A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO MUNDO: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS POLÍTICAS DE INCENTIVOS NOS PRINCIPAIS PLAYERS PRODUTORES 1



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Transcrição:

A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO MUNDO: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS POLÍTICAS DE INCENTIVOS NOS PRINCIPAIS PLAYERS PRODUTORES 1 NORONHA, Kenia 2 ; FROZZA, Mateus 3 1 Trabalho de Pesquisa _UNIFRA 2 Aluna do Curso de Administração do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) 3 Orientador, Professor do Curso de Economia Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). E-mail: mateusfrozza@unifra.br; keniabava@hotmail.com; RESUMO Considerando a necessidade de melhor compreender as políticas de incentivos voltadas ao setor de energia renovável, mais especificamente o Biodiesel, esse trabalho foi confeccionado com objetivo de analisar a produção de Biodiesel no mundo, tendo como pano de fundo as políticas de incentivos utilizadas nos principais palyers mundias. Para tanto, utilizou-se como ferramenta de análise e descrição o método analítico descritivo. A utilização deste método permitiu mapear as diferentes políticas existentes em torno do Biodiesel, bem como, seu estágio atual de desenvolvimento nos principais países estudados. Mesmo ainda imaturo, de uma forma geral, o Biodiesel possui importantes produtores, significativa inserção nacionais, elevado número de firmas atuantes no segmento do Biodiesel e organizações de fomento e representativas que norteiam estudos referentes ao tema. Palavras - chave: Políticas energética; Energia renovável; Biodiesel. 1. INTRODUÇÃO Este artigo busca compreender a produção de Biodiesel no mundo sobre as políticas de incentivos que vigoram nos principais players mundiais. Antes de isso face necessário definir, mesmo que de um modo geral, o conceito de política energética. Segundo Bicalho (2007), o objetivo de qualquer política energética é garantir, no presente e no futuro, o suprimento energético necessário ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar de uma sociedade como um todo. 1

Nesse sentido, a política energética busca compreender as questões conjunturais, mas, acima de tudo, estruturar o futuro de um país, de uma região ou localidade. Isso posto, a política energética é uma política pública, sendo seu sujeito principal o Estado. Em outras palavras, a política energética é uma política de Estado, portando a sua concepção e implementação, as quais se darão fundamentalmente no âmbito do Estado (PINTO JUNIOR; 2007). O Biodiesel surgiu mundialmente como uma alternativa promissora aos combustíveis derivados do petróleo. Sua característica renovável chamou a atenção tanto de países desenvolvidos como em desenvolvimento, que por sua vez incentivaram a produção e o uso de Biodiesel, visando, sobretudo, a geração de empregos, renda, inclusão social e a diversificação da matriz energética (PUERTO RICO, 2007). A discussão apresentada tem por objetivo identificar as principais políticas energéticas utilizadas nos principais players internacionais - EUA, União Européia, Ásia e Oceania - sendo que as políticas que norteiam esses países tendem a influenciar, de alguma forma, o rumo das políticas energéticas ao redor do mundo (PINTO JÚNIOR, 2006). O Biodiesel é uma realidade em várias partes do mundo; Países como Estados Unidos, Malásia, Japão, Austrália, Alemanha, França e Itália já produzem Biodiesel comercialmente e em escala industrial. No início dos anos 90, o processo de industrialização do Biodiesel foi iniciado na Europa. Portanto, mesmo tendo sido desenvolvido no Brasil, o principal mercado produtor e consumidor de Biodiesel, em grande escala, se desenvolveu na União Européia (DE LUCENA, 2004). Neste artigo, serão examinados, sequencialmente os principais players mundiais, os EUA, União Européia e a Ásia, sendo que, em cada um deles, busca-se identificar suas principais políticas energéticas, com ênfase nos programas específicos dos países que atuam na busca pela diversificação da matriz energética e para sustentabilidade ambiental. 2. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Os Estados Unidos é o maior produtor de Biodiesel no mundo. A volatilidade dos preços do petróleo e a pressão política pela independência energética tem alimentado constantes investimentos tanto público quanto privado em sua indústria de Biodiesel (GARTEN,ROTHKOPF,2007) As diretrizes da política energética americana, relativas á elaboração e á implementação ficam a cargo do Departamento de Energia (DOE), mas as decisões são 2

