Paraná registra primeira morte por hantavirose em

Documentos relacionados
Vigilância sindrômica: Síndromes febris ictero-hemorrágicas 2018

Vigilância sindrômica 2: Síndromes febris ictero-hemorrágicas 2018

Vigilância sindrômica: Síndromes febris ictero-hemorrágicas Síndromes respiratórias

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 001/2019

Boletim Epidemiológico

Manejo de casos suspeitos de Febre Maculosa. Outubro de 2018

Informe Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde Influenza: Monitoramento até a Semana Epidemiológica 09 de 2016

HANTAVIROSE atualização. Dr. Luiz Gustavo Escada Ferreira Médico Infectologista GEZOO - DIVE - SES - SC

Boletim Epidemiológico

Vigilância sindrômica: Síndromes febris ictero-hemorrágicas Síndromes respiratórias

Epidemiológico. Informe. Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde Influenza: Monitoramento até a Semana Epidemiológica 14 de 2016

Boletim Epidemiológico

FEBRE AMARELA O QUE É FEBRE AMARELA?

Vigilância sindrômica 2: Síndromes febris ictero-hemorrágicas 2019

Inquérito epidemiológico *

Informe Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde Influenza: Monitoramento até a Semana Epidemiológica 12 de 2016

Epidemiológico. Informe. Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde Influenza: Monitoramento até a Semana Epidemiológica 13 de 2016

Vigilância sindrômica - 1

Vigilância sindrômica - II

Boletim Epidemiológico

Vigilância sindrômica Síndromes febris ictero-hemorrágicas

Boletim Informativo INFLUENZA

Vigilância sindrômica Síndromes febris ictero-hemorrágicas

COES Febre Amarela CENTRO DE OPERAÇÕES DE EMERGÊNCIAS EM SAÚDE PÚBLICA SOBRE FEBRE AMARELA

COES Febre Amarela CENTRO DE OPERAÇÕES DE EMERGÊNCIAS EM SAÚDE PÚBLICA SOBRE FEBRE AMARELA

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014

NOTA TÉCNICA. Vigilância da Influenza ALERTA PARA A OCORRÊNCIA DA INFLUENZA E ORIENTAÇÃO PARA INTENSIFICAÇÃO DAS AÇÕES DE CONTROLE E PREVENÇÃO

COES Febre Amarela CENTRO DE OPERAÇÕES DE EMERGÊNCIAS EM SAÚDE PÚBLICA SOBRE FEBRE AMARELA

COES Febre Amarela CENTRO DE OPERAÇÕES DE EMERGÊNCIAS EM SAÚDE PÚBLICA SOBRE FEBRE AMARELA

Vigilância de Influenza no Município de São Paulo

INFORME TÉCNICO 001/2016

Influenza A Novo subtipo viral H1N1, MSP

Casos de FHD Óbitos e Taxa de letalidade

Boletim Epidemiológico

CENTRO ESTADUAL DE VIGILÂNCIA DIVISÃO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SOBRE A SITUAÇÃO DA INFLUENZA NO RS 24/06/11

Expansão da febre amarela para o Rio de Janeiro preocupa especialistas

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO ARBOVIROSES Nº 001/2019

Inquérito epidemiológico *

Boletim semanal de Vigilância da Influenza/RS Semana epidemiológica 37/2016

NOTA INFORMATIVA Nº 92, DE 2017/SVS/MS

Identificação K.G.R.A, feminino, 4 anos de idade, residente no Município A, Bairro Nova América.

REDAÇÃO O desafio da Febre Amarela no Brasil

NOTA DE ALERTA SARAMPO

Informe Epidemiológico Influenza

INFORME Nº 14/2017 MONITORAMENTO DOS CASOS E ÓBITOS DE FEBRE AMARELA NO BRASIL

Informe Epidemiológico Influenza Semanal

Informe Epidemiológico Influenza

A R B O V Í R U S R O C I O / M A Y A R O

Boletim Epidemiológico

Informe Epidemiológico Influenza

Situação epidemiológica da nova influenza A (H1N1) no Brasil, 2009

Circulação do vírus da rubéola no Brasil será monitorada pela OMS até

Malária (Pág. 05 ) Gripe (Pág. 03) Tuberculose (Pág. 06 ) Febre amarela (Pág. 04) Hantavírus (Pág. 07) Ebola (Pág. 08 )

Nota Técnica nº 13 LEISHIMANIOSE VICERAL

Situação epidemiológica da Influenza Pandêmica (H1N1), no Pará, semanas epidemiológicas 1 a 43 de 2009.

