Utilização Das Tecnologias De Captação De Água De Chuva Na Região Semi-Árida Do Nordeste Brasileiro



Documentos relacionados
COMUNICADO TÉCNICO AVALIAÇÃO DO USO DE TÉCNICAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NA REGIÃO SEMI-ÁRIDA DO NORDESTE BRASILEIRO RESUMO

EM BUSCA DE ÁGUA NO SERTÃO DO NORDESTE

MAMÃOZINHO-DE-VEADO (Jacaratia corumbensis O. kuntze): CULTIVO ALTERNATIVO PARA ALIMENTAÇÃO ANIMAL NA REGIÃO SEMI-ÁRIDA DO NORDESTE

J2CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA EM CISTERNAS RURAIS

1. Seu município enfrenta problemas com a seca? 44 Sim... 86% 7 Não... 14%

TECNOLOGIAS DE CONVIVÊNCIA COM A SECA E OS PEQUENOS AGRICULTORES DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO DA ESTAÇÃO DA EMBRAPA SEMIARIDO, PROJETO BEBEDOURO PRETOLINA/PE, ATRAVÉS DA TÉCNICA DE QUANTIS

Eixo Temático ET Recursos Hídricos NOVAS TECNOLOGIAS PARA MELHOR APROVEITAMENTO DA CAPTAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA

CONTROLE BIOLÓGICO NA TEORIA E NA PRÁTICA: A REALIDADE DOS PEQUENOS AGRICULTORES DA REGIÃO DE CASCAVEL-PR

Mesa: A segurança alimentar num país de 200 milhões de habitantes Debatedor: Emerson Fernandes Daniel Júnior


REQUERIMENTO (Do Sr. Vittorio Medioli)

MERCADO DE TRABALHO NA PRODUÇÃO DE ALGODÃO E SOJA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

1,7 milhões de estabelecimentos 50 Mha

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) de Corte da Embrapa Milho e Sorgo

QUE TECNOLOGIAS OS PEQUENOS AGRICULTORES DA REGIÃO SEMI-ÁRIDA DO NORDESTE UTILIZAM NA SECA

PERFIL EMPREENDEDOR DOS APICULTORES DO MUNICIPIO DE PRUDENTÓPOLIS

O DESAFIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PATOS, PARAÍBA: A PROFICIÊNCIA DOS ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE PATOS

Cadeia Produtiva do Leite. Médio Integrado em Agroindústria

A Segurança Alimentar num país de 200 milhões de habitantes. Moisés Pinto Gomes Presidente do ICNA

1. Seu município enfrenta problemas com a seca? 43 Sim... 53% 38 Não... 47%

Aregião de Cerrados no Brasil Central, ao longo

ALVES 1,1, Paulo Roberto Rodrigues BATISTA 1,2, Jacinto de Luna SOUZA 1,3, Mileny dos Santos

AÇÕES AGROECOLÓGICAS E DESENVOLVIMENTO RURAL: PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS NO ASSENTAMENTO PRIMEIRO DO SUL CAMPO DO MEIO, MG. Área Temática: Meio Ambiente

O espaço rural brasileiro 7ºano PROF. FRANCO AUGUSTO

Inovação nas Médias Empresas Brasileiras

A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GERENCIAL PARA AS EMPRESAS

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2015

PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DE FLORESTAS TROPICAIS-PG-CFT INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA-INPA. 09/abril de 2014

MOTIVAÇÕES PARA A INTERNACIONALlZAÇÃO

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

A FALTA DE CHUVAS E AS DIFICULDADES PARA OS PEQUENOS AGRICULTORES DO SEMI-ÁRIDO ALIMENTAREM OS ANIMAIS NA SECA

Seminário O Impacto das Mudanças Climáticas no Agronegócio Brasileiro

Antonio Waldimir Leopoldino da Silva (UDESC / UFSC) Paulo Maurício Selig (UFSC) Alexandre de Ávila Lerípio (UNIVALI / UFSC) Cláudia Viviane Viegas

