Relações de Gênero e Desenvolvimento Humano: a relação possível no Conselho do Orçamento Participativo de Porto Alegre ( )

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Transcrição:

Relações de Gênero e Desenvolvimento Humano: a relação possível no Conselho do Orçamento Participativo de Porto Alegre (1991-2005) Autor(es): Apresentador: Orientador: Revisor 1: Revisor 2: Instituição: ORSATO, Andréia; GUGLIANO, Alfredo Alejandro; PEREIRA, André Luis Andréia Orsato Alfredo Alejandro Gugliano Márcia Ondina Vieira Ferreira Pedro Robertt UFPel Relações de Gênero e Desenvolvimento Humano: a relação possível no Conselho do Orçamento Participativo de Porto Alegre (1991-2005) ORSATO, Andréia 1 ; GUGLIANO, Alfredo Alejandro 2 ; PEREIRA, André Luis 1 1,2 Dept de Sociologia e Política - ISP/UFPel Rua Alberto Rosa, 154, 2º piso - CEP 96010-710. andreiaorsato@yahoo.com.br 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é fazer algumas considerações acerca da participação feminina no Conselho do Orçamento Participativo (COP) da cidade de Porto Alegre no período de 1991 a 2005, no que se refere à representação de acordo com as regiões do Orçamento Participativo (OP). Ao mesmo tempo em que se busca verificar a participação das mulheres no COP, há a preocupação de averiguar a existência de alguma relação desse dado com o índice de condição de vida (ICV) e o índice de vulnerabilidade social (IVS) de cada região do OP. A presente proposta é parte de um projeto de dissertação que vem sendo desenvolvido no curso de Mestrado em Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas, no qual busca-se estabelecer uma relação entre dois temas polêmicos: trata-se de discutir a questão das relações de gênero em espaços de democracia participativa. No que se refere às questões de gênero, é preciso sublinhar que apesar do processo de desinstitucionalização do patriarcado ocorrido ao longo do século XX, as discriminações e desigualdades de gênero permanecem (Therborn, 2006). Foram importantes algumas conquistas do movimento feminista que, a partir dos anos 60, trouxe a tona a categoria gênero como objeto de análise, pensando-a como uma construção social imposta sobre o dado biológico. Se num primeiro momento gênero foi empregado para reescrever a história sob uma ótica feminista, em seguida, ele passa a designar a relação entre homens e mulheres. (Ferreira, 2006; Scott, 1990). Desde essa redefinição muitos são os estudos acadêmicos voltados à perspectiva de gênero, embora venham sendo realizados com algumas resistências

maiores ou menores dependendo da área do conhecimento. Nas Ciências Sociais, destaca-se o fato de que, especificamente em relação à participação política, tomadas de decisão e esfera pública, muitos estudos vêm sendo realizados. No entanto, a grande maioria destas análises se refere à participação das mulheres nos espaços em que a democracia representativa proporciona, a qual exclui da possibilidade de representação e mesmo de participação amplos segmentos sociais, entre eles as mulheres. Sabendo dos limites da democracia representativa em incorporar tais segmentos, o estudo que vem sendo desenvolvido, busca pensar as relações de gênero a partir da formulação de uma concepção não-hegemônica de democracia (Santos & Avritzer, 2005), destacando-se o debate a respeito da democracia participativa, que tem na noção de participação seu conceito fundamental (Gugliano, 2004). Na prática, o Orçamento Participativo da cidade de Porto Alegre tem sido considerado uma das experiências de democracia participativa mais existosas e reconhecidas, não só a nível nacional, mas também internacional, tendo recebido uma série de prêmios concedidos por organismos internacionais. A proposta do Orçamento Participativo de Porto Alegre consiste em democratizar a gestão pública local desde o prisma do processo de elaboração e definição das prioridades de investimento público da referida cidade. Para tanto, o processo de elaboração da proposta orçamentária do município, prerrogativa exclusiva do Executivo para depois ser encaminhada à Câmara de Vereadores, busca a participação popular por meio de assembléias que são realizadas nas dezesseis regiões em que a cidade foi subdividida e em seis eixos de discussão temática, momento no qual são definidas as prioridades de investimento em cada região. Nessas assembléias também são escolhidos os delegados do Orçamento Participativo e os representantes do COP, principal instância de discussão e fiscalização das deliberações aprovadas nas assembléias. Cabe ao COP a elaboração de critérios de distribuição de investimentos entre as regiões e o controle do orçamento municipal (Menegat & Almeida, 2004, p.204). Fazem parte do COP: a) dois titulares e dois suplentes de cada regiões; b) dois titulares e dois suplentes de cada temática; c) um titular e um suplente do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA); d) um titular e um suplente da União de Associações de Moradores de Porto Alegre (UAMPA); e) dois representantes do governo: um da Coordenação das Relações com a Comunidade (CRC) e outro do Gabinete de Planejamento (Gaplan), ambos sem direito a voto. No presente trabalho se analisa apenas a representação feminina no COP vinda das regiões do Orçamento Participativo, tentando estabelecer uma relação inicial entre número de mulheres, ICV e IVS de cada região. 2. METODOLOGIA A metodologia utilizada nesse estudo consistiu na identificação dos conselheiros e das conselheiras de cada região do OP (Porto Alegre - 1991 a 2005), a partir de listas disponibilizadas pelo poder público da cidade. Além disso, a relação entre número de mulheres - transformada em índice de participação feminina (IPF) - ICV e IVS de cada região do OP, foi estabelecida com base nos dados do Mapa da Inclusão e Exclusão Social de Porto Alegre divulgado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre em 2004. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esse trabalho ao partir de uma análise comparativa entre os índices agregados de ICV e IVS e participação feminina no COP (1991-2005), pretendeu buscar uma relação, em última análise, com os índices de desenvolvimento humano utilizados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Sendo assim, ICV 1 e IVS 2, são indicadores que se complementam na medida em que, o primeiro, diz respeito aos avanços obtidos por todos os segmentos sociais, e o segundo, leva em conta a situação de privação/exclusão, ou seja, de desvantagem social de amplas camadas da população. Tomando por base territorial as regiões do OP, observa-se a seguinte relação com o ICV: Tabela 1 Classificação das regiões do OP com base no ICV. Alta Media Baixa Muito baixa Centro Noroeste Norte Nordeste Cruzeiro Lomba do Pinheiro Humaitá/navegantes/ilhas Restinga Eixo baltazar Extremo Sul Partenon Glória Centro sul Leste Cristal Sul Fonte: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2004, p.37. No que se refere ao IVS e a relação com as regiões do OP chega-se à seguinte classificação: Tabela 2 Classificação das regiões do OP de acordo com o IVS. Baixa Alta Muito alta Centro Norte Nordeste Noroeste Humaitá/navegantes/ilhas Cruzeiro Cristal Restinga Extremo Sul Lomba do Pinheiro Leste Glória Partenon Eixo Baltazar Centro sul Sul Fonte: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2004, p.43. De acordo com os dados levantados, para o período 1991-2005, foram identificados 927 conselheiros regionais, dos quais, 63,6% são homens e 36,4% mulheres. A partir desses resultados, criou-se um índice de análise, no qual os percentuais de participação das mulheres no COP, em cada região do OP, acima de 1 O ICV é o resultado da análise dos indicadores: renda; educação; longevidade; infância e adolescência e condições habitacionais. 2 O IVS, por sua vez, é o produto obtido da análise dos seguintes indicadores: renda; educação; longevidade; vulnerabilidade infanto-juvenil e habitação.

