Palavras-chave: Patrimônio cultural; História e Cultura Afro-Brasileiras; Educação Patrimonial; Diversidade Cultural; Promoção da Igualdade



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Transcrição:

Programa SANTA AFRO CATARINA: Educação patrimonial e a presença de africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina Contemplado no Edital PROEXT 2011 MEC/SESu Coordenadoras: Profa. Dra. Andréa Ferreira Delgado (MEN/CED/UFSC) - andreadelgado@uol.com.br Profa. Dra. Beatriz Gallotti Mamigonian (HST/CFH/UFSC) - beatrizm@cfh.ufsc.br Resumo da Proposta O programa Santa Afro Catarina visa promover a identificação, valorização e difusão do patrimônio cultural associado à presença dos africanos e afrodescendentes em Florianópolis. O projeto Santa Afro Catarina: Roteiros Históricos na Ilha de Santa Catarina produzirá e divulgará roteiros que configuram percursos por diferentes lugares da cidade significativos para a história dos africanos e seus descendentes. Serão produzidos um website, uma mesa interativa e folders para divulgação dos roteiros históricos. O website conterá um banco de documentos associados a esses roteiros. Será promovido um curso para capacitar guias de turismo para o uso dos roteiros históricos. O projeto Educação Patrimonial e História Local: africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina compreende a educação patrimonial associada ao ensino de história e será desenvolvido na Escola Municipal Dilma dos Santos no bairro da Armação. Compreende também um trabalho de produção de acervo de entrevistas para registrar as memórias dos moradores, visando à elaboração de um roteiro histórico que será divulgado e incorporado ao website. Outra ação de extensão é a promoção de um curso visando à formação de professores para elaborar e desenvolver projetos interdisciplinares de educação patrimonial, associados aos roteiros históricos e ao ensino de história local. Palavras-chave: Patrimônio cultural; História e Cultura Afro-Brasileiras; Educação Patrimonial; Diversidade Cultural; Promoção da Igualdade Justificativa A construção da história e da identidade de Santa Catarina vem sendo muito associada à imigração européia; a de Florianópolis especificamente, tem como marco principal a colonização açoriana e a valorização dos traços culturais lusitanos. Embora na última década uma significativa produção historiográfica permita vislumbrar a presença dos africanos e afrodescendentes numa gama variável de atividades e de espaços sociais desde o período colonial, esses sujeitos históricos estão ainda em grande parte ausentes da história local trabalhada nas escolas ou ainda são tratados apenas na

2 condição de mão-de-obra, sem que seu protagonismo social seja devidamente valorizado, nem durante a vigência da escravidão e muito menos posteriormente. Por outro lado, os turistas que circulam pelo centro de Florianópolis ou visitam as antigas freguesias, hoje bairros conhecidos pelas praias e restaurantes de frutos do mar, tem poucos indícios da forte presença africana entre os colonizadores. No âmbito do turismo, o material produzido para divulgar o patrimônio cultural fundamenta-se nos bens materiais e nas práticas culturais de origem europeia. Esse processo interligado de construção da História de Santa Catarina e da identidade cultural produz tanto o ocultamento dos africanos e afrodescendentes como sujeitos históricos quanto a invisibilidade dos marcos da história e da cultura dos africanos e afrodescendentes presentes no espaço urbano. Com isso, parte significativa da população de Florianópolis composta de afrodescendentes está alijada do direito de ter sua história e cultura registradas, divulgadas e valorizadas. A Lei n o 10.639, de 9 de janeiro de 2003, ao alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para determinar que nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, impõe novos desafios para os cursos de formação de professores. Num processo correlato, as discussões atuais no campo do patrimônio, tal como registrado na Constituição de 1988, convergem para a noção de patrimônio cultural e apontam para a necessidade de reconhecer, registrar e salvaguardar os bens culturais de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira (BRASIL, 1988, Art. 16). Assim, em consonância com a atuação política do Movimento Negro na esfera cultural, seja no âmbito da educação escolar, seja na esfera do patrimônio, o movimento de reconhecimento social e a valorização da história e cultura dos africanos e afrobrasileiros estimulam a busca de múltiplas formas de divulgar a produção historiográfica sobre essas temáticas. Com esse intuito o programa Santa Afro Catarina: Educação patrimonial e a presença de africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina reúne historiadores com ampla produção acadêmica sobre escravidão e pós-abolição e pesquisadores que investigam o patrimônio na confluência com o ensino de História para desenvolver um conjunto integrado de ações de extensão que visam articular a produção historiográfica sobre os africanos e afrodescendentes em Santa Catarina ao campo do patrimônio, por meio de dois projetos, interligados entre si: Santa Afro Catarina: Roteiros Históricos na Ilha de Santa Catarina e Educação Patrimonial e História Local: africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina, que compreendem um conjunto de ações de extensão que serão posteriormente descritas. Fundamentação teórica

