MANIPULAÇÃO OU INFORMAÇÃO? FORMAS DE ANALISAR A GRANDE IMPRENSA

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Transcrição:

MANIPULAÇÃO OU INFORMAÇÃO? FORMAS DE ANALISAR A GRANDE IMPRENSA POR MEIO DA OBRA DE PERSEU ABRAMO Karina Rangel Cruz de Assis. 1 ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. A obra resenhada é um compêndio das experiências jornalísticas, editoriais e também das análises feitas por Perseu Abramo. O autor orientou a produção de jornais, projetos de iniciação científica e também desenvolveu uma pesquisa sobre a manipulação da informação e a distorção da realidade na imprensa brasileira (ABRAMO, 2003, p.16). O livro Padrões de manipulação da grande imprensa é baseado nos textos mais completos desta pesquisa. Sua obra pode ser compreendida como um manual de instruções para aquele que deseja entender as minucias que estão por trás de um texto jornalístico e de uma notícia telejornalística. O livro é composto por um único capítulo intitulado de Significado político da manipulação na grande imprensa, nele encontramos cinco itens: A manipulação, Os padrões de manipulação, objetividade e subjetividade, o significado politico da manipulação e circunstância ou tendência. Cada um deles nos ajuda a compreender a relação da imprensa com a informação que ela transmite à sociedade. No primeiro item A manipulação, Perseu Abramo compara a relação da imprensa com a informação que ela transmite com um objeto e o seu reflexo em um espelho. Afirmando que da mesma forma que o espelho não reflete corretamente a imagem do objeto: Os órgãos de imprensa não refletem a realidade [...] É uma referência indireta à realidade, mas que distorce a realidade. [...] como se a imprensa se referisse à realidade apenas para apresentar outra realidade, irreal, [...] artificial, não real, irreal, criada e desenvolvida pela imprensa e apresentada no lugar da realidade real [...] A manipulação das informações se transforma, assim, em manipulação da realidade (ABRAMO, 2003, p.23, 24). Abramo complementa que, ao receber da imprensa as informações distorcidas, a sociedade constrói uma imagem deturpada do meio no qual ela está inserida, compreendendoa por uma perspectiva distorcida. O autor também afirma que: Não é todo o material que toda a imprensa manipula sempre. [...] se pudesse ser assim o fenômeno seria autodesmistificador e autodestruidor por si mesmo, e sua 1 Pós-graduanda em História Social e Cultural do Brasil pela Coordenação de Extensão, Pós-Graduação e Pesquisa (FEUC/CEPOPE). E-mail: karinarangel.historia@gmail.com

Manipulação ou informação? Maneiras de analisar a grande imprensa por meio da obra de Perseu Abramo Karina Rangel Cruz de Assis importância seria extremamente reduzida ou quase insignificante. [...] não é que o fenômeno ocorra uma vez ou outra, numa ou noutra matéria de um ou outro jornal; se fosse esse o caso, os efeitos seriam igualmente nulos ou insignificantes. (ABRAMO, 2003, p.24, 25) No segundo item Os padrões de manipulação, Abramo descreve quatro padrões gerais, que podem ser encontrados em toda a imprensa. No mesmo item, o autor acrescenta mais um padrão que pode ser encontrado no telejornalismo. Os quatro padrões gerais de manipulação citados por Abramo são: Padrão de ocultação, Padrão de fragmentação, Padrão de inversão e Padrão de indução. Sobre o quinto padrão, que pode ser encontrado no telejornalismo, o autor o classifica como Padrão global ou padrão específico do jornalismo de televisão e rádio. O Padrão de ocultação surge no momento de planejar uma edição, no momento em que se está construindo a pauta de um periódico. Conforme o autor, há uma noção implícita, porém predominante entre os proprietários dos meios de comunicação e os seus empregados: o ato de decidir quais são os fatos jornalísticos e os fatos não-jornalísticos. Nas palavras do autor, o momento em que a imprensa desempenha a função de cobrir e expor os fatos jornalísticos e deixar de lado os não-jornalísticos (ABRAMO, 2003, p.26) é quando ocorre o Padrão de ocultação. Abramo o define como: A ausência e a presença dos fatos reais na produção da imprensa. [...] Não se trata [...] de fruto de desconhecimento, e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade (ABRAMO, 2003, p.25, 26). Sobre o Padrão de fragmentação, o autor afirma que ele também ocorre no momento de elaboração do texto, quando as imagens são selecionadas e a edição é preparada. A partir do momento em que se define quais são os fatos jornalísticos e os não jornalísticos, aqueles definidos como os não jornalísticos são eliminados e os fatos jornalísticos passam por um processo de fragmentação. Nas palavras do autor: O resto da realidade é apresentada pela imprensa ao leitor não como uma realidade, com suas estruturas e interconexões [...] o todo real é [...] fragmentado em milhões de minúsculos fatos particularizados, na maior parte dos casos desconectados entre si [...] desligados de seus antecedentes e de seus consequentes [...] reconectados e revinculados de forma arbitrária e que não corresponde aos vínculos reais, mas a outros ficcionais e artificialmente inventados. (ABRAMO, 2003, p.27) A partir do momento que o fato jornalístico é fragmentado e descontextualizado, quando a edição está no momento de coleta e transcrição das informações, surge o terceiro padrão de manipulação da imprensa, nomeado por Abramo como Padrão da inversão. As partes fragmentadas do fato jornalístico são reordenadas e colocadas em uma ordem que

