Sustentabilidade aplicada à Arquitetura: perspectivas de edificações com menor impacto ambiental e maiores ganhos sociais em centros urbanos 1



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Transcrição:

REVISTA DO CEDS Periódico do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB N. 1 agosto/dezembro 2014 Semestral Disponível em: http://www.undb.edu.br/ceds/revistadoceds Sustentabilidade aplicada à Arquitetura: perspectivas de edificações com menor impacto ambiental e maiores ganhos sociais em centros urbanos 1 Brenda Veneranda Fernandes Silva 2 César Roberto Castro Chaves 3 Resumo: Abordar acerca de como o movimento sustentável surgiu, em que se sustenta e como este influencia a arquitetura. Apresentar o surgimento da arquitetura e de como esta tem se relacionado com a sustentabilidade, com o objetivo de demonstrar as diretrizes para a elaboração de projetos arquitetônicos na busca de obras mais sustentáveis contribuindo para a diminuição dos impactos ambientais. Mostrar o que existe no Brasil e no mundo atualmenteem relação ao desenvolvimento e implantação de pesquisas e empreendimentos que visam àaplicabilidade e construção de edifícios ecologicamente corretos que acabam por influenciar o contexto urbano. Palavras-chave: Sustentabilidade. Arquitetura. Centros Urbanos. 1. INTRODUÇÃO Com o crescente paradoxo criado entre ser sustentável e moderno, a sociedade tem procurado uma forma de aliar essas duas vertentes, a conseguinte ação traria bastantes benefícios, por ser uma maneira de melhorar a qualidade de vida da população e gerar um processo de renovação das matérias utilizadas na construção civil. O mundo tem ido ao encontro de fortes tendências da construção verde nos últimos anos, países, por todo o mundo, têm realizado pesquisas e desenvolvendo de ações nessa área buscando o aprimoramento do conhecimento da aplicabilidade da construção civil de maneira sustentável. Dessa forma, essa nova vertente da arquitetura tem tornado inevitável o crescimento de empreendimentos que mantenham o compromisso 1 Paper apresentado à Unidade de Ensino Superior Dom Bosco - UNDB. 2 Aluno (a) do 4º período do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da UNDB. 3 Professor Mestre em Cultura e Sociedade, orientador.

com a natureza, tirando isso do âmbito de um só edifício e levando essa necessidade para o âmbito urbanístico. 2. SUSTENTABILIDADE Por muitos anos o ser-humano tem utilizado descontroladamente os recursos naturais dispostos no meio ambiente, embora isso tenha acontecido por muito tempo, sem se pensar nas consequências, chegou um momento em que estas se tornaram inevitáveis, então a gravidade da exploração dos recursos naturais tornou-se preocupante. Ao redescobrir a noção de finitude dos recursos naturais, a sociedade põe em xeque o comportamento predatório do ser humano no processo de ocupação e de civilização do espaço geográfico. Se, de um lado, esta redescoberta introduz como premissa básica a sustentabilidade do comportamento econômico e social do homem, de outro, demanda medidas de controle e de ordenamento do portarsehumano, a fim de evitar crise ecológica e ambiental de dimensões desconhecidas. (MILANI, 1999b). Assim os primeiros movimentos em prol dessa nova premissa foram surgindo na década de 60, em torno do campo das ciências ambientais e ecológicas, tornando-se grande destaque nos debates acadêmico e político. Já na década de 80, Lester Brown (CAPRA in TRIGUEIRO, 2005, p.19)definiu a sociedade sustentável como aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivência das gerações futuras. Assim foram surgindo os primeiros conceitos sobre o que é sustentabilidade, na etimologia da palavra essa vem de sustentável, de sustentar, do Latim sustinere, aguentar, apoiar, suportar, de SUB-, abaixo, mais TENERE, segurar, agarrar. Dessa forma esse conceito se ligou diretamente a atitudes que levem em consideração a preservação e conservação do meio ambiente, mas essa visão deve ser ampliada. Hoje, quando se fala no termo, não se está referindo apenas ao meio ambiente, esse se refere também a aspectos sociais, culturais e econômicos. 2.2 Pilares da sustentabilidade