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA 1

O Impacto da seca na produção de alimentos em São Paulo

Comunicado Técnico 94

AGRICULTURA DE PRECISÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

4 Avaliação Econômica

ESTUDO DA VIABILIDADE DO USO DE CISTERNAS EM ASSENTAMENTO RURAL NO MUNICÍPIO DE VÁRZEA-PB

Rejane de Souza Pinheiro Wendell Simão da Rocha

Planejamento e Gestão Estratégica de Empreendimentos Rurais

CLIPPING De 05 de maio de 2015

I MPACTO AMBI ENTAL DA I RRI GAÇÃO NO BRASI L

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

10º LEVANTAMENTO DE SAFRAS DA CONAB /2013 Julho/2013

LINEAMENTOS PARA MELHORAR A GESTÃO DAS ÁGUAS RESIDUAIS DOMÉSTICAS E FAZER MAIS SUSTENTÁVEL A PROTEÇÃO DA SAÚDE

Estabelecimento de Unidades de Referência Tecnológica e Econômica no Estado de Mato Grosso: Proposta de Avaliação Econômica - O Projeto URTE (Fase 1)

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

Estimativas dos custos de produção da atividade leiteira nos municípios assistidos pelo Programa Mais Leite.

5 ª EDIÇÃO MARÇO DE 2003 RESUMO *

QUALIFICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DE PROFESSORES DAS UNIDADES DE ENSINO NA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS FORMAIS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Giuliana Aparecida Santini, Leonardo de Barros Pinto. Universidade Estadual Paulista/ Campus Experimental de Tupã, São Paulo.

---- ibeu ---- ÍNDICE DE BEM-ESTAR URBANO

PROGRAMA DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DA PECUÁRIA DE LEITE EM JARU. Prefeitura Municipal de Jaru Embrapa Rondônia

Inovação Tecnológica e Controle de Mercado de Sementes Transgênicas de Milho 1 João Carlos Garcia 2 e Rubens Augusto de Miranda 2

LEVANTAMENTO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DA PRODUÇÃO DE MAMONA EM UMA AMOSTRA DE PRODUTORES FAMILIARES DO NORDESTE

APRESENTAÇÃO. a. Governança na área de TI. b. Uso da metodologia ITIL. c. Uso da metodologia COBIT. d. Uso de Business Inteligence

Ministério do Desenvolvimento Agrário Secretaria de Desenvolvimento Territorial. Sistema de Gestão Estratégica. Documento de Referência

Variação Temporal de Elementos Meteorológicos no Município de Pesqueira-PE

CAPTAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA INTEGRADA AO TRABALHO DA PASTORAL DA CRIANÇA

PRODUÇÃO ECONÔMICA DE SILAGEM 2º Dia de Campo de Ovinocultura Pedro Canário/ES 29/11/14

Painel 2 - Um desafio histórico no Nordeste: escassez de água ou de soluções? Água de Chuva: alternativa para conviver com a seca

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO: ÁREA TEMÁTICA INTRODUÇÃO

PAINEL A importância do regadio enquanto factor de competitividade da agricultura portuguesa

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

ANÁLISE DA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGANICOS NO MERCADO PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA-RS

CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIABILIDADE TÉCNICA E SOCIAL DA CAPTAÇÃO E ARMAZENAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA EM CISTERNAS RURAIS NA REGIÃO SEMI-ÁRIDA BRASILEIRA.

INTERAÇÃO HOMEM x ANIMAL SOB A PERSPECTIVA DO PRODUTOR RURAL ESTUDO PRELIMINAR. ¹ Discente de Medicina Veterinária UNICENTRO

IDENTIFICAÇÃO E PROSPECÇÃO DE DEMANDAS EM PESQUISAS E SERVIÇOS AMBIENTAIS

PERFIL DOS DOCENTES DE PÓS-GRADUAÇÕES COM ENFOQUES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

IMPORTANTES ÁREAS PARA SUCESSO DE UMA EMPRESA

BOAS PRÁTICAS. Fonte: Manual Boas Práticas Agrícolas para a Agricultura Familiar

AS TECNOLOGIAS INOVADORAS E OS PEQUENOS AGRICULTORES DO NORDESTE SEMI-ÁRIDO. Palavras-Chave: adoção, seca, barreiro, barragem subterrânea.