3 O Programa de Educação Patrimonial Santa Afro Catarina: Educação patrimonial e a presença de africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina inter-relaciona extensão, pesquisa e ensino por meio da reflexão acerca dos processos sociais e das políticas públicas de produção, institucionalização e divulgação do patrimônio no Brasil associada à divulgação de pesquisas acadêmicas recentes e inovadoras sobre a história da presença africana em Santa Catarina. Ao historicizar a ação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão federal responsável pela institucionalização de um conjunto de práticas culturais que sacramentou determinados bens culturais como representativos da história e da identidade nacional, observa-se que a constituição do patrimônio nacional alijou e silenciou os marcos da presença dos africanos e afrodescendentes, assim como dos indígenas, ao compor um mapa de bens tombados que representavam a elite política, católica e branca (RUBINO, 1996). Somente a partir da ampliação do conceito de patrimônio, nos anos 1970 e 1980, com a introdução da concepção de patrimônio cultural, associado à incorporação da noção de cidadania cultural ao campo do patrimônio, tal como registrado nos artigos referentes aos direitos culturais e ao patrimônio na Constituição de 1988, estabelecem-se as condições para a inclusão de bens associados às culturas indígenas e afrobrasileiras no universo do patrimônio - como ocorreu com o tombamento, em 1986, do Terreiro da Casa Branca, em Salvador, e da Serra da Barriga, em União dos Palmares (Alagoas), representativos da história e da cultura afro-brasileira. Outro marco desse processo, é o decreto 3.551, de 4 de agosto de 2000, que criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, responsável por identificar, registrar, salvaguardar e promover a dimensão imaterial do patrimônio cultural (FONSECA, 2003). Significativamente o primeiro bem a receber, em 2002, o registro no Livro dos Saberes e o título de patrimônio cultural do Brasil foi um bem indígena, a arte kusiwa, pintura corporal e arte gráfica wajãpi, do Amapá. Entre os Bens Culturais Registrados pelo IPHAN, destacam-se vários associados às manifestações culturais afrobrasileiras: Jongo no Sudeste, Tambor de Crioula no Maranhão, Roda de Capoeira, entre outros. Na área da educação escolar, desde a instituição pelo MEC dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, em 1996, e para o Ensino Médio, em 1999, valoriza-se o conhecimento do patrimônio etnocultural brasileiro como constitutivo do currículo, mas precisamente da História como disciplina escolar, associado à ideia de pluralidade cultural e ao reconhecimento da diversidade cultural, representada pelas diversas culturas presentes na formação do Brasil e que contribuíram para a construção da identidade nacional (ABREU, 2007). A escola básica constitui, portanto, um lócus privilegiado para a educação patrimonial. Torna-se necessário, entretanto, que a educação patrimonial se fundamenta na problematização do próprio objeto. Caso a educação patrimonial seja planejada apenas a partir do tripé de conhecer, preservar e difundir os bens tombados pelos órgãos públicos estará a serviço da reprodução de determinadas concepções que