Partindo-se então de que sustentabilidade não é apenas estar ligado ao meio-ambiente, sai-se de um conceito micro e se chega a um conceito macro onde são ressaltados os aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais, que, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), são quatro os pilares que compreendem a sustentabilidade: A economia sustentável parte do princípio de incentivar empresas a buscarem não apenas o lucro em si, mas também meios de adquirir ganhos ambientais, sociais e ecológicos, fazendo com que o público se interesse mais por produtos ecologicamente corretos. Assim também funciona a sustentabilidade social, porém, de uma forma mais densa. Exercer um papel relevante na sociedade, de forma sustentável, vai ao encontro de um contexto universal, sendo imprescindível pensar nos direitos humanos, do trabalhador, meio ambiente e principalmente no desenvolvimento de métodos de preservação. Somente dessa forma, será possível enxergar os resultados de uma verdadeira responsabilidade social e sustentável. A sustentabilidade ambiental talvez seja um dos pilares mais necessitado de atenção. O uso exacerbado de recursos naturais trouxe consequências desagradáveis ao ser humano e ao planeta. Por isso, atualmente é amplamente divulgada a ideia de recorrer apenas ao que for suficiente para satisfazer necessidades comuns, pensando sempre em um futuro com vida plena, sem comprometer a saúde e bem-estar dos futuros habitantes. Por fim, a forma sustentável que complementa as outras três é a cultural. Proteger a diversidade faz parte de um comportamento que visa à preservação do direito à opinião e escolha, de forma livre, pois apenas dessa forma será possível encontrar diferentes formas de ser cada vez mais sustentável. Esses conceitos foram sendo disseminados e hoje em dia compões um assunto que chama a atenção do mundo inteiro exercendo grande influência na sociedade, dessa maneira são inúmeras as ações sociais e de grandes empresas que, por serem responsabilizadas pelos processos de degradação social e ambiental que atingiam todo o planeta,criaram

organizações como forma de mostrar seu comprometimento com esse movimento. Só recentemente fazer parte desse movimento passou a ser um fator de competitividade, seja como fonte de diferenciação, seja como fonte de qualificação para continuar no mercado Assim, ao se comprometer com o desenvolvimento sustentável, a empresa deve necessariamente mudar sua forma de atuação para, no mínimo, reduzir os impactos sociais e ambientais adversos. Isso requer uma nova maneira de encarar a inovação, o que leva à ideia de inovação sustentável, ou seja, um tipo de inovação que contribua para o alcance do desenvolvimento sustentável. Essa nova maneira abre portas para diversos setores de pesquisas em diversas áreas do setor profissional, empresas como Natura, Unilever, Ceres, Caux Round Tabl, Starbucks Brasil são exemplos que aderiram a postura de empreendimentos sustentáveis, a Athié Wohnrath, maior escritório de arquitetura corporativa do Brasil, conquistou a certificação LEED-CI (Leadership in Energy and Environmental Design), entidade de abrangência internacional que avalia e certifica projetos de interiores de alto desempenho ambiental. Com a obtenção desse selo, a A W passa a ser único escritório de arquitetura do Brasil com três projetos certificados pela instituição. Selos como o LEED-CI ou o BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) asseguram o comprometimento sustentável de empresas de construção civil que estão presentes no mundo todo, abrindo assim oportunidades para que escritórios de engenharia civil e arquitetura se aprofundem na questão de construções sustentáveis. 3. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL Desde os primórdios da humanidade o homem tem a necessidade de abrigos.no início eram cavernas e ambientes estritamente naturais, com o passar do tempo e junto à evolução humana se passou a construir abrigos, casas e edifícios aliando a necessidade de proteção e sobrevivência à beleza em um só ambiente.

Dessa maneira, aos poucos foi surgindo o que se conhece por Arquitetura, que não tem uma definição única, mas, conforme foi sugerido, já em 1940, pelo Arquiteto e Urbanista Lúcio Costa: Pode-se então definir arquitetura como construção concebida com a intenção de ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa. (COSTA, 1995. p. 608). Essa definição reflete os três elementos fundamentais que a arquitetura deve apresentar: funcionalidade, firmeza e beleza. Estes consistem a tríade vitruviana, apresentada por Marcus Vitruvius Pollio, que foi um arquiteto e engenheiro romano do século I a.c.. A partir do desenvolvimento de diversos conceitos e vertentes da arquitetura houve o surgimento da arquitetura sustentável, que não só vê o projeto arquitetônico com uma obra de arte e sim como parte integrada ao meio ambiente, comprometendo-se a reduzir os impactos causados a natureza resultando em maiores ganhos sociais. Porém, o conceito de atitudes sustentáveis se tornou amplo, a ponto de confundir-se somente com ações que possam ser tomadas isoladamente, segundo Jaime Lerner, em uma entrevista para a revista Almanaque Brasil em 2010, Se não resolvermos as questões da cidade, não resolveremos o mundo, o que demonstra outra perspectiva acerca do assunto, de forma não a mais a só envolver as questões individuais. A construção civil sustentável é hoje definida como: Um sistema construtivo que promove alterações conscientes no entorno, de forma a atender as necessidades de habitação do homem moderno, preservando o meio ambiente e os recursos naturais, garantindo qualidade de vida para as gerações atuais e futuras. (IDHEA, 2013. p 1). Então se inicia a busca por uma sociedade que seja mais ecologicamente sustentável, levando em conta o desenvolvimento sóciocultural junto à preservação ambiental em âmbitos urbanísticos, Almir Francisco Reis (2011, p.19) afirma que: Em termos da pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, essa inquietação tem levado a campos de pesquisa extremamente

