (ARIÈS, 1914 1984, p. 127) Mais adiante, em sua obra, afirma que A escola confinou uma infância outrora livre num regime disciplinar cada vez mais rigoroso, que nos séculos XVIII e XIX resultou no enclausuramento total do internato. (ARIÈS, 1914 1984, p. 195). Com o intuito de se esgotar o entendimento sobre internato, faz-se necessário compreender o conceito de instituição total, segundo a ótica de Goffman (1987). Segundo ele, a instituição total é um híbrido social, parcialmente comunidade

residencial, parcialmente organização formal [...]; são estufas para mudar pessoas; cada uma é um experimento natural sobre o que se pode fazer ao eu. (Ibid., p. 22) O contemporâneo BENELLI (2002) traz um de seus artigos o modo de funcionamento das instituições totais, retratando seus efeitos na produção da subjetividade dos inseridos nesse contexto. Para ele, essas instituições, considerando o colégio interno: [...] continuam sendo utilizados como agências produtoras de subjetividade, modelando-a de acordo com o contexto institucional ao promover relações peculiares entre dirigentes e internados no conjunto de práticas institucionais. (Ibid., p. 19) No Brasil, o internato escolar agrícola teve sua existência nas instituições federais de ensino profissional, durante o período de 1934 a 1967, sob a égide do Ministério da Agricultura, ao qual estava submetido. Essas instituições ofereciam aos seus internos uma política assistencial integral, ofertando-lhes bens e serviços com o intuito de criar as mínimas condições para que esses jovens viabilizassem seus estudos, ao comportar um público predominantemente pobre e oriundo de áreas agrícolas. A partir de maio de 1967, todas as instituições federais de ensino agrícola passaram a ser de competência do Ministério da Educação, conforme o Decreto 60.731/1967, permanecendo com o mesmo caráter assistencial, porém conjugado ao modelo de ensino denominado escola-fazenda, tendo como lema aprender a fazer fazendo. Com a Lei 11.892/2008, que instituiu uma nova caracterização às escolas agrotécnicas, transformando-as em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, uma nova dinâmica organizacional é incorporada, porém em nada altera a oferta e a função social dos internatos: Há unanimidade em que o regime de Internato oportunize o atendimento aos jovens do meio rural e carentes oriundos de municípios distantes, oferecendo-lhes melhores condições de aprendizagem e constituindo um suporte indispensável para seu aprimoramento profissional. (BRASIL, SEMTEC, 1994) 3. O INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO CAMPUS VITÓRIA E O SEU PAPEL FORMADOR

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco Campus Vitória de Santo Antão (anteriormente denominada Escola Agrotécnica Federal de Vitória de Santo Antão) é uma instituição que existe há 56 anos, localizada na Zona Rural do município de Vitória de Santo Antão, no estado de Pernambuco, e tem como principal função oferecer a jovens e adultos uma formação na área agrícola, para que possam atuar como agentes de transformação e integração do meio sócio-rural, contribuindo assim para o desenvolvimento social sustentável da região bem como para a valorização cidadã do homem do campo. Como missão institucional, tal como definida no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), o Campus Vitória de Santo Antão busca pautar suas ações no sentido de ser reconhecida como uma Instituição voltada para a formação do profissional cidadão, em sintonia com as transformações por que passa o mundo moderno, pretendendo caminhar no sentido de orientar sua atuação buscando constituir-se num centro de referência para a busca de alternativas que venham contribuir de forma efetiva para a solução dos problemas inerentes aos setores agropecuários, agroindustriais e de serviços. A expectativa explicitada no PDI é formar um cidadão responsável, crítico, capaz, comprometido e consciente de seu papel na sociedade. O Campus Vitória oferece no âmbito escolar três opções de regime para a permanência dos alunos: o internato, em que o discente fica na instituição durante toda a semana (de segunda a sexta-feira), voltando para casa no final de semana; o semiinternato, que permite ao aluno almoçar na escola; e o regime externo, permitindo que o aluno saia da instituição para almoçar e retornar para o turno da tarde. Muitos destes jovens pleiteiam no momento da inscrição o regime de internato. A seleção para admissão a este regime obedece alguns critérios, acontecendo em três momentos: no primeiro, os candidatos respondem um questionário sócio-econômicocultural, no ato da inscrição; no segundo, os candidatos são submetidos a um teste de

