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Transcrição:

estudo e análise do Património Subaquático da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis, Brasil) projecto arqueológico Alexandra Figueiredo I, Cláudio Monteiro II, Francisco Noelli III, Alexandre Viana IV e Marcelo Moura V RESUMO Apresentação de projecto arqueológico para estudo e análise do Património submerso da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis, Brasil), resultante de uma colaboração entre o Instituto Politécnico de Tomar (Portugal) e a Organização Não Governamental Projecto de Arqueologia Subaquática (Brasil). São desenvolvidos os objectivos, a metodologia e os resultados esperados, que estimularão a cooperação entre instituições científicas e académicas portuguesas e brasileiras. PALAVRAS CHAVE: Arqueologia subaquática; Património; Brasil. ABSTRACT The author presents an archaeological project to study the underwater heritage at Santa Catarina island (Florianópolis, Brazil), as a result of the cooperation between the Instituto Politécnico de Tomar (Portugal) and the Non-governmental Organisation Underwater Archaeology Project (Brazil). The article explains the project s aims, methodology and expected results, aiming to encourage cooperation between Portuguese and Brazilian scientific organizations and universities. KEY WORDS: Underwater archaeology; Heritage; Brazil. RÉSUMÉ Présentation d un projet archéologique pour l étude et l analyse du patrimoine immergé de l île de Santa Catarina (Florianópolis, Brésil), résultant d une collaboration entre l Institut Polytechnique de Tomar (Portugal), et l ONG Projet d Archéologie Sous-marine (Brésil). On y développe les objectifs, la méthodologie et les résultats espérés, qui vont stimuler la coopération entre des institutions scientifiques et académiques portugaises et brésiliennes. MOTS CLÉS: Archéologie Sous-marine; Patrimoine; Brésil. 1. INTRODUÇÃO Aarqueologia subaquática é uma disciplina muito recente, que possui ainda enormes lacunas no estudo e compreensão do Património submerso. Apesar dos es - forços das entidades com competência na área, muito falta para pesquisar e co - nhecer sobre a História que os mares e os rios escondem. No Brasil, o panorama é mais crítico, sobretudo no que diz respeito à compreensão da co lonização, dos diferentes acontecimentos históricos e das ocupações efectuadas pelos povos europeus. Como local apetecível pelas riquezas naturais que possuía, as suas costas foram palco de várias investidas e explorações portuguesas e estrangeiras, que aqui chegavam em busca das preciosas matérias-primas e produtos exóticos. O desconhecimento histórico parece ser sensível nas regiões a Sul, onde se localiza a Praia dos Ingleses (Florianóplis), zona de estudo deste projecto. I Instituto Politécnico de Tomar, Unidade Departamental Arqueologia, Conservação e Restauro e Património (alexfiga@ipt.pt). II Doutorando da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico de Tomar (claudio.monteiro.cr@gmail.com). III Professor aposentado da Universidade Estadual de Maringá, Brasil (ffnoelli@wnet.com.br). IV ONGPAS Florianópolis. Pós-graduando em Arqueologia Subaquática, Instituto Politécnico de Tomar e Universidade Autónoma de Lisboa. V ONGPAS Florianópolis. [texto entregue para publicação em Janeiro de 2010, com revisão pontual em Abril de 2012] 143

