AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE FERRO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO SEXO FEMININO

Documentos relacionados
ANEMIA FERROPRIVA EM POPULAÇÕES DA REGIÃO SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO*

Campus Universitário Caixa Postal 354 CEP INTRODUÇÃO

COMPARAÇÃO ENTRE VALORES HEMATOLÓGICOS (HEMOGLOBINA, HEMATÓCRITO E FERRO SÉRICO) DA PARTURIENTE E DO RECÉM-NASCIDO

CONSUMO ALIMENTAR DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO SEXO FEMININO

PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM GESTANTES ATENDIDAS NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES ATENDIDAS NOS ESF DO MUNICÍPIO DE SÃO LUDGERO NO ANO DE 2007

Estudo Multicêntrico do Consumo Alimentar de Pré-escolares

Introdução. Nutricionista FACISA/UNIVIÇOSA. 2

5º Simposio de Ensino de Graduação INVESTIGAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM ESCOLARES DE LINS - SP.

5º Simposio de Ensino de Graduação INVESTIGAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM ESCOLARES DE LINS - SP.

RAZÃO NITROGÊNIO UREICO/CREATININA (N U/ C) EM INDIVÍDUOS DE FAMÍLIAS QUE APRESENTARAM CONSUMO SATISFATÓRIO E INSATISFATÓRIO DE PROTEÍNAS*

DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA DE FERRO NA INFÂNCIA*

HIPOVITAMINOSE A EM COMUNIDADES DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL *

TÍTULO: INGESTÃO DE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS RICOS EM SÓDIO E ADIÇÃO DE SAL ÀS PREPARAÇÕES PRONTAS

PREVALÊNCIA DE ANEMIA FERROPRIVA E CONSUMO DE FERRO EM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS

Distúrbios Nutricionais na infância

ESTUDO COMPARATIVO DE INDICADORES BIOQUÍMICOS DE CONCENTRAÇÃO DE FERRO, EM DUAS POPULAÇÕES DE GESTANTES, COM E SEM ATENDIMENTO PRÉ-NATAL

AVALIAÇÃO IMC E DE CONSUMO DE ALIMENTOS FONTE DE PROTEÍNA, VITAMINA C E MAGNÉSIO POR ESCOLARES

ANEMIA FERROPRIVA NO LACTENTE EM RELAÇÃO O AO ALEITAMENTO MATERNO E SUPLEMENTAÇÃO O DE FERRO

HIPOVITAMINOSE A EM FILHOS DE MIGRANTES NACIONAIS EM TRÂNSITO PELA CAPITAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL. ESTUDO CLÍNICO-BIOQUÍMICO.

PREVALÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM ESCOLARES NO MUNICÍPIO DE SÃO JOAQUIM, SC *

MICRONUTRIENTES. Bases epidemiológicas. PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde

ANEMIA FERROPRIVA EM CRIANÇAS DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Fome Oculta. Helio Vannucchi Divisão de Nutrologia 2017

PREVALÊNCIA DE ANEMIA E DEFICIÊNCIA DE FERRO EM ADOLESCENTES DO SEXO FEMININO TABOÃO DA SERRA, SP, BRASIL

AVALIAÇÃO DA QUANTIDADE DE MICRONUTRIENTES CONTIDOS EM RECEITA DE PANQUECA INTEGRAL DE PROTEÍNA TEXTURIZADA DE SOJA

ACONSELHAMENTO SOBRE MODOS SAUDÁVEIS DE VIDA: PRÁTICA E ADESÃO EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.

