SÍNDROME VESTIBULAR PERIFÉRICA ASSOCIADA A LESÃO EM NERVO FACIAL EM ARARA CANINDÉ (Ara ararauna) RELATO DE CASO

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Transcrição:

SÍNDROME VESTIBULAR PERIFÉRICA ASSOCIADA A LESÃO EM NERVO FACIAL EM ARARA CANINDÉ (Ara ararauna) RELATO DE CASO LEANDRO MENEZES SANTOS 1 ; LÍVIA AJUL MIYASATO 2 ; THYARA DE DECO SOUZA 3 ; MARIANA ISA POCI PALUMBO 4 ; ERIC SCHMIDT RONDON 5 ; 1 Médico veterinário, Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos animais UFMS/FAMEZ. Campo Grande/MS. Email: mvet.leandro@gmail.com 2 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária UFMS/FAMEZ. Campo Grande/MS. Email: Lili_bmd@hotmail.com 3 Professora disciplina de Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Silvestres UFMS/FAMEZ. Campo Grande/MS. Email: thyara.deco@yahoo.com.br 4 Professora disciplina de Clínica Médica e terapêutica de Pequenos Animais da UFMS/FAMEZ. Campo Grande/MS. Email: mariana.palumbo@ufms.br 5 Professor disciplina de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da UFMS/FAMEZ. Campo Grande/MS. Email: eric.s.rondon@ufms.br Resumo: O trauma cranioencefálico pode acontecer depois de algum tipo de queda, atropelamento, esmagamento, pancada ou ainda acidente balístico. A amplitude dos sinais depende da extensão do dano, podendo causar sangramento no ouvido médio ou interno. A síndrome vestibular periférica é caracterizada por desvio lateral da cabeça (ipsolateral à lesão), nistagmos e perda de equilíbrio, podendo estar associada à paralisia do nervo facial, devido à proximidade anatômica das estruturas envolvidas. Diversos fatores podem causar isolamento, fragmentação de ambientes e forçar populações de animais a procurar outras áreas, além de centros urbanos, aumentando a probabilidade de colisão da fauna silvestre com automóveis e outros objetos. O objetivo desse trabalho é relatar um caso de síndrome vestibular periférica induzida por trauma e lesão de nervo facial em arara canindé (Ara ararauna) devido existir pouca literatura sobre a espécie. Palavras-chave: Trauma craniano; Animais silvestres; Psitacídeos; Neurologia. SYNDROME VESTIBULAR PERIPHERAL ASSOCIATED TO OF INJURY FACIAL NERVE IN ARARA CANINDÉ (Ara ararauna) - CASE REPORT Abstract: Cranioencephalic trauma may happen after a fall, car crash, crush, knock or bullet accident. The magnitude of signals depends on the trauma extension, causing ear bleeding. Peripheral vestibular syndrome is described as lateral head shift ( ipisilateral to the injury), nystagmus and balance reduction that can be related to facial nerve paralysis, because it s near to surrounded structures. Many factors may cause enclosure, enviroment splintering so this may force population and also animals to look for other áreas, urban centers, increasing the probability of colision among wild fauna, vehicles and other objects. The aim of this Project is to relate a case of peripheral vestibular syndrome and facial nerve injury in caninde macaw (Ara ararauna), because there is little literature of the specie. Keywords: Head trauma; Wild animals; Parrots; Neurology. INTRODUÇÃO Várias pesquisas relatam o impacto de estradas sobre o ambiente terrestre e até aquáticos, incluindo dispersão de plantas nativas e exóticas, atração e repulsão da fauna, problemas envolvendo drenagem e erosão, poluição do ar com gases e poeira, emissão de ruídos e alteração nos níveis de luminosidade. Estradas e rodovias podem causar Anais do 38º CBA, 2017 - p.2077