Participação Critérios de participação - Elegibilidade Procedimento para participar da chamada: Número de propostas/aplicações

Proposta de melhoria de processo em uma fábrica de blocos de concreto

136) Na figura observa-se uma classificação de regiões da América do Sul segundo o grau de aridez verificado.

Produção de grãos na Bahia cresce 14,64%, apesar dos severos efeitos da seca no Estado

4. Tendências em Gestão de Pessoas

FORMAS DE CONTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE BARREIROS NA REGIÃO SEMI-ÁRIDA DA BAHIA

Modelo de distribuição de probabilidade para o número de bolas chamadas até que alguém bata em um bingo Convencional

AVALIAÇÃO DOS ÍNDICES ZOOTÉCNICOS DE MÉDIAS PROPRIEDADES LEITEIRAS

Jurandir Zullo Junior * Hilton Silveira Pinto Ana Maria H. de Ávila. Eduardo Delgado Assad Giampaolo Queiroz Pellegrino Fábio Ricardo Marin

GESTÃO AMBIENTAL NO AGRONEGÓCIO HORTIFRUTÍCOLA

Daniela Campioto Cyrilo Lima*, Emanuela Matos Granja*, Fabio Giordano **

Administração de Pessoas

MARKETING DE RELACIONAMENTO UMA FERRAMENTA PARA AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: ESTUDO SOBRE PORTAL INSTITUCIONAL

IMPORTÂNCIA DAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES

FORMANDO AS LIDERANÇAS DO FUTURO

ANÁLISE MULTITEMPORAL DA REDUÇÃO DO ESPELHO D ÁGUA NOS RESERVATÓRIOS DO MUNICÍPIO DE CRUZETA RN, ATRAVÉS DE IMAGENS DE SATÉLITE.

USO DE FOGÕES ECOLÓGICOS POR FAMÍLIAS AGRICULTORAS DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO EXPERIÊNCIA DO PROJETO DOM HELDER CAMARA

TAXA DE LOTAÇÃO EM PASTAGEM DE TIFTON 85 SOB MANEJO DE IRRIGAÇÃO E SEQUEIRO NO PERÍODO DA SECA*

EXPLORAÇÃO DO CERRADO BRASILEIRO

INSTITUTO AGRONÔMICO DE PERNAMBUCO ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO CLIPPING ELETRÔNICO

Indicadores Anefac dos países do G-20

TERMO DE REFERÊNCIA. Contrato por Produto Nacional

Transcrição:

Utilização Das De Captação De Água De Chuva Na Região Semi-Árida Do Nordeste Brasileiro Nilton de Brito Cavalcanti, Carlos Alberto Vasconcelos de Oliveira, Luiza Teixeira de Lima Brito, Geraldo Milanez Resende Embrapa Semi-Árido, Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido Caixa Postal 23. 56.300-000 Petrolina, PE E-mail: nbrito@cpatsa.embrapa.br Resumo A escassez de hídricos que assola a região semi-árida do Nordeste brasileiro, torna praticamente impossível a prática de uma agricultura voltada para produção de excedentes alimentares e para sobrevivência dos rebanhos bovinos, caprinos e ovinos, que são a principal fonte de renda e reserva de poupança dos pequenos agricultores. Todavia, viver nesta região requer dos agricultores, principalmente aqueles das áreas de sequeiro, a utilização de algumas alternativas tecnológicas voltadas para a captação e armazenamento de água das chuvas. Entretanto, quando se analisam os níveis de adoção dessas s, percebe-se que poucos agricultores utilizam algum de captação de água da chuva. Este trabalho teve como o objetivo fazer um levantamento junto aos pequenos agricultores de 5 municípios da região semi-árida quanto à utilização das s voltadas para captação e armazenamento de água de chuva. O trabalho foi realizado nos municípios de Simplício Mendes (PI), Morada Nova (CE), Angicos (RN), Jeremoabo (BA) e Inajá (PE) no período de 1996 a 1998. Em cada município foi aplicado um questionário junto aos agricultores selecionados por meio de uma amostra aleatória simples, num total de 179 agricultores, com as seguintes variáveis: 1) agricultores que utilizam a cisterna rural, 2) agricultores o barreiro para irrigação suplementar, 3) agricultores a barragem subterrânea, 4) agricultores que utilizam o sistema de captação de água de chuva in situ e 5) Motivos da não utilização das s. Os resultados obtidos, mostraram que apenas 9,5% agricultores utilizam a cisterna rural. E que 51,96% dos agricultores não utilizam est por falta de. As demais s não foram adotadas por nenhum agricultor. Com esses resultados pode-se concluir que há necessidade de maior difusão e demonstração destas s para os pequenos agricultores. INTRODUÇÃO A escassez de hídricos que assola a região semi-árida do Nordeste brasileiro, torna praticamente impossível a prática de uma agricultura voltada para produção de excedentes alimentares e para sobrevivência dos rebanhos bovinos, caprinos e ovinos, que são a principal fonte de renda e reserva de poupança dos pequenos agricultores. Todavia, viver nesta região requer dos agricultores, principalmente aqueles das áreas de sequeiro, a utilização de algumas alternativas tecnológicas voltadas para a captação e armazenamento de água das chuvas. Entretanto, quando se analisam os níveis de adoção dessas s, percebe-se que poucos agricultores utilizam alguma de captação de água da chuva.

2 Por outro lado, a região semi-árida do Nordeste brasileiro vem sendo alvo, nos últimos anos, principalmente a partir do final da década de 80, de grandes investimentos na pesquisa agropecuária, em busca de soluções para os problemas que afligem os pequenos agricultores. Os resultados dessas pesquisas, segundo a EMBRAPA (1993), compõem um acervo tecnológico à disposição dos pequenos agricultores, o qual já possibilita a convivência do homem e de seus animais com as secas periódicas que assolam a região e dela tirar proveito suficiente para sua sobrevivência. No entanto, esse progresso tecnológico não foi capaz ainda de realizar a grande transformação dos pequenos agricultores da região semi-árida, que seria à adequação de uma agricultura de subsistência às condições de adversidades climáticas, isto é, a uma convivência melhor com a seca. Contudo, o baixo índice de adoção das s desenvolvidas, leva-nos a concordar com a afirmação de Campos (1998) de que...a pesquisa básica com resultados tecnológicos sem perspectiva de relevância econômica ou social para o país, ainda que excelente do ponto de vista, acadêmico, é insatisfatório.... Diante dos resultados alcançados pela pesquisa e sua utilização pelos pequenos agricultores, principalmente os da região semi-árida do Nordeste...a pesquisa, em relação ao pequeno agricultor, necessita ser repensada, pois até o momento, esta mostrouse ineficaz, ou pouco eficaz, devido; a) ter se inspirado no modelo de alta produtividade e consumo energético, próprios dos países desenvolvidos, difícil de incorporar a realidade do pequeno agricultor familiar e tendente a homogeneizar ecossistemas diferenciados, provocando problemas de desequilíbrio ecológico e degradação dos naturais; e b) não ter dado suficiente importância as s poupadoras de de capital e de insumos, de baixo custo e de mais fácil adoção (FAO, 1988). Por outro lado, segundo Schaun (1984), a pesquisa sobre difusão de inovações tecnológicas na agricultura raramente se preocupa em determinar os critérios que orientam a experimentação. Essa vulnerabilidade teórica é contornada pela pressuposição inerente à problemática da difusão de, ou seja, nos estudos de difusão presume-se que foi gerada e/ou adaptada para o público para o qual se transfere. Há a pressuposição de hemogeneidade entre o público previsto na geração e/ou adaptação e o público explícito da difusão. Na realidade, nota-se que há uma distância teórica entre a geração e a difusão de s, apesar das pressuposições de que essas duas dimensões atuem conjuntamente. O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento junto aos pequenos agricultores de 5 municípios da região semi-árida quanto à utilização das s voltadas para captação e armazenamento de água de chuva. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado nos municípios de Simplício Mendes (PI), Morada Nova (CE), Angicos (RN), Jeremoabo (BA) e Inajá (PE) no período de 1996 a 1998. Estes municípios caracterizam-se principalmente, por terem suas área inseridas 100% no Polígono das secas e segundo Hargreaves (1974) apresentam uma variação climática de muito árido a semi-árido, com alto risco de ocorrência de secas.

