REVIVENDO TÉCNICAS E PROFISSÕES NA VOZ DE PERSONAGENS E NO ACERVO DO CURSO TÉCNICO DE ELETRÔNICA DO CEFET-MG



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Transcrição:

1774 REVIVENDO TÉCNICAS E PROFISSÕES NA VOZ DE PERSONAGENS E NO ACERVO DO CURSO TÉCNICO DE ELETRÔNICA DO CEFET-MG Paulo Cezar Santos Ventura 1 Márcia da Mota Jardim Martini 2 Cláudia França 3 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais RESUMO Neste trabalho pretendemos focalizar um pouco da história do curso técnico de Eletrônica, mostrando, com isso, alguns pontos da trajetória do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), instituição com quase cem anos (desde 1909, com a criação, por decreto presidencial, das Escolas de Aprendizes Artífices) de serviços prestados à sociedade, seja na formação de técnicos, seja no desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias, seja na discussão de políticas educacionais visando o desenvolvimento técnico e tecnológico de Belo Horizonte e Minas Gerais: 1º - o CEFET-MG e o curso técnico de Eletrônica na fala de alguns professores, antigos e novos; 2º - o processo de industrialização da região metropolitana de Belo Horizonte, área de atuação dos profissionais formados nesse curso; 3º - a organização e contextualização do acervo, numa tentativa de construção de espaços museográficos mesmo que transitórios; 4º - tudo isto se concretizando através de uma exposição sobre a história da eletrônica, dentro de um contexto de recontar e registrar a história das técnicas e das profissões. O curso técnico de Eletrônica do CEFET-MG teve início em 1969, e coincide historicamente com a chegada de equipamentos para as oficinas de eletrônica e eletrotécnica, equipamentos esses hoje obsoletos, mas constituem boa parte do acervo encontrado nos depósitos do CEFET-MG. Esses equipamentos vieram doados pelo MEC, através de acordos comerciais com países do Leste Europeu. Eles têm, por si, uma história à parte. A existência desse acervo e de outros equipamentos, narradores de uma evolução da eletrônica no mundo, levou-nos a investigar a história do curso de Eletrônica, a evolução da eletrônica desde o surgimento da tecnologia das válvulas até as modernas pesquisas em nanotecnologia, o papel da instituição como formadora de mão de obra especializada para atender ao crescente parque industrial da cidade de Belo Horizonte. Para essa pesquisa usamos os seguintes procedimentos metodológicos: 1º - para conhecer o CEFET-MG e o curso técnico de Eletrônica, utilizamos uma metodologia da história oral privilegiando entrevistas semidirigidas, documentadas em áudio e vídeo. Entrevistamos professores, ex-professores e ex-alunos do curso técnico de Eletrônica, identificados entre personagens que vivenciaram e vivenciam o cotidiano da instituição. 2º - Uma pesquisa documental e bibliográfica nos arquivos da Biblioteca da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), para conhecer o processo de industrialização da região metropolitana de Belo Horizonte, em particular o avanço da indústria e da produção de materiais e equipamentos eletro-eletrônicos área de atuação dos profissionais formados pelo curso técnico de Eletrônica; 3º - Levantamento de objetos materiais e imateriais que compõe o acervo da instituição no que tange à história da eletrônica e do curso técnico de eletrônica assim como a catalogação, 1 pcventura@deii.cefetmg.br 2 marciamjmartini@yahoo.com.br 3 claudia@antares.pro.br