promissores: estudos que relacionam práticas sociais a redes de espaços públicos e experiências artístico-culturais à paisagem urbana, assim como estudos que analisam a cidade contemporânea sob o viés do pensamento ecológico, no sentido de um desenvolvimento urbano mais sustentável. Alguns desses estudos têm sido alvos de grande atenção como os Zero Energy Building ou Os Edifícios de Energia Zero (EEZ). 3.1 Edifícios de Energia Zero Os Edifícios de Energia Zero (EEZ) são construções que não fazem consumo de energias não renováveis e que não emitem gás carbono ao meio ambiente. O consumo de energia dos EEZs pode ser feitos através de uma rede de fornecimento de energia baseada em fontes renováveis como a solar e a eólica, tornando-os mais práticos de serem adotados por diminuir o consumo dos combustíveis fósseis e o impacto climático no planeta. Isso se tornou possível não só por causa do desenvolvimento de novas tecnologias de construção verde, mas também através da pesquisa científica, que coletou informações sobre prédios em experimentos e aumentou o nível de conhecimento a respeito do assunto. Dessa forma a energia passou a ser mensurada em diferentes maneiras, como por exemplo, relativas ao custo ou a emissão de carbono, o que levou a uma preocupação com a importância da conservação energética e da manutenção dessa rede, que apesar de ainda ser um pouco incomum em alguns países, tem se desenvolvendo e ganhando importância e popularidade. De acordo com a área em que a edificação se encontra, uma rede de manutenção de energias renováveis pode ser desenvolvida, assim os benefícios são muito grandes, por exemplo, pode ter-se o aumento do conforto térmico dentro do local, redução do custo de vida, por reduzir o gasto de energias fósseis e mais tranquilidade por ser um sistema que dura e não precisa de constante manutenção. 3.2 Implantações dos EEZs

O assunto dos prédios que não consomem energia agora é visto como um novo modelo de construção. Esse tipo de implantação já está se disseminando por vários lugares, nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, já estão sendo aprovados projetos que iniciarão o estabelecimento dos Edifícios de Energia Zero até 2030, para que até 2050 os índices de consumo de energia sejam zero. Mesmo com tantos avanços ainda é necessário um estudo mais aprofundado de como é feita a metodologia do cálculo desse tipo de edificação. Vários países já estão abraçando os EEZs, porém, seus métodos de cálculos ainda não estão definidos ou só se aplicam a situações especiais. Além disso, por ser visto como um modelo de construção do futuro é preciso uma metodologia de cálculos que reflitam seus conceitos e facilitem a concepção desse tipo de projeto tanto para os arquitetos quanto para engenheiros. A unidade de medida aplicada ao equilíbrio zero pode ser medida de diversas maneiras, como, por exemplo, em relação às emissões de carbono ou o custo de energia gasta. A unidade de medida aplicada pode ser definida também pelos objetivos do projeto, as intenções do investidor, as preocupações com o clima e emissões e os custos de energia. Assim são definidas as vantagens e desvantagens de cada uma dessas implantações, mas, sempre levando em conta, tanto quantidade bem como qualidade da energia para que seja avaliado o impacto do edifício completo sobre o meio ambiente. Já existem projetos de demonstração de EEZ, como o BOLIG+, que são construções de alto padrão arquitetônico, com uma redução significativa das emissões de CO2. São 60 apartamentos multifamiliares que asseguram o baixo consumo de energias não renováveis desde a sua concepção arquitetônica, que giram em torno de instalações de aproveitamento de energia solar. Embora já estejam em práticas algumas demonstrações bem sucedidas, os parâmetros que regem esse novo tipo de construção ainda estão sendo bastante discutidos, do que não se tem dúvida é de que esse tipo de edificação se tornará funcional e ao mesmo tempo ecologicamente correta, resultando em um grande avanço no setor da construção civil.

