COSMOVISÃO AFRICANA DAS ERVAS QUE ATUAM EM MALES PSÍQUICOS EM FORTALEZA/CEARÁ

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Transcrição:

COSMOVISÃO AFRICANA DAS ERVAS QUE ATUAM EM MALES PSÍQUICOS EM FORTALEZA/CEARÁ Alexandre Pinheiro Braga 1, Adriana Rolim Campos Barros 1, Antonio Carlos Rodrigues 2 1 Universidade de Fortaleza; 2 Instituto de Ensino Superior de Fortaleza yorgovitch@bol.com.br Resumo As religiões afro-brasileiras buscam na natureza e na fé sua força e seu equilíbrio. Como sabedoria popular, a Umbanda/Candomblé é procurada pela comunidade para assistência espiritual para variadas complicações de saúde, principalmente psicossocial. Nesse cenário, objetiva-se apresentar a ótica africana das ervas, que atuam em males psíquicos utilizados num terreiro candomblecista em Fortaleza/Ceará, baseando-se na obra Ewé òrisá de Flávio de Barros bem como no site Candomblé o mundo dos orixás. Trata-se de um estudo bibliográfico-descritivo da exposição das ervas selecionadas do estudo etnográfico de Braga em 2017 com a literatura proposta. Detalharam-se assim as características das evas de capim-santo camomila, melissa e pau de Angola, seu uso litúrgico, curativo e popular da rotina da casa de Candomblé pesquisada. Frente a essa breve descrição, pode se verificar a densidade da dinâmica curativa natural das religiões de matriz africanas que sucinta maior conhecimento e investigação pela ciência para proporcionar, na área da saúde, um atendimento com mais equidade e mais pertencimento. Palavras-chave: Fitoterapia. Terapia Combinada. Sistema Nervoso Central. Grupo com Ancestralidade do Continente Africano. Religião. Introdução A crença do povo nas mediações espirituais vem sendo valorizada na conjuntura moderna atual (VIEGAS, 2015). Nesse sentido, Anselmo (2012) afirma que os estudos relacionados com a medicina popular têm recebido um destaque cada vez maior, em virtude da variedade de informações e esclarecimentos da ciência.

Como exemplo de prática popular tem-se as religiões afro-brasileiras que vieram da ancestralidade africana pelo povo nagô, sudanês ou ioruba, estes cultuavam aos orixás com a natureza (PEREIRA, 2008; LIMA, 2015). Verger (1995) afirma que na terra africana iorubá, a nomeação das plantas leva em conta seu cheiro, sua cor, a textura de suas folhas, sua reação ao toque e a sensação provocada por seu contato, entre outras. Na prática das religiões afro-brasileiras, usam-se suas ervas e seus aconselhamentos para garantir a eficiência do seu tipo tratamento. Os banhos e sacudimentos são preparos de ervas feitos pelos babalorixás, sacerdote responsável pelo culto, no terreiro que tem a função de reincidir o ser e o espírito. Estes associados com a orientação dos chás trabalham na construção do bem-estar dos seus filhos (MOTA, 2011). No mergulho étnico, cultural e religioso de Braga (2017), foi evidenciado uma prevalência de terapias para problemas psíquicos como depressões e reconciliações espirituais na casa de Candomblé estudada. A dinâmica assistencial do terreiro aos seus membros pode ser concebida uma ação psicoterapêutica grupal que envolve aconselhamento, musicalidade, ritmo e crença, num processo de transpsiquiatria usada as plantas para o bem-estar do povo. A eficácia da terapia de grupo na qual o convívio possibilita que os participantes ao trocar suas vivências possam encontrar soluções ou força de superação das suas aflições (LIMA, 2015). Como pioneiros no estudo etnográfico das religiões africanas no Brasil temos o fotógrafo francês Pierre Fatumbi Verger dedicou sua vida, fotografando e posteriormente relatando os costumes, a história e a religião vinda da África e suas ramificações brasileiras, bem como também o professor, escritor e babalorixá (sacerdote responsável pelo culto na religião afro) José Flávio Pessoa de Barros classificou em vários livros as ervas usadas dinâmica religiosa afro-brasileira. Outro exemplo de exposição religiosa afro é a página da internet Candomblé: o mundo dos orixás que atualiza constantemente sobre esse universo. Nesta perspectiva, objetiva-se apresentar as principais características das ervas que atuam nos males psíquicos usadas num terreiro de Candomblé em Fortaleza/Ceará, tendo como base a cosmovisão africana pelo trabalho do professor Flávio de Barros bem como o site Candomblé: o mundo dos orixás.

