LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA: AS CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

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Transcrição:

LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA: AS CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Resumo Diego de Souza Moreira¹ UFJF Grupo de Trabalho Didáticas: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: CAPES Esse trabalho apresenta resultados preliminares de uma pesquisa que está sendo desenvolvida junto ao Mestrado Profissional em Ensino de Física na Universidade Federal de Juiz de Fora. O objetivo principal da pesquisa fundamenta-se na compreensão de como o ensino de Ciências pode apresentar contribuições ao processo de alfabetização e letramento dos estudantes nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Também como objetivo do trabalho destaca-se o desenvolvimento de metodologias de ensino de ciências que contribuam com o processo de produção da escrita e da leitura. Para tanto, desenvolve-se uma investigação-ação em turmas de 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, em uma escola pública de Juiz de Fora- MG. Compreende-se que no âmbito da pesquisa participante, o professor que desenvolve a investigação-ação em sua prática não é um mero técnico que se apoia em resultados prontos e sim um colaborador ativo de um processo que consiste em planejar, agir, observar e refletir, em movimento contínuo. Tal procedimento tem possibilitado maior abertura para a formação do professor reflexivo e acredita-se que pode torná-lo mais criativo e sensível. O ensino de ciências aliada à curiosidade eminente dos alunos, nesse momento da escolarização, necessita apoiar-se na criatividade do professor, por meio da promoção de práticas diferenciadas e significativas. Nesses termos, temos que a investigação-ação é capaz de gerar a reflexão constante para o desenvolvimento de tal prática. A partir do que já foi desenvolvido da pesquisa, pode-se afirmar que os estudantes têm demonstrado especial interesse em participar das atividades sugeridas e desenvolvidas, apresentando resultados satisfatórios na participação em sala de aula, com muitas perguntas, dúvidas, demonstrando interesse pelos temas e se apropriando de vocabulário científico, vinculados aos temas abordados. A pesquisa terá sequência no segundo semestre de 2015 com o desenvolvimento das demais atividades sugeridas no projeto piloto. Palavras-chave: Ensino de Ciências. Leitura. Escrita. Alfabetização científica. ISSN 2176-1396

27403 Introdução Esse trabalho apresenta o desenvolvimento de uma pesquisa que estamos realizando para a conclusão do Mestrado Profissional em Ensino de Física, na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG. Nossa experiência como estudante da graduação em Física participando como bolsista no Centro de Ciências da UFJF e, também, como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID-CAPES) na área de Ensino de Ciências para as séries iniciais do ensino fundamental, conduziu nossa escolha pelo tema que apresentamos nessa investigação. Podemos dizer que o ensino de Ciências na escola básica está vinculado aos processos de produção da leitura e da escrita, e dessa forma, inserido nos processos de alfabetização e letramentos dos estudantes. Assim como no aprendizado da leitura e escrita da língua portuguesa, ensinar Ciências na escola básica representa para muitos docentes um problema, sobretudo em termos do conteúdo a ser ensinado e do modo como este deve ser ensinado. Neste trabalho, consideramos que, se discutidos em suas interações com a tecnologia e a sociedade, o ensino de ciências e o processo de alfabetização poderão contribuir para evitar a fragmentação do conhecimento das áreas de saber, construindo uma nova visão curricular para os anos iniciais do ensino fundamental. Ou seja, defendemos que ao se trabalhar com os conteúdos, as competências e habilidades em Ciências, nas séries iniciais, também podemos trabalhar aspectos relacionados ao processo de leitura e escrita. Desenvolvimento Entendemos que os processos de produção da escrita e da leitura, ocorrendo de modo organizado e sistematizado, por meio do registro e da prática da linguagem articulados aos saberes de Ciências nos anos iniciais, poderia dar início a uma alfabetização científica mais significativa e sem mistificações. De acordo com Moraes (1995), com este tipo de empreendimento, o professor possibilitaria ao seu aluno uma maior compreensão de seu pequeno mundo que, aos poucos, vai sendo ampliada com a compreensão de um mundo maior (dos adultos, da cultura histórica e socialmente construída), porque, associado a esse procedimento, também estaria sendo desenvolvida a sua capacidade de apropriação da língua escrita. A hipótese que sustenta este trabalho é de que as práticas de desenvolvimento do ensino de Ciências nos anos iniciais, de forma sistemática e organizada, podem gerar também

