Internação Involuntária Dilema entre respeito à vida e à liberdade?



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Transcrição:

Internação Involuntária Dilema entre respeito à vida e à liberdade? Carlos Salgado Psiquiatra

Potenciais conflitos de interesses 2 Não sou acionista e não recebo honorários de nenhuma indústria de bebidas, tabaco, farmacêutica ou de quaisquer equipamentos médicos. CFM n 1.595/00 de 18/05/2000 e ANVISA n 102/2000 de 30/11/2000

Constituição Federal de 1988 3 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

No Código de Ética Médica, é vedado ao médico: 4 Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte. Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente.

Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. 5 Sua redação parece bastante compatível com a boa prática clínica em Psiquiatria, já a interpretação corrente não.

Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. 6 Art. 2º - Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;

Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. 7 Art. 6º - A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Art. 7º - A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento. 8 Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente.

Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. 9 Art. 8º - A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento. 1º - A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta. 2º - O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.

Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Art. 9º - A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. 10

Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Brasília, 6 de abril de 2001; 180º da Independência e 113º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Jose Gregori José Serra Roberto Brant. 11

Medidas restritivas têm tido sucesso na preservação da saúde 12 Fiscalizar uso de álcool ao volante Fechar bares mais cedo Proibir álcool nos estádios de futebol Proibir o fumar em locais fechados e coletivos Proibir tabaco e álcool antes de 18 anos

A internação involuntária é um ato humanitário e da boa prática médica 13 Há evidências de que a internação involuntária para dependentes químicos tenha efetividade igual à da voluntária. NIDA. Principles of Effective Treatment. In Principles of Drug Addiction Treatment: A Research-Based Guide. http://www.drugabuse.gov/publications/principles-drug-addiction-treatment/principles-effective-treatment Acessado em 29/06/2012

Internação Involuntária na prática 14 Embora desagradável, é uma conduta médica. Não é procedimento exclusivo da prática em Psiquiatria. É um evento raro na grande prática clínica em Psiquiatria. Kallert TW and cols., 2011

Internação Involuntária na prática 15 O prognóstico do paciente depende mais de como se dá a alta do que de como ocorre a baixa hospitalar. Kallert TW and cols., 2011

Indicações para a internação de dependentes químicos 16 Esclarecimento diagnóstico de comorbidades Evitar recaída Exposição moral Incapacidade de manter abstinência Psicose Risco de morte Síndrome de privação

csalgcsalg@gmail.com Obrigado!