3.3 Construções sustentáveis no Brasil O Brasil também entrou nas fortes tendências das construções verdes, ultimamente vários empreendimentos querem receber o selo LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental), concedido a projetos que se encaixam nesse perfil. Agora essas tendências estão chegando ao âmbito urbanístico, não devem ser projetas mais edifícios verdes, mas sim, cidades verdes, A Alphaville Urbanismo, responsável pelos loteamentos de alto padrão em regiões metropolitanas, está apoiando o movimento, para que se possa melhorar a qualidade de vidas de todos de forma sustentável. Uma grande personalidade que se destaca no assunto de cidades sustentáveis é o Urbanista e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, que transformou a cidade numa referência para o mundo. Além dos edifícios verdes, Lerner vê as cidades como uma rede e afirma em uma entrevista à revista online Almanaque Brasil em 2010 que A cidade é uma relação de funções, de renda, de idade. Quanto mais misturado for, mais humana e tolerante a cidade fica, dessa forma, não se faz necessário somente uma construção verde, pois, segundo ele, o fato de não se fazer um condomínio fora da cidade já não o torna sustentável, assim é necessário que se trabalhe, estude e tenha lazer perto de onde se mora o que proporciona um maior conforto pessoal e faz-se com que diminuam gastos de transporte e alimentação fora de casa, tornando o ambiente urbano mais sustentável por si só. As cidades não devem ser vistas como um problema, e sim como uma solução para o desenvolvimento sustentável, mas de forma que aliem as tecnologias que dispões com a consciência de que estas devem ser usadas para melhorar a qualidade de vida da sociedade. 4. CONCLUSÃO Com os movimentos acerca da sustentabilidade surgindo e se tornando o foco de preocupação da sociedade como um todo. As empresas e, especificamente, as áreas da construção civil não deixaram de se envolver com

esse novo aspecto que está em alta. Edifícios que sejam ecologicamente corretos e que se integrem com o ambiente em que estão inseridos, respeitando-os e, dessa forma, não os degradando, têm obtido destaque. Assim, tanto no Brasil, como no mundo, surgiram vertentes de arquitetura que têm como o foco o desenvolvimento de pesquisas que tornem economicamente e socialmente viáveis edificações verdes, o projeto de arquitetura deve apresentar soluções viáveis que considerem as condições ambientais com o objetivo de causar o menos impacto ambiental possível contribuindo então para um futuro melhor. REFERÊNCIAS A.J. Marszala, P. Heiselberga, J.S. Bourrelleb, E. Musallc, K. Vossc, I. Sartorid, A. Napolitanoe. Zero Energy Building A review of definitions and calculation methodologies.energy and Buildings, 2011. Disponível em: <http://www.enob.info/fileadmin/media/projektbilder/enob/thema_nullenergie/ Energy_and_Buildings_Zero_Energy_Building_- _A_review_of_definitions_and_calculation_methodologies.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013. BARBIER, Carlos; ANDREASSI, Tales; VASCONCELOS, Flávio; VASCONCELOS, Isabella.Inovação e Sustentabilidade: Novos modelos e proposições. RAE, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v50n2/02.pdf> Acesso em: 2 de jun. 2013. BRASIL planeja cidades sustentáveis. Asboasnovas.com: online. Disponível em <http://www.asboasnovas.com.br/biosfera/brasil_planeja_cidades_sustentaveis > Acesso em: 25 mar. 2013. CASSAMIRO, Isadora. Futuro do Planeta: conheça os pilares da sustentabilidade. CLICKARTIGOS, 2012. Disponível em: <http://www.clickartigos.com.br/educacao/futuro-do-planeta-conheca-os-pilaresda-sustentabilidade.html#ixzz2v5rq6krn>. Acesso em: 25 mar. 2013 COSTA, Lúcio (1902-1998). Considerações sobre arte contemporânea (1940). In: Lúcio Costa, Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995. 608p. il. Disponível em: <http://www.iabsp.org.br/oqueearquitetura.asp>. Acesso em: 25 mar. 2013. FIUZA, Daniela. Ambiente Verde: Conceitos de Sustentabilidade. Ambiente Verde, 2006. Disponível em: <http://ambiente-

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