1775 organização e contextualização desse acervo, numa tentativa de construção de espaços museográficos mesmo que transitórios. Como resultados importantes da pesquisa estamos concebendo uma exposição sobre a história da eletrônica, dentro de um contexto de recontar e registrar a história das técnicas e das profissões, desde o surgimento das válvulas até as modernas pesquisas em nanoeletrônica. Além da exposição, estamos editando um livro que pretende registrar não apenas o trabalho de concepção da mesma mas também um pouco da história da evolução de técnicas, tecnologias, profissões, e da inserção do CEFET-MG na história da educação tecnológica e na história da cidade de Belo Horizonte. TRABALHO COMPLETO 1. INTRODUÇÃO O CEFET-MG é uma instituição de ensino técnico e profissional em nível médio e superior, participante da história da educação tecnológica e da história de Belo Horizonte, tendo contribuído enormemente para a formação de mão de obra especializada para a cidade, fundada em 1897. O CEFET-MG, criado em 1909 como Escola de Aprendizes Artífices, tem quase cem anos de serviços prestados à sociedade em diversos aspectos, seja na formação de técnicos, seja no desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias, seja na discussão de políticas educacionais visando o desenvolvimento técnico e profissional em Belo Horizonte e Minas Gerais. Apesar dessa inserção na história da cidade de Belo Horizonte, a instituição não tem uma tradição de organização de registros de seus documentos históricos e de conservação de seu acervo. Mesmo os lugares de memória passíveis de serem constituídos, encontram-se esquecidos e com o acervo acumulado nesses anos totalmente descaracterizados e espalhados em locais não apropriados. A Escola de Aprendizes Artífices se transformou em Liceu Industrial de Belo Horizonte, depois em Escola Técnica de Belo Horizonte, então Escola Técnica Federal de Minas Gerais, finalmente Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, desde 1978. Durante toda essa centenária trajetória vários cursos foram criados, alguns existiram por uns tempos e se extinguiram, como o curso técnico de Joalheria, técnicas e profissões sofreram mutações diversas (MARTINI, VENTURA e PEREIRA, 2005). Entre os cursos existentes atualmente, alguns surgiram ainda na década de 1950, como o curso técnico de Eletrônica, após a doação, pelo Ministério de Educação, de equipamentos oriundos de países do Leste Europeu em conseqüência de acordos comerciais entre o Brasil e aqueles países. 2 Um pouco da história do CEFET-MG na fala de professores e ex-alunos A Escola de Aprendizes Artífices foi fundada em 1910, por decreto presidencial para dar formação técnica para os desfavorecidos da fortuna, conforme consta no texto do decreto.... porque é uma instituição dinâmica, ela não pára em momento algum, (...) ela avança por si só, porque ela tem uma sinergia dada por pessoas que no primeiro momento acreditou nesta instituição, que ela poderia ser grande, que ela poderia cumprir a sua missão, que era aquilo que pensaram em propor na legislação de 1910, escola para atender os desafortunados, aqueles que não tem riqueza, sem acesso a condição nenhuma para trabalhar. Uma escola criada para pegar e dar um caminho, uma integração social (Prof. Carlos - aposentado) Esta característica de ser uma escola voltada para a formação técnica, em um país que valoriza principalmente a formação acadêmica, serviu como ascensão social para os filhos de família de classe baixa, vindos da periferia da cidade de Belo Horizonte, mas que carregam um orgulho e um sentimento de

1776 pertencimento a uma categoria de cidadãos que valorizam o trabalho e a possibilidade de crescer profissionalmente, ter uma profissão e trabalhar na indústria. Com isso eu tenho em mim uma característica, uma personalidade cefetiana (Prof. Carlos - aposentado). E na sociedade aí fora, quando você fala que é técnico do CEFET, principalmente mais antigamente, o pessoal elogiava: Ah! Você é do CEFET, isso é muito bom. Então, isso tem muito respaldo e muito respeito fora do CEFET, os cursos técnicos do CEFET. E hoje quando eu falo que sou professor do CEFET-MG as pessoas admiram, oh! que legal, que coisa boa, as pessoas têm respeito por você, por ser professor do CEFET. (Prof. Marcos) Eu posso afirmar com certeza que a Escola Técnica foi a grande experiência de estudante da minha vida, foi onde eu realmente, talvez