1 USO DO FLURALANER EM DOSE ÚNICA CONTRA DEMODICOSE CANINA USE OF FLURALANER IN A SINGLE DOSE AGAINST CANINE DEMODYCOSIS Flávia Araújo CRUZ 1 ; Diego da França Vieira SANTOS 2 ; Virginia Vigas SODRÉ 3 ; Tiago Sena de ANDRADE 1 ; Stella Maria Barrouin MELO 4 Daniela Farias LARANGEIRA 5 1 Estudante de graduação da Universidade Federal da Bahia, araujocruzflavia@gmail.com 2 Médico Veterinário Autônomo 3 Médica Veterinária autônoma Clínica Cãomarada 4 e 5 Professoras da disciplina de clínica de carnívoros domésticos da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFBA Resumo: A demodicose canina é uma das dermatopatias mais comuns na rotina da clínica médica veterinária. As terapias convencionais são de uso prolongado e costumam gerar efeitos colaterais. Este estudo objetivou a utilização do fluralaner por via oral em dose única no controle da demodicose canina. Oito animais com demodicose canina diagnosticada através de raspado cutâneo utilizaram fluralaner comprimidos e foram acompanhados através de exame clínico e raspados cutâneos mensais durante seis meses. Todos os cães apresentaram melhora clínica evidente desde o primeiro mês após administração do medicamento, com os sucessivos raspados cutâneos negativos durante o período, havendo apenas um caso de recidiva da doença. Palavras-chave: Demodex; Dermatopatia; Isoxazolina Keywords: Demodex; Skin disease; Isoxazolina Introdução: A sarna demodécica canina é uma das dermatopatias mais comuns na rotina da clínica médica veterinária. É causada pela excessiva proliferação do ácaro Demodex spp(delayte et al., 2006). De acordo com a extensão da doença, a demodicose canina é classificada como localizada ou generalizada. A demodicose canina localizada é uma doença benigna que geralmente se resolve espontaneamente e não tende a estar associada à infecção bacteriana concomitante (SCOTT et al., 2001). Já a demodicose canina generalizada é considerada uma das mais graves doenças cutâneas caninas e Anais do 38º CBA, 2017 - p.0268
2 geralmente está associada à infecção cutânea bacteriana secundária (MUELLER, 2004). Os fatores predisponentes da demodicose canina incluem defeito genético, alteração da estrutura da pele, distúrbios imunológicos, estado hormonal, raça, idade, etapa do ciclo estral, endoparasitismo e doenças debilitantes (PLANT, LUND e YANG, 2011). Segundo Willemse (1998), entre os meios de diagnósticos a raspagem profunda da pele e a posterior observação ao microscópio é o melhor método. Mais recentemente Pereira et al. (2015) demonstrou que o método de impressão cutânea com fita de acetato quando comparada ao raspado cutâneo profundo, demonstrou ser significativamente superior na pesquisa de Demodex canis. O fluralaner é um novo inseticida e acaricida sistêmico, de longa ação, que pertence à família da isoxazolina. O fluralaner é um medicamento que apresenta segurança após administração oral mesmo em doses muito elevadas, não gerando quaisquer efeitos adversos (WALTHER et al., 2014). O objetivo do presente estudo foi verificar através de avaliações clínicas e raspados cutâneos mensais a eficácia do fluralaner administrado via oral em dose única contra DC. Metodologia e Métodos: Para esta pesquisa o critério de inclusão foi a presença de sinais clínicos compatíveis com demodicose e raspado cutâneo positivo para Demodex spp. Foram selecionados oito cães de diferentes raças, idades e sexo. Os animais foram atendidos no Hospital Veterinário Renato Medeiros Neto, no período de agosto de 2015 a dezembro de 2016. Foi prescrito para todos os cães fluralaner comprimidos em dose única, nas doses equivalente a 25-56 mg fluralaner/kg que é a dose preconizada pelo fabricante e que segundo o mesmo é segura e sem relatos de efeitos colaterais. Após isso os animais foram liberados para suas respectivas casas com seus tutores, e foram agendados retornos mensais, para avaliações clínicas e raspados cutâneos. Resultados e Discussão: Anais do 38º CBA, 2017 - p.0269