isolamento e fragmentação de ambientes e forçar populações de animais a cruzá-las. Tal fato aumenta a probabilidade de colisão da fauna com automóveis e busca por alimentos em centros urbanos, que cada vez mais, traz edifícios maiores e mais altos contribuindo como obstáculo para diversas aves (Trombulak & Frissell, 2000; Carley et al., 2016). O aumento da população humana gera uma crescente demanda por alimentos, bens e serviços, que muitas vezes são limitados. Isto tem provocado a abertura de novas áreas para a produção de alimento e novas alternativas de combustíveis e energia. O resultado desse desenvolvimento não sustentado é que muitos ambientes naturais estão sendo fragmentados, descaracterizados ou perdidos. Nesse caminho, diversas espécies estão sofrendo com a diminuição das populações rumo à extinção. Araras, periquitos, papagaios e outras aves da família dos psitacídeos estão nessa situação. Na região Neotropical, é um dos grupos de aves mais ameaçados de extinção, devido, principalmente, à ação combinada de captura para o tráfico e perda de habitat. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil é o país mais rico do mundo em biodiversidade e também em espécies da família Psittacidae, incluindo as araras (Guedes, 2009). A ordem psittaciforme é constituída por 78 gêneros e 332 espécies das quais 72 ocorrem no Brasil que é considerado o país mais rico em representantes da família psittacidae, motivo pelo qual foi conhecido no século XVI como Terra dos papagaios (Brasilia sirve terra dos papagallorum) (Sick, 1997). A fisiopatologia do traumatismo craniano é dividida em alterações primarias e secundárias. As primárias incluem lesão do parênquima cerebral (contusões, lacerações e lesão axonal) e lesão vascular (hemorrgiaas, edemas e hipoperfusão); as secundárias se constituem de reações químicas desencadeadas pelas alterações primárias e que contribuem para o aumento da pressão intracraniana e maiores danos ao SNC (DEWEY, 2000). O sistema sensorial responsável por manter o equilíbrio do animal em relação ao campo gravitacional da Terra, e ainda por ajustar o posicionamento dos olhos, pescoço, tronco e membros durante os movimentos da cabeça, conhecido como sistema vestibular, está dividido em duas componentes funcionais: a componente periférica, composta pelo nervo craniano vestibulococlear (VIII) e os seus recetores sensoriais localizados no ouvido interno, e a componente central, composta pelos núcleos e vias vestibulares localizados no tronco cerebral e cerebelo. Ocorrendo alterações em alguma destas componentes, o animal desenvolve um conjunto de sinais clínicos que caracterizam a chamada síndrome vestibular (GONÇALVES, 2016). Os cuidados sanitários e o tratamento de patologias em animais silvestres têm sido pauta de muitos estudos e ganhado bastante importância em pesquisas e inovações científicas. (Dahroug et al., 2009). Sendo assim, o objetivo desse trabalho tem como importância o relato de síndrome vestibular periférica associada a lesão em nervo facial em arara Canindé (Ara ararauna). RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital Veterinário FAMEZ/UFMS, um animal da espécie Ara ararauna, conhecido como Arara-canindé, adulto, pesando 720g, com histórico de colisão em um carro há 1 dia. Ao exame físico o mesmo apresentava-se alerta, porém Anais do 38º CBA, 2017 - p.2078

com dificuldade para apoiar os membros e caminhar. As penas na região ao redor do canal auditivo estavam sujas de sangue. O animal apresentava desvio lateral de cabeça (Head tild) para o lado esquerdo e tendência de quedas para este mesmo lado. O reflexo palpebral do lado esquerdo estava ausente, com ptose palpebral e presença de coágulo em ouvido médio. Foi realizado exame radiográfico de crânio evidenciando presença de coágulo em bula timpânica. Foi administrado Cetoprofeno (5mg/kg) por via intramuscular, sendo fornecido por via oral nos dias seguintes, além de suporte nutricional e térmico. Devido à dificuldade na alimentação o mesmo veio a óbito 4 dias depois do ocorrido. DISCUSSÃO Dahroug et al. (2009) observou a importância do tratamento de animais silvestres, envolvendo o aprendizado da grande variância existente entre os aspectos anatomofisiológicos, a adaptação de tratamentos utilizados em pequenos animais e, principalmente, contribuir com a luta na preservação de animais silvestres ameaçados de extinção, oferecendo boas condições para esses animais manterem sua reprodução e assim a perpetuação da espécie. Apesar da dimensão extrema do problema, existem soluções disponíveis hoje, que pode reduzir a mortalidade de aves, sem sacrificar padrões arquitetônicos. Uma forma prática e decorativa de evitar colisões é afixar nas vidraças desenhos de aves predadoras de pássaros, como falcões, ao vê-los as aves desviam sua rota de vôo, além de pintá-las de outras cores ou deixar crescer trepadeiras confundindo as mesmas (Carley et al., 2016). O traumatismo craniano contundente é bastante comum em aves de vida livre, bem como animais de companhia. O trauma ocorre à noite quando uma ave entra em pânico e voa em uma parede que o cerca ou se as aves voam em janelas ou espelhos, podendo permanecer no local do acidente, deprimido, com lateralização de cabeça, andar em círculos ou paresia de uma asa ou perna, associado ou não a presença de sangue na boca, ouvidos ou câmara anterior ou posterior do olho. Anisocoria e resposta pupilar à luz pode estar presente e convulsões podem ocorrer se a ave é perturbada (TROMBULAK & FRISSELL, 2000; CARLEY et al, 2016). Os sinais clínicos apresentados pelo animal deste relato são compatíveis a síndrome vestibular periférica, que é caracterizada por desvio lateral da cabeça (ipsilateral à lesão), nistagmos e perda de equilíbrio, podendo estar associada à paralisia do nervo facial, devido à proximidade anatômica das estruturas envolvidas, podendo ser caracterizado por ptose do pavilhão auricular, ptose palpebral e flacidez labial (superior e inferior) (BORGES et al., 2003; FANTINI, 2012; NEGREIROS, 2012). O exame foi compatível com síndrome vestibular periférica pois o animal apresentava nível de consciência normal e os outros nervos cranianos avaliados estavam normais. Através do exame neurológico, é possível prever a localização das lesões e diferenciar em síndrome vestibular periférica, central, e ainda dentro desta em paradoxal. Esta diferenciação é importante, uma vez que vai determinar qual a lista de diagnósticos diferenciais, o plano de diagnóstico a seguir e também porque o prognóstico está intimamente relacionado com o tipo de síndrome apresentada, assim como a terapêutica (GONÇALVES, 2016). Alguns pacientes podem apresentar escoriações faciais, hematomas ou hemorragia secundária ao trauma. Em casos de fraturas de bula timpânicas podem ser Anais do 38º CBA, 2017 - p.2079