numa fase de transição, em que eu comecei a me sentir como um profissional em condições de estar no mercado e foi quando eu comecei a procurar emprego como estudante da Escola Técnica e tive o prazer de conseguir... É curioso isso, né, um estudante do terceiro ano da Escola Técnica, já tendo habilidade para poder dar aula de Desenho Arquitetônico em uma escola de alto nível que era o Pitágoras... foi a época que, realmente, eu percebi que eu tinha condições de ser um bom profissional (Paulo - ex-aluno). A então Escola Técnica de Minas Gerais se transformou em Escola Técnica Federal de Minas Gerais, por iniciativa do Presidente da República Juscelino Kubitscheck de Oliveira, passando a ocupar um prédio projetado pelo arquiteto Oscar Niemayer. Eu me lembro então, o dia que a Escola Técnica mudou para o prédio novo, o prédio que nós temos hoje, o principal do CEFET. Juscelino Kubitscheck de Oliveira era então o presidente da república e veio inaugurar o prédio da nova Escola Técnica de Belo Horizonte, que passou de lá pra cá, para o prédio novo da Avenida Amazonas. Juscelino não era muito alto, era de meia estatura, discursando e falando que ele sabia que aquele era o caminho necessário para os jovens do Brasil estudarem (Prof. Carlos - aposentado). Com a inauguração do novo prédio e a chegada dos equipamentos do leste europeu, criou-se o curso técnico de eletrônica. E o interessante na história do CEFET-MG, é que o curso de eletrônica na minha opinião, foi feito depois que o novo convênio do CEFET-MG com o leste europeu aconteceu. O CEFET-MG ganhou equipamentos e o

1777 pessoal quando viu os equipamentos, viu que era de eletrônica. Então, abriu o curso de eletrônica 4 (Prof. Ari). Os equipamentos eram a válvula, grandes, pesados, embora funcionais e resistentes. Com esses equipamentos formou-se toda uma geração de técnicos, que serviram à ainda incipiente indústria de materiais eletro-eletrônicos da região de Belo Horizonte. Dos equipamentos à válvula até a chegada dos equipamentos digitais, uma longa trajetória foi percorrida. A demanda maior era por manutenção em multímetros, e esses multímetros que a gente tinha, eram multímetros a válvula. O pessoal aí mais antigo lembra dele, chama RB24. Inclusive ele é do leste, é um multímetro excelente. Assim, ele durou aqui mais de 30 anos em funcionamento, dava manutenção de vez em quando, mas ele agüentava trabalhar no laboratório. Era um multímetro analógico a válvula, eletrônico a válvula (Prof. Marcos) Tem muitos equipamentos recentes aqui, que vieram do leste (europeu). Uns servem muito, trabalham muito, mas tem muitos equipamentos que não tem serventia nenhuma, vem novo, vai para prateleira e na prateleira fica, porque alguém pediu, especificou o equipamento, mas essa pessoa que pediu não usa e ela provavelmente, não tem experiência de sala de aula, de laboratório, acaba que o equipamento ficando em desuso. Então, a gente tem muito isso aí, equipamentos novos, mas sem uso nenhum (Prof. Marcos). A gente recebeu mais ou menos em 85, 86 multímetro digital que pesava aí 50Kg, desse tamanho. Então, não tinha nem como a gente colocar isso em cima das bancadas. Eram muito velhos. Muito interessantes para a gente ver a evolução tecnológica. Inclusive, esse multímetro digital era a relé, então, quando você o ligava, você ouvia os relés batendo lá dentro e os displays eram válvulas eletrônicas, os filamentos eram os números. Então uma válvula de display, ela tinha uns dez números dentro dela. Cada número era um filamento (Prof. Marcos). Na minha opinião, o CEFET contribui muito para a sociedade. O CEFET-MG é uma alavanca que vai forçando o desenvolvimento tecnológico dessa região (Prof. Marcos). 3. A indústria eletro-eletrônica em BH 4 Nota de esclarecimento: Os equipamentos citados foram doações feitas pelo MEC a várias instituições do país, equipamentos esses permutados por insumos agrícolas entre o Brasil e vários países do Leste Europeu.