3. Material e Métodos

TAXA DE CHUMBO EM AMOSTRA DE VOLUNTÁRIOS "NÃO EXPOSTOS" HABITANTES DA GRANDE SÃO PAULO BRASIL

ANEMIA E ALIMENTAÇÃO DAS CRIANÇAS INGRESSANTES NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE MARINGÁ-PR 1

Anemia e desnutrição maternas e sua relação com o peso ao nascer. Maternal anemia and undernowrishment and their relation to birth - weight

ANEMIA FERROPRIVA E SUA PREVENÇÃO NO PERÍODO GESTACIONAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA

HIPOVITAMINOSE A E ANEMIA FERROPRIVA EM GESTANTES DE DUAS COMUNIDADES DO VALE DO RIBEIRA (ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL) *

PREVALÊNCIA DE HIPOVITAMINOSE A EM PRÉ-ESCOLARES DE MUNICÍPIO DA ÁREA METROPOLITANA DE SÃO PAULO, BRASIL*

CAPÍTULO VII. American College of Sports Medicine. Position stand. Exercise and fluid replacement. Med. Sci. Sports Exerc. 28:I - vii,1996.

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO SEXO FEMININO

EVOLUÇÃO DO ENSINO DE NUTRIÇÃO NA DE ENFERMAGEM DA USP

EXAME HEMATOLÓGICO Hemograma

UFSC - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CCS - CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO NUTRIÇÃO PROGRAMA E PLANO DE ENSINO SEMESTRE

GILSON IRINEU DE OLIVEIRA JUNIOR

PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS EM ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PIRAQUARA NUTRITIONAL PROFILE OF PUBLIC SCHOOL CHILDREN IN THE TOWN OF PIRAQUARA

TÍTULO: AUTORES: Justificativa

PREVALENCE OF ANEMIA IN CHILDREN OF IRETAMA-PR FROM YEARS 2003 TO 2009.

5º Simposio de Ensino de Graduação ESTADO NUTRICIONAL E DIETA HABITUAL DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL PRIVADO

PERFIL NUTRICIONAL E DE SAÚDE DE IDOSOS DIABÉTICOS ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO LAURO WANDERLEY

CONCEPÇÃO DAS MÃES DE CRIANÇAS DE 0 A 2 ANOS QUANTO À ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR ADEQUADA Eliete Costa Oliveira¹ e Gabriela Loiola Camargo²

PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM IDOSOS RESIDENTES EM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE

Professora adjunta da Faculdade de Nutrição/UFPEL Campus Universitário - UFPEL - Caixa Postal CEP

1º DIA - 13 DE AGOSTO - TERÇA-FEIRA

PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS QUE FREQUENTAM UM CMEI NA CIDADE DE APUCARANA

NUTRIÇÃO DO IDOSO. Universidade de São Paulo Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Nutrição e Metabolismo Nutrição Humana

ANEMIA, UM PROBLEMA MUNDIAL. Palavras-chave: Anemia. Hemograma. Deficiências Nutricionais.

ANEMIA FERROPRIVA EM PARTURIENTES E RECÉM-NASCIDOS

EDUCAÇÃO CONTINUADA E ATENDIMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES DIABÉTICOS: relato de experiência

Exemplos de Programas de Fortificação e Suplementação de Sucesso na América Latina. 02/08/2016 Centro de Convenções Brasil 21 Brasília-DF

revogada(o) por: Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005 atos relacionados: Resolução nº 18, 1994

NUT-154 NUTRIÇÃO NORMAL III. Thiago Onofre Freire

IDENTIFICAÇÃO DA PREVALÊNCIA PARA ANEMIA EM CRIANÇAS DE 06 A 24 MESES NO MUNICÍPIO DO GUARUJÁ (SP)

ESTADO NUTRICIONAL DE COLABORADORES DE REDE HOTELEIRA

IDADE GESTACIONAL, ESTADO NUTRICIONAL E GANHO DE PESO DURANTE A GESTAÇÃO DE PARTURIENTES DO HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PELOTAS RS

Dinâmica entre a alimentação habitual, anemia e segurança alimentar entre estudantes de Saúde no Amazonas

Revista Jovens Pesquisadores, Santa Cruz do Sul, v. 3, n. 3, p , 2013

A Secretária de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde, no uso de suas atribuições legais, considerando:

Laíse Souza Mestranda em Alimentos e Nutrição Programa de Pós -Graduação em Alimentos e Nutrição- PPGAN/ UNIRIO

SEGUNDO LUGAR MODALIDADE PÔSTER. 1 Introdução

Alegre. CâmaraMunicipal. de Porto PROC. Nº 7351/05 PLL Nº 331/05 EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