Boletim Epidemiológico

Boletim Epidemiológico

TENDÊNCIAS DA INCIDÊNCIA DA AIDS NO BRASIL E SUAS REGIÕES

Vacinação contra Febre Amarela em Santa Catarina. Arieli Schiessl Fialho

INFORME EPIDEMIOLÓGICO 002/2017

SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES

Informe Epidemiológico Influenza

NOTA INFORMATIVA FEBRE PELO VÍRUS ZIKA NO ESTADO DE SÃO PAULO, MAIO 2015

Cientistas: bactérias se adaptaram à vacina da coqueluche 4

Boletim Epidemiológico

Síndrome de Insuficiência Respiratória Aguda Grave (SARS)

5º Simposio de Ensino de Graduação CARACTERIZANDO DENGUE EM CRIANÇAS NO MUNICÍPIO DE PIRACICABA

Análise Epidemiológica dos casos de Dengue, Febre de Chikungunya e Febre pelo vírus Zika, Semana Epidemiológica 1 a 30, do ano de 2018.

Informe Epidemiológico 019/2018

ENFERMAGEM DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. OUTRAS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Aula 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Informe Técnico. Assunto: Informe sobre a situação do sarampo e ações desenvolvidas - Brasil, 2013.

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA ATUAL

Informe Epidemiológico 008/2017

4. Que outros dados epidemiológicos seriam importantes para o caso?

ENFERMAGEM DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. ZIKA VIRUS Aula 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Secretaria de Saúde Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde. NOTA TÉCNICA - 30 de Abril de 2015

GRIPE PERGUNTAS E RESPOSTAS

INFORME EPIDEMIOLÓGICO Nº 51 SEMANA EPIDEMIOLÓGICA (SE) 44/2016 (30/10/2016 A 05/11/2016) MONITORAMENTO DOS CASOS DE MICROCEFALIA NO BRASIL

NOTA TÉCNICA FEBRE AMARELA SESA/ES 02/2017. Assunto: Informações e procedimentos para a vigilância de Febre Amarela no Espírito Santo.

FEBRE AMARELA MONITORAMENTO - BRASIL 2017/2018

Informe Epidemiológico Influenza

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA LEPTOSPIROSE NO ESTADO DE SÃO PAULO NO PERÍODO DE 2007 A 2011

Manejo dos casos suspeitos de Febre pelo vírus ZIKA / Microcefalia

Informe Epidemiológico Influenza Semanal

Situação epidemiológica da nova influenza A (H1N1) no Brasil, até semana epidemiológica 32 de 2009

Informe Técnico - SARAMPO nº4 Atualização da Situação Epidemiológica

Situação epidemiológica da nova influenza A (H1N1) no Brasil, até semana epidemiológica 31 de 2009

Módulo: Nível Superior Dezembro/2014 GVDATA

INFORME EPIDEMIOLÓGICO Nº 56 SEMANA EPIDEMIOLÓGICA (SE) 50/2016 (11/12/2016 A 17/12/2016) MONITORAMENTO DOS CASOS DE MICROCEFALIA NO BRASIL

Garoto morre de Raiva em Teresina 4

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 001/2015

Etapas da Investigação de Surto. Baixe gratuitamente materiais sobre epidemiologia -

Informe Epidemiológico Influenza

Mortes de macacos e a prevenção da febre amarela no Brasil, 2007 e 2008.

Investigação epidemiológica de doenças transmitidas pela fêmea do Aedes aegypti: dengue, chikungunya e zika. Deborah Bunn Inácio

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO LEPTOSPIROSE Nº 001/2018

Informe Epidemiológico 020/2018

Transcrição:

Publicação Científica do Curso de Bacharelado em Enfermagem do CEUT. Ano 2009. Edição 12 Jackelene dos Santos Lima de Menezes 1 Yara Antunes dos Santos 1 Selonia Patrícia Oliveira Sousa 2 Otacílio Batista de Sousa Nétto 3 Esta edição traz como foco de pesquisa a hantavirose, uma doença viral dos sistemas cardiovascular e linfático, prevalente principalmente em áreas tropicais. Ela é transmitida pela inalação de hantavírus em urina seca de roedores infectados e se manifesta como uma infecção pulmonar freqüentemente fatal, em que os pulmões se enchem de líquidos. Mais conhecida como febre hemorrágica com síndrome renal e afeta principalmente a função renal. A partir da publicação da matéria Paraná registra primeira morte por hantavirose em 2009 vejamos as características clínicas e epidemiológicas da doença, aspectos clínicos e laboratoriais, bem como situação em que se encontra a nível mundial e nacional. Paraná registra primeira morte por hantavirose em 2009 4 O adolescente A. F. B. de 13 anos, é a primeira vítima da hantavirose este ano no Paraná. O menino morreu sábado (18) no bairro Campo de Santana, na periferia de Curitiba. A Secretaria da Saúde do Paraná está realizando investigação tanto no bairro da vítima quanto em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, onde o adolescente esteve, para tentar identificar possível foco do vírus da doença, que tem o rato silvestre como hospedeiro. A chefe da divisão de Zoonoses da Secretaria, Gisélia Guimarães Rúbio, disse que já foram realizados exames nos familiares do menino e todos deram negativo. Alguns familiares disseram que ele foi mordido por um animal não identificado quando jogava futebol em um campinho na periferia de Curitiba, e dias depois apresentou os primeiros sintomas da doença, semelhantes ao de uma gripe comum. Mas ela agrava-se rapidamente, levando à insuficiência respiratória. Segundo Gisélia, nessa condição, a pessoa precisa ser atendida em ambiente hospitalar. Ela afirmou que, na primeira conversa com os familiares, eles não relataram essa possível mordida de animal. Gisélia considera pouco provável que a doença tenha sido transmitida dessa forma. No Paraná, entre 1992 e 2009, foram registrados 187 casos, 67 resultaram em morte no Estado. No ano passado, foram dez registros com três mortes. Este ano, já havia sido registrado outro caso, sem que evoluísse para óbito. No Paraná, os maiores números de casos são notificados a partir de setembro, quando a oferta de alimento no campo é maior. Não há nenhum medicamento e nem vacina específica para a hantavirose. Figura 1 - Vírus do gênero Hantavirus, família Bunyaviridae agente causador da hantavirose. 1 Acadêmicas do 3º Período de Enfermagem do CEUT 2 Acadêmica do 6º período de Enfermagem do CEUT e monitora do Observatório Epidemiológico 3 Professor da disciplina de epidemiologia do CEUT e orientador do Observatório Epidemiológico 4 Fonte: www.gazetadosul.com em 08 de outubro de 2009. 1

Figura 2 Campanha Nacional contra Hantavirose Governo Federal / Ministério da Saúde do Brasil. Características Clínicas e Epidemiológicas Descrição: A hantavirose é uma doença emergente que se manifesta sob diferentes formas, desde doença febril aguda, cuja suspeita diagnóstica é baseada fundamentalmente em informações epidemiológicas, até quadros pulmonares e cardiovasculares mais característicos ou, eventualmente, como uma febre hemorrágica com comprometimento renal. Agente Etiológico: Vírus do gênero Hantavirus da família Bunyaviridae, sendo o único bunyavirus que não é um arbovírus. Reservatório: Os roedores silvestres são os reservatórios dos hantavírus. Cada tipo de vírus parece ter tropismo, por determinada espécie de roedor e somente a ela. Modo de Transmissão: A infecção humana ocorre mais freqüentemente pela inalação de aerossóis, formados a partir da urina, fezes e saliva de roedores reservatórios. Período de Incubação: Em média, de 2 a 3 semanas, com variação de 4 a 55 dias. Período de Transmissibilidade: Desconhecido até o momento. Susceptibilidade e imunidade: As pessoas sem dados sorológicos de infecção passada são uniformemente susceptíveis. Não existem relatos na literatura de reinfecção em humanos. Aspectos Clínicos e Laboratoriais Manifestações Clínicas: Observa-se febre, tosse seca, mialgia, principalmente na região dorsolombar, dor abdominal, náusea, vômito, astenia e cefaléia, insuficiência respiratória aguda grave e choque circulatório, apresentando alta taxa de letalidade, aumento da diurese, entre outros. Diagnóstico Diferencial: Leptospirose influenza e parainfluenza, dengue, febre amarela, malária, pneumonias (virais, bacterianas, fúngicas e atípicas), septicemias, rickettsioses, pneumocistose, síndrome de angústia respiratória (Sara), edema agudo de pulmão (cardiogênico), pneumonia intersticial por colagenopatias (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide); doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), entre outros. 2

