DOCUMENTO DE TRABALHO



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ÍNDICE APRESENTAÇÃO 02 HISTÓRIA 02 OBJECTIVOS 02 CURSOS 04 CONSULTORIA 06 I&D 07 DOCENTES 08 FUNDEC & IST 09 ASSOCIADOS 10 PARCERIAS 12 NÚMEROS 13

Transcrição:

ASSEMBLEIA PARLAMENTAR PARITÁRIA ACP-UE Comissão dos Assuntos Políticos 30.10.2007 DOCUMENTO DE TRABALHO sobre as experiências do processo de integração regional europeu pertinentes para os países ACP Co-relatores: Bornito de Sousa (Angola) e Filip Kaczmarek DT\684559.doc APP 100.178 Tradução Externa

I. Introdução A integração regional é um dos elementos dominantes da política internacional, tanto na Europa como nos países ACP. Quase todos estes países são membros de pelo menos uma organização regional (ver anexo). A União Africana, fundada em 2002, com objectivos ambiciosos e uma grande variedade de instituições comuns, oferece o mais sólido enquadramento de sempre para o processo de integração pan-africana, superior a quaisquer outros, que existiram até então. A União Europeia apoia activamente o processo de integração regional, que é um objectivo explícito da cooperação entre a União Europeia e os países ACP, nos termos do Acordo de Cotonu 1. Os documentos de estratégia regional que estabelecem os objectivos para o FED também se baseiam no pressuposto de que o desenvolvimento deve incluir projectos e programas de cooperação transfronteiras. A integração regional não é um fim em si, mas um processo que se considera conduzir a resultados positivos, em três áreas, pelo menos: - Estabilização da paz e prevenção de conflitos, graças ao aprofundamento da interdependência, ao estabelecimento de relações de confiança e ao reforço do entendimento entre as sociedades e as culturas 2. - Desenvolvimento económico, mediante o fomento do intercâmbio de bens e recursos, a criação de economias de escala, o estímulo ao investimento e a facilitação da integração no sistema de comércio mundial 3. - A prestação de "serviços de utilidade pública regionais" e a gestão dos desafios com dimensão transnacional, como a SIDA, os problemas ambientais ou a migração. Integração regional designa o processo através do qual os subsistemas territoriais desenvolvem as suas ligações económicas, institucionais e políticas, de modo a que unidades até então independentes construam um todo mais vasto. A integração é um processo a longo prazo, que começa com uma cooperação e uma colaboração mais estreitas. A integração económica inicia-se habitualmente pela construção de uma zona de comércio livre, seguida de uma união aduaneira, de um mercado interno e, por fim, de uma união económica e monetária. Todavia, não existe qualquer receita para a integração regional. Os membros de cada grupo regional têm de tomar medidas políticas complexas, entre as quais se incluem: - uma definição do estatuto de membro e das condições de adesão; - a extensão e a profundidade da integração, isto é, os sectores políticos abrangidos e o grau de harmonização e regulamentação vinculativa dentro de cada sector; - a sequência da integração em diversos domínios políticos; - a forma e o poder das instituições, designadamente em que medida serão incluídos 1 Artigo 1.º: "( ) são incentivados os processos de integração regional e sub-regional que facilitem a integração dos países ACP na economia mundial em termos comerciais e de investimento privado." A cooperação em apoio da integração económica regional também é explicitamente mencionada no artigo 29.º. 2 Ver também, a este respeito, a Resolução sobre o papel da integração regional na promoção da paz e da segurança, aprovada pela reunião da Assembleia Parlamentar Paritária ACP-UE, em Viena (Áustria), nos dias 19 a 22 de Junho de 2006. 3 Esta expectativa traduz-se no enorme aumento do número de acordos de comércio regionais (ACR), nos últimos anos. Estima-se que existam cerca de 320 ACR no mundo inteiro e que cada país pertença pelo menos a um deles. APP 100.178 2/12 DT\684559.doc