coordenadas em conjunto com outras esferas políticas do governo. Atualmente, o principal documento que determina as tendências e metas da política energética americana é o Energy Policy Act de 2005 (PINTO JÚNIOR, 2007). Nos EUA, no ano de 2006, os incentivos chegaram a cerca de 150 milhões de dólares, sendo que as constantes instabilidades do preço do barril do petróleo têm contribuído significativamente com a produção de Biodiesel. O incentivo é concedido no ato da mistura com o diesel, ou seja, os créditos vão para quem mistura o Biodiesel e não para quem planta ou produz. O crédito é de US$ 1/gal para Biodiesel de óleos vegetais ou gordura animal. A principal matéria-prima utilizada no mercado americano é a obtenção do Biodiesel através do óleo de soja (BNDES, 2008). O programa americano de Biodiesel é bem menor que o europeu e apresenta diferenças importantes. A grande motivação americana para o uso do Biodiesel é a qualidade do meio-ambiente.. Os americanos estão se preparando, com muita seriedade, para o uso desse combustível especialmente nas grandes cidades. A capacidade de produção estimada é de 210 a 280 milhões de litros por ano (BIODIESELBR, 2009). 3. UNIÃO EUROPÉIA (U.E) A União Européia vem produzindo e incentivando o Biodiesel desde 1992, principalmente calcada num programa de benefícios que pode chegar a 90% dos impostos, esta prática de desoneração tributária está em vigor nos países pertencentes à União Européia desde fevereiro de 1994 (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). Atualmente, existem mais de 40 usinas produzindo Biodiesel, no total de 1.900.000 toneladas. Estas usinas estão localizadas, em sua maioria, na Alemanha, França e Itália. O prognóstico para o ano de 2010 é de que 5,75% dos combustíveis consumidos na União Européia sejam de origem renovável, sendo que para atingir este patamar, os subsídios em forma de isenção de impostos seriam de aproximadamente 2,5 bilhões/ano (BIODIESELBR, 2010). A produção de Biodiesel no ano de 2007, levando em conta os 24 países pertencentes à União Européia que produzem Biodiesel, foi de 8.822 milhões de litros, sendo que os quatro principais produtores contribuíram com 5.583 milhões de litros. Em 2006, a produção total foi de 4.195 milhões de litros e os cinco principais contribuíram com 3.852 milhões de litros, e, por fim, no ano de 2005, o total produzido foi de 2.731 milhões de litros e, novamente, os cinco principais produtores contribuíram com 2.193 milhões de litros. 3