3 Em cada município foi aplicado um questionário junto aos agricultores selecionados por meio de uma amostra aleatória simples, num total de 179 agricultores, levando-se em consideração o tamanho do estabelecimento agrícola, tendo em vista a grande quantidade de estabelecimentos com área menor que 10 ha e entre 10 e 100 hectares, onde predomina a pequena produção, representada pelo cultivo de lavouras de subsistência e pelo uso de s tradicionais. Para o dimensionamento da amostra, foi utilizado o procedimento estatístico recomendado por Cochran (1965) e Richardson (1985), considerando-se o nível de significância de 5% de probabilidade e o desviopadrão de 10% (Tabela 1). O período de aplicação dos questionários foi o seguinte: 1) no município de Morada Nova (CE), de março a abril de 1996; 2) Simplício Mendes (PI), Angicos (RN) e Jeremoabo (BA) de agosto a setembro de 1997; e 3) no município de Inajá (PE), de março a abril de 1998. A variáveis analisadas foram as seguintes: 1) agricultores a cisterna rural; 2) agricultores o barreiro para irrigação suplementar; 3) agricultores a barragem subterrânea; 4) agricultores o sistema de captação de água de chuva in situ ; e 5) Motivos da não utilização das s. Para análise estatística dos dados foi utilizado o procedimento PROC TABULATE que compõem o SAS (SAS, 1990) com o objetivo de criar tabelas de freqüências simples e cruzadas, para classificar, hierarquizar e confrontar as informações. Tabela 1 - Tamanho da amostra, segundo os estratos, em classe de área e número de estabelecimentos por município selecionados. Municípios Tamanho da amostra por classe de áreas (ha) Menos de 10 10<100 Total da amostra por município Simplício Mendes 23 25 48 Morada Nova 13 12 25 Angicos 23 22 45 Jeremoabo 18 22 40 Inajá 11 10 21 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2 pode-se observar que no município de Simplício Mendes, os pequenos agricultores fazem pouco uso das s de captação de água de chuva. Neste município a únic utilizada pelos agricultores é a cisterna rural, a qual é utilizada por apenas 4,17% dos agricultores. Quanto aos motivos da não utilização das s, o destaque é para barragem subterrânea e a captação de água de chuva in situ que não são conhecidas por nenhum dos agricultores entrevistados. Já o barreiro para irrigação suplementar, também não é

