ESCOLAS SEGURAS Um direito de todas as raparigas. ESCOLAS SEGURAS Nov 07



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Transcrição:

ESCOLAS SEGURAS Um direito de todas as raparigas

As escolas são lugares onde as crianças devem aprender e crescer. No entanto, muitas raparigas em todo o mundo vão para a escola receando pela sua segurança, temendo humilhações e tratamento violento, esperando simplesmente superar mais um dia. As escolas reflectem a sociedade em que se inserem. As mesmas formas de violência que as mulheres sofrem ao longo da sua vida física, sexual e psicológica estão presentes na vida de muitas raparigas nas escolas. Diariamente, as raparigas são agredidas no caminho para a escola, são gozadas e insultadas pelos seus colegas, humilhadas devido à propagação de rumores difamatórios que circulam boca a boca, através dos telemóveis ou da Internet. Algumas são ameaçadas de abusos sexuais pelos estudantes mais velhos, são alvo de propostas sexuais por parte dos professores em troca de notas mais altas, e são até violadas dentro das escolas. Ainda existem raparigas que são alvo de agressões físicas em nome da disciplina. A violência sobre as raparigas tem lugar dentro e à volta de muitas instituições educativas no mundo inteiro. É inflingida não só pelos professores, como também pelos empregados das escolas, colegas e até estranhos. O resultado é que cada vez mais se assiste a um número incalculável de raparigas que não frequentam, abandonam, ou que não participam plenamente nas actividades escolares Em países onde existe guerra, há raparigas que são raptadas por grupos armados, e algumas são feridas ou mortas no caminho para a escola ou quando as escolas são alvo de ataques. A exploração e abusos sexuais são problemas comuns das raparigas que vivem em campos de refugiados ou em áreas de abrigo para deslocados internos. INFÂNCIA ROUBADA, EDUCAÇÃO PERDIDA Crianças albanesas na sala de aula. A escola foi atingida durante uma ofensiva Sérvia e os alunos têm aulas sem aquecimento ou electricidade. REUTERS/Yannis Behrakis

É frequente as autoridades responderem à violência nas escolas com a inacção. Em muitos casos, fazem-no devido às lacunas na lei nacional ou nas políticas escolares. Quando uma rapariga faz queixa de um incidente de violência, especialmente de violência sexual, é mais comum que seja julgado o seu comportamento, do que a pessoa que é acusada do crime. Não há justificação para a inacção oficial. O Estado e os seus funcionários - professores e autoridades escolares - devem prontamente investigar as queixas de abuso, impor sanções apropriadas aos agressores, apoiar as vítimas de violência para que recuperem das suas mazelas físicas e emocionais, tomando medidas que assegurem que esses abusos não se repetem. Se a violência contra as raparigas na escola fica impune, os estudantes apreendem que a violência contra as raparigas e mulheres é aceitável, e que as agressões cometidas pelos homens são norma. A discriminação contra as mulheres e raparigas sai reforçada. A educação é um direito humano, e assegurar o acesso à educação sem violência é responsabilidade do Estado. Ao abrigo do direito internacional, o Estado deve assegurar, como minímo, o acesso universal à educação primária. Essa obrigação não pode ser cumprida se as raparigas não se sentirem seguras na escola. O incumprimento destas obrigações não pode ser justificado pela falta de recursos. Quando os Estados falham nesta matéria, falham sobretudo devido à sua falta de vontade política. DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA Duas meninas regressam a casa em Murhison, uma área rural na pronvíncia de Natal, na África do Sul. Um grande número de violações sexuais ocorre nas escolas ou no caminho de e para a escola. Estes crimes são frequentemente cometidos por pessoas da confiança das meninas, muitas vezes pelos próprios professores. O país debate-se com um crescente número de violações e abusos sexuais de crianças. Per-Anders Pettersson/Getty Images Algumas raparigas enfrentam um maior risco de serem vítimas de violência nas escolas, devido à sua identidade. As raparigas lésbicas, por exemplo, experienciam sexismo e homofobia, e são mais frequentemente sujeitas a assédio sexual e ameaçadas de violência sexual do que as

