Perfil do crescimento somático de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos do Estado do Rio Grande do Sul

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Perfil do crescimento somático de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos do Estado do Garlipp D., Bergmann G., Lorenzi T., Marques A. C.,Gaya A., Torres L, Silva M., Silva G., Lemos A. e Machado D. Resumo O crescimento somático é altamente influenciado pelos fatores genéticos e ambientais, além de ser considerado um dos parâmetros que indicam a qualidade de vida de um país. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar como se caracteriza o crescimento somático de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos de idade do estado do, identificando possíveis diferenças entre os sexos, além de situar as curvas percentílicas desta amostra com as curvas brasileiras. O estudo contou com 6794 crianças e adolescentes sendo 3447 meninos e 3347 meninas do estado do. O crescimento somático foi avaliado através das medidas de massa corporal e estatura. Na análise descritiva utilizou-se a média, desvio padrão e percentis. Na análise inferencial utilizou-se a Análise de Variância Univariada (ANOVA). Quanto aos resultados verificou-se vantagens tanto de estatura como de massa corporal no sexo masculino até os 9 anos de idade, passando essa vantagem para o sexo feminino, voltando os meninos a apresentar maiores médias de estatura e massa corporal a partir dos 14 anos de idade. Ao compararmos a amostra com curvas advindas da população brasileira, identificamos maiores médias da população investigada, nos três percentis (10, 50 e 90), nos dois sexos. Palavras chave: crescimento - estatura - massa corporal - crianças e adolescentes. Introdução O estudo do crescimento, principalmente em países em desenvolvimento, é de suma importância para a avaliação das condições de saúde de escolares, tendo em vista que constitui um dos parâmetros indicadores da qualidade de vida de um país. Neste sentido, Tanner (1986) indica que a estatura e o peso corporal são os principais referenciais, e também os mais comumente usados para a análise do crescimento somático. Para Marcondes (1970), a avaliação da estatura e do peso corporal não representa o fenômeno do crescimento, mas podem representá-lo, pois são passíveis de representação numérica e expressam as principais limitações desse processo. Além disso, a grande acessibilidade aos instrumentos de medida juntamente com as respostas que daí advém, tem representado uma fonte inesgotável de informações preciosas nos vários domínios das ciências da saúde. A utilização das medidas de peso e estatura tem se constituído como um recurso quase universal pela maioria dos pesquisadores. Neste sentido, observamos as posições da Organização Mundial da Saúde (OMS) que adotam normas de caráter antropométrico para servirem de referência na monitoração e classificação do crescimento, desenvolvimento e estado de saúde (WHO 1983, 1986, 1995). Para Prista et ai (2002), não parece haver dúvidas quanto à relação entre índices antropométricos, condições higiêniconutricionais, taxas de morbidade e mortalidade em países em vias de desenvolvimento. Desta forma, os objetivos deste estudo são: (a) verificar como se caracteriza o crescimento somático de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos de idade do estado do ; (b) observar as possíveis diferenças entre os sexos; (c) 31

situar as curvas percentílicas desta amostra com as curvas brasileiras 1. Material e Métodos Este estudo exploratório foi realizado a partir de uma amostra de 6794 crianças e adolescentes, sendo 3447 (50,7%) meninos e 3347 (49,3%) meninas do estado do Rio Grande do Sul, distribuídos da seguinte forma: Tabela 1 - Distribuição da amostra nas diferentes idades em cada sexo IDADES MASCULINO FEMININO EM ANOS n fr {%) N Fr (%) 7 168 4,9 184 5,5 8 206 6,0 237 7,1 9 238 6,9 215 6,4 10 337 9,8 335 10,0 11 440 12,8 489 14,6 12 453 13,1 466 13,9 13 491 14,2 442 13,2 14 401 11,6 322 9,6 15 354 10,3 260 7,8 16 209 6,1 222 6,6 17 150 4,4 175 5,2 TOTAL 3447 100,0 3347 100,0 n: valores absolutos ; fr: freqüência relativa Os dados foram provenientes das seguintes cidades do estado; Tabela 2 - Distribuição da amostra por cidade Cidades n fr (%) Alegrete 1052 15,5 Canoas 58 0,9 Caxias do Sul 1371 20,2 Estrela 8 0,1 Pelotas 1079 15,9 Porto Alegre 294 4,3 Rio Grande 195 2,9 Santa Cruz do 1619 