3 Todos os cães participantes deste estudo apresentavam quadros de demodicose canina generalizada, exceto o animal 5, que apresentava um quadro de demodicose canina localizada sem resolução espontanea há 3 anos com presença de lesão eritematosa focal na região abdominal. O animal 1 era um cão de menos de um ano de idade que apresentava DCG em estágio muito avançado, com presença de hiperqueratose e lesões exsudativas, edematosas, alopécicas e pruriginosas por todo o corpo, e ao exame físico o animal apresentava linfadenomegalia generalizada, febre e letargia. A linfadenomegalia é um achado comum na demodicose canina generalizada, podendo ainda ocorrer febre, letargia, anorexia e mesmo morte por septicemia (MEDLEAU e HNILICA, 2003). Por conta do comprometimento geral deste paciente e da gravidade do caso, foi prescrito antibioticoterapia oral. Além deste cão, para nenhum outro foi prescrito antibioticoterapia ou qualquer outro medicamento. Os animais 2, 3 e 8 apresentavam demodicose canina generalizada quando adultos, enquanto os animais 6 e 7 apresentaram a doença com menos de um ano de idade. Ambos apresentavam ao exame físico presença de pústulas, pápulas, vesículas, eritema, hiperpigmentação e descamação em diversos pontos da pele, além de prurido. O animal 4 era um idoso que apresentava pododemodicose com infecção interdigital crônica, com presença de edema, eritema, hipotricose e prurido em regiões interdigitais e digitais, afetando mais gravemente os membros anteriores. Segundo Lemarie (1996) a pododemodicose requer períodos de tratamento mais longos. Foi observado na primeira revisão, um mês após administração de fluralaner em dose única via oral, melhora do prurido, com crescimento de novos pelos nas áreas que antes haviam alopecia e/ou hipotricose, e melhora significativa das pústulas, vesículas, hiperqueratose, hiperpigmentação, descamação e eritema. No raspado cutâneo profundo, um mês após administração do medicamento, os animais 1 e 4 que possuíam a doença em um grau mais avançada que os demais, ainda se apresentavam positivos para demodicose canina, enquanto os outros seis animais apresentavam-se negativos. Estes dois animais apesar de positivos no raspado cutâneo profundo, apresentaram melhora significativa do aspecto da pele e do estado clinico geral. Dois meses após administração do fluralaner, na segunda revisão, durante anamnese e exame clínico, foi observado uma melhora total dos sinais clínicos. Nos Anais do 38º CBA, 2017 - p.0270
4 animais que na primeira revisão haviam sido positivos para a demodicose no raspado cutâneo, nesta segunda revisão já se apresentavam negativos. Porém, o cão 8, que havia tido raspado cutâneo negativo na primeira revisão e que havia tido uma melhora clínica significativa, retornou para a segunda revisão onde na anamnese o proprietário alegou piora no aspecto da pele do animal. Ao exame físico foi notado que havia áreas de alopecia, eritema, liquenificação e comedões. No raspado cutâneo deste animal, foi verificado presença de ácaros Demodex, sendo diagnosticado com uma recidiva da DCG. Na anamnese foi relatado que este animal a um mês havia trocado de lar e de guardião, e a partir daí as lesões de pele retornaram. Sabe-se que progressão da doença é influenciada por diversos fatores, incluindo o estresse (MEDLEAU e HNILICA, 2003), que pode gerar uma queda no sistema imune, e favorecer a recidiva da doença. O animal foi então tratado novamente com nova administração de fluralaner na mesma dose anterior. O mesmo retornou para nova revisão um mês após a nova administração, e foi notado uma melhora significativa das lesões da pele, com raspado cutâneo negativo para ácaros Demodex. A partir do terceiro mês após administração do fluralaner todos os animais apresentavam-se negativos no raspado e sem nenhum indício clínico da doença, reafirmando o que Josephus et al. (2015) também observou em seu estudo, onde oito cães foram tratados com fluralaner na dose mínima de 25 mg/kg de peso corporal e acompanhados por 3 meses. Em nosso estudo acompanhamos os animais por no mínimo oito meses com resultados semelhantes. As opções terapêuticas atualmente disponíveis incluem amitraz, ivermectina, milbemicina oxima e moxidectina (MUELLER 2004; PATERSON et al., 2014). Para serem eficazes, estes esquemas de tratamento requerem adesão do proprietário durante um período de tempo prolongado. Segundo Papich (2012), seus efeitos colaterais incluem toxicidade em raças sensíveis, como os Collies, Pastores Australianos, Old English Sheepdogs, Longhaired Whippets e Shetland Sheepdogs. Altas doses ou por longos períodos em animais normais também podem produzir toxicose semelhante, com ocorrência de hipersalivação, depressão, ataxia, dificuldade de visão, coma e morte. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0271