1778 Caminhando para o futuro... O Anuário das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG, 1955), trás um quadro publicitário da Philips, em forma de prognóstico. Nele aparece a foto de um menino de terno com um cachimbo na boca, aparentemente realizando dificílimos cálculos matemáticos em um quadro de sala de aula. A foto vem acompanhada de um texto que nos diz: talvez um dia este homenzinho venha a ser um engenheiro especializado em eletricidade ou eletrônica e que talvez trabalhe para esta companhia. Diz também, que ele ficará empolgado diante do mundo melhor que a ciência pode proporcionar, ao desenvolver complexos circuitos eletrônicos de acordo com especificações do próprio engenheiro. O menino, conforme o texto, atingirá, então, seu objetivo o desenvolvimento de novas aplicações eletrônicas para a ciência e a indústria. Esse mesmo exemplar cita o Decreto Lei Nº 778, de 1941, que criou a Cidade Industrial de Contagem, berço de nossa então embrionária indústria eletrônica. Localizada a 11,5 Km da capital mineira, a Cidade Industrial se beneficiou por estar dentro do triângulo rodoviário Federal, no eixo Rio - Belo Horizonte - Brasília. Na matéria intitulada Cidade Industrial Centro do Progresso da revista (FIEMG, 1964), encontramos um perfil de seu desenvolvimento no ano de 1963. Os tipos de indústria que nela se instalaram eram de alimentação, construção e de mobiliário, fiação e tecelagem, químicas e farmacêuticas, metalúrgica, mecânica e de material elétrico, empresas de transporte e indústrias diversas em número menor, que não se enquadravam nas demais. A escassez de técnicos em Minas Gerais Para Diniz (1955), professor Catedrático da Faculdade de Ciências Econômicas da UMG, hoje UFMG, a crescente industrialização, a implantação de indústrias de base e os progressos técnicos e científicos mais recentes no Brasil naquele momento, não condiziam com a formação do número de profissionais e técnicos dentro de nossos centros de formação. O relato, citado por ele, das Missões Técnicas Brasileiro- Americanas, que estudaram o país durante a segunda guerra mundial, ilustrava bem a situação. Os setores e estabelecimentos de ensino que julgávamos suficientes, satisfatórios ou modelares na formação de profissionais em geral, se apresentaram deficientes e inadequados para satisfazerem as necessidades de progresso mais rápido, produtividade mais elevada e conseqüente melhoria do padrão de vida da população. Os especialistas dessas missões, segundo Diniz, sugeriram ao nosso Governo tornar o ensino secundário gratuito, criar Universidades Técnicas, cursos profissionais e vocacionais, de especialização, diminuir o tempo dos cursos de nível superior, criar cursos de extensão, especialização e aperfeiçoamento para professores, promover o intercâmbio com o exterior, entre outros, com o objetivo de acelerar o processo de industrialização, elevar nosso poderio econômico e elevar o padrão de vida do cidadão. Segundo Diniz (1955), tanto a produção quanto a produtividade, seja ela agrícola ou industrial, não acompanhou de maneira satisfatória o crescimento populacional e sua concentração nos grandes centros. Essa situação se agravava com a falta de mecanização da lavoura, a rotina dos processos e técnicas de trabalho, a falta de mão-de-obra qualificada, a crise de energia elétrica e, finalmente, o baixo rendimento da força de trabalho e da produção em geral. Além desse fator, mesmo com um número crescente de técnicos e profissionais especializados, o Estado de Minas Gerais assistia a emigração desses trabalhadores atraídos por parques industriais tecnologicamente mais avançados e com melhores salários. A solução era transformar a estrutura produtiva de Minas Gerais de área produtora de matérias-primas e produtos coloniais em uma estrutura com uma economia mais avançada, complexa e produtiva. A nascente indústria eletrônica O setor produtivo do Estado se concentrava, nas décadas de 1950 e 1960, na siderurgia, na metalurgia, nas refinarias de petróleo e na geração de energia. Percebe-se, pela análise dos dados disponíveis da época,