raparigas heterossexuais. As raparigas com deficiência enfrentam os mesmos problemas de sexismo e discriminação devido ao seu estado físico, tornando-as alvo de chacota, abusos físicos e violência sexual. Sofem níveis mais altos de violência do que as raparigas sem deficiência, e as formas de violência experienciadas acabam por ser mais graves e acentuadas. Outros aspectos da identidade das raparigas como o estatuto de migrantes, orfãs ou refugiadas, a sua situação como portadoras de HIV, a sua casta, etnia ou raça, são factores que fazem aumentar o risco de abuso e moldam a natureza da experiência de violência. A violência contra as raparigas na escola é tanto um produto das atitudes discriminatórias como uma consequência do tratamento negligente e falta de controlo dos comportamentos hostis. Uma intervenção prévia é vital. Os professores devem conter o clima hostil gerado pelos abusos verbais - um clima que muitas vezes conduz a ataques físicos. SOFRER AS CONSEQUÊNCIAS A violência tem um efeito devastador nas raparigas. Não só lhes causa medo, dor e sofrimento, como também a diminuição da sua auto-estima, mau rendimento escolar, doenças sexualmente transmissíveis, gravidezes indesejadas e depressão. Quando a violência interfere ou acaba com a educação de uma rapariga, as implicações para o seu futuro vão desde a perda de oportunidades de emprego à dependência financeira. A falta de educação aumenta a probabilidade das raparigas se casarem em tenra idade, o que acarreta riscos tanto de saúde como de bem-estar; de serem alvos de tráfico; e de virem a morrer durante o parto. A interrupção da educação de um elevado número de raparigas possui ramificações devastadoras não apenas para elas, mas também para a sociedade. A educação é a chave para quebrar os ciclos de violência e pobreza. Contudo a falta de segurança dentro e fora das escolas está a minar as tentativas de capacitar as raparigas de escaparem de situações violentas e saírem do ciclo de pobreza. A violência contra as raparigas nas escolas reforça os estereótipos e perpetua a discriminação de género nas gerações futuras. Transmite a ideia de que a violência contra as raparigas e mulheres é inevitável e que uma educação segura para as raparigas não é prioridade.

PORQUE É QUE NÃO POSSO IR À ESCOLA? Custos com a Educação AP Photo/Gurinder Osan Muitas raparigas de famílias pobres não têm acesso, ou tem acesso reduzido, ao ensino, incluindo o ensino primário, devido aos custos associados à educação que simplesmente não estão ao alcance das posses das suas famílias. Segundo o direito internacional o ensino primário deve ser gratuito para todos. A legislação internacional também obriga os Estados a desenvolver esforços no sentido de tornar o ensino secundário gratuito. Apesar destas disposições, muitas escolas em todo o mundo cobram propinas. Os custos com a educação são um obstáculo inultrapassável para muitas crianças, e é muito comum que as raparigas sejam mais facilmente excluidas da escola que os rapazes, quando o dinheiro não abunda. Muitas vezes estes custos são descritos como contribuições voluntárias para suprir despesas com livros, materiais ou exames. Mesmo em escolas onde não existem tais custos, as raparigas e as suas famílias têm que suportar outras despesas associadas à educação, como o transporte, fardas ou materiais escolares. Quando os custos com a educação são exorbitantes, as raparigas podem ser levadas a procurar soluções para arranjar o dinheiro que precisam. Algumas destas práticas envolvem relacionamentos sexuais com homens mais velhos que lhes dão presentes e dinheiro.

A pobreza também leva a que as famílias procurem casar as suas filhas muito cedo. As raparigas que casam jovens tem menos probabilidades de continuar os seus estudos. PROVOCAÇÕES, PERSEGUIÇÕES E BULLYING As perseguições e provocações verbais são comuns nas escolas. As raparigas que são mais altas ou mais baixas que as outras, que são de uma etnia diferente, que são pobres, deficientes, menos femininas ou que se diferenciam das outras de alguma forma podem ser alvos particulares de insultos, agressões, provocações e de bullying. As provocações podem ser por si só uma violação da dignidade e segurança das raparigas, e se não forem travadas podem assumir outras proporções, podendo atingir a violência fisica, emocional e sexual. As provocações sexuais são consideradas inócuas pela maior parte dos rapazes, mas para as raparigas alvos dessas situações podem ser intimidatórias e degradantes. As formas de assédio habituais como os boatos e a exclusão social têm vindo a ser relacionadas com o cyberbullying. Alguns indivíduos usam os telemóveis e a internet fazendo-se passar por outras pessoas, para expor informações pessoais de forma difamatória ou difundir rumores falsos. No ciber espaço, este tipo de violência pode manifestar-se no anonimato, com um receio mínimo de punição e com uma grande audiência, não apenas nos dias de escola como também aos fins-de-semana. Comportamentos agressivos em escalada O assédio dentro ou fora das escolas é diminuído por alguns professores e funcionários que o encaram como inofensivo. Contudo, pode passar de uma brincadeira a algo mais sério. Antes de se tornar fisica e psicologicamente perturbador e destruidor, algo tem de ser feito. Esses comportamentos devem ser travados e devem ser promovidas alternativas. Quando há episódios de assédio sexual na escola que não são condenados, com o tempo, passam a ser considerados como parte das normas sociais e as gerações seguintes acabam por considerar a violência contra as mulheres aceitável. É compreensível que as raparigas não denunciem os incidentes de violência, se temem ser tratadas de forma injusta, serem ridicularizadas ou perceberem que não serve de nada a sua denúncia. Se os agressores puderem cometer crimes sem serem punidos, a prática de violência continuará.