23,8 Sul Santa Maria 945 13,9 Santa Rosa 173 2,5 n: valores absolutos ; fr: freqüência relativa O método de abordagem é do tipo expost facto com técnica descritiva e ' As curvas brasileiras foram traçadas a partir dos dados coletados pelo Projeto Esporte Brasil (PROESP- BR) em diversos estados brasileiros. comparativa, com análise de corte transversal. As medidas somáticas avaliadas foram: (a) massa corporal: medido em kg com resolução de 0,1 kg; (b) estatura: medida em cm entre o vértex e o plano de referência do solo, com resolução de 0,1 cm. Para o tratamento dos dados, inicialmente procedeu-se a um estudo exploratório cujo objetivo foi o de avaliar os pressupostos essenciais da análise paramétrica. A análise exploratória constou da inspeção dos gráficos boxplot para identificar a eventual presença de outliers, os quais foram retirados da amostra. A normalidade das distribuições foi verificada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. A homogeneidade das variâncias foi testada com o teste de Levene, para a definição dos testes estatísticos. Na análise descritiva utilizou-se a média, desvio padrão e percentis. Para inferirmos sobre as possíveis diferenças entre os sexos, utilizou-se a Análise de Variância Univariada (ANOVA). O nível de significância foi de 5%. Para todas as análises estatísticas utilizou-se o programa estatístico SPSS for Windows 10.0. Resultados e Discussão O crescimento somático das crianças e adolescentes é apresentado inicialmente através das comparações entre os sexos em estatura e massa corporal, seguido de localização da amostra em relação às curvas brasileiras. A tabela 3 apresenta a média e desvio padrão dos 7 aos 17 anos nos dois sexos. Verifica-se na tabela 3 que as meninas apresentaram média de estatura superior ao dos meninos aos 10, 11 e 12 anos de idade, ficando as demais idades com superioridade do sexo masculino. Houve diferenças estatisticamente significativas entre todas as médias de estatura de meninos e meninas com exceção dos 9 anos de idade. Esses resultados são muito parecidos com aqueles encontrados por Gaya et al. (2002) ao estudarem o 32

crescimento somático de crianças e adolescentes da região sul do Brasil. Tabela 3 - Comparação dos valores médios de estatura entre os sexos. Masculino Feminino Média ± DP Média ± DP Sig 7 126,93 6,47 125,25 6,81 0,023 8 131,62 7,61 129,94 8,38 0,031 9 136,69 8,39 136,82 7,99 0,860 10 142,32 7,37 143,76 7,86 0,016 11 147,41 7,85 149,50 8,16 0,000 12 153,37 8,75 154,93 6,80 0,003 13 160,23 9,31 157,58 6,26 0,000 14 166,98 8,26 160,57 6,69 0,000 15 171,06 7,38 161,34 5,86 0,000 16 172,75 7,07 162,24 681 0,000 17 174,08 6,66 161,94 6,05 0,000 Ao analisar as curvas de crescimento de ambos os sexos (gráfico 1), identifica-se um mesmo curso de crescimento, havendo a inversão da superioridade em média de estatura aos 9 e pouco após os 12 anos de idade. Para Malina e Bouchard (2002), as diferenças da média de estatura entre os sexos antes da puberdade são consistentes mas pequenos, no entanto, esses resultados demonstram que mesmo antes da puberdade, nas idades de 7 e 8 anos, já existem diferenças significativas entre os sexos. Gráfico 1 - Representação gráfica das médias de estatura de meninos e meninas Ir,!. 175 170 155 c/) 150 0) 145 ro 140 135 Sexo 1 V Masculino 125 120 Feminino 10 11 12 13 14 15 16 17 Parece que o sexo feminino entra em salto pubertário por volta dos 9 anos, pois é nessa idade que as curvas se aproximam, já existindo diferenças significativas, a favor das meninas, aos 10 anos. No sexo masculino, o salto pubertário parece iniciar por volta dos 11 anos, pois sua curva de crescimento inicia uma maior inclinação nessa idade. Esses resultados estão de acordo com as afirmações de diversos autores que inferem sobre uma diferença de dois anos entre o início da puberdade nos dois sexos (Tanner, 1962; Gallahue e Ozmun, 2001; Malina e Bouchard, 2002). Pode-se também identificar uma tendência de estabilização precoce do crescimento em estatura no sexo feminino, quando comparado ao sexo masculino. Esta estabilização parece ocorrer por volta dos 14 anos. Entre os pesquisadores não existe uma concordância quanto a idade de término do crescimento em estatura. Conforme Maranon (1953), o crescimento estatural finaliza em média aos 20 anos no sexo masculino e 18 anos no sexo feminino. Para Malina e Bouchard (2002), as meninas terminam seu crescimento em estatura aos 