4 orientaram a produção do patrimônio local, regional e/ou nacional. Assim, as experiências de aprendizagem associadas aos bens culturais devem compreender a investigação acerca das políticas públicas de produção de determinado passado e memória pela ação de agentes, instituições e instrumentos próprios do campo do patrimônio (DELGADO e OLIVEIRA, 2008). Além da educação patrimonial a ser realizada na instituição escolar, com a produção de roteiros históricos sobre a presença dos africanos e afrodescendentes em Santa Catarina objetiva-se desenvolver ações de educação para o patrimônio que associam a pesquisa histórica ao turismo cultural, visando promover a interpretações problematizadoras do patrimônio, na acepção de José Newton Menezes (2004). Diferente da visão tradicional de patrimônio configurada em roteiros turísticos ou visitas guiadas ainda correntes no Brasil, essa proposta temática ancorada na história social e na micro-história propõe um tratamento diferenciado para o turismo cultural (COSTA, 2009; DIAS, 2006) no campo do patrimônio, por meio da abordagem dos bens materiais e imateriais associados ao método interpretativo, que objetiva: 1º) investigar/apreender; 2º) documentar/interpretar; 3º) intervir/preservar e 4º) informar/difundir o patrimônio histórico, artístico e cultural de um determinado local e, a partir disso, transformá-lo em atrativo a ser reconhecido pela comunidade local, conhecido e compreendido por pessoas que a visitam e, ainda, valorizado e preservado por ambas (MENESES, 2004, p. 57). Circunscrever a ação à história e memória dos africanos e afrodescendentes contribui, ainda, para democratizar o conhecimento sobre uma parcela importante da população catarinense, questionando inclusive os mecanismos de produção da memória coletiva e da identidade regional, que promoveram a invisibilidade da história e da cultura afro-brasileira em Santa Catarina (LEITE, 1996). Em outras palavras, ao agenciar determinados marcos urbanos como cenários de tramas históricas, onde diferentes personagens africanos e afrodescendentes construíam cotidianamente suas experiência, delineiam-se novos modos de percepção e de relacionamento com o passado configurado no espaço urbano. Soma-se à materialidade de determinados bens, o resgate de modos de fazer, sentir, comportar-se que compõem o patrimônio imaterial. Da mesma forma, enfatizam-se também as ausências dos marcos materiais e o esquecimento ao evocar os lugares da cidade associados à história e à cultura dos afrodescendentes cujos vestígios foram apagados da malha urbana atual. Nossa proposta de educação patrimonial fundamenta-se, portanto, no questionamento do processo de produção da história e da memória pelo campo do patrimônio, problematizando os critérios que regem a seleção de bens e justificam sua proteção; identificando os atores envolvidos nesse processo e os objetivos que alegam para legitimar o seu trabalho; definindo a posição do Estado relativamente a essa prática social e investigando o grau de envolvimento da sociedade

5 (FONSECA, 1992, p. 23). Com a prática da educação patrimonial na educação escolar pretende-se delinear novas estratégias didáticas para o ensino de História, abordando a história local por meio dos lugares da memória (NORA, 1993) instituídos pelo campo do patrimônio no bairro da Praia da Armação e no Ribeirão da Ilha num primeiro momento, e de outros marcos do espaço urbano que serão investidos de novos significados ao serem apontados como vestígios da história e da cultura dos afrodescendentes nos roteiros históricos produzidos. Pretende-se, assim, explorar uma das principais potencialidades apontadas por Maria Auxiliadora Schimidt (2007) para o ensino de história local: produzir a inserção do aluno na comunidade da qual ele faz parte, de modo que ele identifique como se constituiu e se desenvolveu uma historicidade própria a esse lugar, necessariamente associada ao contexto histórico nacional e internacional. Em consonância com a noção que o patrimônio cultural está em processo constante de construção, apropriação e ressignificação, a produção de um conjunto de entrevistas com homens e mulheres moradores da Praia da Armação tem como objetivo investigar os significados e os usos sociais dos bens culturais produzidos pelo campo do patrimônio e também inventariar os lugares da memória instituídos pela comunidade e os significados atribuídos às vivências associadas ao espaço e suas transformações, intimamente relacionados com o fato que o lugar constitui atualmente um balneário visitado por moradores da Ilha nos finais de semana e incorporado aos roteiros turísticos. Incorporar essas entrevistas para a produção de um novo roteiro histórico A história da Praia da Armação construída pelas memórias de seus moradores constitui uma prática de ação patrimonial associada à discussão da apropriação do espaço e dos bens culturais por aqueles que cotidianamente constroem suas vidas naquele lugar. Objetivos Geral: Promover a educação patrimonial sobre a presença de africanos e seus descendentes na Ilha de Santa Catarina Específicos: 1) Criar e disponibilizar na internet: a) narrativas temáticas sobre a história dos africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina; b) roteiros históricos que configurem diferentes percursos na cidade de Florianópolis associados a história e memória dos africanos e afrodescendentes; c) um banco de documentos digitalizados; d) Guia do Professor para exploração dos roteiros em ações de educação patrimonial e e) um acervo de entrevistas relativos à presença de africanos e descendentes na Ilha de Santa Catarina; 2) Produzir uma mesa interativa multimídia que reproduza os roteiros históricos de visita a ser