elementos supranacionais, como secretariados autónomos e eficientes, a decisão por maioria e o carácter de órgão jurisdicional obrigatório, bem como regras para definir os limites dos poderes das instituições regionais (por exemplo, o princípio de subsidiariedade). A integração é, em última análise, um processo em que importa responder repetidamente às perguntas sobre quem, quando, o quê e como, tendo em conta a avaliação da existência ou inexistência das condições políticas prévias para se darem certos passos no sentido da integração. II. Contextos históricos e desafios Estudar as lições que a União Europeia 1, a organização regional mais avançada do mundo, aprendeu durante mais de 50 anos pode ser um exercício útil para as outras regiões. No entanto, este "olhar para a Europa" não deve ser confundido com a busca de um "modelo". Em primeiro lugar, o processo de integração da Europa passou por fases muito difíceis e deparou com problemas estruturais que podem ser evitados por outros grupos regionais. Em segundo lugar, as condições e os desafios que se colocam aos diversos grupos ACP são muito diversos. A heterogeneidade traduz-se em conceitos muito diferentes de integração que vão desde uma noção mais filosófica centrada nos valores e na unidade política, até objectivos mais concretos e económicos. As experiências pertinentes para alguns grupos podem nem sempre ser pertinentes para outros, ao passo que noutros domínios são as experiências e realizações dos países ACP que podem ter interesse para a União Europeia. Em terceiro lugar, a integração europeia iniciou-se e aprofundou-se em condições políticas e históricas muito específicas, que dificilmente se encontram noutras regiões do mundo. O processo de integração europeia foi lançado depois da devastadora Segunda Guerra Mundial, quando os políticos e as sociedades tinham um forte desejo de evitar a guerra no futuro. Todos os Estados-Membros que fundaram ou aderiram à CE e depois à UE eram democracias eficazes (se bem que muitas delas ainda fossem incipientes). Existiam fortes laços históricos entre todos os países, em cuja base a ideia de uma Comunidade Europeia se podia desenvolver. O conflito Leste-Oeste proporcionou um incentivo adicional para que os países da Europa Ocidental unissem esforços e superassem as divergências. O contexto económico mundial ainda não se caracterizava por um regime de comércio livre à escala global, facto que permitiu à CE integrar o mercado interno antes de se abrir ao mercado mundial. Os desafios históricos que se colocam à integração na região ACP eram e continuam a ser bastante diferentes. Na África, em especial, os primeiros passos para a integração regional foram dados após décadas de domínio colonial, em paralelo com o difícil processo de construir e consolidar Estados-nação e identidades nacionais. Muitos países tinham e ainda têm importantes ligações comerciais com países industrializados, e não com os seus vizinhos 1 A União Europeia (UE) nasceu em 1993 com a entrada em vigor do Tratado de Maastricht. Relativamente aos períodos anteriores, o presente texto utiliza o termo CE (Comunidade Europeia), que faz agora parte da União Europeia. A CE foi fundada com a designação de Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1957, em paralelo com a Comunidade Europeia da Energia Atómica (também denominada Euratom). DT\684559.doc 3/12 APP 100.178