Donald Wilson * Maria José Roncada * Olderigo Berretta Netto ** Adamo Lui Netto *** Aldonia C. Kalil **** Maria de Fátima Nunes *

Apresentação Resultados

- avaliar os hábitos alimentares e o consumo de energia e nutrientes de adultos e idosos; - analisar e adequar macro e micronutrientes de planos

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA CONCEPÇÃO DO USO DE SUPLEMENTOS ESPORTIVOS ENTRE ALUNOS DE ESCOLA PÚBLICA EM NATAL/RN

Programa Analítico de Disciplina NUT361 Nutrição em Geriatria

A ADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL E SUA RELAÇÃO COM RENDA FAMILIAR

ANÁLISE DO CRESCIMENTO CORPORAL DE CRIANÇAS DE 0 À 2 ANOS EM CRECHES MUNICIPAIS DE GOIÂNIA

Repercussões da anemia sobre o desenvolvimento de linguagem em crianças: estudo longitudinal prospectivo

CARACTERÍSTICAS DA DIETA DO ADOLESCENTE D I S C I P L I N A : N U T R I Ç Ã O E D I E T É T I C A II P R O F : S H E Y L A N E A N D R A D E

CONSUMO ALIMENTAR DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO NO MUNICÍPIO DE PALMAS TO

adota a seguinte Resolução de Diretoria Colegiada e eu, Diretor-Presidente, determino a sua publicação:

Legislação em Vigilância Sanitária

ANEMIA E CONSUMO ALIMENTAR DE GESTANTES ADOLESCENTES

Importância do Processo de Quelação com Aminoácidos na Biodisponibilidade de Minerais Comprovação Científica Minerais Aminoácidos Quelatos(2)

Suplementação individual ou coletiva

A AVALIAÇÃO DO PERFIL FÉRRICO DOS PACIENTES ATENDIDOS NO CENTRO HEMATOLÓGICO E LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLINICAS (HEMOCLIN)

INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS EM CRIANÇAS MENORES DE 1 ANO DE IDADE NO MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU/PR

Projeto Anemia: Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Anemia Ferropriva na Infância

PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher 2006

PARASITOSES INTESTINAIS INFANTIS E SUA ASSOCIAÇÃO COM ESTADO ANÊMICO- REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA

CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO DE LEITE EM ESCOLA DE ENSINO MÉDIO

CIÊNCIA EQUATORIAL ISSN

SOBREPESO E OBESIDADE

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE IDOSOS FREQUENTADORES DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas

Hemoglobin serum levels in adolescents according to sexual maturation stage

INTERVENÇÃO NUTRICIONAL COM OBJETIVO DE PROMOVER HÁBITOS ALIMENTARES SAUDÁVEIS EM INDIVÍDUOS COM SOBREPESO E OBESIDADE

CONSUMO ALIMENTAR DAS MULHERES DO CENTRO DE MELHOR IDADE E SUA CORRELAÇÃO COM AS DOENÇAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (OSTEOPOROSE)

INGESTA DE ALIMENTOS CONSIDERADOS SUPÉRFLUOS EM MENORES DE 1 ANO DE IDADE NO MUNICIPIO DE FOZ DO IGUAÇU/PR (2011).

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DE PACIENTES COM ESCLEROSE MÚLTIPLA EM GOIÂNIA, GO, BRASIL.

ORIENTAÇÃO PARA APLICAÇÃO DE SAIS DE FERRO, EM GESTANTES, SEGUNDO O USO DE CURVA OPERACIONAL DE HEMOGLOBINA ("CURVA DE UMA GRAMA") *

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONSUMO DE ALIMENTOS EM ICAPARA E PONTAL DE RIBEIRA, SÃO PAULO, BRASIL *

PERFIL NUTRICIONAL E PREVALÊNCIA DE DOENÇAS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA DA UNIFRA 1

Aluna: Laise Souza Mestranda em Alimentos e Nutrição

Transcrição:

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE FERRO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO SEXO FEMININO Elizabeth Fujimori * Maria Josefina Leuba Salum ** Hisako Shima *** FUJIMORI, E.; SALUM, M.J.L.; SHIMA, H. Avaliação do estado nutricional de ferro de estudantes universitários do sexo feminino. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo, 2/(1):17-22, abr. 1987. Foi realizado um estudo para avaliar o estado nutricional de ferro, envolvendo 47 estudantes universitários do sexo feminino, cujas dietas continham, em média, somente 72% da recomendação para o ferro. Os resultados mostram que apesar do baixo consumo do mineral, a concentração de hemoglobina e o valor do hematócrito encontravam-se dentro dos limites de normalidade. Em face disto, discute-se a possibilidade de as reservas orgânicas de ferro estarem baixas ou esgotadas. UNITERMOS: Nutrição. Necessidades nutricionais. Ferro. Anemia ferropriva. INTRODUÇÃO As anemias nutricionais constituem importante problema de Saúde Pública no mundo contemporâneo, pois afetam tanto países desenvolvidos como aqueles em vias de desenvolvimento (Seminário sobre Anemias Nutricionais do Brasil, 1977; World Health organization, 1975). A deficiência de ferro isoladamente é a mais importante causa das anemias nutricionais, atingindo 10 a 20% da população mundial (BAKER, 1978; BAKER & DENAYER, 1979; COOK & FINCH, 1979; GANDRA, 1969; INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CON- SULTATTVE GROUP, 1977; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975). No Brasil, os dados do XVI Congresso Brasileiro de Hematologia são alarmantes, e mostram que a carência de ferro afeta, na região Sul, 40% das crianças até 5 anos, 20% das mulheres e 5% dos homens (GUERRA, 1983). * Enfermeira. Auxiliar de Ensino do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP disciplina Nutrição e Dietética Aplicadas à Enfermagem. ** Enfermeira. Doutor em Ciências. Professor Assistente Doutor do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP disciplina Nutrição e Dietética Aplicadas à Enfermagem. '** Nutricionista. Doutor em Ciência dos Alimentos. Professor Assistente Doutor do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP disciplina Nutrição e Dietética Aplicadas à Enfermagem. Rev. Esc. Enf. V8P, S&o Paulo, «(1) :17-22, abr. 1987 17

A carência de ferro, em maior ou menos grau, determina queda na capacidade geral de desempenho do indivíduo, prejudica o crescimento, facilita a instalação de processos infecciosos, limita o rendimento do aprendizado, reduz a produtividade no trabalho e aumenta o risco de morbidade e mortalidade materna e fetal (INTERNATIONAL NU TRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP, 1977). A anemia ferropriva resulta de desequilíbrio entre o ferro absorvido pelo organismo e a necessidade orgânica do mineral. Esse desequilíbrio tende a ocorrer quando o consumo do nutriente é baixo, ou quando sua absorção é pobre, geralmente associado à perda anormal do mineral (principalmente devida a infestações parasitárias), ou ao aumento na sua demanda (períodos de intenso anabolismo como crescimento e gestação) BAKER & DEMAEYER, 1979; INTERNATIONAL NUTRI TIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP, 1977; ROYSTON, 1982) Em nosso meio, questiona-se a baixa ingestão de ferro como fator determinante da anemia ferropriva, já que o estudo do INTER DEPARTMENTAL COMMITTEE ON NUTRITION FOR NATIONAL DEFENSE (1965) mostrou que a ingestão média de ferro no Nordeste do Brasil era de 17,4 mg por dia para adultos de ambos os sexos. Estudo mais recente realizado pela FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (1982), que caracteriza o perfil nutricional de crianças e mães no Brasil, mostrou dados semelhantes para a população nordestina. Baseada nas recomendações do FOOD AND NU TRITION BOARD (1980) que preconizam 18 mg. de ferro para mulheres adultas e 10 mg. de ferro para homens adultos, a análise da questão, do ponto de vista estritamente quantitativo, sugere que a ingestão de ferro na dieta não é a principal responsável pela elevada prevalência de anemia naquela região. Nesse sentido, tem-se atribuído papel relevante às infestações parasitárias no desenvolvimento da anemia ferropriva, visto que eles condicionam aumento na perda do mineral e constituem problema bastante comum de saúde pública no Brasil (FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASI LEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1982; INTERDEPARTA MENTAL COMMITTEE ON NUTRITION FOR NATIONAL DEFENSE, 1965; SZARFARC, 1972). Entretanto, um estudo dietético por nós realizado em estudantes universitários do sexo feminino mostrou que o nutriente com mais baixa adequação foi o ferro, cujo consumo médio foi de 13,1 mg/dia, o que corresponde a 72% dos 18 mg de ferro por dia recomendados pelo FOOD AND NUTRITION BOARD (1980). (FUJIMORI et alii, 1986). A mulher jovem passa por rápido crescimento durante a adolesciência, o qual associado à menarca que ocorre nessa época, aumenta a necessidade orgânica de ferro, podendo exaurir a reserva do mineral (MARSHALL & TANNER, 1969; SCOTT & PRITCHARD, 1967). A reserva de ferro na mulher parece ser fundamental na prevalência e na intensidade com que ocorre a anemia na gestação (INTERNATIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP, 1977; WHITE, 1970; WORLD