1779 que não havia uma distinção entre produtos do setor elétrico e do setor eletrônico. Os produtos relacionados à tímida indústria eletrônica mineira se encontravam classificados como produtos da indústria de materiais elétricos. O Diagnóstico da Economia Mineira publicado pelo BDMG em 1968, considera em um mesmo grupo a indústria mecânica e a indústria de material elétrico, contando com um sub-grupo constituído de material elétrico e material de comunicações. Esse sub-grupo se refere à fabricação de lâmpadas, aparelhos elétricos e materiais de comunicações. Os produtos desse sub-grupo são divididos em geradores e alternadores, transformadores, motores de corrente contínua e alternada, disjuntores, chaves e controles, aparelhos de segurança, válvulas eletrônicas, televisão, rádios e fonógrafos. Apesar da inexpressividade do setor, houve um crescimento de produção de 102,1% no período de 1961 a 1965 (BDMG, 1968). A RCA foi inaugurada em 1957, na Cidade Industrial. De acordo com dados da revista Vida Industrial de 1964, essa empresa produziu o seu primeiro milhão de válvulas eletrônicas em 568 dias, o quarto milhão em 157 dias, o sétimo em 137 dias e o décimo em 84 dias. Empregava 98% de mão-de-obra nacional totalizando 390 empregados. Nesta época sua produção atingia a casa dos 13 milhões, que representavam 42% do mercado consumidor brasileiro e ela se encontrava em condições de exportar para os países da América Latina, fechando negócios com o México em torno de 4 milhões e 800 mil cruzeiros (sic) (FIEMG,1964). Essa situação fez dessa empresa pioneira na venda de produtos brasileiros para o mercado comum latinoamericano. A excelente qualidade de suas válvulas eletrônicas a colocou em condições favoráveis de competição com similares vindos dos Estados Unidos e Japão. Nesse mesmo ano de 1957, a Escola Técnica de Belo Horizonte foi inaugurada em seu novo prédio do Bairro Nova Suíça, transformando-se, dois anos mais tarde, em Escola Técnica Federal de Minas Gerais. O curso técnico de Eletrônica, criado em 1969, veio imediatamente compor os quadros profissionais dessa nascente indústria eletrônica. 4- O acervo: contextualização e organização. Toda essa história da nascente e dinâmica indústria eletrônica em Belo Horizonte, a instalação da Escola Técnica próxima da Cidade Industrial de Contagem, bem como a criação do curso técnico em eletrônica, nos legou um rico acervo material presente nos objetos e um rico acervo imaterial presente na memória daqueles que a vivenciaram. Os objetos do acervo da instituição possuem bastante significado e são carregados de lembranças de vida, de histórias, de escutas, de estudo, trabalho e lazer. Eles integram os lugares de memória construídos entre o passado e o presente, entre o comportamento de antes e o de depois. As tecnologias mudam, a eletrônica muda da válvula ao transistor e aos microprocessadores, mas a escuta, o ouvido ao pé do rádio, permanece, os lugares de memória permanecem....isso é importante, porque o tempo passa, a história vai ficando para trás e vai ficando esquecida e quando a gente assusta, é, a gente não tem nada registrado. Eu digo isso por experiência própria (Prof. Cenísio - aposentado). Como resultado, temos uma série de entrevistas com personagens participantes dessa história, gravados em vídeo e editados em cd-rom, fotos de acervo, o início de uma organização dos espaços museográficos, uma discussão teórica sobre a finalidade e a importância da pesquisa sobre a história das técnicas e profissões na trajetória da instituição. Eu fiz o ginásio industrial de Marcenaria, (...). Então, eu sinto pena por não ver nenhuma das cadeiras, das poltronas e dos estofados que a gente fez. Essas poltronas ocuparam muitos lugares no CEFET depois, com o