do Sul, em grande medida devido ao passado colonial. 1 A luta contra a pobreza e pelo desenvolvimento económico tem sido um importante factor de motivação para que muitos países ACP adiram a processos de integração regional e continua a constituir uma das principais prioridades desses países. III. Experiências da integração europeia Composição A União Europeia começou com um número de países bastante pequeno e foi-se alargando progressivamente. Apesar de os pedidos de adesão apenas se terem formalizado posteriormente, todos os países aderentes deviam preencher alguns critérios mínimos à partida: uma estrutura democrática, respeito dos direitos humanos, uma economia de mercado, a inexistência de qualquer conflito armado com outros Estados-Membros e disponibilidade para aceitar o acervo da CE/UE. Deste modo, foi assegurado um elevado grau de homogeneidade, em termos políticos e constitucionais. Em contrapartida, a existência de um nível semelhante de desenvolvimento e de prosperidade não constituía condição, existindo diferenças consideráveis entre países ricos e pobres na CE/UE. Estas diferenças económicas foram objecto de políticas específicas de apoio estrutural que tiveram êxito em muitos casos (por exemplo, Irlanda, Espanha, Portugal e Grécia). No entanto, com as recentes rondas de alargamento, a UE começou a ficar sob pressão. O apoio público aos novos alargamentos está a diminuir devido ao receio dos custos sociais e económicos e de um esforço excessivo a nível político. A UE começou a adaptar o seu quadro institucional à nova situação, uma adaptação que se revelou ser um processo cada vez mais difícil. A segunda reacção à crescente heterogeneidade e às diferenças políticas foi uma "integração flexível", em que apenas uma parte dos membros aderem a projectos de integração mais profunda (por exemplo, Schengen, UEM, defesa). Estas iniciativas, porém, só têm sido aceitáveis para os que ficam de fora se forem concebidas de uma forma aberta e não exclusiva, e a aplicação generalizada de uma integração flexível continua a ser muito controversa. Amplitude, profundidade e sequência Após as tentativas federalistas de criação dos "Estados Unidos da Europa" terem falhado, a UE conseguiu adoptar uma abordagem funcional e gradual à integração. A cooperação iniciou-se em alguns sectores em que foi possível identificar interesses comuns e depois "alastrou" a outros domínios. A CE começou por criar políticas e estruturas para a regulamentação e a gestão do sector do carvão e do aço, com o objectivo político de impossibilitar a guerra através do controlo conjunto dos recursos essenciais para o sector da defesa. A integração económica foi depois alargada a outros sectores com a fundação da Comunidade Económica Europeia, mas o alargamento e o aprofundamento levaram tempo. A conclusão do mercado interno demorou 35 anos (e ainda tem lacunas), e a União Económica e Monetária que só abrange uma parte dos Estados-Membros foi realizada ao fim de 45 anos. É importante salientar que a liberalização económica se fez acompanhar de medidas 1 Em África, o comércio intra-regional equivale, em média, a 10% do comércio total dos países. APP 100.178 4/12 DT\684559.doc

como o estabelecimento de normas em determinados domínios (defesa do ambiente ou do consumidor, intervenção nos mercados, como o sector agrícola) e também de políticas redistributivas, nomeadamente os Fundos Estruturais. A solidariedade foi, assim, um princípio muito importante, que acompanhou o processo de integração económica desde o início. Áreas mais sensíveis, como a política externa e a segurança interna foram mais tarde adicionadas à agenda da integração, depois de as necessidades funcionais se terem tornado visíveis. O estabelecimento de relações de confiança, a "aprendizagem" das vantagens da integração, o reforço das instituições e a mobilização dos agentes da sociedade civil transnacional também foram condições necessárias para um aprofundamento e um alargamento bem sucedidos. Simultaneamente, sectores como a cultura e a educação foram em grande medida protegidos da harmonização. Os princípios da "unidade na diversidade" e da subsidiariedade têm sido orientações importantes nesta matéria. A abordagem funcional e progressiva ajudou a avançar com a integração, apesar das diferenças políticas, mas também originou alguns desequilíbrios. Embora se tenham feito progressos enormes no comércio livre de mercadorias, ainda existem obstáculos burocráticos à livre circulação de pessoas. A política externa da Europa não está à altura do seu papel nas políticas de comércio e de desenvolvimento. Instituições A mistura europeia de elementos supranacionais e intergovernamentais revelou-se muito eficaz para equilibrar a lógica da integração regional com a soberania nacional. O sistema decisório, composto pela Comissão, que defende os interesses comunitários, o Conselho, que representa os Estados-Membros, e o Parlamento, que representa os cidadãos, permitiu que a dinâmica da integração se desenvolvesse e que, simultaneamente, os Estados-Membros pudessem proteger interesses vitais. O Tribunal desempenha um papel eficaz de garantia da aplicação das decisões comuns e o cumprimento dos compromissos recíprocos. Os Estados mais pequenos estão sobre-representados em todas as instituições, o que tem ajudado a reduzir as diferenças em termos de poder e aumentou a disponibilidade dos membros mais pequenos para apoiarem o processo de integração. A cooperação bilateral (o "motor francoalemão") conduziu ao lançamento de novos projectos de integração, mas não lhe foi permitido substituir a natureza multilateral de uma tomada de decisões formal. Desde o início que a Comissão, tal como o Tribunal, dispuseram dos recursos financeiros e humanos adequados, o que também garantiu um elevado grau de autonomia e independência. De acordo com uma abordagem funcional, os elementos supranacionais do sistema institucional evoluíram ao longo do tempo. A decisão por maioria, a natureza do Tribunal como órgão jurisdicional obrigatório e o poder legislativo do Parlamento Europeu foram alargados por várias reformas dos Tratados. Em áreas sensíveis, como a política externa e alguns aspectos da segurança interna, manteve-se o processo decisório intergovernamental. O lado negativo do equilíbrio delicado e do desenvolvimento progressivo do sistema institucional é a falta de transparência e, por vezes, de eficiência. As complexidades do processo decisório também suscitaram um excesso de regulamentação em algumas áreas. O reforço do carácter democrático e da eficiência tem constituído um importante desafio para o DT\684559.doc 5/12 APP 100.178