27404 a aprendizagem da língua portuguesa de forma conjunta. Tais práticas, de certo modo, correspondem às orientações que estão sugeridas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino fundamental para as Ciências Naturais (BRASIL, 1997, p. 62) Desde o início do processo de escolarização e alfabetização, os temas de natureza científica e técnica, por sua presença variada, podem ser de grande ajuda, por permitirem diferentes formas de expressão. Não se trata somente de ensinar a ler e escrever para que os alunos possam aprender Ciências, mas também de fazer uso das Ciências para que os alunos possam aprender a ler e a escrever. Apesar da importância atribuída ao ensino de Ciências, este não possui o espaço ideal no processo de alfabetização e letramento, pois, apesar de os professores dos anos iniciais terem uma formação polivalente, com ligeiras deficiências nos cursos de pedagogia, estes estão sujeitos às exigências de alfabetização impostas pelas escolas e pelo Estado. Conforme já observado por diferentes autores, quando há espaço para o ensino de Ciências, na maioria das vezes, isso ocorre por meio da simples e quase exclusiva utilização do livro didático. É bastante comum o professor trabalhar com a leitura de textos que oferecem respostas prontas e diretas às perguntas de questionários apresentados ao final do capítulo. Essa prática faz com que as aulas de Ciências, na escola básica, acabem sendo ministradas com um pouco mais de regularidade somente após os alunos estarem dominando minimamente a leitura e a escrita. Trata-se de um ensino do tipo reprodutivista que, conforme Guido (1996) e Molina (1997) é caracterizado pela transmissão de conhecimentos considerados prontos e inquestionáveis, cientificamente aceitos. No contexto atual, o ensino de Ciências nos anos iniciais pode não estar explorando o lado crítico e de uma produção de conhecimento científico pelo aluno e nem auxiliando no processo de alfabetização, para fugir das mecanizações silábicas. Isso contraria a visão de Freire (1983, p.104) de que a alfabetização não deve permitir que a criança seja um paciente do processo, que apenas suporta o abismo existente entre sua experiência de vida e o conteúdo, mas um sujeito de criação capaz de desencadear outros atos criadores. A obra de Freire produziu uma nova abordagem para alfabetização no campo educacional que contribui de maneira fundamental com esse trabalho. Ao defender a alfabetização como ato de reflexão, criação, conscientização e libertação, Freire rejeita a concepção que vê a alfabetização como aquisição mecânica de codificação/decodificação de palavras e signos. Pela perspectiva fundada por Freire (1983), representar e ler o mundo tem uma amplitude muito maior e mais significativa que entender os conceitos cristalizados apresentados pela linguagem científica.