6 instalada em local de acesso público no centro de Florianópolis para uso de turistas e do público em geral; 3) Preparar material impresso de divulgação dos roteiros de visita enfatizando a perspectiva renovada da História e do Patrimônio Cultural de Santa Catarina; 4) Promover um curso para guias de turismo visando capacitá-los para explorar os roteiros em atividades associadas ao turismo cultural; 5) Desenvolver um projeto de educação patrimonial associado ao ensino de História na Escola de Educação Básica Dilma Lúcia dos Santos; 6) Produzir um acervo de documentos orais e iconográficos relacionados às memórias dos moradores da comunidade da Armação a fim de organizar um roteiro histórico e exposições na forma de Museu de Rua; 7) Assessorar a utilização dos roteiros históricos com alunos da Escola Municipal Paulo Fontes no bairro de Santo Antônio de Lisboa; 8) Montar estrutura logística no Laboratório de História Social do Trabalho e da Cultura (UFSC) para produção dos roteiros históricos e para oferta regular de visitas guiadas à comunidade; 9) Oferecer um curso destinado a professores do ensino fundamental e médio da rede pública de Florianópolis, capacitando-os para elaborar e executar projetos de educação patrimonial; 10) Oferecer regularmente visitas guiadas dos roteiros históricos para o público da Grande Florianópolis; 11) Criar e atualizar um blog do Programa Santa Afro-Catarina para divulgar o andamento das atividades e interagir com alunos, professores, moradores dos bairros contemplados pelo programa e usuários do website; 12) Formar universitários para pesquisa e atuação na área de Patrimônio Histórico e Cultural. Metodologia As ações de educação patrimonial previstas nesse programa são compostas por dois projetos articulados. O primeiro, Santa Afro Catarina: Roteiros Históricos na Ilha de Santa Catarina, se sustenta em pesquisas realizadas desde 2002 no âmbito do Laboratório de História Social do Trabalho e da Cultura (HST/CFH/UFSC) e visa a divulgação científica e o atendimento às demandas do turismo cultural. O segundo, Educação Patrimonial e História Local: os africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina responde à necessidade de incorporar a história e a cultura dos afrodescendentes ao ensino da história local nas escolas públicas. 1. O projeto Santa Afro Catarina: Roteiros Históricos na Ilha de Santa Catarina já está em andamento. A abordagem metodológica que norteia as ações é a da História social trabalhada através da microhistória, isto é, através do jogo de escalas, o que permite incorporar os

7 sujeitos sociais às narrativas dos processos históricos. No caso desse projeto, trajetórias de indivíduos africanos e afrodescendentes servem de fio condutor para a reconstituição de suas ações, que são também associadas ao espaço geográfico onde atuaram. Assim, diferente da visão tradicional de patrimônio reproduzida em roteiros turísticos ou visitas guiadas ainda corrente no Brasil, essa proposta temática dá um tratamento atualizado à concepção de patrimônio histórico e cultural, por meio da produção de roteiros históricos que abordam, de forma integrada, os bens materiais e imateriais associados à presença dos africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina. 1.1 Preparação de roteiros históricos Os alunos da disciplina Laboratório de Ensino em História Social do Trabalho e da Cultura em 2011.1 estão preparando roteiros históricos que delineiam itinerários para percorrer diferentes lugares do centro de Florianópolis e dos bairros do interior da Ilha que são significativos para história dos africanos e seus descendentes entre o fim do século XVIII e o início do século XX. Para isso, tomarão como base os trabalhos já concluídos sob orientação dos professores Beatriz Mamigonian e Henrique Espada (11 relatórios PIBIC, 19 monografias de conclusão de curso, 8 dissertações e 1 relatório de estágio pós-doutoral), além da bibliografia pertinente e do acervo documental relativo à escravidão e pós-abolição em Santa Catarina reunido no Laboratório de História Social do Trabalho e da Cultura, resultado de projetos de pesquisa financiados pela FAPESC, pela FGV/Programa Memória do Trabalho e pelo CNPq. Os roteiros previstos são: 1) Viver de Quitandas ; 2) Devoção ao Rosário e Festas de Africanos na Ilha ; 3) A Desterro de Cruz e Sousa ; 4) A Lagoa também é dos pretos! ; 5) Armação baleeira e engenhos no Ribeirão da Ilha. Esses roteiros históricos serão trabalhados na disciplina de Estágio Curricular I ministrada pela professora Andréa Delgado em 2011.2 (ver detalhamento das atividades abaixo). Em 2012.1 uma nova turma de alunos da disciplina Laboratório de Ensino de História Social do Trabalho e da Cultura vai trabalhar em mais módulos/roteiros como atividades curriculares da disciplina. 1.2 Banco de documentos digitalizado Criação e disponibilização no website do Programa de um banco de documentos manuscritos, iconográficos, cartográficos e sonoros acerca da presença africana e afrodescendente na Ilha de Santa Catarina entre o fim do século XVIII e o início do século XX. Esse banco de documentos incorpora acervos já coletados durante a pesquisa para projetos anteriores ao mesmo tempo que envolve coleta e digitalização de documentos selecionados de outros conjuntos documentais. 1.3 Elaboração de um website Entre fevereiro e junho de 2012 prevemos a elaboração de um website estruturado em módulos temáticos (inicialmente os 5 roteiros cujos materiais já estarão prontos em 2011), sendo que cada módulo conterá uma narrativa de síntese, links para recursos complementares contidos no Banco de documentos; um mapa interativo elaborado sobre a

