APRECIAÇÃO, DISCUSSÃO E DELIBERAÇÃO SOBRE O TIPO DE IRCT NEGOCIAL A CELEBRAR PELA UMP
Exmas. Associadas, Tal como é do conhecimento das Exmas. Associadas, o Conselho de Administração da União das Mutualidades Portuguesas, dando cumprimento ao previsto no seu Programa de Ação, criou um grupo de trabalho destinado à análise e apresentação de propostas para a eventual celebração de um instrumento de regulamentação coletiva de trabalho (IRCT) aplicável às Mutualidades. Este grupo de trabalho apresentou ao Conselho de Administração as suas principais conclusões no que respeita a esta matéria e que a seguir apresentamos: 1º) A UMP tem capacidade negocial para celebração de um IRCT aplicável às Associações Mutualistas. Com efeito, o Decreto-Lei n.º 224/96, de 26 de Novembro, estendeu essa capacidade negocial às entidades representativas das Instituições Particulares de Solidariedade Social (UMP, CNIS e U. Misericórdias), possibilitando que as uniões, federações e confederações representativas de instituições particulares de solidariedade social possam ser interlocutoras na negociação coletiva, visando obter uma autónoma regulamentação das condições de trabalho em detrimento do habitual recurso à via administrativa. Dispõe o artigo único deste diploma que as uniões, federações e confederações de instituições particulares de solidariedade social constituídas nos termos do estatuto aprovado pelo Decreto-Lei n.º 119/83, de 25 de Fevereiro, são consideradas entidades com capacidade para a negociação e celebração de convenções coletivas de trabalho aplicáveis às instituições nelas filiadas e aos trabalhadores representados pelas associações sindicais outorgantes.
De resto, o nosso ordenamento jurídico revela uma clara preferência por instrumentos de regulamentação de natureza negocial, regulando os instrumentos administrativos numa perspetiva subsidiária, conforme dispõe o art.º 484º do Código de Trabalho (CT) que se transcreve: Artigo 484º Concorrência entre instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho negociais e não negociais A entrada em vigor de instrumento de regulamentação coletiva de trabalho negocial afasta a aplicação, no respetivo âmbito, de anterior instrumento de regulamentação coletiva de trabalho não negocial. 2º) Na situação atual de inexistência de um IRCT negociado pela UMP de aplicação específica à realidade das Mutualidades, quais as consequências jurídicas na esfera das relações de trabalho a que estão sujeitas as Associações Mutualistas? A inexistência de um instrumento de regulamentação coletiva para o setor mutualista constitui um fator de insegurança jurídica, quer na esfera das Entidades Patronais (Mutualidades), quer no que respeita aos seus trabalhadores. Com efeito, os instrumentos de regulamentação coletiva consubstanciam um conjunto de normas jurídicas que configuram um modelo normativo aplicável às relações individuais de trabalho que venham a ser celebradas pelos subscritores desses IRCT s ou pelos seus representados. Os efeitos normativos de um IRCT conferem-lhe especial relevo, na medida em que se traduzem na criação de verdadeiras normas jurídicas de carácter genérico, reguladoras das relações individuais de trabalho, contratualizadas especificamente por grupos
sociais organizados (Associações Patronais e Associações Sindicais) que expressam o confronto entre os seus interesses coletivos através de normas jurídicas que visam o equilíbrio desses interesses e a fixação de padrões de conduta para os membros dos mesmos grupos, nas suas relações individuais de trabalho. A eficácia normativa do IRCT potencia uma maior certeza jurídica, na medida em que assenta na sujeição das cláusulas dos contratos individuais de trabalho à regulamentação constante das normas convencionadas, exceção feita às normas legais imperativas que não admitem a sua derrogação por IRCT e à possibilidade de serem afastadas por disposição contratual mais favorável, cfr. 476 do CT. Deste modo, a inexistência de um quadro normativo específico para as Associações Mutualistas, que constitua um modelo regulador aplicável aos contratos individuais de trabalho, não favorece o princípio da segurança e certeza jurídica, sobretudo se considerarmos o teor das disposições conjugadas dos art.º 476.º e 481.º do CT. Com efeito, o art.º 481.º do CT dispõe sobre a aplicabilidade de instrumento de regulamentação coletiva horizontal, ou seja, aquele cujo âmbito se define por profissão, e o art.º 476.º consagra o princípio do tratamento mais favorável, estabelecendo que as disposições de IRCT só podem ser afastadas por contrato de trabalho quando este estabeleça condições mais favoráveis para o trabalhador. Configura-se, assim, ser possível, em abstrato, aplicar-se às relações individuais de trabalho das Mutualidades com os seus trabalhadores, cláusulas constantes de IRCT horizontais, ou seja de âmbito profissional, quando sobre as mesmas tenha incidido portaria de extensão e sempre que o seu conteúdo estabeleça normas mais favoráveis para os trabalhadores do que os respetivos contratos individuais de trabalho.