16 anos em média, enquanto os meninos continuam a crescer por aproximadamente 2 anos mais. Já para Macias (1972) e Marcondes (1984) não existem diferenças sexuais quanto ao término do processo de crescimento estatural, ficando por volta dos 20 anos para ambos os sexos. No estudo realizado por Gaya et ai (2002), as meninas também apresentaram uma tendência de estabilização por volta dos 14 anos, enquanto que os meninos continuaram a aumentar a sua média estatural. Tabela 4 - Comparação dos valores médios de massa corporal entre os sexos. Masculino Feminino Média ± DP Média ± DP Sig 7 28,02 5,88 27,35 5,69 0,286 8 31,07 7,94 29,79 5,88 0,056 9 35,50 8,56 34,02 7,14 0,051 10 38,01 8,74 38,46 8,97 0,515 11 41,92 10,44 42,21 9,83 0,666 12 45,90 11,14 47,86 10,12 0,006 13 51,39 12,30 49,98 9,43 0,055 14 58,00 11,98 53,20 8,76 0,000 15 62,10 10,54 55,59 9,40 0,000 16 62,99 9,21 56,08 8,40 0,000 17 66,96 9,58 56,91 8,60 0,000 33

A diferença em estatura entre os sexos na idade adulta fica em torno de 13 cm. Essa diferença pode ser explicada pelo fato de que os meninos apresentam, em média, 2 anos de crescimento préadolescente a mais do que as meninas (Malina e Bouchard, 2002). Além disso, o estrogênio causa aumento da taxa de crescimento ósseo, o que ocasiona a finalização do comprimento ósseo 2 a 4 anos após o início da puberdade, no sexo feminino (Wilmore e Costill, 2001). Em relação à massa corporal, encontram-se valores superiores no sexo masculino aos 7, 8, 9, 13, 14, 15, 16 e 17 anos de idade. Entretanto, as diferenças significativas entre as médias ocorreram aos 12, 14, 15, 16 e 17 anos de idade. Todavia, deve-se analisar com muita parcimônia os dados referentes aos 8, 9 e 13 anos de idade, tendo em vista o valor apresentado em sua significância (p) estar muito próximo do nível de significância adotado (a). Gráfico 2 - Representação gráfica das médias de massa corporal de meninos e meninas 10 11 12 13 14 15 16 17 Sexo Masculino Feminino Ao ser analisado as curvas de massa corporal (gráfico 2), identifica-se, como feito na estatura, um curso de crescimento muito semelhante entre os sexos. Os meninos apresentam valores médios de massa corporal maiores nas idades mais precoces, sendo superados pelas meninas aos 10 anos e voltando a apresentar massa corporal maior a partir dos 13 anos de idade, o que representa as alterações causadas pela puberdade. Ocorrida em média de dois anos antes no sexo feminino, a puberdade causa um aumento bastante grande da descarga hormonal em ambos os sexos. No sexo masculino a testosterona provoca o aumento da formação óssea e síntese protéica, ocasionando ossos mais largos e aumento da massa muscular. No sexo feminino o estrogênio causa um alargamento da pelve, estimula o desenvolvimento das mamas e aumento da deposição de gordura, principalmente nas coxas e na região do quadril. Desta forma, os meninos tornam-se maiores e mais musculosos do que as meninas, sendo que essas características persistem na vida adulta (Wilmore e Costill, 2001). Gráfico 3 - Comparação dos percentis de estatura dos meninos do em relação ao Brasil 180 170 E O 160 2 =J 150 ro K ü 140 130 120 p50 plo 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Brasil Como ocorrido na estatura, as meninas tendem a apresentar uma estabilização da massa corporal por volta dos 14 anos de idade, enquanto que nos meninos as médias continuam a aumentar. Importante salientar que diferente da estatura (qualidade altamente influenciada geneticamente), a massa muscular sofre forte influência dos fatores ambientais (Galahue e Ozmun, 2002). Gráfico 4 -Comparação dos percentis de estatura das meninas do em relação ao Brasil 180. p50 150 pío 130 10 11 12 13 14 15 16 17 idade Brasil 34

Os gráficos 3 e 4 apresentam uma comparação das curvas de estatura (percentis 10, 50 e 90) dos meninos e meninas do em comparação com as curvas brasileiras. Identifica-se nos gráficos 3 e 4 uma superioridade da estatura das crianças e adolescentes do em relação as curvas brasileiras, com exceção somente dos 8 anos do sexo feminino no percentil 10. Gráfico 5 - Comparação dos percentis de massa corporal dos'meninos do em relação ao Brasil todas as idades. Entretanto, tanto no percentil 50 como no percentil 10, as curvas seguem um padrão semelhante, apresentando algumas flutuações, com a amostra apresentando sempre médias superiores às curvas dos meninos Gráfico 6 - Comparação dos percentis de