1780 tempo, acharam que estavam feias e jogaram fora (Prof. Carlos - aposentado).... materiais de fundição que vieram, tinha solda, alumínio para fazer as peças, modelos. Máquinas, eu lembro da tornearia que estava lá, que quando mudou para cá, recebeu material do leste europeu, da Rússia, material da Alemanha. Equipamentos que para nós era uma verdadeira relíquia (Prof. Carlos - aposentado). A cultura é concebida como modos, formas e processos de atuação dos homens na história, onde ela se constrói. Está constantemente se modificando mas, ao mesmo tempo, é continuamente influenciada por valores que se sedimentam em tradições e são transmitidos de uma geração para outra. Partindo do pressuposto que a tecnologia influencia os modos de construção cultural, principalmente através dos meios de comunicação, que nos últimos anos passaram por uma verdadeira revolução tecnológica. Isso vem gerando novas relações sociais, transformando a cultura e colocando novos desafios e necessidades aos indivíduos, principalmente no que concerne aos conceitos de tempo e de espaço (MEDEIROS, 2005). Segundo Medeiros (2005), entende-se como cultura científica e tecnológica o conjunto complexo de valores, comportamentos, linguagens, hábitos e relações sociais característicos de nossa sociedade tecnológica. A sua importância está relacionada com a possibilidade de o indivíduo agir socialmente, a partir de um conhecimento científico e tecnológico do qual ele se apropria e desenvolve a sua identidade dentro desta sociedade. Construir conhecimento implica um processo de atribuição de significado às informações coletadas. Ao mesmo tempo, as informações que hoje circulam, frente à experiência e ao conhecimento antecedente do sujeito ou de uma comunidade, podem ser organizadas, sistematizadas, inseridas no contexto de vida desse sujeito ou comunidade, tornando-se significativas a eles. Dessa forma, os conhecimentos são transformados ao mesmo tempo em que transformam os sujeitos que os produziram, pois abrem espaços para outras significações, para novas perspectivas de conhecimento e ação, e também para novas questões, para novas áreas, que vão produzir novas discussões, negociações e debates (BONILLA, 2002). As novas tecnologias de comunicação impõem novos discursos, de imagens, luzes e cores. Essas novas formas são um desafio de criação de espaços de aprendizagem formais ou não-formais. Escolas e outros ambientes, como os museus, estão em busca da construção de suas identidades com autonomia para atender toda essa gama de necessidades guardando suas vocações, com profissionais diferenciados (NASCIMENTO e VENTURA, 2001). O primeiro passo dado em direção à organização do acervo foi o levantamento de parte dos bens patrimoniais da instituição. Localizamos, identificamos, quantificamos e selecionamos alguns dos objetos e artefatos que compõem o acervo e a memória histórico-institucional, numa proposta de reconhecimento, recuperação e exposição dos mesmos, dentro de um contexto museográfico e museológico, referendando a importância da evolução das profissões no desenvolvimento de Belo Horizonte. O segundo passo foi a criação de Espaços Museográficos provisórios, para evitar perdas irreparáveis dos acervos iconográficos, bibliográficos e documentais do CEFET-MG. Percebemos, então, a importância da manutenção desse acervo para a continuidade do patrimônio