Desde a provocação às agressões, todas as formas de violência contra as raparigas são negativas e podem potencialmente interromper os estudos dessa jovem, privando-a do seu direito à educação, assim como o seu direito a não sofrer violência. A EDUCAÇÃO É A CHAVE PARA TRAVAR O HIV HIV, SIDA E EDUCAÇÃO Uma organização no Quénia - Dolphin Anti-Rape And Aids Control Outreach - ensina às crianças o que é a violação sexual e como se podem defender. Mais de 30.000 meninas já receberam esta formação no país inteiro. Paula Allen A educação é um elemento fundamental para travar a propagação do HIV e da SIDA. Segundo estimativas da Campanha Mundial para a Educação, a educação básica universal poderia prevenir 700.000 novos casos de HIV por ano. Todos os seres humanos têm direito a disfrutar do mais elevado padrão de saúde possível, o que inclui o direito à educação e informação sobre a saúde. As escolas não só proporcionam informação sobre a saúde a crianças e adolescentes, como os capacitem para compreender esta informação e agir em conformidade. Quando a violência que as raparigas sofrem nas escolas, as leva a abandonar os estudos e a não participar nas actividades escolares, impede-as de adquirir uma educação que reduza a sua vulnerabilidade ao contágio do HIV. O HIV é uma das consequências do problema da violência sexual sobre as raparigas. O abuso sexual acarreta perigos como a contracção do HIV, a discriminação posterior ao contágio, bem como o retorno a casa por imposição familiar. A actividade sexual forçada e as relações sexuais são também a causa de numerosas complicações na saúde reprodutiva.

Durante os conflitos armados, muitas raparigas vêm-se privadas da educação, além de serem vítimas de outrio tipo de violações de direitos humanos. Algumas são recrutadas à força para prestar serviços sexuais aos combatentes. Em muitos conflitos armados recentes, observa-se uma violência sexual generalizada contra mulheres e raparigas, seguida de índices muito elevados de infecção com HIV. Em muitos países, professores especializado dão formação sobre o HIV e aspectos relacionados com a doença. A educação nesta matéria é fundamental para por fim aos casos de transmissão da doença. SEM DESCULPAS, SEM EXCEPÇÕES E SEM DEMORAS Paula Allen A Amnistia Internacional reconhece a determinação das raparigas em todo o mundo em aceder à educação. A organização pede a todos os Estados para que actuem de imediato para cumprir os seus compromissos internacionais de tornarem as escolas espaços acessiveis e seguros para as raparigas. Pede também às autoridades governamentais e às escolas que, com o apoio dos pais, líderes comunitários e ONG, implementem os seis passos para acabar com a violência sobre as raparigas nas escolas:

SEIS PASSOS PARA ACABAR COM A VIOLÊNCIA SOBRE AS RAPARIGAS NA ESCOLA 1. Proibir todas as formas de violência contra as raparigas, incluindo castigos corporais, ofensas verbais, assédio, violência física, abuso emocional, bem como violência e exploração sexual. Promulgar e aplicar leis apropriadas, políticas e procedimentos 2. Tornar a escola segura para as raparigas através de planos nacionais de acção para combater a violência nas escolas. Estes planos devem incluir orientações para as escolas, formação obrigatória para professores e alunos, bem como a designação, pelo governo, de um funcionário responsável e um adequado financiamento público. Assegurar que as escolas tenham casas de banho e balneários separados para rapazes e raparigas, dormitórios seguros e áreas de recreio e campos desportivos com supervisão. 3. Dar resposta a incidentes de violência contra as raparigas através de mecanismos de denúncia, confidenciais e independentes, investigações eficazes, processos penais, quando apropriado, e pelo fornecimento de serviços de apoio a vítimas e sobreviventes. Assegurar que todos os incidentes de violência contra as raparigas são reportados e registados, e que quem seja condenado por violação, assédio sexual ou outras ofensas criminais contra as crianças, não seja empregado em escolas. 4. Providenciar serviços de apoio a raparigas que foram alvo de violência, incluindo aconselhamento; tratamento médico; informação sobre HIV/SIDA, medicamentos e serviços de apoio; informação sobre direitos sexuais e reprodutivos; e apoio à reintegração das raparigas no sistema escolar que são portadoras de HIV, estão grávidas, são casadas ou mães. 5. Remover as barreiras de acesso à escola para as raparigas através da eliminação de todos os custos, directos e indirectos, no acesso à escola primária, tornando as escolas secundárias acessíveis para todos, e desenvolvendo programas para garantir o acesso de raparigas oriundas de grupos marginalizados. 6. Proteger as raparigas de abusos através do desenvolvimento e aplicação de códigos de conduta para todos os funcionários escolares e estudantes. Treinar o

pessoal escolar através de intervenções precoces para combater o assédio e a violência contra as raparigas na escola. Stuart Freedman/Panos Pictures