interpretação de textos e uma redação; e no terceiro, há uma entrevista para checagem de informações e avaliação dos critérios estabelecidos pela instituição para a admissão ao regime de internato. A realização deste terceiro momento é feita com o candidato e seus familiares. Ambos são arguidos separadamente por uma equipe pedagógica da escola. Os familiares são questionados sobre os aspectos da dinâmica familiar do candidato, renda, profissão dos pais, etc; e ao candidato são perguntados aspectos relativos ao seu projeto de vida, relações interpessoais, opção pelo curso, entre outros. É interessante salientar que esta etapa da entrevista ocorre concomitantemente com o candidato e seus familiares, e que após o término da entrevista há uma confrontação das informações prestadas com os membros da equipe pedagógica para que se possa analisar a veracidade das informações prestadas e discutir com o grande grupo o perfil do candidato. É neste momento que julgamos coletivamente se o candidato é aceito no regime ou não. Aqueles que são contemplados com o regime de internato chegam à instituição no início do ano letivo, trazidos por seus familiares e recepcionados pelos servidores que compõem o Instituto. Sabemos que a oferta do internato é para muitos, condição sine qua non de permanência na escola, seja porque residem longe, seja por questões sócio-econômicas. Percebe-se que o regime de internato é um grande atrativo para as famílias pobres das regiões circunvizinhas que buscam a instrução profissional para seus filhos, agregada a função assistencial da escola, visto que a oferta desse regime oferece gratuitamente moradia e refeições, além de outros serviços ofertados pelo Instituto. CONSIDERAÇÕES FINAIS À guisa de uma conclusão, é importante salientar que a pesquisa ainda está em andamento e não temos condições de apresentar um diagnóstico definitivo sobre a compreensão da adaptação social de adolescentes em regime de internato. No entanto, através das revisões teóricas oriundas de nossa pesquisa, entendemos que a mudança de vida ocasionada pelo ingresso no internato provoca no adolescente uma demanda intensa, fruto de esforço adaptativo gerado pelo conhecimento das próprias limitações e do desejo de permanecer no Instituto, apesar de todas as dificuldades. Sabemos que essa investigação, objeto de fecundas reflexões, não se esgota, mas propicia a necessidade de continuidade com o intuito de responder e caracterizar com real clareza as questões aqui

apresentadas. Afinal, um dos papéis fundamentais do pesquisador é entender a realidade na qual está inserido e proporcionar condições psicossociais para que esses alunos internos enfrentem esse processo de modo positivo e construtivo, desenvolvendo saberes de um modo dialógico e crítico. Esse é o real desafio, caracterizado como algo contínuo, instigante e envolvente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2 edição. Rio de Janeiro: LTC, 2006. BARDIN, Laurence. Análise do Conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977. BENELLI, Sílvio José. O Internato Escolar como Instituição Total: Violência e Subjetividade. Psicologia em Estudo. Maringá, V.7, n.2, p. 19-29, Jul/Dez. 2002. BOCK, Ana Mercês B. A adolescência como construção social: estudo sobre livros destinados a pais e educadores. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), Volume 11, Número 1, p.63-76, Jan/Jun 2007. BRASIL. O internato nas Escolas Agrotécnicas Federais / MEC / SEMTEC - Brasília: SEMTEC, 1994. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002070.pdf BRASIL. Lei 11.892/08. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-10/2008/lei/l11892.htm BRASIL. DECRETO 60731/67. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/116000/decreto-60731-67 CALLIGARES, Contardo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1974. KIND, Luciana. Notas para o trabalho com a técnica de grupos focais. Psicologia em Revista. Belo Horizonte, v.10, n.15, p.124-136, Jun.2004. MINAYO, Maria Cecília de S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 15 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1994. MUSS, Rolf E. Teorias da adolescência. Belo Horizonte: Interlivros Ltda, 1971. POMPÉIA, Raul. O Ateneu: crônica de saudade. São Paulo: FTD, 1991.