Segundo o BNDES (2008), o Biodiesel está presente em 24 países da União Européia quatro países têm capacidade de produzir mais de 100 mil toneladas de Biodiesel por ano, ou seja, 60% do Biodiesel produzido na União Européia é proveniente da Alemanha, França e Itália. Na Alemanha, cerca de 40% do Biodiesel produzido é vendido nos postos de combustíveis, sendo que fica a cargo do consumidor escolher o percentual mais adequado de Biodiesel, podendo variar de 1% a 100% (desta forma, o Biodiesel possui menor preço, quanto maior a sua mistura mais barato fica para o consumidor). Os 60% restantes são vendidos diretamente para grandes empresas do segmento de transportes (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). O preço do Biodiesel, na Alemanha, é mais barato devido à completa isenção dos tributos ao longo de toda a cadeia produtiva. Na Alemanha, o Biodiesel representa 2% do total de diesel consumido no país. No ano de 2010, o governo alemão pretende substituir em 10% o diesel fóssil pelo Biodiesel (BIODIESELBR, 2010). O país vem investindo em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Uma prova disso é que o governo lançou, no ano de 2005, a Innovation and New Energy Tecnologies, que objetivava desenvolver energias não-nucleares e não-poluentes, bionergia e energia renovável, assim como apoiar financeiramente projetos que visem a eficiência energética (PINTO JUNIOR; CARNEIRO 2007). Na França, o Biodiesel é conhecido como diester. A principal fonte de matéria-prima é a canola e o girassol. A política energética francesa é ancorada através de suas estatais, como a Bienvenue, Béneficiez Dês Offres (EDF) e a Gaz De France (GDF), sendo cada departamento, responsável por temas de economia, indústria e meio ambiente (PINTO JUNIOR; CARNEIRO 2006). O principal documento que determina a política energética francesa é a Lei 781 de julho de 2005. No ano de 2005, a França produziu aproximadamente 500 mil toneladas de Biodiesel, mantendo-se como sendo a segunda maior produtora da Europa. Os incentivos oferecidos aos produtores de Biodiesel e os sistemas produtivos na França são semelhantes aos adotados na Alemanha, porém o combustível é fornecido no posto já misturado com o óleo diesel de petróleo na proporção atual de 5%. Contudo, esse percentual deverá ser elevado para 8%. Atualmente, somente os ônibus urbanos franceses consomem Biodiesel, podendo a mistura de diesel e Biodiesel chegar a até 30% (BIODIESELBR, 2010). Além dos incentivos fiscais para as usinas de Biodiesel, o governo francês também oferece apoio direto aos produtores de oleaginosas, a fim de estimular a produção e o 4

cultivo da matéria-prima. O objetivo do governo francês para a mistura de diesel, Biodiesel no setor de transportes, é quase o dobro das metas estabelecidas pela União Européia. Neste sentido, a França caminha para ser um referencial na utilização de Biodiesel na Europa (GARTEN, ROTHKOPF, 2007). Diferente da Alemanha e França, a Itália caminha na contramão no desenvolvimento do Biodiesel. A produção de Biodiesel italiana pode diminuir, consideravelmente, nos próximos anos, em virtude da política energética adotada pelo governo italiano. O governo reduziu os incentivos fiscais e de financiamento, alegando limitações em seu orçamento (BIODIESELBR, 2010). A principal fonte de matéria-prima italiana é a canola e o girassol. No ano de 2006, a Itália produziu, aproximadamente, 440 mil toneladas de Biodiesel sendo que, atualmente, o Biodiesel vem sendo misturado de 5 a 30% com o Diesel oriundo do petróleo (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). A atitude tomada pelo governo italiano, deixa clara a intenção governamental de privilegiar a agricultura nacional, ao invés de importar matéria-prima de outros países da União Européia. Mas, de certa forma, obriga os produtores a investir em novas fontes alternativas de energia, tendo em vista que a Itália se comprometeu em diminuir as emissões de gases poluentes na atmosfera e ratificar as intenções propostas no Protocolo de Kyoto (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). Contudo, se o governo italiano mudar sua posição e, novamente, incentivar o Biodiesel, a matéria-prima e os insumos para a produção terão que ser importados, principalmente da França e da Alemanha, já que a Itália não dispõe de uma área significativa agriculturável que garanta seu abastecimento interno (GARTEN; ROTHKOPF, 2007). 4. ÁSIA E OCEANIA Atualmente, a Ásia e a Oceania abrigam 60% da população mundial e sua economia apresenta constante crescimento. Devido a este fato é que a geração de energia, e principalmente, novas alternativas energéticas, estão despertando a atenção de muitos países da Ásia e da Oceania. Esta preocupação é decorrente do aumento do custo do petróleo, das preocupações com segurança energética, agravamento da poluição dos rios e a necessidade dos países em cumprir os compromissos estabelecidos no Protocolo de Kyoto. 5