50% significa uma alta participação feminina, de 40% a 50% média, 30% a 40% baixa e, menos de 30% uma participação muito baixa, como se verifica a seguir. Tabela 3 Classificação das regiões do OP de acordo com o índice de participação feminina (IPF) no COP (1991-2005). Alta Média Baixa Muito baixa Humaitá/Navegantes/Ilhas Noroeste Leste Lomba do Pinheiro Nordeste Norte Restinga Cristal Partenon Glória Eixo Baltazar Centro Cruzeiro Sul Centro-Sul Extremo-Sul Fonte: Elaboração Grupo de Pesquisa Processos Participativos na Gestão Pública. Com base nos dados acima apresentados, pode-se extrair algumas tendências na participação feminina no COP de acordo com as regiões do OP e os índices ICV e IVS. Assim, observa-se que as regiões que tem alto e médio ICV e baixo IVS tendem a manter um IPF no COP, médio, exemplo mais evidente é o caso da região Centro. As regiões que apresentam, de forma combinada, baixo e/ou muito baixo ICV e alto/muito alto IVS tendem a manter uma participação feminina no COP, classificada de acordo com o parâmetro acima definido, baixa. São exemplos as regiões Leste, Cruzeiro, Centro Sul, Extremo Sul. Além disso, é possível verificar que as regiões que apresentam muito baixo ICV e muito alto IVS, ou seja, regiões de grande desigualdade e exclusão social, a tendência é que aja um aumento no IPF, à exceção da região Lomba do Pinheiro. O caso mais significativo é o da região Nordeste que passa a ter, juntamente com a região Humaitá/Navegantes/Ilhas o melhor IPF no COP. 4. CONCLUSÃO A partir dessas informações é possível verificar, num primeiro momento, o baixo percentual de mulheres que fizeram parte do COP (1991-2005). Mais do que ilustrar a histórica exclusão das mulheres da esfera pública, fruto da construção social dos usos legítimos dos corpos (BOURDIEU, 1999), esse resultado denota que ainda há muito que se avançar nas relações de gênero no campo da democracia, especialmente da democracia participativa. Num segundo momento, fazendo referência à relação ao IPF, ICV e IVS das regiões do OP, o trabalho apresentou algumas tendências dessa relação, mas que, no entanto, como se trata de um estudo inicial ainda precisa ser mais bem detalhada para então ser possível chegar a um resultado definitivo e notar as possíveis implicações de tais índices na participação feminina na maior instância de fiscalização, implementação e visibilidade do processo participativo de Porto Alegre. 5. BIBLIOGRAFIA BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 160p. FERREIRA, Márcia Ondina Vieira. Da necessidade de tornar visíveis os gêneros e as sexualidades na escola. Reflexão e Ação. Santa Cruz do Sul. v.14, n.1, p.79-93, jan./jun. 2006

GUGLIANO, Alfredo Alejandro. Democracia, participação e deliberação. Contribuições ao debate sobre possíveis transformações na esfera democrática. Civitas, Porto Alegre, v.4, n 2, jul-dez.2004, p.257-283. MENEGAT, Rualdo & ALMEIDA, Gerson. Orçamento Participativo: decisão nasmãos dos cidadãos. In:. (orgs.) Desenvolvimento Sustentável e Gestão Ambiental nas cidades. Estratégias a partir de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p.203-217. PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal. Gabinete do Prefeito. Secretaria do Planejamento Municipal. Mapas da inclusão e exclusão social de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre/ Gabinete do Prefeito/ Secretaria do Planejamento Municipal, 2004, 102p. SANTOS, Boaventura de Sousa, & AVRITZER, Leonardo. Introdução: para ampliar o cânone democrático. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Democratizar a democracia. Os caminhos da democracia participativa. 3 edição Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p.39-78. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre, n.16. p. 5-22. jul/dez. 1990. THERBORN, Göran. Sexo e Poder: a família no mundo, 1900-2000. São Paulo: Contexto, 2006, 510p.