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Enfoque e temáticas Estudos de história econômica costumam retomar um enfoque clássico que articula as relações entre Estado e sociedade, embora haja muitas divergências sobre a natureza dessas relações Autores como Furtado, Fausto, Fritsch, Schwartzman, Abreu, Mendonça e mais recentemente Cano, Corsi e Bastos são alguns dos estudiosos que se voltaram para a análise das mudanças sociais pós- Revolução de 30 Autoritarismo e corporativismo, industrialização e urbanização, (des)centralização do poder, trabalhismo (ou getulismo), nacionalestatismo, populismo e hegemonia e subordinação, são alguns dos temas e/ou conceitos trabalhados pela bibliografia quando o enfoque é os anos 30 no Brasil

Antecedentes da Revolução de 30 Reflexão sobre a crise política em torno do modelo carcomido da Primeira República baseado em fraudes eleitorais e na chamada política do café com leite (Casalecchi, 1987) Alguns pesquisadores (Kulgemas, 1986; Ferreira e Pinto, 2006) entendem que o movimento de outubro que culminou na Revolução de 30 foi um sintoma do fracasso, ou da dificuldade, da oligarquia cafeeira em continuar exercendo sua hegemonia no âmbito estatal

O Estado representava ou não os interesses dos cafeicultores no período anterior a 30? Contrariando Furtado (1959) e Fausto (1970), Fritsch (1985) pondera que a estratégia do governo de evitar a alta excessiva do câmbio não visava beneficiar os interesses da cafeicultura ao estimular as exportações A deterioração secular do mil-réis se deveu aos colapsos cambiais como consequência dos diversos choques externos verificados entre a última década do séc. XIX e início do XX Schwartzman (1982) também não entende o Estado republicano como um ente que representava exclusivamente uma classe ou determinados grupos sociais

Para os paulistas a política era uma forma de melhorar seus negócios; para quase todos os outros, a política era o seu negócio Fausto (1970) afirma que ao longo da década de 1920 os paulistas se viram forçados a partilhar o controle da política federal com as oligarquias dos outros estados A aliança entre os presidentes e os governadores assegurava a eleição dos deputados e senadores oficiais; aqueles indicados pela presidência e que se vinculavam à cafeicultura de SP e ao populoso estado de MG, detentor do maior n o de representantes no Congresso Nacional

Revolução de 30: causa e consequência da crise de hegemonia Com o crash da bolsa de Nova Iorque surge mais um desafio às elites políticas e econômicas do país e cujo resultado, cristalizado no novo papel assumido pelo Estado, se deu mediante a eclosão da Revolução Ao mesmo tempo em que o golpe de outubro simbolizou o deslocamento da oligarquia cafeeira do centro do poder estatal, os demais setores nele envolvidos e vitoriosos não conseguiram se legitimar no poder, tampouco forjaram um novo estado que pudesse congregar interesses tão variados

Questões, polêmicas e controvérsias A que composição de interesses sociais o Estado pós-30 veio a corresponder? Quais setores foram contemplados por sua política econômica? A polêmica na historiografia polarizou o debate em torno de duas controvérsias: entre os que identificam e os que rechaçam o caráter burguês da Revolução e entre os que caracterizam o Estado pós-30 como conservador em oposição aos que o consideram como modernizador da economia brasileira

Quatro interpretações clássicas Movimento de 30 como um movimento de classes médias ligado ao tenentismo (Santa Rosa, 1971) Ascensão da burguesia industrial ao poder público (Sodré, 1964; Diniz, 1978;) 1930 como resultante da atuação conjunta das oligarquias agrárias produtoraspara o mercado interno associadasaos militares (Fausto, 1970; Weffort, 1978) Sem se preocuparem com os agentes que realizaram o movimento revolucionário, há os que buscam entendertal processo por meio da avaliação dos beneficiáriosdo novo direcionamento dado pelo Estado à economia (Villela e Suzigan, 1973)

A tese furtadiana Furtado argumenta que a política de defesa do café (compra do excedente da produção) sustentou a renda nominal (e, portanto, a demanda) do setor exportador cafeeiro em níveis relativamente elevados No entanto, tal política agravou o desequilíbrio externo da economia que era remediado por intensa depreciação do câmbio, a qual, provocava o encarecimento dos bens importados Essa forma de enfrentar a crise, aliada a existência de capacidade ociosa em algumas indústrias (principalmente as têxteis), explicam a ascensão da produção industrial que, portanto, passou a ser o elemento central no processo de geração de renda da economia a partir de 30

Brasil: valor adicionado por setor da atividade econômica, 1928-39 (%) Período Agricultura Indústria Transportes e Comunicações Governo Total 1928/29 52,5 22,7 10 14,8 100 1930/34 47 23,9 10,3 18,8 100 1935/39 43,2 29,9 9,6 17,3 100 Fonte: Haddad, 1978, p. 160-61.