27405 Ampliando essa discussão, Soares (2003) nos aponta que Paulo Freire criou [...] uma concepção de alfabetização, que transforma fundamentalmente o material com que se alfabetiza, o objetivo com se alfabetiza, as relações sociais em que se alfabetiza enfim: o método com que se alfabetiza. (SOARES, 2003, p.120). A fim de unir a Ciência e suas práticas com o processo de desenvolvimento da leitura e da escrita, pensamos em desenvolver uma pesquisa orientada por um processo de investigação-ação nos termos de Carr e Kemmis (1988) e Ebbutt e Elliott (1990), acompanhando duas turmas do Ensino Fundamental I: uma do 4º e outra do 5º ano, de uma escola pública municipal de Juiz de Fora. Segundo Ebbutt e Elliott (1990, p. 179) Todo tipo de investigação-ação é capaz de promover um enfoque de baixo para cima em relação ao desenvolvimento profissional, pois, produzirá ideias que enlacem os problemas do ensino e da aprendizagem com questões fronteiriças de política institucional e social. No âmbito da pesquisa participante, o professor que desenvolve a investigação-ação em sua prática não é um mero técnico que se apoia em resultados prontos e sim um colaborador ativo de um processo que consiste em planejar, agir, observar e refletir, em movimento contínuo. Tal procedimento possibilitará maior abertura para a formação do professor reflexivo (SCHÖN, 1992; ZEICHNER, 1993) e torná-lo mais criativo e sensível, porque é na ação que ele aprende a ser um prático. Acreditamos que a ciência aliada à curiosidade eminente dos alunos desse segmento de ensino necessita apoiar-se na criatividade do professor, por meio da promoção de práticas diferenciadas e significativas voltadas para os processos de leitura, escrita e alfabetização científica. Nesses termos, temos que a investigação-ação é capaz de gerar a reflexão constante para o desenvolvimento de tal prática. Percebendo a importância da educação científica, respaldada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), tem-se como objetivo neste trabalho o desenvolvimento de práticas educativas que permitam articular o ensino de Ciências ao processo de desenvolvimento da leitura e da escrita para alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, por meio de atividades relacionadas ao ensino dos conteúdos curriculares de Ciências. Entendemos que a ciência ensinada na escola deve possibilitar a ampliação da leitura de mundo dos estudantes, questionando e apresentando novas perspectivas para análise de eventos, fenômenos, situações, etc, que cercam a vida cotidiana dos alunos. Vinculados a essa perspectiva, pretendemos:

27406 Criar estratégias metodológicas com o objetivo de apresentar a Ciência na linguagem adequada à faixa etária dos alunos, sem perder o foco no que se quer ensinar. Apresentar formas de vincular o conteúdo de Ciências aos domínios da leitura e da escrita como forma de promover no aluno não só a capacidade de entender a Ciência articulada ao mundo em que vive, mas também de expressar esse entendimento. Desenvolver quatro sequências didáticas de ensino de Ciências, visando o processo de investigação-ação, nas turmas de quarto e quinto anos do Ensino Fundamental de uma escola Municipal de Juiz de Fora. Em relação à coleta de dados, é importante ressaltar que em todas as atividades será solicitado um relato escrito dos alunos sobre o que eles aprenderam. Esses relatos irão compor o corpo de dados da pesquisa que tentará evidenciar se essas atividades cumprem, ou não, o objetivo de incentivar e desenvolver a leitura e a escrita dos alunos. Na análise, com o auxílio da professora regente de turma, iremos buscar comparar textos produzidos pelos alunos antes e depois do desenvolvimento das atividades, procurando destacar ainda elementos ligados à motivação e o interesse pela leitura e escrita. As atividades são constituídas de três etapas 1) Apresentação junto aos alunos de um texto que caracteriza o tema a ser trabalhado, seguindo uma linguagem apropriada para sua faixa etária. 2) Desenvolvimento do tema - que envolve discussão, desenvolvimento da atividade prática com proposta de experimentação. 3) Coleta de dados que será feita por meio dos registros dos alunos sobre aquilo que ele aprendeu, a fim de priorizar o processo de escrita. Atividades que serão trabalhadas Experiência 01 Sistema solar dimensão, órbitas, heliocentrismo. O objetivo desta atividade consiste em dimensionar o espaço como algo maior que o espaço no qual o aluno esta inserido, além de apresentar os demais planetas que estão no nosso sistema solar além de apresentar e discutir do que eles são constituídos. Na

