IDENTIDADE E SABERES DOCENTES: O USO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA Marilete Terezinha Marqueti de Araujo Universidade Federal do Paraná UFPR Resumo: O presente artigo apresenta o estudo exploratório inicial, da pesquisa de abordagem qualitativa, aplicada em duas escolas da Rede Municipal de Educação de Araucária, abrangendo um total de doze professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com a finalidade de investigar a identidade dos professores que utilizam as tecnologias digitais na sua prática docente. Baseando se em Azzi (2012), Charlot (2000), Marcelo (2009), Pimenta (2012) e Tardif (2002) buscou se refletir sobre os saberes necessários para a constituição da identidade docente. Os dados foram coletados por meio de questionários, e possibilitou apresentar considerações a respeito dos elementos que influenciam na apropriação e integração dos recursos tecnológicos digitais à prática pedagógica, essa compreensão permite entender a identidade profissional e os saberes necessários para que o professor possa atuar nessa sociedade contemporânea. As repostas apresentadas no estudo exploratório possibilitou identificar que os professores compreendem o uso das tecnologias como um saber importante, mas isso não significa que se apropriaram dos recursos tecnológicos disponíveis na escola, e nem que integraram tais recursos à sua prática docente. Assim, os saberes docentes estão relacionados a identidade profissional. Considerando todas as mudanças que vem ocorrendo na sociedade, principalmente em relação à apropriação e integração das tecnologias digitais, a prática docente precisa ser repensada, pois os conhecimentos e os saberes profissionais correspondem à um entrelaçamento, a uma multiplicidade de saberes, que devem dialogar com essa variedade de recursos tecnológicos existentes. O professor deve estar envolvido nessa cultura contemporânea que coloca a identidade docente e os seus saberes em constante construção, desconstrução e reconstrução. Palavras chave: Profissão docente. Saberes docentes. Tecnologias. INTRODUÇÃO: Aprender significa apropriar se do mundo, adquirir um saber, mas o aprender pode se tornar muito mais amplo na medida em que mantém relações com o mundo, assim Charlot (2000, p.60) afirma a definição do homem enquanto sujeito de saber se confronta à pluralidade das relações que ele mantém com o mundo. O sujeito de saber deve então, argumentar, verificar, experimentar, ter vontade, validar, provar, etc. Charlot (2000) ressalta a ideia de que o saber está diretamente relacionado com o sujeito, atividade que ele desenvolve, e da relação que ele estabelece com ele mesmo e com os outros sujeitos. Assim, o autor apresenta essa ideia do saber como relação, por 02571
2 isso, as diversas classificações do saber como: prático, teórico, processual, cientifico, profissional, operatório, entre outros. Pimenta (2012) também corrobora dessa classificação de saberes, mas especifica os saberes da docência, ou profissionais como colocado por Charlot (2000), são eles: a experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos. Os saberes da experiência são aqueles que os professores produzem no seu cotidiano, num processo permanente de reflexão sobre a prática. Os saberes do conhecimento são os específicos da profissão, os da produção da vida material, social e existencial da humanidade. E os saberes pedagógicos são os saberes didáticos vivenciados pelas necessidades educacionais postas pelo contexto escolar, relacionados à prática social de ensinar, é a própria ação do professor (PIMENTA, 2012). O saber pedagógico também é apresentado por Azzi (2012), que o conceitua como o saber próprio da prática docente, construído pelo professor no cotidiano de seu trabalho, é o que fundamenta toda a sua ação docente, ou seja, é o saber pedagógico que possibilita ao professor interagir com seus alunos, na escola, na sala de aula, enfim no contexto onde atua. Tardif (2002) também discute sobre os saberes docentes, e assim como Pimenta (2012) apresenta uma classificação: saberes da formação profissional, saberes disciplinares, saberes curriculares e saberes experienciais. Para Tardif (2002), a prática docente envolve uma pluralidade de saberes formado pela mistura dos saberes da formação, disciplinar, curricular e experiencial. Os saberes da formação profissional são aqueles transmitidos pelas instituições de formação de professores, dentre eles os saberes pedagógicos, que se caracterizam como concepções provenientes de reflexões sobre a prática educativa aos quais são incorporados na formação profissional dos professores. Os saberes disciplinares correspondem aos diversos campos do conhecimento, aos saberes que dispõe a sociedade, que se apresentam hoje em forma de disciplinas escolares. Os saberes curriculares correspondem aos objetivos, discursos, concepções, conteúdos e métodos que apresentam os saberes sociais selecionados pela cultura erudita. Os saberes experienciais correspondem a prática do professor, ao exercício de suas funções na prática de sua profissão, envolve o trabalho cotidiano, a prática e a experiência. Refletir sobre a identidade e os saberes docentes frente ao uso das tecnologias digitais na escola permite compreender que a prática docente é constituída por uma multiplicidade de saberes, o qual o saber tecnológico não pode ser desconsiderado. Esse 02572