8 plataforma do Google Maps indicando o roteiro de visita dos locais pertinentes ao tema e um link para o Guia do Professor elaborado numa perspectiva temática e interdisciplinar, com o objetivo de fornecer orientações explorar os roteiros históricos a partir da abordagem de diferentes temas (alimentação, redes de comércio, geografia urbana, trabalho autônomo, entre outros) por meio de comentários sobre os recursos disponibilizados, orientações para explorar textos, documentos e a iconografia em sala de aula, além de fornecer textos complementares, sugestões de atividades e orientações bibliográficas. O site Santa Afro Catarina será concebido em estrutura modular, sendo por isso facilmente expansível e incorporará recursos de acessibilidade conforme as normas do World Wide Web Consortium (W3C). 1.4 Oferta dos roteiros temáticos ao público Os bolsistas do projeto oferecerão visitas guiadas periódicas e agendadas ao público, dos roteiros produzidos em 2011 e daqueles que serão produzidos no primeiro semestre de 2012. Para isso será montada uma logística de agendamento das visitas pelos bolsistas integrantes do Programa, associados ao Laboratório de História Social do Trabalho e da Cultura. Está previsto um total de 100 saídas ao longo do ano (aproximadamente 2 por semana, de roteiros alternados, de 2 horas cada). 1.5 Primeiro contato com o ensino de História Bolsistas do Programa em fases intermediárias do curso de História (antes do Estágio Supervisionado) trabalharão com a professora Joseane Zimmermann Vidal e os alunos da Escola Municipal Paulo Fontes (Santo Antônio de Lisboa) no segundo semestre de 2012 para adaptar o uso dos roteiros a atividades curriculares de diferentes níveis. Antes de guiar a visita os graduandos terão encontros com os alunos para discutir os significados do espaço na História e o conceito de lugares da memória. A partir daí, serão elaborados os planejamentos incluindo os roteiros. Documentos disponíveis no website serão selecionados pelos bolsistas para suscitar nos alunos reflexões sobre os roteiros. A problematização destes espaços e dos documentos disponibilizados darão subsídios para o desenvolvimento, sob a coordenação da professora, de atividades de alfabetização cartográfica e de problematização da História local que resultarão em mapas produzidos pelos próprios alunos na plataforma Google Maps ( Meus Mapas ) a partir de temas suscitados pela utilização do website e de pesquisa individual. Essa atividade envolverá quatro alunos por aproximadamente duas horas por semana por três meses. 2. O projeto Educação Patrimonial e História Local: os africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina está relacionado com o projeto de pesquisa Saber escolar e conhecimento histórico: itinerários para novas configurações da história escolar, coordenado pela professora Andréa Ferreira Delgado, que associa o estágio supervisionado à pesquisa no campo do ensino de história ao propor a produção de materiais didáticos para a educação básica com novas abordagens