tecnológico, histórico e cultural da instituição. O terceiro passo está sendo a concepção de exposições, dentro da temática reviver técnicas e profissões em diversas áreas, iniciando pela área de eletrônica. A tarefa principal da equipe do projeto é distinguir as mudanças mais significativas no processo de apropriação e construção de significados com relação ao acervo, interpretá-las e criar respostas adequadas para elas. O importante é que a organização do acervo tenha objetivos de curto prazo, como o desenvolvimento de um Museu Virtual e de cenários de exposição. Enquanto que, em longo prazo, deve-

1781 se garantir que a organização dos Espaços Museográficos que se adaptem e continuem evoluindo, criando ambientes dinâmicos de divulgação e apropriação de uma cultura material e tecnológica. Essa criação de significados é feita retrospectivamente (só podemos dar sentido às ações ou aos fatos que já ocorreram). Então devemos criar significados e identificar fatos recorrentes, de modo a dar sentido aos objetos e artefatos, e ao próprio espaço museográfico, tornando-os claros e previsíveis para o visitante que se identifica com o discurso das exposições. A disposição do acervo cria significados para cada informação conseguida, organiza e processa as informações de modo a gerar novos conhecimentos por meio do aprendizado, garantindo a aplicação desse conhecimento, desenvolvendo a capacidade de aprendizagem criativa e adaptativa (CHOO, 2003). 5 - A exposição sobre a história da eletrônica Para a execução de parte desse projeto empregamos uma metodologia da história oral privilegiando entrevistas semidirigidas, documentadas em áudio e vídeo e levantamento de imagens e documentos do setor de patrimônio da instituição. Estamos identificando personagens que vivenciaram e vivenciam o cotidiano da instituição para a produção de depoimentos orais. A história oral reforça a idéia de que por meio da escuta das pessoas e dos registros de suas lembranças e experiências, poderemos interpretar a história, as sociedades e a cultura. A história oral abrange tanto a análise das sociedades mais amplas como das vidas individuais (VON SIMSON, 2000). Ela une ao mesmo tempo a análise de ambas. No mais, dividimos a abordagem metodológica em estudos sobre a memória, o acervo e os espaços de memória e espaços museográficos. I - Memória Documentos textuais: Consulta em documentos oficiais como: registros, atas, grades curriculares, planos de aula, livros-texto, manuais, dados estatísticos da instituição, etc. e outros documentos como jornais e revistas. Documentos Iconográficos: Cultura material ou iconográfica são fontes não verbais autônomas: pinturas, imagens fotográficas, filmes, vídeos, móveis, artefatos, equipamentos, instrumentos. Depoimentos orais: Depoimentos que registrem a história de vida de indivíduos, focalizando suas memórias pessoais a fim de construir uma visão mais dinâmica do funcionamento das várias etapas da trajetória do grupo social (no caso, o CEFET-MG) ao qual; pertencem. Muitas dessas memórias são chamadas de subterrâneas porque ficam à margem da história oficial. II Acervo Após a pesquisa nos documentos textuais, iconográficos e transcrição dos depoimentos orais, como apresentado acima, passamos a uma definição do acervo com o qual trabalharemos tanto nos espaços da memória, quanto nos espaços museográficos, tendo em vista as concepções de exposições permanentes e temporárias. A seqüência dos trabalhos será, portanto: Busca dos bens materiais da instituição; Restauração destes bens materiais; Análise do potencial sócio-histórico dos bens materiais; Organização do acervo em reserva técnica; Fichamento técnico dos bens materiais e imateriais; Organização de exposições de parte do acervo.