Nesses dois continentes, há grandes consumidores de combustíveis fósseis (muito, em virtude de sua extensão territorial e de sua alta densidade populacional); em contraponto, são grandes produtores de óleos vegetais. Atualmente, cerca de 80% da produção mundial de óleo de palma, utilizado para fins alimentares, é proveniente da Malásia e Indonésia (BNDES, 2008). Entre os países de destaque na produção e na comercialização estão o Japão, a China, a Malásia e a Austrália. O Japão é considerado um grande importador de Biodiesel plantando, e reciclado proveniente das plantações de canola, girassol ou soja (BNDES, 2008). Mas, ao contrário dos demais países que produzem Biodiesel nos dias de hoje, o Japão obtém Biodiesel através do processo de reciclagem do óleo usado de cozinha, possibilitando uma dupla economia: por dar um destino ao óleo de cozinha que será reaproveitado para obtenção de Biodiesel e por ficar, menos vulnerável, às importações de matéria-prima (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). No Japão, são coletados cerca de 13 mil litros de óleo utilizado nas residências das pessoas cadastradas no Kyoto City s Projetct e mais 13,7 milhões de óleo oriundo do comércio local. Esta quantidade arrecadada estima-se ser capaz de movimentar os 215 caminhões de lixo da cidade de Kyoto, além de 81 ônibus municipais que utilizam a mistura de 20% de diesel ao Biodiesel. Atualmente existem 33 instalações que produzem Biodiesel a partir do óleo de fritura (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). O Ministério da Economia, Comércio e Indústria Japonês (METI) é o principal formulador das políticas e metas a serem implantadas, referente a novas e atuais fontes alternativas de energia (PINTO JUNIOR; CARNEIRO 2007). Através do METI, diversos projetos relacionados à nova energia estão sendo colocados em prática oferecendo, em contrapartida, benefícios; mas, estes benefícios são restritos aos conversores de bionergia. A política de incentivo japonesa ao Biodiesel é um tanto quanto tímida, comparado-a aos demais países de seu continente e, até mesmo, mundialmente. Os benefícios não chegam à produção de matéria-prima, nem mesmo na redução das alíquotas de importação e, nem sequer, no processo de reutilização do óleo de cozinha (BNDES, 2008). No Japão, até o presente momento, não é usada uma mistura obrigatória de diesel e Biodiesel, e tampouco uma legislação que regulamente suas normas de produção e comercialização. Especula-se que este fato é decorrente da forte oposição e do lobby feito pelas empresas petrolíferas (GARTEN; ROTHKOPF, 2007). 6

É fato que as limitações agriculturáveis farão do Japão um grande importador de matéria-prima, mas esta importação nem sempre será de matéria-prima de origem renovável; no entanto, o governo atual japonês dá sinais de que pode se empenhar na produção, na comercialização e, sobretudo, concessão de subsídios ao Biodiesel plantado e reciclado. No entanto, no caso da China, produção de Biodiesel tem sido lançada, originalmente, como uma solução de curto prazo, que visava reduzir o superávit acumulado de grãos na virada do século, a produção de Biodiesel faz parte de uma estratégia chinesa de melhor segurança energética e reduzir a dependência de petróleo importado (GARTEN; ROTHKOPF, 2007). Na China, existem, atualmente, cinco unidades que processam Biodiesel a partir do óleo de canola e do óleo de fritura usado. Os chineses produzem Biodiesel em condições similares a americana (BNDES, 2007). A política energética chinesa, além de centralizada, é muito fechada e considerado chave pelo governo. Por estas razões, ele é controlado e administrado pelas grandes companhias estatais. Segundo relatam Pinto Júnior e Carneiro (2006), atualmente, estão em curso importantes mudanças institucionais no setor de energia chinesa, como a liberação e entrada de firmas estrangeiras e a discussão de incentivos tarifários para importação de capital. A principal fonte de energia chinesa, mesmo que defasada (proveniente da primeira revolução industrial), é o carvão, seguido pelo consumo do petróleo que vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. A grande preocupação chinesa refere-se ao seu abastecimento. Os empresários que investem na China se questionam se ela vai ter oferta suficiente de energia para sustentar o seu crescimento econômico. Devido a pressões externas (dos países que retificaram o protocolo de Kyoto) e das internas (empresários que temem parar de produzir por falta de energia), no ano de 2005, foi aprovada a Lei de Energia Renovável, concedendo incentivos econômicos e financeiros, em termos de tarifas, subsídios e acesso a linhas de financiamento, que visam, sobremaneira, à construção e à consolidação da energia renovável em solo chinês. Através desta iniciativa, a China consegue financiamento internacional, através do Banco Mundial, para implementar políticas que não agridam o meio ambiente (PINTO JÚNIOR; CARNEIRO, 2007). No entanto, a consolidação do Biodiesel, na matriz energética chinesa, dependerá, sobremaneira, do cultivo de matéria-prima suficiente e de uma política governamental de 7