FIG. 1 Vista sobre a zona da Praia dos Ingleses, onde jaz a embarcação registada. Numa óptica de colaboração, o Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e a ONGPAS 1, que desenvolve, desde 2004, estudos nesta região na área da Arqueologia subaquática (VIANA et al. 2004; NOELLI s.d; NOELLI et al. 2009), associados a outras instituições de 1 Organização Não Governamental Projecto de Arqueologia Subaquática, que possui como coordenador geral Marcelo Lebarchon Moura, como coordenador técnico Alexandre Viana, e como coordenador científico Francisco Silva Noelli. renome, vêm somar esforços no desenvolvimento de um projecto de análise e pesquisa histórico-ar que ológica da zona frontal da Praia dos Ingleses, localizada na zona Nordeste da Ilha de Santa Catarina, em Florianoplis, podendo posteriormente expandir-se a toda a costa da ilha. Nesta zona, conhece-se uma embarcação naufragada, ainda por identificar, mas onde os objectos exumados e a análise documental permi - tem datar o naufrágio de 1687 (NOELLI et al. 2009). Foi, exactamente, por volta desta época, que se deu a ocupação portuguesa na área, podendo estes vestígios ter uma ligação com as actividades que se desenvolviam nesta região. No entanto, para já, as técnicas construtivas da embarcação apontam para uma origem espanhola, podendo estar ao serviço de Portugal ou de outras nações (IDEM). Também não podemos deixar de referir os saques dos corsários es - trangeiros e os furtos de embarcações que se verificavam e que, por este motivo, dificultam a identificação e a caracterização histórica do achado. Até ao momento, o levantamento arqueológico na enseada não localizou outros vestígios do período colonial, sendo premente a realização de prospecções que permitam ter um conhecimento mais amplo do local. Contudo, os vestígios não se limitam a naufrágios, estendendo-se a outros tipos de estruturas, como fortificações, instalações portuárias, antigas ocupações pré-coloniais, por exemplo, sendo necessário o de - senvolvimento de um registo efectivo e mapeamento do Património submerso, realizado por uma ampla equipa interdisciplinar. 2. OBJECTIVOS DO PROJECTO Neste projecto integra-se como objectivo principal o reconhecimento dos vestígios arqueológicos submersos que jazem nesta região, considerando como intuito a compreensão da História naval, da Cultura material, da conservação de artefactos, da tecnologia náutica, da Economia marítima, da História da época pré e pós-colonial e, sobretudo, o desenvolvimento de uma base de suporte digital de toda a informação, associada a um sistema de gestão de informação geográfica, que permita um mapeamento e um registo efectivo do Pa - trimónio reconhecido durante os trabalhos de prospecção e escavação. 144 II SÉRIE (17) Tomo 1 JUNHO 2012 online

FIG. 5 Desenho do leme entretanto recuperado. 0 1 m 3. ÁREA DE PESQUISA, METODOLOGIA E INCIDÊNCIA DO PROJECTO De acordo com o programado, as diferentes actividades serão desenvolvidas por equipas interdisciplinares, em colaboração institucional, formadas por elementos dos vários organismos, com reconhecida formação para a actividade a que se propõem. Resumidamente, o plano de trabalhos pressupõe a realização de três componentes básicas do estudo arqueológico subaquático. FIGS. 2, 3 E 4 Em cima, imagens de mergulhadores durante os trabalhos de construção das quadrículas; em baixo, trabalhos com a sugadora. Para além destes objectivos científicos, o projecto visa desenvolver estratégias de gestão, preservação e valorização turística, estando prevista e em desenvolvimento a criação de conteúdos 3D e audio-vi - suais para a divulgação mais atractiva dos achados, bem como a estruturação de um plano de musealização local. Ao longo desta etapa, pretende-se desenvolver várias actividades, conferindo ao projecto um carácter interdisciplinar em vários domínios e permitindo uma estratégia contínua de comunicação. 3.1. PESQUISA E REGISTO Pesquisa e registo de todos os dados documentais e referências bibliográficas que se relacionem com a Ilha de Santa Catarina, e permitam compreender as movimentações, contactos e influências que, ao longo da História, se verificaram nesta região. Em termos práticos serão desenvolvidos: Base de dados para catalogação e caracterização dos vestígios; Pesquisa de dados em arquivos nacionais e internacionais; Realização de inquéritos à comunidade local e de acções de sensibilização e formação patrimonial; Publicação dos dados. 145