38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE 5 No presente estudo todos os proprietários relataram facilidade na aplicação do fluralaner comprimido mastigável. Não foi verificado efeitos colaterais tais como vômitos, diarreias ou inapetência em nenhum dos animais que utilizou fluralaner por via oral, porém não foram realizados bioquímicos para análise de efeitos adversos hepáticos ou renais. Walther et al (2014) concluiu em seu estudo com trinta e dois cães que o fluralaner em doses 5 vezes maior que a terapêutica não apresentou quaisquer eventos adversos. Em seu estudo todo os cães foram observados clinicamente, incluindo desenvolvimento do peso corpóreo, consumação de alimento e mensuração de hematologia, coagulação, bioquímica sérica e urinálise, e não levou a quaisquer achados relacionados com o tratamento que pudessem ser detectados através da observação clínica cuidadosa, avaliação clínico-patológica ou no exame macro ou microscópico. Conclusão: Conforme os resultados deste estudo, foi possível concluir que o fluralaner administrado por via oral em dose única gerou cura clínica dos cães e durante todo o tratamento não foram verificados sinais clínicos compatíveis à efeitos colaterais. Referências: DE BOSSCHERE, H. et al. Severe alopecia due to demodicosis in roedeer (Capreolus capreolus) in Belgium. The Veterinary Journal, v.174, p.665 668, 2007. DELAYTE, E.H. et al. Eficácia das lactonas macrocíclicas sistêmicas (ivermectina e moxidectina) na terapia da demodicidose canina generalizada. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., n.58, p.31 38, 2006. GASSEL, M. et al. The novel isoxazoline ectoparasiticide "fluralaner: Selective inhibition of arthropod Ȗ -aminobutyric acidand L-glutamategated chloride channels and insecticidal/acaricidal activity. Insect Biochem Mol Biol, v.45, p.111 24, 2014. JOSEPHUS, J. F. et al. Eficácia do fluralaner administrado por via oral (BravectoTM) ou da imidacloprida/moxidectina (Advocate ) administrada por via tópica contra demodicose canina generalizada. Parasites & Vectors, v.8, p.187, 2015. LEMARIE, S. L. Canine demodicosis. Compendium on Continuing Education: Practicing Veterinarian, v.18, p.354-368, 1996. MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatites parasitárias. In: MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2003, p.59-88. MUELLER, R. S. Treatment protocols for demodicosis:an evidence-based review. Vet Dermatol. v.15, p.75 89, 2004. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0272
6 PAPICH, M. G. Manual Saunders de terapia veterinária: pequenos e grandes animais.3 ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, 829 p. PARTERSON, T. E. et al. Canine generalized demodicosis treated with varying doses of a 2.5% moxidectin + 10% imidacloprid spot-on and oral ivermectin: Parasiticidal effects and long-term treatment outcomes. Vet Parasitol, v.205, p.96, 2014. PEREIRA, D.T.; et al. Skin impression with acetate tape in Demodex canis and Scarcoptes scabiei var. vulpes diagnosis. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.67, n.1, p.49-54, 2015. PLANT, J. D. et al. A case control study of the riskfactors for canine juvenile-onset generalized demodicosis in the USA. Vet. Dermatol, v.22, p.95 99, 2011. SCOTT, D. W. et al. Muller and Kirk s small animal dermatology. 6ª Ed., Philadelphia: WB Saunders, 2001, 948 p. WALTHER, F. M. et al. Safety of fluralaner chewable tablets (Bravecto ), a novel systemic antiparasitic drug, in dogs after oral administration. Parasites & Vectors, v.7, p.86-87, 2014. WILLEMSE, T. Doenças Parasitárias Dermatológicas Clínica de cães e gatos. 4ª Ed., Manoele LTDA, p. 32-33, 1998 Anais do 38º CBA, 2017 - p.0273