debate sobre a reforma, nos últimos anos, e inspirado iniciativas destinadas a gerar um apoio activo ao projecto europeu entre os cidadãos. O Parlamento só gradualmente foi reforçando o seu papel, acompanhando os interesses e preocupações sociais crescentes, mas o seu poder legislativo permanece limitado em algumas áreas fundamentais. IV. Conclusões 1. A integração pode ajudar a garantir e a consolidar a paz em situações "pós-conflito". Na Europa, a paz é assegurada através de uma estreita interdependência económica, de intercâmbios sociais e de um melhor entendimento entre os cidadãos, bem como da existência de instituições e de práticas para uma resolução pacífica dos conflitos. No início, é necessário, porém, que exista vontade política para ultrapassar a herança das guerras do passado. É necessário que os governos e as sociedades estejam dispostos a reiniciar um processo de reconciliação e a partilhar a soberania com antigos inimigos. A regulamentação de um sector económico em que o controlo conjunto seja considerado particularmente relevante como o sector do carvão e do aço na Europa pode ser uma estratégia para desenvolver a confiança. 2. As diferenças económicas entre parceiros nos processos de integração regional não têm de ser um obstáculo à integração. Contudo, o caso europeu pode ter sido particularmente bem sucedido, porque a UE também criou mecanismos para reduzir estas diferenças e aumentar a coesão económica e social, bem como para prevenir novas desigualdades, apoiando a adaptação aos processos de modernização e integração, financiados pelo orçamento comunitário. Estas "políticas de desenvolvimento interno" são, evidentemente, mais difíceis de financiar em grupos regionais constituídos, principalmente ou em exclusivo, por países em desenvolvimento. Além disso, o rendimento proveniente dos direitos aduaneiros externos, uma das fontes do orçamento da CE, tende a diminuir. Assim, podem ser ponderados outros mecanismos inovadores para financiar esses fundos de solidariedade, incluindo o recurso à ajuda internacional. 3. A homogeneidade em termos políticos conduz à integração regional. A natureza democrática dos Estados-Membros pode mesmo ser considerada como uma condição prévia para aprofundar a integração, por três razões, no mínimo: só os governos com forte legitimidade podem assumir "compromissos credíveis" para com outros Estados parceiros; as democracias são muito pouco susceptíveis de utilizar meios violentos para resolver os conflitos que tenham entre elas; um elemento fundamental para impulsionar os processos de integração é a formação de associações de interesse transnacionais e a mobilização de movimentos sociais, que apenas podem florescer num ambiente aberto e democrático. As iniciativas endógenas para promover a democracia e acompanhar as normas políticas comuns, como o Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares (MAAP) em África, ou os mecanismos regionais de observação eleitoral, podem considerar-se, portanto, da maior importância para o êxito dos projectos de integração regional na região ACP. Essas iniciativas devem ser reforçadas pelos Estados ACP e apoiadas pela União Europeia. A diversidade cultural, pelo contrário, é uma vantagem, e não uma ameaça para a integração regional. Deverá ser fomentada e protegida para garantir um apoio sustentado dos cidadãos. APP 100.178 6/12 DT\684559.doc