permite a destruição da realidade original e a criação artificial da outra realidade (ABRAMO, 2003, p.28). Para Abramo, é possível encontrar diversas formas de inversão de informações na grande imprensa. Logo, o Padrão da inversão é apresentando de quatro formas específicas: A primeira pode ser identificada, quando percebemos que a principal informação considerada como a mais importante foi apresentada como supérflua ou desnecessária. A segunda forma pode ser identificada, quando a estética do texto se torna mais importante que a informação que ele aborda. A terceira, quando a imprensa não aborda o fato jornalístico em sua essência, mas aborda a sua versão do fato utilizando-se do frasismo e do oficialismo. Por fim, a quarta forma específica que o padrão de inversão apresenta, ocorre quando as formas anteriormente apresentadas são utilizadas excessivamente, permitindo que a informação seja substituída pela opinião: Com a agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é inescrupulosamente utilizado como se fosse um juízo de realidade, quando não como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade (ABRAMO, 2003, p.31). O quarto padrão geral de manipulação da grande imprensa, apresentado por Abramo, é o Padrão de indução, no qual o autor afirma que o leitor é induzido pelo conjunto de meios de comunicação a enxergar a outra realidade diferente e até oposta à realidade real (ABRAMO, 2003, p.34). Também afirma que este padrão de manipulação pode ser compreendido como o resultado da ação dos padrões de manipulação anteriores. O autor finaliza o item apresentando um quinto padrão, que pode ser encontrado de forma específica no telejornalismo, nomeado como Padrão global ou padrão específico do jornalismo de televisão e rádio. Para explicá-lo, Abramo o divide em três momentos básicos: O primeiro chamado de a exposição do fato, que como o nome já diz, o evento é apresentado à sociedade por um ponto de vista mais emocional, mais sensacionalista. O segundo momento é chamado de a sociedade fala, quando a reportagem apresenta imagens e depoimentos de pessoas que foram envolvidas no evento. O terceiro é denominado de a autoridade resolve, caracteriza o momento em que uma autoridade se apresenta diante da sociedade e a tranquiliza. Ela mostra que está tudo sob controle e que a sociedade não precisa tomar nenhuma iniciativa, porque a autoridade já está tomando as medidas necessárias para resolver o problema. Após apresentar uma lista com diversas formas de manipulação de informações encontradas na grande imprensa, o autor retrata no terceiro item objetividade e subjetividade, a forma objetiva e subjetiva que a imprensa apresenta as suas informações.