FIG. 6 Vestígios arqueológicos da embarcação. Esta fase englobará uma equipa interdisciplinar, que tentará reunir e pesquisar informação sobre a Ilha de Santa Catarina. Parte deste trabalho decorrerá nos arquivos documentais portugueses e espanhóis, tentando buscar as origens e as ordens emitidas para a ocupação da Ilha, bem como os descritores que permitam auxiliar na identificação da embarcação já conhecida, ou na de outros naufrágios descritos, que se tenham verificado e se encontrem relatados nestes documentos. A este levantamento de referências documentais serão adicionadas in - formações orais dos pescadores cataranienses e das gentes locais. O registo será efectuado em base de dados, associado a um sistema de informação geográfica, permitindo posteriormente considerar áreas de prospecção com probabilidades de aparecimento de outros vestígios, não conhecidos até ao momento. Esta estrutura, em suporte di - gital, servirá de base a futuros estudos e projectos e estará voltada para a localização de novos vestígios, até agora registados somente em do - cumentos. 3.2. PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA Prospecção, em redor da ilha, e mapeamento em sistema de informação geográfica de todas as estruturas e anomalias detectadas. Em termos práticos serão desenvolvidos: Prospecção na costa e em meio submerso dos vestígios já conhecidos, ou em áreas de maior probabilidade de estes aparecerem; Realização de um Sistema de Informação Geográfica para o devido mapeamento dos dados registados e inserção na base de dados (Geo - database). Numa segunda etapa, os esforços estarão concentrados na realização de uma campanha de prospecção, ao longo da costa da ilha e em meio submerso, atendendo aos pontos que já se conhecem, às zonas físicas mais propícias e às áreas com probabilidade de se registarem vestígios. A base que dará origem a este plano estará assente nos resultados obtidos no ponto anterior. A prospecção será realizada atendendo ao uso de sonares e a técnicas de visualização directa. Os resultados obtidos e as áreas prospectadas serão mapeadas e associadas a informações observadas no local, desenho de estruturas ou objectos, bem como das condições físicas registadas na altura das intervenções. Isto permi - tirá posteriormente, em gabinete, uma análise mais cuidada dos da - dos, bem como percepcionar zonas de anomalias ou identificar novos vestígios com interesse patrimonial. 3.3. ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA Estudo e escavação da embarcação conhecida, numa tentativa de identificação e recuperação do maior número de dados. 146 II SÉRIE (17) Tomo 1 JUNHO 2012 online

A embarcação conhecida será intervencionada com as técnicas consideradas mais convenientes, atendendo ao meio físico sedimentar em que se encontra. A área de escavação estará dividida em quadrículas de 4 m 2, georreferenciadas com pontos de controlo subaquáticos e terrestres. Para tal será usado um DGPS (Ashtec Technology) com bases fixas e móveis com precisão de 5 mm, e uma estação total (Leica Geosystems). As marcações serão, à semelhança do que se tem realizado, transferidas para o programa ArcGIS (ESRI) e convertidos em shapefiles, permitindo a geração de arquivos vectoriais e a integração dos desenhos e fotos obtidos em campo. Com os mesmos dados, serão realizadas reconstruções tridimensionais, recuperando visualmente a imagem da embarcação e a reconstituição do naufrágio ou de alguns objectos registados. É objectivo primordial encontrar as soluções e as respostas que permitirão compreender o achado, nomeadamente: 1) formação do re - gisto arqueológico; 2) causa do naufrágio; 3) classe de barco; 4) composição da carga; 5) tipo de tripulação; e 6) número de passageiros (NOELLI et al. 2009). Para o desenho e a fotografia, será acoplado nas quadrículas metálicas um gabarito de aço nivelado na horizontal, marcado em intervalos de 10 cm, servindo como régua para medidas e orientação da escavação e do registo. Após a remoção dos sedimentos, os artefactos e objectos considerados mais relevantes serão conservados, marcados e catalogados com etiquetas acrílicas brancas, que servirão de código de controlo. Os de - mais objectos, como lastro e fragmentos cerâmicos, serão transferidos para caixas específicas, com o número da quadrícula, e transportados para o laboratório. Já em laboratório, será desenvolvido o processo de conservação e restauro dos mesmos, para posteriormente poderem ser expostos. O trabalho a ser realizado integrará uma equipa multidisciplinar, quer na área da Arqueologia subaquática, quer na área das novas tecnologias. 3.4. ACÇÕES DE FORMAÇÃO FIGS. 7, 8 E 9 Em cima, vasos de cerâmica dispersos; ao centro e em baixo, etiquetagem e recuperação do material. Esta fase envolverá trabalhos de tratamento informático, conservação e restauro dos materiais recuperados, e um estudo pormenorizado da cultura material exumada. Preparação da monografia da embarcação; Construção do sistema de informação geográfica referente à embarcação; Escavação; Desenvolvimento de conteúdos em 3D e audio-visuais. Em paralelo com estas actividades, serão conduzidas diversas acções e eventos de sensibilização patrimonial e ambiental, dirigidas às populações locais. Durante o projecto serão realizados workshops, seminários e exposições, abertos a todos os participantes e de entrada livre. Pretende-se com isto criar uma estrutura local de alerta ao aparecimento de vestígios patrimoniais e à sua preservação, motivando os or - ganismos públicos, privados e as populações locais na defesa e valorização do seu Património, com vista a uma gestão integrada dos recursos para um significativo desenvolvimento turístico e cultural. Associado ao público, será desenvolvido um projecto de sustentação mu seológica para divulgação e exposição do espólio e vestígios recolhidos. 147