HEALTH ORGANIZATION, 1975). Assim sendo, o baixo consumo de ferro em uma população feminina em idade reprodutiva, como foi por nós verificado, é motivo de preocupação. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de caracterizar o estado nutricional de ferro do mesmo grupo de estudantes universitários do sexo feminino, cujo consumo alimentar foi por nós estudado (FU JIMORI et alii, 1986). A presença ou não de anemia foi verificada através da determinação da concentração de hemoglobina e do valor do hematócrito e, além disso, foi realizado exame parasitológico na tentativa de se detectar perda anormal de ferro por infestação parasitária. METODOLOGIA Fizeram parte do estudo 47 estudantes universitários do sexo feminino, com idade média de 19,8 anos. Todas as estudantes haviam sido submetidas a um estudo dietético, cujos resultados mostraram consumo médio de ferro que representava somente cerca de 72% da recomendação (FUJIMORI et alii, 1986). Foram colhidos 2 ml de sangue, das estudantes em jejum; após a colheita, procedeu-se à dosagem de hemoglobina e à medida do valor do hematócrito. Amostras de fezes para controle parasitológico também foram recolhidas e analisadas. Para a determinação da concentração hemoglobínica no sangue foi utilizado o «kit» Hemoglobin Roche (Artigo n* 1015), baseado no princípio fotocolorimétrico descrito por DRABKIN & AUSTIN (1935). O hematócrito foi determinado pelo método de microhematócrito em macrocentrífuga descrito por RIBEIRO (1971). Para a análise das fezes, os métodos empregados foram de Willis e Hoffman e colaboradores, descritos em GOULART & LEITE (1978). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 são apresentados os resultados dos exames laboratoriais realizados. TABELA 1 MEDIAS (x) E DESVIOS PADRÃO (s) DE HEMATÓCRITO E HEMOGLOBINA DA POPULAÇÃO ESTUDADA. Exame laboratorial x ± s Hematócrito (%) Hemoglobina (g/dl) 42,8 ± 2,6 15,0 ± 1,1

