RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 26.141 - PA (2009/0099346-7) RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO RECORRENTE : AMARILDO SOBRINHO DA SILVA (PRESO) ADVOGADO : ANTÔNIO COSTA PASSOS E OUTRO(S) RECORRIDO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ EMENTA RECURSO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. AUSÊNCIA DE DEFENSOR NO INTERROGATÓRIO. NULIDADE ABSOLUTA. ATO PRATICADO NA VIGÊNCIA DA LEI 10.792/03. PRECEDENTE. PARECER DO MPF PELO PROVIMENTO DO RECURSO. RECURSO PROVIDO PARA ANULAR O INTERROGATÓRIO DO RÉU, REALIZADO SEM A PRESENÇA DO DEFENSOR, E TODOS OS ATOS DECISÓRIOS QUE LHE SÃO POSTERIORES, MANTIDA, TODAVIA, A SITUAÇÃO PROCESSUAL DO RECORRENTE. 1. Nos termos de consolidado entendimento nesta Corte Superior, após o advento da Lei 10.792/2003, ainda que o próprio réu tenha dispensado a entrevista prévia, a presença do defensor no interrogatório tornou-se formalidade essencial, corolária do princípio da ampla defesa e do devido processo legal. 2. Recurso provido, em consonância com o parecer ministerial, para anular o interrogatório do réu, realizado sem a presença de seu defensor, e todos os atos decisórios que lhe são posteriores, mantida, todavia, a situação processual do recorrente. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Laurita Vaz e Arnaldo Esteves Lima votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer. Brasília/DF, 04 de fevereiro de 2010 (Data do Julgamento). NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO MINISTRO RELATOR Documento: 942315 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/03/2010 Página 1 de 7
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 26.141 - PA (2009/0099346-7) RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO RECORRENTE : AMARILDO SOBRINHO DA SILVA (PRESO) ADVOGADO : ANTÔNIO COSTA PASSOS E OUTRO(S) RECORRIDO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ RELATÓRIO 1. Cuida-se de Recurso em Habeas Corpus, interposto por AMARILDO SOBRINHO DA SILVA, em adversidade ao acórdão proferido pelo egrégio TJPA, que denegou a ordem em writ ali manejado, nos termos da seguinte ementa: HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. CRIME DE HOMICÍDIO. PRISÃO PREVENTIVA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE ABSOLUTA DO PROCESSO POR OFENSA AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA COM MANIFESTO PREJUÍZO AO PACIENTE. INEXISTÊNCIA. EFETIVO PREJUÍZO NÃO COMPROVADO. AÇÃO COM TRAMITAÇÃO REGULAR E COM SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDA. APLICAÇÃO DA SUMULA 523 DO STF. ALEGAÇÃO DE PRESENÇA DE QUALIDADES PESSOAIS IRRELEVÂNCIA. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO. INOCORRÊNCIA. INSTRUÇÃO PROCESSUAL ENCERRADA. PACIENTE SENTENCIADO E CONDENADO A 15 ANOS DE RECLUSÃO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE REQUISITOS AUTORIZADORES DA PRISÃO PREVENTIVA. IMPOSSIBILIDADE. FALTA DE CÓPIA DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA DO COACTO. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. ORDEM DENEGADA. 1. Não se deve conhecer alegação de nulidade absoluta do processo por ofensa ao princípio do contraditório e da ampla defesa quando não restarem comprovado qualquer prejuízo efetivo ao julgamento do paciente. Precedentes do STJ; 2. In casu, os demais atos processuais forma concluídos normalmente, tendo o processo seguido seu curso natural até o desfecho que culminou com sentença condenatória de 15 (quinze) anos de reclusão. Aplicação da súmula 523 do STF; 3. As qualidades pessoais do paciente não têm o condão de lhe garantir a liberdade, sobretudo se os requisitos da custódia cautelar Documento: 942315 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/03/2010 Página 2 de 7
recomendarem a sua contrição. Precedentes do STJ; 4. Tendo sido a instrução criminal encerrada e a sentença condenatória proferida, fica superada a alegação de excesso de prazo na formação da culpa. Precedentes do STJ; 5. Não pode ser analizada à alegação de ausência dos requiesitos autorizadores da prisão preventiva, se o impetrante nã fez porva pré-constituída do alegado, juntando cópia do mencionado provimento jurisdicional. Precedentes do STJ; 6. Ordem denegada (fls. 77/78). 2. Infere-se dos autos que o paciente foi preso preventivamente em 21.01.06 e denunciado pela prática do crime previsto no art. 121, 2o., IV, do CPB, tendo sido condenado à pena de 15 anos de reclusão em regime fechado com trânsito em julgado em 18.02.08. 3. Irresignada a defesa impetrou o Habeas Corpus originário, tendo o mesmo sido denegado. 4. Daí o presente recurso, no qual se sustenta, em síntese, a nulidade do feito, porquanto realizado o interrogatório do acusado sem a presença do defensor nomeado, aduz ainda, a necessidade da concessão da liberdade provisória ante o excesso de prazo na formação da culpa. 5. O MPF, em parecer da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República AUREA MARIA ETELVINA NOGUEIRA LUSTOSA PIERRE, manifestou-se pelo provimento do recurso (fls. 124/133). 6. É o que havia para relatar. Documento: 942315 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/03/2010 Página 3 de 7