Materiais e Métodos O estudo é um levantamento bibliográfico e descritivo das plantas, que atuam no Sistema Nervoso Central, orientadas numa casa candomblecista em Fortaleza/Ceará. A pesquisa descritiva agrupa dados que proporcionam verificar possibilidades e atividades do objeto em questão para melhor organizar e efetivar as reflexões pertinentes à ciência (LOBIONDO-WOOD, 2005). Foram utilizados para a execução da pesquisa as ervas que agem nos distúrbios psíquicos (depressão, insônia e ansiedade) listadas na pesquisa de Braga (2017) que investigou a percepção sobre a etnoecologia e a promoção da saúde dos integrantes num terreiro de Candomblé no Ceará, Brasil. A descrição bibliográfica dos preparos foram norteadas pelos conteúdos da pesquisa do professore Flávio de Barros bem como da página da internet Candomblé: o mundo dos orixás Resultados e Discussão Geralmente, os preparos iorubás comportam três a seis plantas diferentes, cada uma com uma nomenclatura baseada no caráter organoléptico e seu efeito esperado. Essas misturas são definidas pelas letras das encantações (os Ofòs) que são transmitidos oralmente, esse respeito e o cuidado com sua tradição, é o único meio de sustento e a preservação da sua fé. Para facilitar o estudo desses preparos, a Tabela 1 abaixo descreve as ervas que atuam no SNC relatas pelos participantes de uma casa de Candomblé em Fortaleza/Ceará da pesquisa de Braga (2015) que comparadas (ação e nome científico) com a literatura de Matos (2002;2007), obras do trabalho pioneiro da Farmácia Viva de José de Abreu Matos que é exemplo para o mundo. Tabela 1. Relação das ervas que atuam no SNC relatadas num terreiro de Candomblé em Fortaleza Ceará, 2015. Nome Relatado Nome Científico / Família a,b Ação a Ação Relatada Uso no terreiro Capim-santo Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Digestão e ansiedade Calmante Banhos e Chás

Camomila Chamomilla recutita Labiatae Melissa Lippia alba (Mill.) N.E.Brown Pau de Angola Vitex agnus-castus L, Verbenaceae a Matos,2002; b Matos, 2007 Disgetão Calmante Chás Calmante Calmante Chá Antiinflamatório Calmante Chá A procura nos terreiros ao tratamento da saúde vai muito mais além das enfermidades tradicionais, assistindo também aflições que são ditas popularmente que afetam o corpo e o espírito das pessoas. Baseado na literatura proposta enumerou-se as características significativas da medicina ioruba das plantas listadas acima bem como o tratamento, as quais são usadas, de forma acertada, hoje nos tratamentos das religiões afrobrasileiras: CAPIM-SANTO (Outros nomes populares: Erva-príncipe/ capim-limão/ capim-cidreira) Para Barros (1999) é uma erva consagrada aos orixás Oxóssi e Xangô, usadas em banhos de purificação e em chás, como calmante. É uma planta sagrada de utilidade frequente nas defumações diárias que se fazem nas roças. Proporcionar a afinação de espíritos defensores. O saber ancestral usa-se em muitas ocasiões: para resfriados, tosses, bronquites, também nas complicações da digestão, auxiliando o funcionamento do estômago (D OSOGIYAN, 2008). CAMOMILA (Outro nome popular: Marcela) Essa planta pertence a Oxalá e Oxum, é classificada como uma erva calma. Tem ressalvo uso nas obrigações litúrgicas, entretanto, tem uso nos banhos de descarrego e nos abo. É de grande atuação em lavagens intestinais das crianças, contra cólicas e regularizadoras das funções dos intestinos. O chá é usado como calmante, contra depressão e ansiedade (D OSOGIYAN, 2008). MELISSA (Outro nome popular: Erva cidreira) Barros (1999) diz que é um erva usada na Umbanda em banhos e em defumações para excitar a mediunidade e ajudar o transe bem como é utilizada como calmante,