3 saber tecnológico deve ser apropriado e integrado a prática docente junto com os outros saberes da profissão. CONSTRUINDO O CAMINHO DA PESQUISA O estudo realizado se inscreve numa abordagem qualitativa de pesquisa (OLIVEIRA, 2012) em educação, adotando uma metodologia de cunho exploratório com o objetivo investigar a identidade do professor que utiliza as Tecnologias Digitais na sua prática docente. O estudo exploratório possibilita uma aproximação do pesquisador com seu objeto de investigação, proporciona delimitar o tema, os objetivos e a formulação de hipóteses. Conforme Gil (1999, p.49), [...] as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Optou se pelo estudo exploratório para ser constituído como a primeira etapa de uma pesquisa mais ampla, sobre o estudo da identidade do professor que utiliza as Tecnologias Digitais na sua prática docente. A pesquisa foi desenvolvida junto aos professores que atuam em duas escolas da Rede Municipal de Educação de Araucária. Optou se como técnica para a coleta de dados o uso de questionário previamente estruturado, com questões abertas e fechadas. Esta é uma etapa inicial do estudo exploratório. Para preservar a identificação dos professores, será utilizado a letra P seguida dos números de 1 ao 5, de acordo com o ano em que atuam, e das letas em minúsculo a ou b para identificar a turma. Para relacionar com a escola em que trabalha, será utilizada a letra E seguida dos números 1 ou 2, de acordo com o número de escolas pesquisadas. A identificação do professor então, ficará como o exemplo a seguir: P1aE1 (lê se: professor do 1º ano A, atuante na escola 1). Foram distribuídos vinte questionários impressos e retornaram doze questionários respondidos, o que equivale a 60% do universo pesquisado. Todos os professores atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, assim distribuídos: quatro professores atuam no 1º ano; quatro professores atuam no 2ºano; três professores atuam no 3º ano; um (a) professor(a) atua no 5º ano. O professor que atua no 4º ano não respondeu ao questionário. Quando questionados sobre a utilização dos recursos tecnológicos digitais, os doze professores responderam que fazem parte da sua prática docente, porém nem todos justificaram como é feita essa utilização. Os dez professores que justificaram apontam 02573
4 que os recursos tecnológicos digitais: a) deixam as aulas mais interessantes e atrativas; b) apresentam diferentes linguagens; c) rompem com a linearidade, enriquecem e estimulam a aprendizagem dos alunos; d) podem ser utilizados para preparar e desenvolver as aulas. Por outro lado, os professores apontaram as dificuldades para utilizar as tecnologias digitais na escola como: a) problemas com os equipamentos; b) falta de manutenção; c) tempo das aulas. O entendimento da profissão docente, esta relacionado a identidade profissional do professor, a esse respeito os doze professores definem o ser professor articulado com diferentes elementos como: a) Formação de opinião; b) Facilitador na relação do aluno com o conhecimento; c) Um agente de transformação social; d) Um pesquisador; e) Quem trabalha com a ciência; f) Um profissional pouco valorizado (financeiro e social); g) Profissional comprometido, sério e responsável; h) Ser professor é uma arte; i) Exerce funções variadas; j) Um mediador do conhecimento. É através desse entendimento da profissão, que permite chegar a identidade, o que o professor percebe como sua prática. A identidade profissional é a forma como os professores se definem a si mesmos e aos outros. É uma construção profissional, que evolui ao longo da sua carreira docente e que pode ser influenciada pela escola, pelas políticas públicas, pelo contexto, mas que integra o compromisso pessoal, a disponibilidade para aprender a ensinar, as crenças, os valores, o conhecimento, as experiências, realidade, etc. (MARCELO, 2009). Todas essas definições englobam saberes, conhecimentos e habilidades que também foram apontados pelos professores participantes, como: a) Saberes da formação acadêmica; b) Saberes da formação continuada; c) Saberes da prática e da experiência; d) Saberes culturais; e) Saberes teóricos; f) Saberes das tecnologias; g) Saberes metodológicos; h) Saberes didáticos; i) Saberes científicos; Para Pimenta (2000) os professores têm linguagens e saberes diferentes, e, a partir da sua prática social vão se apropriando de novos saberes fazeres, assim, os professores percebem a necessidade de atualização constante, exigidas por essa cultura contemporânea. Assim como relatam os saberes necessários a sua prática, como os saberes citados pelos autores: Azzi (2012), Pimenta (2012), Tardif (2002) e Charlot (2000). Considerando essas mudanças que vem ocorrendo na sociedade, os professores responderam se o seu papel também esta mudando. Onze professores responderam que sim, acreditam que o papel do professor está mudando devido ao avanço tecnológico, as 02574
5 novas exigências e as atividades exercidas por eles. respondeu que não. E apenas um(a) professor(a) Sim. Hoje enquanto profissionais da educação, enfrentamos situações que há algum tempo atrás não enfrentávamos. A velocidade no avanço e disseminação da tecnologia pode ser considerada um fator que exige hoje do professor habilidades e posturas que antes não exigia P2aE1. Nesse contexto, o saber tecnológico esta presente no contexto escolar, de modo que influenciam na prática profissional do professor. CONSIDERAÇÕES CIRCUNSTÂNCIAIS A partir das respostas dadas pelos professores, observa se que os professores da rede municipal de Araucária ainda estão em processo de reconstrução da sua identidade para o uso das tecnologias digitais. O estudo exploratório demonstra que é preciso desvelar a tecnologia, sua natureza e especificidade para o professor, para poder ser integrada no contexto escolar como um recurso a mais para facilitar a prática docente. Esses saberes tecnológicos devem ser integrados aos outros saberes fazeres docentes, constituindo uma concepção sistêmica de saberes que influenciam na identidade docente. REFERÊNCIAS AZZI, Sandra. Trabalho docente: autonomia didática e construção do saber pedagógico. In: PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividade docente. 8ed. São Paulo: Cortez, 2012. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Tradução: Bruno Magne. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. MARCELO, Carlos. Desenvolvimento profissional docente: passado e futuro. Sísifo Revista de Ciências da Educação, Lisboa (Portugal), n. 8, p. 7 22, jan./abr. 2009. OLIVEIRA, M.M.de. Como fazer pesquisa. 4ºed. Petrópolis, Vozes, 2012. PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores: identidade e saberes da docência. In: PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividade docente. 8ed. São Paulo: Cortez, 2012. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. 02575