Manipulação ou informação? Maneiras de analisar a grande imprensa por meio da obra de Perseu Abramo Karina Rangel Cruz de Assis Logo, surge o seguinte questionamento: A forma subjetiva e manipuladora da imprensa de abordar a notícia é algo intrínseco a ela ou é algo que pode ser evitado? Na tentativa de responder esta pergunta, o autor altera a sua forma de abordar o posicionamento da grande imprensa, afirmando que a não neutralidade dos meios de comunicação precisa ser entendida como algo compreensível. Nas palavras do autor, O órgão de comunicação não apenas pode mas deve orientar seus leitores/ espectadores, a sociedade, na formação da opinião, na tomada de posição e na ação concreta como seres humanos e cidadãos [...] Da mesma forma, há sempre elementos de subjetividade na objetividade e de objetividade na subjetividade. [...] nunca se é inteiramente subjetivo nem totalmente objetivo na relação de apreensão e conhecimento do real (ABRAMO, 2003, p.38,39). Mesmo com a parcialidade sendo compreendida como algo comum na forma da imprensa de noticiar as informações, é fundamental que os meios de comunicação busquem constantemente a aproximação da objetividade. Para Abramo, os meios necessários para que o homem consiga se aproximar daquilo que é objetivo estão na capacidade humana de apreender e captar o real, das circunstâncias que influenciam a capacidade de observação (ABRAMO, 2003, p.39). Quanto maior esta capacidade, maiores serão as chances do homem se aproximar da objetividade. Outro meio necessário para que o homem se aproxime da objetividade é quando ele possui a disposição, o desejo de alcança-la. O homem precisa acreditar que, mesmo que a objetividade absoluta não exista, vale a pena procurar a objetividade relativa. Para o autor, a determinação, o conhecimento e o autocontrole são fundamentais para conseguir se aproximar da objetividade. Abramo também acrescenta que a observação é muito importante para se conseguir chegar o mais próximo possível da objetividade. Quando o sujeito prioriza a observação, ele busca envolver totalmente o objeto da observação, investiga os momentos antecedentes e consequentes no processo do qual o objeto faz parte, reexamina o objeto sob vários ângulos e várias perspectivas (ABRAMO, 2003, p.40). Com isto, é possível fazer jornalismo utilizando-se da objetividade, ou seja, separando a informação da opinião, para que o leitor/espectador tenha a possibilidade de diferenciar a realidade do juízo de valor. Ao escrever o quarto item O significado político da manipulação em seu capítulo, Abramo afirma que os principais meios de comunicação no Brasil estão nas mãos de empresas privadas e que há um propósito implícito no ato de manipular dos meios de comunicação. Mesmo assim, o autor deixa claro que o seu objetivo é compreender qual é o motivo pelo qual os donos dos meios de comunicação distorcem a realidade. Perseu Abramo afirma que, o ato de se utilizar de artifícios para tentar manipular a sociedade está ligado a questões econômicas, políticas e também à lógica do poder, porque é

evidente que os órgãos de comunicação, e a indústria cultural de que fazem parte, estão submetidos à lógica econômica do capitalismo (ABRAMO, 2003, p.43). No quinto item Circunstância ou tendência, Abramo tenta compreender a mudança na postura dos meios de comunicação por uma análise sociológica. Em sua análise, afirma que a postura política dos meios de comunicação traz uma perda de credibilidade do leitor/espectador. O autor compreende que este nascimento de uma nova imprensa pode vir acompanhado de uma mudança gradual na postura de seu leitor/espectador, que, ao longo do tempo, assumirá uma posição crítica diante das informações transmitidas pela imprensa para a sociedade. Compreenderá os órgãos de comunicação como sujeitos políticos e não mais como meios de informação, revisando e reformulando alguns conceitos fundamentais para a imprensa, como os de liberdade de expressão e liberdade de imprensa. Por fim, Abramo afirma que haverá uma luta por parte das classes dominadas para que os meios de comunicação deixem a sua natureza privada e se torne públicos. Ou seja, surgirá um novo modelo de imprensa diferente do qual conhecemos hoje. Abramo retrata, em sua obra, a atuação política da grande imprensa, mas não comete o equívoco da generalização. O autor afirma que somente alguns órgãos de comunicação se utilizam incessantemente dos padrões apresentados em seu livro. Também afirma que, por mais que um meio de comunicação busque ser imparcial, sempre haverá uma parcialidade em relação a grande imprensa. Com base na obra de Perseu Abramo, compreendemos o porquê do interesse das classes dominantes em ter o controle dos meios de comunicação. Além de informar, esses meios também possuem a capacidade de manipular parte da sociedade facilitando o controle social por parte dessas elites. O ato de informar ou a tentativa de manipular a sociedade depende do posicionamento político da linha editorial de cada meio de comunicação, mas aqueles que financiam a circulação de um determinado meio de comunicação influem diretamente na notícia que será transmitida à sociedade. Logo, aquele que possui o controle da grande imprensa tem em suas mãos o poder de informar a sociedade e a chance de tentar manipulá-la por meio da forma como essas informações são transmitidas ao leitor/espectador.