4 conhecido por 95,83% dos agricultores. Outro motivo é a falta de, os quais são responsáveis pela não utilização da cisterna rural por 58,34% dos agricultores. Esse índice de utilização das s de captação de água de chuva é preocupante, visto que, muitos já foram gastos em pesquisas e programas voltadas para geração e/ou adaptação dessas s às condições da região semiárida, como o Programa Semi-árido: proposta de implantação de sistemas de exploração de propriedades agrícolas para assegurar a convivência do homem com a seca coordenado pela Embrapa e Embrater (EMBRAPA, 1982), entre outros como: Projeto Sertanejo; Prohidro; Projeto Padre Cícero e Projeto Áridas. Todavia, como mostra Oliveira (1996), a maioria das recomendações tecnológicas para os pequenos agricultores da região semi-árida, não são adotadas. Tabela 2 - Distribuição percentual dos pequenos agricultores do município de Simplício Mendes, s e as causas da não utilização. Falta Causas da não utilização das s de informações Cisterna 2 4,17 4 8,33 7 14,58 28 58,34 7 14,58 Barreiro 0 0 0 0 0 0 2 4,17 46 95,83 Barragem 0 0 0 0 0 0 0 0 48 100 Captação in situ 0 0 0 0 0 0 0 0 48 100 No município de Morada Nova, a utilização das s analisadas, apresenta índices semelhantes aos encontrados no município de Simplício Mendes, onde pode-se observar na Tabela 3 que a cisterna rural é a únic utilizadas pelos agricultores deste município. Quanto as causas da não utilização das s, a falta de, de informações, de e principalmente o desconhecimento das s pelos agricultores, são os principais motivos da não utilização. O barreiro para irrigação suplementar e a barragem subterrânea são desconhecidas por 100% dos agricultores entrevistados. Tabela 3 - Distribuição percentual dos pequenos agricultores do município de Morada Nova, s e as causas da não utilização. Falta Causas da não utilização das s de informações

5 Cisterna 3 12,0 4 16,0 3 12,0 13 52,0 2 8,0 Barreiro 0 0 0 0 0 0 0 0 25 100 Barragem 0 0 0 0 0 0 0 0 25 100 Captação in situ 0 0 0 0 2 8,0 0 0 23 92,0 Essa pouca utilização das s, não ocorre apenas com as alternativas voltadas para captação de água de chuva, más também, com as s tradicionalmente utilizadas pelos agricultores, como: a utilização de sementes melhoradas; de adubos orgânicos e químicos; de defensivos agrícolas; e da vacinação de animais, como mostra Oliveira et al (1997) num estudo de topologia dos sistemas de produção praticados pelos pequenos produtores rurais do Estado do Rio Grande do Norte. No município de Angicos, a utilização das s de captação de água de chuva in situ, segue a mesma tendência dos municípios de Simplício Mendes e Morada Nova. Neste município apenas a cisterna rural é utilizada por 4,44% dos agricultores entrevistados, como pode-se observar na Tabela 4. Entre os motivos da não utilização das s, destaca-se o desconhecimento das mesmas. Embora conhecida pela grande maioria dos agricultores, a cisterna rural não é utilizada por 62,23% dos agricultores por falta de. Esses resultados encontrados no município de Angicos, são semelhantes aos encontrados por Oliveira (1997) onde apenas a cisterna rural foi adotada pelos pequenos agricultores como uma fonte de armazenamento e captação de água de chuva. Tabela 4 - Distribuição percentual dos pequenos agricultores do município de Angicos, s e as causas da não utilização.. Falta Causas da não adoção das s de informações Cisterna 2 4,44 10 22,22 2 4,44 28 62,23 3 6,67 Barreiro 0 0 0 0 0 0 0 0 45 100 Barragem 0 0 0 0 0 0 0 0 45 100 Captação in situ 0 0 0 0 4 8,89 0 0 41 91,11 Nos municípios de Jeremoabo e Inajá, apenas a cisterna rural é utilizada pelos pequenos agricultores, como pode-se observar nas Tabelas 5 e 6. Nestes municípios, o desconhecimento das s é o principal motivo da não utilização da maioria das s analisadas. Esses resultados reforçam a afirmação de Campos (1998) de que... a pesquisa básica com resultados tecnológicos sem perspectiva de relevância econômica ou social para o país, ainda que excelente do ponto de vista, acadêmico, é insatisfatório.... Daí a