apoio incluindo investimentos substanciais por parte do governo, já que o investimento privado é um tanto quanto limitado. Já no caso da Malásia, por possuir uma extensa fonte de matéria-prima, não demorou muito para as primeiras multinacionais se instalarem no país. A empresa responsável pelas plantações, a Malaysian Palm Oil Board (MBO) se associou com a Cremer Óleo GmbH & Co da Alemanha, para construir duas plantas de Biodiesel; uma, na Malásia e, outra, em Cingapura com o investimento previsto de 10 milhões de dólares (BNDES,2007). A Malásia tem um programa para a produção de Biodiesel a partir do óleo de palma de dendê. O país é o maior produtor mundial desse óleo, com uma produtividade estimada de 5.000 kg de óleo por hectare ano, ofertando um combustível híbrido formado de 95% de diesel e 5% de óleo de palma (BIODIESELBR, 2010). A Malásia, além de ser a maior produtora de óleo de palma cru do mundo, recentemente seu governo anunciou sua intenção de se tornar o maior produtor de Biodiesel mundial, uma ambição calcada por uma forte política nacional de Biodiesel, apoiada por incentivos tributários e financeiros, que objetiva atrair investimentos nacionais e, sobretudo, estrangeiros (GARTEN; ROTHKOPF, 2007). O desafio mais urgente para a indústria de Biodiesel e para o governo malaio é convencer os consumidores sobre a viabilidade e a eficácia do Biodiesel, não apenas como combustível mas sim como fonte geradora de energia. O Biodiesel produzido na Malásia será destinado principalmente à exportação para países da União Européia, China e Japão e, num curto período de tempo, a Malásia pode vir a ser uma das grandes potências no setor de Biodiesel mundial (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). Na Austrália, ao contrário de outros países da Ásia, a falta de espaços para o cultivo não é um problema, devido à grande área agriculturável disponível que o país possui. Quando o governo australiano resolveu investir no Biodiesel, esse disponibilizou 27 milhões de euros na forma de subsídios para a construção de quatro fábricas no país (BIODIESELBR, 2010). Algumas usinas já estão produzindo Biodiesel em larga escala, sendo que, no ano de 2002, a produção chegou a aproximadamente 18 milhões de litros, porém com as novas fábricas a serem instaladas, a expectativa de produção passou a ser de 90 milhões de litros ano (CHIRANDA; ANDRADE JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). No ano de 2004, o governo Australiano divulgou um programa intitulado Securing Australia s Energy Future que trata das perspectivas energéticas para o país, sendo um dos 8