Os dados mostram que, a despeito da baixa ingestão de ferro (72% de adequação) encontrada na população estudada (FUJIMORI et alii, 1986), nenhuma estudante apresentou valores de hemoglobina abaixo do mínimo de 12 mg/100ml estipulado pela WORLD HEALTH ORGANIZA TION (1972). Quanto ao valor do hematócrito, o mínimo aceitável para a mulher, segundo WINTROBE (1967), é 38% e, neste estudo, foram encontrados valores que variaram de 38 a 48%. WHITE (1970) encontrou baixa ingestão média de ferro (10 a 12 mg/dia) e concentrações médias de hemoglobina dentro da faixa de normalidade, nas 60 investigações que analisou. Por sua vez, BEATON et alii (1970) também relatam consumo de ferro igual a 12,4 mg por dia, e valores de hemoglobina e hematócrito iguais a 13,3 g/100 ml e 41,3%, respectivamente, em mulheres na idade fértil. Cabe, aqui, salientar que só a dosagem de hemoglobina não permite diagnosticar deficiência leve de ferro, pois, como se sabe, a diminuição no nível de hemoglobina circulante só ocorre nos estágios mais avançados de carência desse mineral (BOWERING et alii, 1976; COOK & FINCH, 1979). Assim sendo, é importante ressaltar que SCOTT & PRITCHARD (1967) observaram esgotamento da reserva de ferro em 24% de uma população de estudantes universitários americanos do sexo feminino, que tinham em média 13,0 g/100 ml como valor de hemoglobina. Estes autores avaliaram a reserva de ferro por meio do exame histológico da quantidade de ferro presente nas células reticuloendoteliais da medula óessea, que, segundo a WORLD HEALTH ORGANIZATION (1975), constitui uma das formas de se avaliar a reserva de ferro em estudos clínicos. É importante considerar que grande parte da população do presente estudo poderia estar sujeita a desenvolver anemia ferropriva se o consumo do mineral continuasse baixo por tempo prolongado; apesar do nível normal de hemoglobina, a reserva de ferro no organismo poderia estar baixa, e qualquer situação que impusesse maior utilização biológica poderia constituir fator decisivo no desencadeamento da anemia. Dez estudantes relataram que já haviam sido anêmicas em alguma época da vida e haviam feito tratamento alimentar ou medicamentoso para essa carência. Não foi constatada qualquer outra variável que pudesse ter alterado significativamente os dados laboratoriais. No que toca à freqüente associação da deficiência de ferro e anemia com infestações parasitárias, as investigações têm demonstrado que a mais importante causa da perda patológica de ferro é a infestação por ancilóstomas, que afeta grandes proporções da população das regiões tropicais e sub-tropicais (BAKER, 1978; BAKER & DEMAEYER, 1979; GANDRA, 1969; HALLBERG, 1982; WORLD HEALTH ORGANIZA TION, 1975). No presente estudo, o exame parasitológico só detectou uma estudante infestada por Trichuris trichiura, parasita que somente impõe per- 20 Rev. Esc. Ewf. USP, Sáo Paulo, 21(1) :17-22, abr. 1987

da significante de ferro no caso de infestação maciça (BAKER & DE- MAEYER, 1979); os valores de hematócrito ou hemoglobina dessa estudante não foram, no entanto, diferentes dos encontrados no restante da população estudada. CONCLUSÕES Os exames laboratoriais não caracterizaram um quadro anêmico, apesar do baixo consumo de ferro dietético verificado nessa população. A única infestação parasitária encontrada foi por Trichuris trichiura, que parece não interferir significativamente na perda de ferro. Como o nível de hemoglobina circulante só se altera nos estágios mais avançados da deficiência de ferro, e o consumo desse mineral foi limitado, devem ser consideradas as possibilidades de que as reservas orgânicas do mineral estejam baixas ou esgotadas. FUJIMORI, E.; SALUM, M.J.L.; SHIMA, H. Evaluating the iron nutritional status of female university students. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo, 2/(1):17-22, Apr. 1987. A study to evaluate the iron nutritional status was carried out envolving 47 female university students, whose diets contained the average of 72% of the recommented dietary allowances of iron. The results show that, in spite of the low consumption of iron, the concentration of hemoglobin and the value of hematocrit was within the border line of normality. The possibility of the organic iron stores being minimal or absent is discussed. UNITERMS: Nutrition. Nutritional requirements. Iron. Iron deficiency anemia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKER, S.J. Nutritional anemia: a major controlable public health problem. Boll. Who. Geneva, 56(5):659-75, 1978. BAKER, S.J. & DEMAEYER, E.M. Nutritional anemia: its understanding and control with special reference to the work of the World Health Organization. Am. J. Clin. Nutr., Bethesda, 32(2):368-417, 1979. BEATON, G.H.; THEIN, M.; MILNE, H.; VEEN, M.J. Iron requirements of menstruating women. Am. J. Clin. Nutr., Bethesda, 23(3):275-83, 1970. BOWERING, J.; SANCHEZ, A. M.; IRWIN, M. I. A conspectus of research on iron requirements of man. J. Nutr., Philadelphia, 106(7) :985-1074, 1976. COOK, J.D. & FINCH, C.A. Assessing iron status of a population. Am. J. Clin. Nutr., Bethesda, 32(10):2115-9, 1979. DRABKIN, D.Li. & AUSTIN, H. Spectrophotometry studies. II. Preparation from washed blood cells; nitric oxide hemoglobin and sulfhemoglobin. J. Biol. Chem., Baltimore, 112(1): 51-65, 1935. FOOD AND NUTRITION BOARD. Recommended dietary allowances. 9.ed. Washington, National Academy of Sciences National Research Council, 1980. FUJIMORI, E.; SHIMA, H.; SALUM, M. J. L. Estudo sobre consumo alimentar de estudantes universitarios do sexo feminino. Bev. Esc. Ení. USP, São Paulo, 20(2):115-24, ago. 1986.