FIG. 10 Sino da embarcação. 4. RESULTADOS ESPERADOS 5. CONCLUSÕES Como resultados finais dos trabalhos, com vista à investigação e di - vulgação do Património, serão realizados: Publicação dos dados de Prospecção Subaquática da Ilha de Santa Catarina, com todas as informações, pontos de interesse patrimonial e referências documentais registadas; Preparação de uma monografia detalhada da embarcação registada na Ilha de Santa Catarina; Construção de um Sistema de Informação Geográfica e Geoda ta - base digital com todos os registos, permitindo uma base de análise para o projecto e futuros trabalhos na região; Realização de conteúdos didáctico-pedagógicos para exposição dos dados e desenvolvimento de uma política preventiva do Património subaquático, para a sensibilização da população local; Divulgação dos trabalhos em eventos nacionais e internacionais (seminários, conferências, mesas redondas, workshops, etc.); Consolidação da pesquisa científica de Arqueologia subaquática e da colaboração entre as instituições brasileiras e portuguesas; Desenvolvimento de um museu local. O projecto de estudo e análise do Património subaquático da ilha de Santa Catarina é um dos vários projectos estabelecidos entre o Insti - tuto Politécnico de Tomar e as organizações / instituições que se dedicam ao estudo histórico-arqueológico de Florianópolis, pretendendo criar uma ponte interdisciplinar no desenvolvimento da investigação, da gestão, da preservação e da musealização do Património. É o caso do projecto de estudo do Património Arqueológico de Santa Catarina, coordenado entre o IPT e a Universidade de São Paulo (USP), com apoio do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e no âmbito do qual se desenvolvem estudos sobre a transição para o agropastoralismo na ilha de Santa Catarina, bem co mo sobre a Arqueologia do contacto no litoral da grande Floria - nópolis. É também o caso do projecto Porto Seguro, coordenado pelo IPT e apoiado pela Comissão Europeia, que integra no Brasil a USP, a Fundação do Museu do Homem Americano (FUMDHAM), o Ins tituto do Património Histórico e Artístico Nacional Superin ten dência Regional de São Paulo (IPHAN-SP) e o Núcleo de Estudos Ne gros de Santa Catarina. No âmbito deste último, foi recentemente criada uma extensão do Instituto Terra e Memória (que tem sede em Mação, 148 II SÉRIE (17) Tomo 1 JUNHO 2012 online

FIG. 11 Fotomosaico. Portugal) no município de São José (em parceria com as entidades locais). Estas parcerias de âmbito científico, a par com a formação especializada oferecida pelo Instituto Politécnico de Tomar na sua pós-graduação e em mestrados, e a integração dos alunos nestes projectos, têm contribuído para construir uma equipa pluridisciplinar ampla, com mais de duas dezenas de pesquisadores dos dois lados do Atlântico, que se vem reforçando na vertente da Arqueologia subaquática. Este projecto, de referência na Arqueologia brasileira, quer pela antiguidade da embarcação registada, quer pelos trabalhos que se têm vindo a desenvolver, tem tido um contributo fundamental na valorização do Património subaquático e no estudo colonial da ocupação da região. BIBLIOGRAFIA NOELLI, F. S. (s.d) Inventário de Barcos que Aportaram ou Passaram ao Largo da Ilha de Santa Catarina, Brasil. 50 p. NOELLI, F. S.; VIANA, A. e MOURA, M. L. (2009) Praia dos Ingleses 1: Arqueologia subaquática na Ilha de Santa Catarina Brasil (2004-2005-2009). Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo. 19. VIANA, A.; CORREA, N. S. e MOURA, M. L. (2004) Projeto Arqueologia Subaquática: o Patrimônio cultural marinho do Estado de Santa Catarina. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. 14: 387-391. 149