Ora, como se compreende, determinar a regulamentação coletiva aplicável às relações de trabalho das Associações Mutualistas sob o prisma das profissões ou categorias profissionais dos respetivos trabalhadores, implica admitir a possibilidade da proliferação na Instituição de tantos instrumentos de regulamentação quantas as profissões existentes, o que gera uma enorme insegurança e confusão quanto às normas jurídicas aplicáveis aos contratos individuais de trabalho, em cada momento, para além dos óbvios problemas de gestão daí decorrentes. Não podemos ainda ignorar outra consequência da inexistência de um IRCT negociado e especificamente aplicável às Mutualidades: o entendimento seguido pela Autoridade para as Condições do Trabalho (e outros organismos da Administração Pública com competências na área laboral) de que, nas relações laborais das Associações Mutualistas, se aplicam os Contratos Coletivos de Trabalho celebrados pela CNIS, por efeito das Portarias de Extensão que têm sido publicadas. Este facto tem causado alguns constrangimentos às Associações Mutualistas, sobretudo àquelas que têm intervenção na área da ação social, que têm sido objeto de processos contraordenacionais por não refletirem nos seus contratos individuais de trabalho o teor das cláusulas daqueles IRCT. Tendo em conta que, por um lado, a UMP tem capacidade negocial para celebrar um IRCT e, por outro, que a sua inexistência traz graves consequências para a vida das Mutualidades (pelo menos no que às relações de trabalho diz respeito), o Conselho de Administração da União das Mutualidades Portuguesas considera que a celebração de tal IRCT não só é necessário mas é, igualmente, urgente. Considerando as possibilidades de IRCT de natureza negocial previstas no Código de Trabalho e tendo em atenção que a celebração de um IRCT por parte desta União
poderá ter consequências sobre as relações laborais de todas as Mutualidades (consoante o modelo de IRCT a adotar), importa que os Associados, em Assembleia Geral, decidam que modelo de IRCT pretendem que esta União negoceie, para colmatar os constrangimentos e dificuldades referidas anteriormente. Os instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho de natureza negocial são: Convenção Coletiva e o Acordo de Adesão. As Convenções Coletivas podem ser: Contrato Coletivo de Trabalho (CCT), quando celebrada por uma associação patronal; Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), quando celebrado por várias entidades patronais para diversas entidades; e Acordo de Empresa (AE), quando celebrado por uma só entidade patronal. O Acordo de Adesão, por seu lado, traduz-se na adesão por parte de uma Entidade a um IRCT de natureza negocial já existente. Sublinha-se que aquilo que verdadeiramente distingue um AE/ACT de um CCT é a qualidade da intervenção do subscritor, sendo que num AE/ACT a UMP intervém como uma simples entidade empregadora e como tal definindo regras aplicáveis unicamente às relações de trabalho com os seus próprios trabalhadores podendo as Mutualidades aderir, querendo-, enquanto, num CCT a UMP intervém na qualidade de Entidade Representativa do setor Mutualista, definindo regras aplicáveis às relações de trabalho entre as Mutualidades suas filiadas e os respetivos trabalhadores. Por outro lado, importa também sublinhar que, enquanto num CCT as respetivas normas são de aplicação obrigatória para todas as Associações Mutualistas filiadas nesta União, num ACT as suas normas só são de aplicação obrigatória paras as Associações Mutualistas que, através de acordo de adesão, o subscrevam.
Em face do exposto, o Conselho de Administração da União das Mutualidades Portuguesas submete à Assembleia Geral a decisão sobre o tipo de IRCT negocial que deverá ser celebrado pela UMP, isto é, se um Contrato Coletivo de Trabalho ou um Acordo de Empresa que, por adesão individual das Mutualidades, se transforme num Acordo Coletivo de Trabalho. Lisboa, 27 de Novembro de 2013 O Conselho de Administração, Presidente - Luís Alberto de Sá e Silva em representação de A Mutualidade de Santa Maria - Associação Mutualista Vice-Presidente Norte - Jani Salomé Marques Silva em representação de ASM Fúnebre Familiar para Ambos Sexos em Grijó e Freg. Circunviz. Vice-Presidente Centro - Carlos Manuel Casteleiro Alves em representação de Associação de Socorros Mútuos "Mutualista Covilhanense" Vice-Presidente Lisboa e Regiões Autónomas - Fernando Jorge de Oliveira Paulino em representação de Associação de Socorros Mútuos Setubalense Vice-Presidente Sul - António Pereira Gonçalves em representação de Associação de Socorros Mútuos Montepio Grandolense Vogal - Administrador Delegado - José Santos Almeida em representação de A Familiar de Espinho - Associação Mutualista Vogal - Secretário Geral - José Vicente Costa de Carvalho em representação de Associação de Socorros Mútuos Fraternal dos Artistas Vilafranquenses