6 necessidade de se repensar o desenvolvimento tecnológico da região semi-árida, principalmente das pesquisas voltadas para os pequenos agricultores, como afirma a FAO (1988). Tabela 5 - Distribuição percentual dos pequenos agricultores do município de Jeremoabo, s e as causas da não utilização. Causas da não utilização das s informações Cisterna 2 5,0 12 30,0 3 7,50 20 50,0 3 7,5 Barreiro 0 0 0 0 0 0 0 0 40 100 Barragem 0 0 0 0 0 0 0 0 40 100 Captação in situ 0 0 0 0 0 0 0 0 40 100 Tabela 6 - Distribuição percentual dos pequenos agricultores do município de Inajá, s e as causas da não utilização. Causas da não utilização das s informações Cisterna 6 28,57 6 28,57 3 14,29 4 19,05 2 9,52 Barreiro 0 0 0 0 0 0 0 0 21 100 Barragem 0 0 0 0 0 0 0 0 21 100 Captação in situ 0 0 0 0 4 8,89 0 0 21 100 CONCLUSÕES - Apesar de reconhecidas e comprovadas as vantagens de algumas s geradas e/ou adaptadas pela pesquisa agrícola para a convivência dos pequenos agricultores da região semi-árida com as secas periódicas que assolam a região, a maioria dos agricultores não as adotam, talvez porque não as conhecem, não dispõem de necessários para sua implantação, não sabem usá-las corretamente ou porque não lhes tem sido demostrada sua possibilidade de aplicação e eficiência. Daí a necessidade de maior difusão das mesmas e demonstração de que os pequenos agricultores desta região são capazes de adotá-las com os que dispõem em suas propriedades e aproveitarem de forma racional os disponíveis na região semi-árida do Nordeste brasileiro.

7 - É necessário não só avaliar o acervo tecnológico a disposição dos pequenos agricultores para convivência com a seca, buscando encontrar os pontos críticos, aos quais os pequenos agricultores são vulneráveis, como também, todo o processo de difusão dessas alternativas tecnológicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COCHRAN, W, G. Técnicas de amostragem. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1965. 555p. CAMPOS, I. M. O Estado e as prioridades de pesquisa. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 27 de agosto de 1998. P. 3, Caderno opinião. EMBRAPA, Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (Petrolina - PE). Semi-árido brasileiro: proposta de implantação de sistemas de exploração de propriedades agrícolas para assegurar a convivência do homem com a seca. Brasília, 1982. 152p. EMBRAPA, Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (Petrolina - PE). Relatório técnico do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido - CPATSA 1979-1990. Petrolina, PE, 1993. 175p. FAO. Oficina Regional para América Latina y el Caribe. Generacion de s adecuadas al desarrollo rural. 2. ed. Santiago, 1988. 41p. (FAO. Série: Desarrollo Rural, 4). FAO. Escritório Regional para América Latina e Caribe. Desenvolvimento agropecuário: da dependência ao protagonismo do agricultor. 2. ed. Santiago, 1992. 106p. HARGREAVES, G. H. Precipitation dependability and potentials for agricultural production in Northeast Brazil. Logan: Utah State University, 1974. 123p. OLIVEIRA, C. A. V.; CORREIA, R. C.; CAVALCANTI, N. B.; SILVA, C. N. Tipologia dos sistemas de produção praticados pelos pequenos produtores rurais do Estado do Rio Grande do Norte. In.: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 35, Natal, 1997. Anais... Brasília: SOBER, 1997. OLIVEIRA, J. A. Adoção de s recomendadas pela pesquisa para a produção de caprinos e ovinos no Nordeste brasileiro. In.: SEMINÄRIO DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 1. 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: EPACE, 1996. P.172-179. PORTO, E. R.; VIVALLO PINARE, A. G.; WILLIAMS FUENTES, C. O.; SILVA, A. S.; LOPES, L. H. O. Pequenos agricultores. V: métodos de execução de sistemas

8 integrados de produção agropecuária (SIP). Petrolina, PE,, 1990. 72p. (EMBRAPA- CPATSA. Documentos, 66). RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e s. São Paulo: Atlas, 1985. 287p. SAS INSTITUTE, SAS Guide to Tabulate processing. 2.ed. Cary: SAS Institute., 1990. 208p. SCHAUN, N. M. Geração e difusão de inovações tecnológicas na agricultura brasileira: o caso do milho Piranão. Piracicaba, ESALQ, 1984. 121 p. (Tese M.S.). SCHUH, E. Produção esbarra n. Agroanalysis, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 1-4, jan., 1996.