4. Certas formas de integração flexível, em que só alguns Estados membros avançam em determinados sectores, podem ser uma solução quando os membros de um grupo regional (ainda) não tenham conseguido chegar a acordo sobre o aprofundamento, ou as disparidades económicas sejam excessivamente elevadas. Esses projectos internos devem ser concebidos de forma não exclusiva e permitir que outros Estados adiram posteriormente. 5. O desenvolvimento de estruturas de integração sustentáveis demora tempo. Estabelecer objectivos comuns realistas é importante, porque define a direcção dos processos de integração a longo prazo e permite que os progressos e êxitos sejam avaliados. Impõe-se, contudo, evitar as agendas excessivamente ambiciosas. Estas são susceptíveis de falhar, tal como aconteceu na Europa (por exemplo, com a Comunidade Europeia de Defesa, em 1954, e as primeiras tentativas de lançar uma moeda única, na década de 1970). A abordagem progressiva, funcional, parece ser recomendável para o processo de integração noutras regiões. Através da concentração em algumas questões prioritárias, em que seja possível identificar interesses e objectivos comuns, e obter mais facilmente uma cooperação positiva, podem desenvolver-se relações de confiança e criar condições para a integração em domínios mais controversos e políticos. No entanto, são as questões muito políticas e, consequentemente, controversas, como a segurança, a democracia e os direitos humanos, que se revestem de maior importância para a região ACP. Essas questões também assumiam enorme importância para a Europa, mas a Comunidade Europeia pôde concentrar-se nos domínios menos políticos, visto que a NATO e a União da Europa Ocidental se encarregavam da segurança e da defesa, enquanto o Conselho da Europa promovia os direitos humanos. Este tipo de diferenciação funcional entre organizações regionais interligadas também poderá interessar a outras regiões. 6. Um secretariado forte, dotado de recursos e autonomia suficientes, contribui para fazer avançar a integração regional, pode assegurar o estabelecimento e a aplicação de normas, reforça os processos de criação de consensos e defende os interesses do grupo regional nas negociações com entidades externas. Simultaneamente, o receio de um excesso de burocratização existente na UE realça a necessidade de se tomarem medidas que garantam a responsabilização e a transparência dos secretariados. A União Europeia, incluindo o Parlamento como instituição de controlo, poderia partilhar as suas experiências e prestar apoio ao desenvolvimento das capacidades necessárias noutras regiões. Contudo, a concepção institucional concreta dos grupos regionais ACP não deve ser moldada à semelhança da UE ou de qualquer outra organização, mas sim adaptada ao nível de integração e à vontade política dos Estados membros. Será de esperar que se desenvolva ao longo do tempo, da base para o topo, e não do topo para a base, como aconteceu com o quadro institucional e o processo decisório na União Europeia. 7. Para que os Estados mais pequenos acedam a partilhar a soberania em organizações regionais, é necessário atenuar as diferenças em termos de poder. Os membros mais poderosos devem estar dispostos a não empregar os seus recursos de poder directos e talvez seja necessário assegurar uma sobre-representação sistemática das entidades mais pequenas nas instituições. DT\684559.doc 7/12 APP 100.178