estimulante e tônico do sistema nervoso. Não há utilização direta dessas erva na liturgia, sua ação se limita ao contexto da sabedoria diária, que a toma como excitante e antiespasmódico. O chá composto das folhas doce ou puro atua nas perturbações nervosas, histerismos e insónia (D OSOGIYAN, 2008). PAU DE ANGOLA (Outros nomes populares: Ervilha-de-Angola/Guando) Esta planta é dedicada para Oxalá com o objetivo de harmonizar o ser dos fiéis (BARROS, 1999). É utilizada em todas as obrigações. O uso comum pega-se as pontas dos ramos no combate das hemorragias e as flores atuam nas moléstias dos brônquios e pulmões (D OSOGIYAN, 2008). Conclusão Como saber popular, as religiões de matriz africana trazem da sua ancestralidade o respeito e a interação com a natureza para equilíbrio do corpo e da alma, sendo evidente assim o uso ritualista das ervas para os tratamentos de saúde de seus fiéis, como marcante os problemas psíquicos. O conhecimento desse universo é um caminho de quebra de paradigma que pode instigar a pesquisa. Para o setor saúde, esta investigação e este entendimento pode promover uma assistência mais humanizada à população negra, cuidando-a de forma específica, equiparada e holística. Agradecimentos Agradecemos primeiramente a Deus, a nossa família pelo apoio incondicional em todos os momentos. As oportunidades abertas na inserção na vida acadêmica em pesquisa científica. Aos colegas, amigos e professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Referências ANSELMO, A. F.; SILVA C. G.; MARINHO M. G. V.; ZANELLA F. C. V.; XAVIER D. A.

Levantamento etnobotânico de plantas medicinais comercializadas por raizeiros em uma feira livre no município de Patos PB. ISSN 1983-4209 Volume especial 2012. BARROS, J. F. P.; NAPOLEÃO, E. Ewé òrìṣà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé jêje-nagô. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil,1999. BRAGA, A. P. Percepção sobre o tratamento fitoterápico e a promoção da saúde dos integrantes no candomblé. 98 f. Dissertação (mestrado) Universidade de Fortaleza, 2015. BRAGA, A. P. et al. Perception of Candomble Practitioners About Herbal Medicine and Health Promotion in Ceará, Brazil. Journal of Religion and Health, p. 1-18, 2017. D OSOGIYAN F et al. Candomblé: O mundo dos Orixás As Ervas, 2008. Disponível em: < https://ocandomble.wordpress.com/ervas/ > Acesso em: 18 de setembro de 2017. MOTA, C.; LEITE, L. Corporeidade e Saúde no Candomblé: um estudo sobre percepção e práticas de cuidado com o corpo no contexto religioso. XI Congresso Luso Brasileiro de Ciências Sociais CONLAB. Salvador. Agosto de 2011. LIMA, C. Claudia Lima Pesquisadora. Diáspora negra para o território brasileiro. Disponível em:<http://www.claudialima.com.br/pdf/diaspora_negra_para_o_territorio_bra SILEIRO.pdf > Acesso em: 15 de jan. 2015. LOBIONDO-WOOD, G.; HABER, J. Nursing research: Methods and critical appraisal for evidence-based practice. 2005. MATOS, F. J. A. Farmácias Vivas: sistema de utilização de plantas medicinais projetado para pequenas comunidades. 4. ed. Rev. e ampl. Fortaleza: UFC, 2002.. Plantas medicinais: guia de seleção e emprego das plantas usadas em fitoterapia no nordeste do Brasil. 3. ed. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2007. PEREIRA, D. L. O Candomblé no Amapá: imigração e hibridismo cultural. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Pará. Belém. 229 folhas, 2008. VERGER P. F. Ewé: uso das plantas na sociedade ioruba. São Paulo. Companhia das Letras, 1995. VIEGAS, A. C. M.; MARTINS, S. R. O. A Religiosidade Afro-Brasileira na Fronteira: os terreiros de umbanda em Corumbá-MS. Revista GeoPantanal, v. 10, n. 18, p. 205-218, 2015.