9 da História da África e História dos africanos, afrodescendentes e indígenas no Brasil (DELGADO, 2011), que foi desenvolvido com uma turma de estagiários em 2009/ 2010 e cujos resultados já foram publicados (SILVA et. al., 2011), Os oito estagiários que vão cursar as disciplinas de Estágio Supervisionado I, II e III respectivamente no segundo semestre de 2011 e ao longo do ano de 2012 desenvolverão o projeto Educação Patrimonial e História Local: os africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina, tanto no interior da escola campo de estágio, a Escola Básica Municipal Dilma Lúcia dos Santos, quanto no bairro da Praia da Armação. 2.1. Educação Patrimonial e Estágio Supervisionado A proposta de educação patrimonial visa associar o estágio supervisionado ao ensino da história local, promovendo o reconhecimento, divulgação e valorização dos vestígios da história e da memória dos africanos e afrodescendentes presentes no espaço urbano de Florianópolis. Mais especificamente, a partir do estudo das pesquisas históricas, da incorporação dos roteiros históricos produzidos no projeto Santa Afro Catarina: Roteiros Históricos na Ilha de Santa Catarina e do banco de documentos correlatos, os estagiários vão produzir os materiais didáticos que utilizarão durante a prática pedagógica no Estágio Supervisionado. Esses materiais didáticos serão disponibilizados no website do Programa no segundo semestre de 2012. 2.2. Produção de documentos orais e criação de acervo Num movimento que extrapola os muros da Escola e associa o Estágio Supervisionado à pesquisa histórica, os alunos vão entrevistar moradores da Praia da Armação, recorrendo a metodologias próprias da história oral, com objetivo de compor um acervo de documentos orais associados à investigação dos processos de ocupação e modificação do espaço urbano e à produção de memórias de afrodescendentes e ao registro de suas práticas culturais. Esse acervo será divulgado na comunidade e, posteriormente, incorporado ao website criado para abrigar os roteiros históricos e o banco de documentos acerca da presença dos africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina. 2.3 Produção de documentos iconográficos e criação de exposição no formato Museu de Rua. Ao realizar as entrevistas, os alunos vão propor aos moradores que fotografem os seus lugares de memória, ou seja, os espaço do bairro associados às vivências coletivas e individuais. Também solicitarão a cessão temporária de fotografias guardadas em forma de arquivo familiar para reproduçào e formação de acervo. Posteriormente, essas fotografias serão associadas a narrativas contadas a partir das entrevistas para compor a exposição em painéis colocados em lugares de circulação de moradores e turistas no bairro da Armação. 2.4. Produção e divulgação do roteiro histórico sobre a Praia da Armação Para associar o roteiro histórico Armação baleeira e engenhos do Ribeirão da Ilha ao acervo de documentos orais produzidos durante o projeto de Educação Patrimonial será elaborado um novo roteiro denominado

10 Armações baleeiras e a história da Praia da Armação construída pelas memórias de seus moradores, com objetivo de propiciar a identificação no espaço construído, no patrimônio imaterial da comunidade, nas ruínas e nos trajetos da vida dos trabalhadores escravos e livres da Armação baleeira da Lagoinha no final do século XVIII, de forma a conectá-los à história da exploração do óleo de baleia no Brasil e aos monopólios e contratos da Coroa portuguesa. Ao mesmo tempo, serão incorporadas ao roteiro histórico as memórias dos homens e mulheres que construíram suas vidas naqueles espaços e que guardam também lembranças transmitidas por seus antepassados, promovendo assim a inter-relação entre múltiplas temporalidades constitutivas do patrimônio cultural, contribuindo para a valorização da identidade cultural das pessoas de origem africana. Esse roteiro histórico será oferecido aos alunos da Escola Básica Municipal Dilma Lúcia dos Santos e a comunidade da Praia da Armação por meio de visitas guiadas, amplamente divulgadas. 2.5. Promoção do curso Educação Patrimonial e ensino de história local: a presença dos africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina outra ação educativa será a realização de um curso de formação continuada de professores destinado a atender 40 professores da rede pública de ensino. Organizado em duas etapas, o curso prevê a oferta de mini-cursos e oficinas. Os mini-cursos abordarão temas importantes para o campo do patrimônio e para a história local, interligando a pesquisa histórica sobre a escravidão e o pós-abolição com a problematização da construção, institucionalização e gestão da memória na sociedade contemporânea. As oficinas visam explorar os roteiros históricos e o banco de documentos presentes no website do Programa e capacitar os professores para elaboração de projetos de educação patrimonial a serem desenvolvidos nas escolas públicas contemplando identificação, registro, valorização e divulgação do patrimônio cultural associado à presença dos africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina. Serão produzidos materiais didáticos para esse curso, posteriormente incorporados no website do Programa Santa Afro Catarina. Referências bibliográficas ABREU, Martha. Cultura imaterial e patrimônio histórico nacional. In ABREU, Matha, SOIHET, Rachel, GONTIJO, Rebeca (orgs.). Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 351-370. ADAMS, Betina. Preservação Urbana: gestão e resgate de uma História, Patrimônio de Florianópolis. Florianópolis/Brasília: Editora da UFSC/Fundo Nacional de Cultura MinC, 2002. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