8. No actual sistema de comércio mundial liberalizado, os grupos regionais têm muito mais dificuldade em consolidar o seu mercado interno, antes de celebrarem acordos de comércio livre com organizações ou Estados do exterior, do que teve a UE. Este é um desafio particularmente importante para as organizações regionais do mundo em desenvolvimento, em que a integração do mercado é demorada devido às estruturas e preferências comerciais muito diversificadas dos Estados membros. A UE deverá prestar apoio aos países ACP na formulação das suas políticas de comércio externo, de uma forma favorável ao desenvolvimento e que aprofunde a integração regional. 9. É importante envolver os parlamentos e os cidadãos para garantir a responsabilização, a transparência e, em última análise, o apoio público dos cidadãos aos processos de integração regional, uma lição que a UE aprendeu bastante tardiamente. Os parlamentos também são um fórum importante para debater publicamente os conflitos de interesses entre os Estados membros, para desenvolver a confiança e formular soluções baseadas nos interesses a longo prazo das sociedades, e não nos interesses do poder a curto prazo. Os parlamentos e a sociedade civil também desempenham um papel fulcral no acompanhamento da democracia e dos direitos humanos nos países membros e exigindo uma responsabilização das instituições criadas pelas organizações regionais. A UE e o ACP devem, por isso, intensificar o seu apoio às estruturas parlamentares das organizações regionais e às organizações da sociedade civil envolvidas nos debates sobre a integração regional. APP 100.178 8/12 DT\684559.doc

REGIONAL ORGANISATIONS IN THE ACP REGION ANNEX AFRICA: Regional Groups: SADC Southern African Development Community) COMESA Common Market for Eastern and Southern Africa SACU Southern Africa Customs Union EAC East African Community ECCAS Economic Community of Central African States CEPLG Economic Community of the Great Lakes Region CEMAC Central African Economic and Monetary Union ECOWAS Economic Community of West African States WAEMU West African Economic and Monetary Union IGAD Inter-governmental Authority on Development CENSAD Community of Sahelo-Saharan States REGIONAL ORGANISATION SADC COMESA SACU EAC ECCAS CEPLG CEMAC ECOWAS WAEMU IGAD CENSAD MEMBER STATES Angola, Botswana, Democratic Republic of Congo, Lesotho, Madagascar, Malawi, Mauritius, Mozambique, Namibia, Seychelles, South Africa, Swaziland, Tanzania, Zambia, Zimbabwe. Burundi, Comoros, D.R. Congo, Djibouti, Egypt, Eritrea, Ethiopia, Kenya, Libya, Madagascar, Malawi, Mauritius, Rwanda, Seychelles, Sudan, Swaziland, Uganda, Zambia, Zimbabwe. Botswana, Lesotho, Namibia, South Africa, Swaziland. Burundi, Kenya, Rwanda, Uganda, Tanzania. Angola, Burundi, Cameroon, Central African Republic (CAR), Chad, Democratic Republic of Congo (DRC), Republic of Congo, Equatorial Guinea, Gabon, Sao Tome and Principe. Burundi, Democratic Republic of Congo, Rwanda. Cameroon, Central African Republic, Chad, Congo, Equatorial Guinea, Gabon. Benin, Burkina Faso, Cape Verde, Cote d'ivoire, Gambia, Ghana, Guinea, Guinea Bissau, Liberia, Mali, Niger, Nigeria, Senegal, Sierra Leone, Togo. Benin, Burkina Faso, Cote d'ivoire, Guinea Bissau, Mali, Niger, Senegal, Togo. Djibouti, Eritrea, Ethiopia, Kenya, Somalia, Sudan, Uganda. Benin, Burkina Faso, Central Africa Republic, Chad, Comoros, Cote d'ivoire, Djibouti, Egypt, Eritrea, Gambia, Ghana, Guinea, Guinea Bissau, Liberia, Libya, Mali, Morocco, Niger, Nigeria, Senegal, Sierra Leone, Somalia, Sudan, Togo, Tunisia. DT\684559.doc 9/12 APP 100.178