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Perfil estatístico de crianças e mães no Brasil: aspectos nutricionais, 1974-75. Rio de Janeiro, 1982, 267p. GANDRA, Y.R. Iron-deficiency anemia in Latin American and Caribbean Populations. In: PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Iron metabolism and anemia. Washington, 1969. p.56-64. (Scientific Publication, 184). GOULART, E.G. & LEITE, I.C. Exame parasitológico de fezes. In:. Moraes: parasitología e micologia humana. 2.ed. Rio de Janeiro, Cultura Médica, 1978. cap.75, p.500. GUERRA, C.C.C. Pronunciamento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HEMATOLOGIA, 10-?, São Paulo, 22 out. 1983. HALLBERG, L. Iron absorption and iron deficiency. Ham. Natr. Clin. Nutr., London, 360(4):259-78, 1982. INTERDEPARTMENTAL COMMITTEE ON NUTRITION FOR NATIONAL DEFENSE. Northest Brazil: nutrition survey: a report. Washington, 1965. apud GANDRA, Y.R. Iron deficiency anemia in Latin American and Caribbean populations. In: PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Iron metabolism and anemia.. Washington, 1969. p.56-64 (Scientific Publication, 184). INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP. Guidelines for the eradication of iron deficiency anemia: a report.. New York, Nutrition Foundation, 1977. 29p. MARSHALL, W.A. & TANNER, J.M. Variations in patter of pubertal changes in girls. Arch. Dls. Child., London, 44(235):291-303, 1969. RIBEIRO, W.R. Apontamentos de hematologia prática. Goiânia, Universidade Federal de Goiás, 1971. p.70-2. ROYSTON, E. The prevalence of nutritional anaemia in women developing countries: a critical review of available information. World Health Stat. Q., Geneve, 35(2):52-91, 1982. SCOTT, D.E. & PRITCHARD, J.A. Iron deficiency in health young college women. JAMA, Chicago, 199(12):897-900, 1967. SEMINARIO SOBRE ANEMIAS NUTRICIONAIS NO BRASIL, Brasilia, 26-27 out. 1977. Relatório final. Brasília, Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, 1977. SZARFARC, S.C. Anemia ferropriva em populações da região sul do Estado de São Paulo. Rev. Saúde Públ., São Paulo, 6(2):125-33, 1972. WINTROBE, M.M. Clinical hematology. 6.ed. Philadelphia, Lea & Febiger, 1967. p.86. WHITE, H.S. Iron deficiency in young women. Am. J. Public Health. Washington, 60(4): 659-65, 1970. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Nutritional anemias. Geneve, 1972. 32p. (Technical Report Series, 503).. Control of nutritional anaemia with special reference to iron deficiency. Geneve, 1975. (Technical Report Series, 580). Recebido para publicação em 20/11/86 Aprovado para publicação em 4/5/87 22 Rev. Eac. Ewf. USP, Sâo Paulo, M(l) :17-22, abr. 1987