11 BRASIL, Lei n o 10.639, de 9 de janeiro de 2003. COSTA, Flávia Roberta. Turismo e patrimônio cultural: interpretação e qualificação. São Paulo: Editora SENAC / Edições SESC-SP, 2009. DELGADO, Andréa Ferreira e OLIVEIRA, Ilse Leone. Educação patrimonial como experiência intedisciplinar: patrimônio e memória na cidade de Goiás. Revista Solta a Voz, v. 19, n. 2, jul/dez. 2008. Goiânia, 2008, p. 135-150. DELGADO, Andréa Ferreira. Do currículo formal ao currículo em ação: o Estágio Supervisionado como experiência de pesquisa. In SILVA, Cristini Bereta da et. al. Experiências de ensino de História no Estágio Supervisionado. Florianópolis: Editora UDESC, 2011, p. 221-245. DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural. Recursos que acompanham o crescimento das cidades. São Paulo: Saraiva, 2006. FONSECA, Maria Cecília. Construções do passado: concepções sobre a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional (Brasil: anos 70-80). Tese de Doutoramento em Sociologia. Universidade de Brasília. Brasília, 1992. FONSECA, Maria Cecília. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio cultural. In ABREU, Regina e CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 56-76. GODOY, Clayton P. F.; RABELO, Marcos Monteiro (orgs.) Comunidades Negras de Santa Catarina: narrativas da terra, ancestralidade e ruralidade. Florianópolis, IPHAN-SC, 2008. GONZÁLEZ DE CASTELLS, Alicia et alli (orgs.), Ecos e Imagens do Patrimônio Imaterial: Inventário Nacional de Referências Culturais do Sertão do Valongo. Florianópolis, IPHAN-SC, 2008. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN/Museu Imperial, 1999. LEITE, Ilka Boaventura (Org.). Negros no sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Ilha de Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 1996. NORA, P. Entre memórias e história. A problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo, n. 10, p. 7-28, 1993. PELEGRINI, Sandra A. Patrimônio cultural: consciência e preservação. São Paulo: Editora Brasiliense, 2009. RUBINO, Silvana. O mapa do Brasil passado. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico

12 Nacional. Brasília, n. 24, p. 97-105, 1996. SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. O ensino de história local e os desafios da formação da consciência histórica. In MONTEIRO, Ana Maria, GASPARELLO, Arlette Medeiros e MENESES, José Newton Coelho. História & Turismo Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. SILVA, Cristini Bereta da et. al. Experiências de ensino de História no Estágio Supervisionado, Florianópolis: Editora UDESC, 2011. Referências bibliográficas para construção dos Roteiros Históricos BASTOS, Ana Carla. Os forros da Lagoa da Conceição: arranjos de liberdade numa freguesia rural da Ilha de Santa Catarina (1840-1888). Monografia de Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro: Memória, vols 1 e 2. Florianópolis: Ed. do Autor, 1972. CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro: Notícia, vols 1 e 2. Florianópolis: Ed. do Autor, 1972. CARDOSO, P. J. F. Negros em Desterro: experiências das populações de origem africana em Florianópolis. Séc. XIX. Itajaí, SC: Casa Aberta, 2008. CARDOSO, Paulino J. F.; MORTARI, Cláudia. Territórios negros em Florianópolis. In: Ana Brancher. (Org.). História de Santa Catarina - Estudos Contemporâneos. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1999. ELLIS, Myriam. A baleia no Brasil Colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1969. FARIAS, Joice. A Lagoa da Conceição também é dos pretos! Experiências dos grupos populares no leste da Ilha de Santa Catarina (1870-1880). Dissertação de Mestrado, PPGH/ICHF, Universidade Federal Fluminense, 2003. GEREMIAS, Patrícia R. Ser ingênuo em Desterro, SC: A lei de 1871, o vínculo tutelar e a luta pela manutenção dos laços familiares das populações de origem africana (1871-1889). Dissertação de Mestrado, PPGH/ICHF, Universidade Federal Fluminense, 2005. GONZÁLEZ DE CASTELLS, Alicia et alli (orgs.), Ecos e Imagens do Patrimônio Imaterial: Inventário Nacional de Referências Culturais do Sertão do Valongo. Florianópolis, IPHAN-SC, 2008. LIMA, Henrique Espada. Sob o domínio da precariedade: Escravidão e os significados da liberdade