EPA Groupings and pre-existing Regional Organisations: AFRICA SADC COMESA SACU EAC ECCAS CEPGL CEMAC ECOWAS WAEMU IGAD CENSAD SADC Grouping ESA Grouping ECOWAS Grouping Central Africa Grouping Angola * * Botswana * * Lesotho * * Mozambique * Namibia * * Swaziland * * * Tanzania * * Burundi * * * * Comoros * * Djibouti * * * Eritrea * * * Ethiopia * * Kenya * * * Madagascar * * Malawi * * Mauritius * * Rwanda * * * Seychelles * * Sudan * * * Uganda * * * Zambia * * Zimbabwe * * Benin * * * Burkina Faso * * * Cape Verde * Cote d'ivoire * * * Gambia * * Ghana * * Guinea * * Guinea-Bissau * * * Liberia * * Mali * * * Mauritania Niger * * * Nigeria * * Sierra Leone * * Senegal * * * Togo * * * Cameroon * * CAR * * * Chad * * * Congo * * DR of Congo * * * * Equatorial Guinea * * Gabon * * Sao Tome and Principe * APP 100.178 10/12 DT\684559.doc

CARIBBEAN: Regional Groups: CARIFORUM Forum of Caribbean States CARICOM Caribbean Community and Common Market OECS Organisation of Eastern Caribbean States REGIONAL ORGANISATION CARIFORUM CARICOM OECS MEMBER STATES Antigua and Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Cuba, Dominica, Dominican Republic, Grenada, Guyana, Haiti, Jamaica, Montserrat, St. Kitts and Nevis, Saint Lucia, St. Vincent and the Grenadines, Suriname, Trinidad and Tobago. Antigua and Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Grenada, Guyana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Saint Lucia, St. Kitts and Nevis, St. Vincent and the Grenadines, Suriname, Trinidad and Tobago. Anguilla, Antigua and Barbuda, British Virgin Islands, Dominica, Grenada, Montserrat, Saint Lucia, St. Kitts and Nevis, St. Vincent and the Grenadines. EPA Groupings and Pre-existing Regional organisations: CARIBBEAN CARICOM CARICOM DR FTA OECS CARIFORUM GROUPING Antigua and Barbuda * * Bahamas * Barbados * Belize * Dominica * * Dominican Republic * Grenada * * Guyana * Haiti * Jamaica * St. Kitts and Nevis * * St. Lucia * * St. Vincent and the Grenadines * * Suriname * Trinidad and Tobago * DT\684559.doc 11/12 APP 100.178

PACIFIC: Regional Groups: PICTA Pacific Island Countries Trade Agreement MSG Melanesian Spearhead Group REGIONAL ORGANISATION PICTA MSG MEMBER STATES Cook Islands, Fiji, Kiribati, Marshall Islands, Micronesia, Nauru, Niue, Palau, Papua New Guinea, Samoa, Solomon Islands, Tonga, Tuvalu, Vanuatu. Fiji, Papua New Guinea, Solomon Islands, Vanuatu. EPA Groupings and Pre-existing Regional organisations: PACIFIC PICTA MSG PACIFIC GROUPING Cook Islands * Fiji * * Kiribati * Marshall Islands * Micronesia * Nauru * Niue * Palau * Papua New Guinea * * Samoa * Solomon Islands * * Tonga * Tuvalu * Vanuatu * * Sources: South Center: Fact Sheet Nr. 4: Regional Integration and EPAs, March 2007, Geneva. http://www.cemac.cf/ http://www.uemoa.int/ http://www.igad.org/ http://www.cen-sad.org/ http://www.ecowas.int/ http://www.comesa.int/ http://www.ceeac-eccas.org/ http://www.sacu.int/ http://www.eac.int/ http://www.sadc.int/ http://www.bilaterals.org/ http://www.tralac.org/ http://www.apanews.net/ http://www.issafrica.org/ http://www.afriquecentrale.info/ http://www.oecs.org/ http://www.caricom.org/ http://www.forumsec.org/ APP 100.178 12/12 DT\684559.doc