Diagnóstico Laboratorial: São fundamentais os seguintes métodos: Elisa IgM; Elisa IgG; RT PCR; Imunohistoquímica. Prevenção e Tratamento: A eficácia do tratamento clínico depende da instituição precoce de medidas gerais de suporte clínico, pois até o momento não existe terapêutica antiviral comprovadamente eficaz. Recomenda-se o isolamento do paciente em condições de proteção com barreiras (avental, luvas e máscara dotadas de filtros N95). Aspectos Epidemiológicos A hantavirose, uma zoonose emergente que foi identificada pela primeira vez no país em 1993, no município de Juquitiba (SP), tem apresentado surtos a partir do final dos anos 1990, especialmente nas Regiões Sul e Sudeste, que concentram 78% dos 664 casos acumulados até 2005, com os estados do Paraná e Santa Catarina sendo os mais acometidos, com 149 e 114 casos acumulados, respectivamente (Tabela 1). Pelas características de sua transmissão, relacionada com exposição a roedores silvestres, o maior acometimento tem sido registrado entre residentes de área rural (51%) e pessoas com ocupação relacionada às atividades agrícolas e/ou à pecuária (65%). Tabela 1 - Hantavirose. Casos (acumulados e distribuição percentual) por local de ocorrência. Brasil, 1993-2005. Hantavirose no Mundo Esse vírus foi inicialmente descrito em 1934, na Suécia, em sua forma renal. No início da década de 50, na Iugoslávia. Em maio de 1993, casos de doença aguda foram reportados no Novo México, Arizona e Colorado, nos Estados Unidos. Atualmente, a virose está propagada globalmente, atingindo Europa, Ásia e Américas (Norte, Central e do Sul). Na América do Sul, além do Brasil, atinge também principalmente Argentina, Chile e Paraguai. Portanto, a hantavirose é uma zoonose emergente e amplamente distribuída em praticamente todo o mundo. Hantavirose no Brasil De 1º de janeiro até 30 de junho de 2007 foram confirmados 55 novos casos de hantavirose no Brasil (gráfico 1). A taxa de letalidade geral encontrada para o país nesse período foi de 38,2%, mostrando que a hantavirose é uma doença com uma alta taxa de letalidade (Gráfico 1). 3

Gráfico 1 - Hantavirose: casos e letalidade por anos. Brasil, 1993-2007. Os 55 casos foram detectados em oito estados e o Distrito Federal, atingindo a 33,3% do total de Unidades Federadas, sendo registrados em todas as regiões do país, exceto a Região Nordeste. Foram confirmados casos em Santa Catarina (15), São Paulo (12), Minas Gerais (07), Mato Grosso (06), Distrito Federal (05), Paraná (04), Goiás (03) e Rondônia (01) (figura 1) (Figura 3). Figura 3 - Hantavirose: Unidades Federadas com registros de casos. Brasil, 2007. O sexo masculino registrou também o maior percentual de óbitos, com 77,3%. A faixa etária mais atingida foi a de 20-39 anos (intervalo de 8 meses-66 anos), com 59,5% das ocorrências.metade dos indivíduos acometidos (46,7%) eram residentes na área rural, e, tendo como local de infecção a zona rural(69,2%) (Tabela 2). 4

Tabela 2 Hantavirose: Percentual de óbitos por diferentes variáveis. Brasil, 1993 a 2007. Referências BRASIL, Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 6 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005., Ministério da Saúde. SAÚDE BRASIL 2008: 20 Anos de Sistema Único de Saúde (SUS) Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Revista Panamericana de Infectologia. Disponível em: www.revistaapi.com/3%20edicao/.../art_7.html. Disponível em: 24.jul.2004. TORTORA, G. J; FUNKE, B. R; CASE, C. L. Microbiologia. 8 ed. Porto Alegre: Artumed, 2005. Edição atualizada e padronizada em julho de 2010 5