27407 experimentação foram evidenciadas as dimensões dos planetas e suas orbitas, destacando a posição no qual o sol e sua importância no mecanismo do nosso sistema solar. Experiência 02 Disco de Newton cores e luz branca, arco-íris. Essa atividade consiste em desenvolver a ideia de cor e luz e de como a junção das cores denota a ideia da luz branca. Também será evidenciado o processo de formação do arcoíris e das condições que permitem ele aparecer. Experiência 03 Câmara escura olho humano, formação de imagens. O objetivo dessa atividade é desenvolver o entendimento do processo de formação de imagens numa câmara escura simples usando o princípio da propagação retilínea da luz. Depois de desenvolvida a atividade faremos uma analogia com a formação das imagens no olho humano, suas implicações e problemas que podem surgir na visão humana. Experiência 04 Reflexão da luz o caminho da luz e fibra óptica. O foco desta atividade é centrado no desenvolvimento da ideia de propagação retilínea da luz, mesmo no processo de refração. Para sua execução será apresentado o conceito de refração total numa fibra óptica e suas aplicações no dia a dia do aluno. O desenvolvimento das atividades sustenta nossa hipótese de trabalho na construção da dissertação no mestrado profissional em ensino de física, onde almejamos inicialmente promover a curiosidade e o interesse dos estudantes por temas vinculados ao desenvolvimento da ciência e tecnologia no âmbito escolar. Tais atividades, como já destacado, tem um tratamento metodológico no âmbito pedagógico e no campo da pesquisa acadêmica, sendo que os registros do seu desenvolvimento balizarão nossas futuras análises na produção da dissertação. Cabe ainda destacar, que a organização da sequência didática supracitada busca verificar se os alunos e alunas ampliam sua capacidade de leitura e escrita usando como referência a proposta do ensino de ciência que apresentamos. Considerações Finais A primeira sequência didática, sobre o dimensionamento do sistema solar, foi desenvolvida no mês de junho de 2015. Inicialmente, foi trabalhado um pequeno filme que discutia a formação dos planetas e suas distâncias ao sol. Nessa ocasião, tivemos a oportunidade de fazer os registros de campo durante a apresentação do filme. Após o filme

27408 houve discussão juntamente com os alunos sobre quais planetas eram mais interessantes a eles e quais dúvidas eles tinham sobre o assunto. Os alunos se mostraram bastantes interessados em entender como são as características de outros planetas e como eles foram formados. A discussão seguiu rumos que evidenciavam a curiosidade e interesse dos alunos sobre o tema, como por exemplo, se poderia nesses planetas há possibilidade de vida na forma como a conhecemos na Terra. Destacamos que ainda não foi feita a produção do texto proposto na atividade devido a ajustes no calendário escolar. A atividade será retomada na primeira semana de agosto, quando os estudantes regressarem do recesso de julho. As outras atividades serão desenvolvidas no decorrer do ano letivo de 2015, mais precisamente nos meses de agosto, setembro e outubro. Esperamos que tais atividades contribuam para o desenvolvimento de diferentes tipos de aprendizagens. Vinculadas a essas propostas, está a intenção de que os estudantes tenham curiosidades sobre as temáticas propostas, além de a tentativa de fomentar o interesse pela leitura científica vinculada aos assuntos tratados, ou seja, a intenção é formar leitores capazes de compreender e escrever a língua da ciência e não apensar de constituir ledores da ciência. Acreditamos que ao concluirmos a investigação ação que propusemos teremos dados suficientes para elaborarmos uma sólida interpretação de como o trabalho com diferentes temas e conteúdos do ensino de ciência na escola básica, podem e, em nossa perspectiva interpretativa, devem fomentar processos de produção de escrita e leitura diversas. Dessa forma, esse trabalho almeja contribuir com avanços no ensino das ciências na escola, agregando, como já destacado, contribuições ao processo de alfabetização e letramento científicos. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Secretaria de Educação Fundamental Brasília: MEC/SEF, 1997. CARR, W. & KEMMIS, S. Teoría crítica de la ensenãnza: La investigación-acción en la formación del profesorado. 1. ed. Barcelona: E. Martinez Roca, S. A., 1988. EBBUTT, D. & ELLIOTT, J. Por qué deben investigar los profesores? In: ELLIOTT, John. La investigación-acción en Educación. Madrid: Ed. Morata, 1990. p. 176 190. GUIDO, L. F. E. A Evolução Conceitual na Prática Pedagógica do Professor de Ciências das Séries Iniciais. 1996. vi, 159 f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Educação). UNICAMP, 1996.

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