princípios-chave desse projeto é a promoção de tecnologias mais limpas e eficientes como o Biodiesel(GARTEN; ROTHKOPF,2007). A estrutura do programa australiano de Biodiesel tem algumas semelhanças com o pro-álcool brasileiro, principalmente no que diz respeito à sua magnitude e abrangência (BNDES, 2007). 5. METODOLOGIA O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa descritiva. Segundo Cervo e Bervian (1983, p. 25) a pesquisa descritiva busca conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano, tanto do indivíduo tomado isoladamente como de grupos e comunidades mais complexas. 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES Segundo Pinto Júnior (2007), a política energética dos EUA, é ancorada na estruturação e na concessão de incentivos para as firmas realizarem os investimentos necessários e garantir a sua demanda e, sobretudo, a diversificação de sua matriz energética. A União Européia está, cada vez mais, expandindo seu setor de Biodiesel de forma significativa, sendo que seus principais condutores são as preocupações ambientais, a necessidade de dinamizar o setor rural, a segurança energética e a dependência dos combustíveis fósseis. Durante os anos 90, a comunidade Européia aplicou cerca de 100 milhões de euros em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e em projetos de demonstração de Biodiesel. Na União Européia, destacam-se a Alemanha, a França e a Itália. Os países estão na vanguarda na produção, comercialização e nos incentivos ao Biodiesel. A Alemanha é a maior produtora de Biodiesel da União Européia. Para Garten e Rothkopf (2007), o governo alemão está favorecendo a criação de um ambiente propício ao consumo, à produção e à comercialização do Biodiesel. O país criou uma tecnologia de intercâmbio com o Brasil para desenvolver a sua indústria e tem, ainda, um dos programas de Biodiesel mais bem estruturados da União Européia, sendo, hoje, o maior produtor e consumidor europeu, com capacidade de gerar 1 milhão de toneladas anuais, visto que sua principal matéria prima é a canola (BIODIESELBR, 2010). Na oceania há fortes indícios que a produção de Biodiesel está aumentando consideravelmente na Austrália; no entanto, o país só se tornará um grande consumidor e 9

produtor a partir do momento em que seu governo instituir a mistura obrigatória do diesel com o Biodiesel como já vem acontecendo nos demais países do mundo. 7. CONCLUSÃO Neste artigo, buscou-se discutir as principais políticas energéticas utilizadas nos principais players internacionais, EUA, União Européia, Ásia e Oceania. Verificou-se que no caso dos EUA, o incentivo ocorre por questões ambientais, não tendo uma política específica de incentivo ao Biodiesel. Na Europa, as preocupações concentram-se no desenvolvimento rural, segurança energética e emissão de poluente. No que tange aos players Ásia e Oceania, os incentivos acontecem devido aos elevados custos do Petróleo e para o comprimento do estabelecido no Protocolo de Kyoto. Por fim, identificou-se em estágio mais avançado, o caso da União Européia, com destaque para Alemanha, o Biodiesel em termos de abastecimento, está plenamente consolidado, mesmo a Alemanha tendo apenas uma pequena área agriculturável para o cultivo da matéria prima. REFERÊNCIAS BICALHO, R. et al. Ensaios sobre Política Energética. Coletânea de artigos do boletim INFOPETRO. Rio de Janeiro: Interciência / IBP, 2007. BIODIESELBR. Biodiesel. Disponível em: <http://www.biodieselbr.com/noticias/ bio/eua-incentivo-fiscal-permanente-biodiesel.htm>. Acesso em: 18 jan. 2010. BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br>. Acesso em: 05 nov. 2008. CHIARANDA, M.; ANDRADE JÚNIOR, A.; MOLIVEIRA, T. G. A Produção de Biodiesel no Brasil e Aspectos do PNPB. Departamento de Economia Administração e Sociologia, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP, 2005. LUCENA, T. K. O Biodiesel na Matriz Energética Brasileira. Monografia de Graduação em Economia do Instituto de Economia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004. PINTO JR., H. Q. (Org.) et al. Economia da Energia: fundamentos econômicos, evolução histórica e organização industrial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 10

ROTHKOPF. Garten. O Brasil em Destaque na Área de Energia Limpa. Disponível em: <www.gartenrothkopf.com.br>. Acesso em: 28 jan. 2009. 11