massa corporal das meninas do em relação ao Brasil pso pio pso pio No sexo masculino, as curvas são muito semelhantes, seguindo um comportamento quase idêntico em todos os percentis, porém com os meninos da amostra apresentando médias sempre superiores. No sexo feminino, no entanto, o comportamento não é tão uniforme. As meninas mais altas (percentil 90) apresentam uma distância importante do padrão até por volta dos 12 anos, quanto existe uma aproximação das curvas que segue até os 14 anos, quando voltam a se separarem. As meninas mais baixas (percentil 10) iniciam com médias maiores aos 7 anos, são ultrapassadas aos 8 anos, mas voltam a apresentar estatura superior já aos 9 anos, seguindo assim até os 17 anos de idade. Em relação à massa corporal (gráficos 5 e 6), identifica-se também uma superioridade, em todos percentis, dos valores médios do em relação às curvas brasileiras, nos dois sexos. Os meninos mais pesados (percentil 90) apresentam massa corporal bastante superior aos brasileiros mais pesados em brasileiros. No caso das meninas, existe uma semelhança ao ocorrido no sexo masculino, onde as meninas mais pesadas (percentil 90) apresentam médias bem superiores às médias das brasileiras. Nos outros dois percentis, as distâncias não são muito importantes, todavia existindo sempre uma supremacia das meninas do Rio Grande do Sul frente as meninas brasileiras. Não existem na literatura estudos semelhantes a esse, tendo em vista que os padrões até hoje utilizados para estudos desse tipo sempre foram os padrões internacionais. Conclusão Os padrões de crescimento somático tanto de meninas como meninos são muito semelhantes. Os meninos apresentam médias tanto de estatura como de massa corporal superiores até por volta dos 9 anos, voltando a superioridade por volta dos 14 anos de idade. Tanto meninas como meninos apresentam estatura e massa corporal superiores às curvas percentílicas brasileiras em todas as idades. Estudos dessa natureza, principalmente em países como o Brasil são de fundamental importância, para que se demonstre a necessidade de se criarem 35

curvas de crescimento nacionais e regionais. O Brasil é um país de grande miscigenação étnica, além disso, cada região apresenta suas próprias características que acabam por influenciar tanto o desenvolvimento da estatura como o da massa corporal. Referências GALLAHUE, D. & OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos 2001; 1 a ed. São Paulo; Phorte Editora. GAYA, A.; TORRES, L; SILVA, M.; GARLIPP, D.; BERGMANN, G.; LORENZI, T.; GONÇALVES DA SILVA, G.; MARONA, D.; BELMONTE, C.; HECK, V.; LEMOS, A. Perfil do crescimento somático de crianças e adolescentes da região sul do Brasil. Revista Perfil 2002; Vl{6): 79-85. MALINA, R.M.; BOUCHARD, C. Atividade Física do Atleta Jovem: do Crescimento à Maturação 2002; Ed. Roca. São Paulo. SP. MARANON, G. El crecimiento y sus trastornos 1953; Madrid; Espasa-Calpe. MARCONDES, E. Crescimento Normal e Deficiente. Monografias Médicas 1970; Ed. Sarvier. São Paulo. SP. MARCONDES, E. Normas para o diagnóstico e a classificação dos distúrbios do crescimento e da nutrição. Pediàtrica 1984; São Paulo. N.4, p.307-326 PRISTA, A.; MAIA, J.; SARANGA, S.; MARQUES, A. Crescimento somático na população escolar de Maputo: tendências e significado bio-social. In.: PRISTA, A.; MAIA, J.; SARANGA, S.; MARQUES, A. Saúde, Crescimento e Desenvolvimento - Um estudo epidemiológico em crianças e jovens de Moçambique 2002] Multitema. Tanner, J.M. Growth at adolescence 1962; Second Edition. Oxford, Blackwell Scientific Publications. TANNER, J.M. Use and abuse of growth standards. In.: FALKNER, F.; TANNER, J.M. Human Growth. A Comprehensive Treatise. V.3: Methodology Ecological 1986; Genetic, and Nutritional Effects on Growth. New York, Plenum Press. WHO Working Group Use and interpretation of anthropometric indicators of nutritional status. Bulletin of the World Health Organization 1986; 64(6): 929-941. WHO. Physical Status; the use and interpretation of anthropometry. Report of a WHO expert committee. Who Technical Report Series 1995; n. 854. WILMORE, J.H.; COSTILL, D.L. Fisiologia do Esporte e do Exercício 2001; Segunda edição. Editora Manole. São Paulo. Brasil. WORTH HEALTH ORGANIZATION. Measuring change in nutritional status: Guidelines for assessing the nutritional impact of supplementary feeding programs for vulnerable groups. World Health Organization 1983; Geneve. 36