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14 PENNA, Clemente Gentil. Escravidão, Liberdade e os Arranjos de Trabalho na Ilha de Santa Catarina nas Últimas Décadas da Escravidão (1850-1888). Dissertação de Mestrado, PPGHST/CFH, Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. REBELATTO, Martha. Fugas escravas e quilombos na Ilha de Santa Catarina, século XIX. Dissertação de Mestrado, PPGHST/CFH, Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. SBRAVATI, Daniela Fernanda. Senhoras de incerta condição: proprietárias de escravos em Desterro na segunda metade do século XIX. Dissertação de Mestrado, PPGHST/CFH, Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. SCHEFFER, Rafael da Cunha. Tráfico interprovincial e comerciantes de escravos em Desterro, 1849-1888. Dissertação de Mestrado, PPGHST/CFH, Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. SCHWEITZER, Maria Helena Rosa. Santa Catarina na rota do tráfico: portos catarinenses e o tráfico atlântico ilegal de escravos (1831 1855). Monografia de Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. SILVA, Franco Santos Alves da. Libertos na freguesia do Ribeirão da Ilha, 1870-1888. Monografia de Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. SILVA, Jaime José dos Santos. Sons que ecoavam no passado: as festas africanas em Desterro na primeira metade do século XIX. Monografia de Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, 2009. ZIMMERMANN, Fernanda & MAMIGONIAN, Beatriz G. Africanos entre açorianos: tráfico atlântico e trabalho escravo no Ribeirão da Ilha na primeira metade do XIX. Relatório final PIBIC/CNPq. Florianópolis, UFSC, 2004. ZIMMERMANN, Fernanda. O funcionamento da Armação da Lagoinha: hierarquia do trabalho e o controle dos escravos na caça à baleia (Ilha de Santa Catarina, 1772-1825). Monografia de Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. Observações O conteúdo do site, os mapas interativos e os roteiros temáticos servirão de subsídio para a produção de uma mesa interativa instalada em lugar de intensa movimentação turística. A tela multitouch de 42 polegadas permitirá aos usuários, sejam turistas, estudantes ou membros do público geral navegar pelo site, pelo mapa interativo e pelos roteiros, proporcionando-lhes uma experiência interativa multimídia que, pelo aspecto lúdico, estimula a curiosidade e a apreensão do

15 conteúdo de formas variadas. Os recursos para a produção e instalação desse equipamento orçado em R$ 30.000,00 e para a impressão dos folders, orçada em 25.000 (10.000 folders) serão buscados através dos fundos municipais de apoio à cultura e ao turismo em 2012. A mesa interativa multimídia deve ser lançada em stand da Semana de Pesquisa e Extensão (SEPEX) da UFSC em outubro de 2012 e depois instalada em local de grande afluência de público e turistas em Florianópolis. Equipe Andréa Ferreira Delgado - MEN/CED/UFSC coordenadora do projeto Educação Patrimonial e História Local; coordenadora do estágio; coordenadora do curso de patrimônio; acervo de documentos orais; Beatriz Gallotti Mamigonian HST/CFH/UFSC coordenadora do projeto Santa Afro Catarina: Roteiros Históricos na Ilha de Santa Catarina, coordenadora do curso para guias de turismo e do núcleo de universitários encarregados de oferecer as visitas guiadas às escolas e ao público; Henrique Espada Lima HST/CFH/UFSC sub-coordenador do projeto x; encarregado do banco de dados documental; Mônica Martins da Silva MEN/CED/UFSC encarregada do curso de patrimônio; Joseane Zimmermann Vidal Escola municipal Paulo Fontes (Santo Antônio); Daniela Sbravati Escola municipal Dilma Lúcia dos Santos (Armação); Vitor Hugo Bastos Cardoso mestrando história encarregado do banco de dados documental e coordenação equipes de estudantes; Sandra Oenning da Silva mestranda história coordenação equipes de estudantes; Fernando Bartholomay Filho mestrando história; Vinícius Possebon Anaissi mestrando história Unicamp coordenador equipe módulo reformas urbanas Florianópolis; Miriam Karla Machado aluna de História/bolsista; André Fernandes dos Passos aluno de História/bolsista; Caroline Cunha Mendes aluna de História/bolsista.