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 26.141 - PA (2009/0099346-7) RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO RECORRENTE : AMARILDO SOBRINHO DA SILVA (PRESO) ADVOGADO : ANTÔNIO COSTA PASSOS E OUTRO(S) RECORRIDO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ VOTO RECURSO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. AUSÊNCIA DE DEFENSOR NO INTERROGATÓRIO. NULIDADE ABSOLUTA. ATO PRATICADO NA VIGÊNCIA DA LEI 10.792/03. PRECEDENTE. PARECER DO MPF PELO PROVIMENTO DO RECURSO. RECURSO PROVIDO PARA ANULAR O INTERROGATÓRIO DO RÉU, REALIZADO SEM A PRESENÇA DO DEFENSOR, E TODOS OS ATOS DECISÓRIOS QUE LHE SÃO POSTERIORES, MANTIDA, TODAVIA, A SITUAÇÃO PROCESSUAL DO RECORRENTE. 1. Nos termos de consolidado entendimento nesta Corte Superior, após o advento da Lei 10.792/2003, ainda que o próprio réu tenha dispensado a entrevista prévia, a presença do defensor no interrogatório tornou-se formalidade essencial, corolária do princípio da ampla defesa e do devido processo legal. 2. Recurso provido, em consonância com o parecer ministerial, para anular o interrogatório do réu, realizado sem a presença de seu defensor, e todos os atos decisórios que lhe são posteriores, mantida, todavia, a situação processual do recorrente. 1. Nos termos de consolidado entendimento nesta Corte Superior, após o advento da Lei 10.792/2003, ainda que o próprio réu tenha dispensado a entrevista prévia, a presença do defensor no interrogatório tornou-se formalidade essencial, corolária do princípio da ampla defesa e do devido processo legal. 2. Confiram-se os seguintes julgados: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE FURTO QUALIFICADO. AUSÊNCIA DE DEFENSOR NO INTERROGATÓRIO. NULIDADE ABSOLUTA. CERCEAMENTO DE DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. Documento: 942315 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/03/2010 Página 4 de 7
1. Após o advento da Lei n.º 10.792/2003, mesmo quando não existe prejuízo efetivo ao acusado, e ainda que o fato seja atribuível à atitude do próprio réu, a presença do defensor no interrogatório tornou-se de formalidade essencial, corolária do princípio da ampla defesa e do devido processo legal. 2. Dessa forma, uma vez realizado o interrogatório do réu sob a égide do mencionado regramento, resta evidenciada a nulidade, a qual, por ser de natureza absoluta, contamina todos os atos decisórios a partir de então. 3. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e desta Corte Superior. 4. Ordem concedida para anular o interrogatório do réu, realizado sem a presença de seu defensor, e todos os atos decisórios a partir de então. (HC 77.432/MS, Rel(a). Min(a). LAURITA VAZ, DJU 17.09.07). ² ² ² PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 155, 2º, INCISOS I E II, DO CP, E ART. 16, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO IV, DA LEI Nº 10.826/2003. INTERROGATÓRIO. AUSÊNCIA DO DEFENSOR. NULIDADE ABSOLUTA. A realização do interrogatório do réu sem a presença do defensor, após a entrada em vigor da Lei nº 10.792/2003, constitui nulidade absoluta, porquanto, a inobservância das formalidades legais previstas nos artigos 185 a 188 do CPP fere o princípio da ampla defesa e do devido processo legal. (Precedente do STF e STJ). Habeas corpus concedido. (HC 73.179/DF, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 18.06.07). 3. Na hipótese, conforme salienta o acórdão, o réu não foi assistido por qualquer defensor em seu interrogatório e durante a audiência, ao constatar o vício, o douto Magistrado nomeou Defensor Público para atuar na defesa do recorrente apenas nos atos subsequentes à referida audiência (fls. 83). 4. Não é o caso, todavia, de soltura imediata do acusado. Diante do julgamento ora proferido, como na data do interrogatório o acusado encontrava-se preso preventivamente (fls. 55), determina-se que o Juízo de Documento: 942315 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/03/2010 Página 5 de 7
Primeiro Grau se manifeste sobre a persistência dos requisitos que autorizaram a prisão cautelar do ora paciente. 5. Isso posto, em consonância com o parecer ministerial, dá-se provimento ao recurso, para anular o interrogatório do réu, realizado sem a presença de seu defensor, e todos os atos decisórios que lhe são posteriores, mantida, todavia, a situação processual do paciente. 6. É o voto. Documento: 942315 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/03/2010 Página 6 de 7
CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Número Registro: 2009/0099346-7 RHC 26141 / PA MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 200620002700 200830056203 EM MESA JULGADO: 04/02/2010 Relator Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. ÁUREA M. E. N. LUSTOSA PIERRE Secretário Bel. LAURO ROCHA REIS RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO AUTUAÇÃO : AMARILDO SOBRINHO DA SILVA (PRESO) : ANTÔNIO COSTA PASSOS E OUTRO(S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Simples CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Laurita Vaz e Arnaldo Esteves Lima votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer. Brasília, 04 de fevereiro de 2010 LAURO ROCHA REIS Secretário Documento: 942315 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/03/2010 Página 7 de 7