vistos ruptura da membrana timpânica e sangue no canal auditivo (NEGREIROS, 2012). O animal deste relato apresentava sangue, porém a avaliação radiográfica não evidenciou fraturas. Exames de imagem são sempre indicados em pacientes com trauma craniano se estiverem estabilizados e em condições de serem manipulados, contidos ou sedados para a realização dos mesmos. As radiografias do crânio geralmente não revelam injúrias cerebrais, mas podem evidenciar fraturas ósseas, sendo indicada a tomografia computadorizada como exame de eleição para aqueles pacientes com trauma craniano grave (NEGREIROS, 2012) Existindo hemorragia na região dos núcleos vestibulares no tronco cerebral, é possível que os núcleos adjacentes também tenham sido afetados sendo encontrados déficits neurológicos relativos a lesão dos nervos cranianos trigêmeo, abducente e facial. Padrões de arritmia e respiração errática desenvolvem-se a partir de lesões da ponte e da medula oblonga. A marcha e as reações posturais estarão anormais podendo o paciente apresentar-se tetraplégico ou hemiplégico (NEGREIROS, 2012; GONÇALVES, 2016)). CONCLUSÃO Conclui-se que animais silvestres estão predispostos a acidentes automobilísticos que podem resultar em traumas cranianos. Este relato descreve a associação de síndrome vestibular periférica de origem traumática com paralisia de nervo facial em arara-canindé (Ara ararauna). REFERÊNCIAS BORGES, A.S.; NICOLETTI, J.L.M.; THOMASSIAN, A.; BANDARRA, E.P.; ANGELI, A.L.; Doença vestibular periférica decorrente de osteoartropatia temporoioídea em um equino. Ciência Rural, Santa Maria, v.33, n.3, p.579-582, maijun, 2003. CARLEY, J.R.; KLEM, D.; LAPP, A.; BRADSHAW, B.; DEL ROSARIO, H.; HONG, J.; The Bird-Friendly Best Practices Glass. Toronto, 2016, 52p. DAHROUG M.A.A., TURBINO N.C.M.R., GUIMARÃES L.D., JUSTINO C.H.S., SOUZA R.L. Estabilização de fratura de rádio e ulna em tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Acta Scientiae Veterinariae. 37(1): 65-68, 2009. DEWEY, C.W. Emergency management of the head trauma patient: principles and practice. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v 30, n. 1, p. 207-225, 2000. FANTINI, P.; TEIXEIRA, R.B.C.; PYLES, M.; FERREIRA, D.O.L.; GONÇALVES, R.C.; AMORIM, R.M.; THOMASSIAN, A.; VULCANO, L.C.; BORGES, A.S. Síndrome vestibular periférica e paralisia de nervo facial associada à fratura basoesfenóide em eqüino. Abraveq - Associação Brasileira de Veterinários de Equideos. 2012. GONÇALVES, C.N.C.B. Síndrome vestibular em animais de companhia: estudo retrospetivo de 29 casos clínicos. Dissertação de mestrado. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária, Lisboa. 2016. 113p. GUEDES, Neiva Maria Robaldo Sucesso reprodutivo, mortalidade e crescimento de filhotes de araras azuis Anodorhynchus hyacinthinus (Aves, Psittacidae), no Pantanal, Brasil/ Neiva Maria Robaldo Guedes. Botucatu: [s.n.], 2009. 135p. Anais do 38º CBA, 2017 - p.2080

NEGREIROS, D. D. O. Síndrome vestibular em cães e gatos. Faculdade de Veterinária. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2012. 127p. SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 862. TROMBULAK, S. C. AND FRISSELL, C. A.Review of Ecological Effects of Roads on Terrestrial and Aquatic Communities. Conservation Biology, 14: 18 30p. 2000. Anais do 38º CBA, 2017 - p.2081