1782 III Espaços Em primeiro lugar, fizemos uma pesquisa cenográfica em torno de espaços museográficos pré-existentes no CEFET-MG (como um espaço existente no Campus VI, Laboratório de Mecânica no Campus I, Prédio da Engenharia de Produção Civil e o LACTEA no Campus II), e propomos a construção de espaços próprios para um museu institucional. Paralelamente, estamos fazendo pesquisas arquitetônicas e cenográficas que possam juntar idéias da museologia e da museografia afins com a proposta de um museu aberto e em construção e mutações constantes, que poderá contar com espaços diferenciados e dispersos nos vários espaços institucionais. Como resultado dessa busca estamos organizando uma exposição Fragmentos da história da eletrônica e do Curso de Eletrônica no CEFET-MG. A exposição aborda o tema da história da eletrônica desde as primeiras válvulas até a pesquisa em nanoeletrônica que ainda se processa nos laboratórios de pesquisa do mundo. Essa exposição faz parte de um grande projeto na verdade um ponto de partida que se caracteriza pela capacidade de agregar fragmentos da história e da realidade da Instituição em sua trajetória quase centenária, tendo como eixo centralizador a concepção e construção de espaços museográficos e de cenários de exposição de objetos e do acervo institucional. Incluímos aqui: o estudo dos objetos técnicos enquanto elementos de comunicação de uma cultura material; a reconstrução da memória institucional através da caracterização dos lugares de memória; a inserção da instituição na evolução das técnicas e tecnologias e na história da cidade de Belo Horizonte; a influência do CEFET-MG na vida social, familiar e profissional dos mineiros, etc. 7 Conclusão: a história das técnicas e das profissões em exposição As páginas da revista Vida Industrial nos permitiram perceber uma indústria emergente em Minas Gerais, crescendo lentamente ao longo de suas três primeiras décadas e concentradas principalmente nas riquezas naturais do Estado. Outros setores que se destacaram foram a construção civil e a fabricação de móveis. Nota-se a forte presença de indústrias de transformação de base, e a quase ausência de indústrias de ponta desenvolvedoras de tecnologia. A indústria eletrônica da época se fazia representar pela RCA, empresa multinacional, que notoriamente fez a diferença em termos de tecnologia e produção industrial, e colocou o Estado em condições de exportar. Cinqüenta anos se passaram e ainda discutimos as questões relacionadas à educação profissional, seja pela LDB 9.394/96, seja pelo decreto 2.208/97 ou pelos decretos posteriores a esse. O país busca reformar seu sistema educacional para melhor formar e qualificar o trabalhador e atingir graus satisfatórios de desenvolvimento econômico. A mesma angústia do professor universitário de cinco décadas atrás permeia ainda hoje nossa sociedade que anseia por melhorar a qualidade de vida do cidadão brasileiro. A eletrônica, através da revolução das tecnologias da informação nos últimos trinta anos do século XX, se transformou em um dos principais elementos que fazem a mediação e o desenvolvimento de ciência e tecnologia. Talvez a Philips em seu anúncio já previsse tudo isso. Assim, depois de todo esse tempo, já teríamos atingido as condições ideais de desenvolvimento almejadas por Diniz (1955) em seu artigo. Talvez já estivéssemos familiarizados com a ciência e os avanços tecnológicos. Talvez, fazendo referência ao anúncio, talvez um dia. 8. Referências Bibliográficas BDMG, Diagnóstico da Economia Mineira, BDMG, Belo Horizonte, 1968.

1783 BONILLA, Maria Helena Silveira. Escola aprendente: desafios e possibilidades postos no contexto da sociedade do conhecimento. Tese de doutorado - Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador BA, 2002. CHOO, Chun Wei, A Organização do Conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. Editora Senac, São Paulo, 2003. DINIZ, em FIEMG, Vida Industrial, FIEMG, Belo Horizonte, 1955. FIEMG, Vida Industrial, FIEMG, Belo Horizonte, 1955. FIEMG, Vida Industrial, FIEMG, Belo Horizonte, 1964. MARTINI, Márcia M.J., VENTURA, Paulo C. S., PEREIRA, Bernadetth M., A História da Educação Tecnológica em Belo Horizonte no Contexto da Criação da Capital Mineira. Apresentado em III Congresso Mineiro de História da Educação, São João Del Rei, 2005. MEDEIROS, Zulmira, A produção de redes sociotécnicas na sociedade da informação: um estudo sobre o portal da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, dissertação de mestrado em Educação Tecnológica, CEFET-MG, Belo Horizonte, 2005. NASCIMENTO, Silvania S. e VENTURA, Paulo C. S., Mutações na construção dos museus de ciências. Revista da faculdade de Educação/UNICAMP, PRO-POSIÇÕES, vol. 12, n. 1, Campinas, 2001. VON SIMSON, O. Memória, cultura e poder na sociedade do esquecimento, coletânea de arquivos, fonte e novas tecnologias: questões para a História da Educação, organizada por Luciano Mendes de Faria Filho, Campinas, Autores Associados, 2000.