ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS EM CÃES POSITIVOS PARA LEISHMANIA spp. NA MICRORREGIÃO DE ARAGUAÍNA-TO. Emerson Danillo da Silva Georgetti 1 ; Helcileia Dias Santos²; Silvia Minharro³ 1 Aluno do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; e-mail: emersongeorgetti@hotmail.com PIBIC/UFT. 2 Orientadora do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; e-mail: hdsantos@uft.edu.br. ³Co-orientadora do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; e-mail: silviaminharro@yahoo.com RESUMO Este estudo teve o objetivo de descrever as alterações hematológicas presente em cães da microrregião de Araguaína-TO, positivos para Leishmania spp. Foi realizado hemograma de 29 animais diagnosticados com leishmaniose visceral em exame parasitológico. Os valores totais de eritrócitos e leucócitos foram determinados por meio de um contador automático de células e a contagem de plaquetas foi realizada manualmente utilizando câmara de Neubauer. A contagem diferencial de leucócitos foi realizada em esfregaço sanguíneo corado por panótico e observado ao microscópio óptico. O resultado do hemograma demostrou que a maioria dos animais (72,4%) apresentou número de hemácias abaixo dos valores de referência, sendo o tipo de anemia mais frequente a macrocítica normocrômica (20%), embora anemia normocítica normocrômica e microcítica normocrômica tenha sido um achado também frequente, ambas observada em 16% dos animais pesquisados. Dentre as principais alterações encontradas na contagem de leucócitos sanguíneos, destaca-se leucocitose em 31%, monócitopenia em 52% e linfocitose em 60% das amostras. Os resultados obtidos demostraram que cães de Araguaína- TO, positivos para Leishmania ssp., apresentaram alguns parâmetros hematológicos alterados, destacando-se a anemia na análise eritrocitária e a linfocitose e monocitopenia na análise dos leucócitos, ressaltando a contribuição do hemograma como uma ferramenta de diagnóstico laboratorial complementar, que pode auxiliar no diagnóstico clínico da leishmaniose visceral canina, mas que deve ser utilizada com cautela, pois as alterações observadas são comuns a outras doenças dos cães. PALAVRAS CHAVE: Leishmaniose visceral; cão; hematologia; anemia.
INTRODUÇÃO A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma antropozoonose que até pouco tempo era considerada de zona rural e de ambientes silvestres, estando hoje urbanizada. Nas Américas o protozoário responsável pela doença é a Leishmania (L.) infantum chagasi e o cão é apontado como o principal reservatório doméstico, sendo o mais importante reservatório natural relacionado aos casos humanos (BRASIL, 2005). As técnicas utilizadas para o diagnóstico da doença compreendem exames parasitológicos, imunológicos e moleculares (BANETH; AROCH, 2008). Os Exames hematológicos em cães infectados por L. infantum chagasi são importantes para avaliar o estado clínico do animal e servem como ferramenta auxiliar de diagnóstico, embora a conclusão definitiva exija a demonstração do parasito em tecidos de animais suspeitos (REIS et al., 2006). Um dos principais achados laboratoriais em cães com LV é a anemia, sendo o tipo mais comum a normocítica, normocrômica e não regenerativa e em relação aos leucócitos, as principais alterações relatadas são leucocitose e neutropenia, além de trombocitopenia (CIARAMELLA et al., 1997; FREITAS et al., 2012). Este estudo teve o objetivo descrever as alterações hematológicas presente em cães da microrregião de Araguaína-TO, positivos para Leishmania spp. MATERIAL E MÉTODOS As amostras biológicas foram obtidas durante visitas a domicílios da cidade de Araguaína, localizados em bairros onde ocorreram casos humanos de leishmaniose visceral. Nos domicílios visitados os proprietários foram informados sobre os objetivos da pesquisa e solicitados a assinar um termo de consentimento livre e esclarecido. Para realização do diagnóstico de leishmaniose visceral canina, foram utilizadas amostras de aspirado de linfonodo, obtidas através de punção biópsia aspirativas do linfonodo poplíteo ou submandibular, colocada em lâmina de microscopia, realizado esfregaço, fixada e corada pelo método panótico. No laboratório as amostras foram observadas em microscópio óptico de luz, sendo consideradas positivas para Leishmania spp. quando observada pelo menos uma forma amastigota completa. As amostras de sangue analisadas foram obtidas de cada animal por punção da veia cefálica e eventualmente da veia jugular, coletadas em tubos de ensaio com adição
de anticoagulante (EDTA) e mantida sob refrigeração até transporte ao laboratório. No momento da coleta foi realizado também um esfregaço sanguíneo, fixado e corado por panótico para contagem diferencial de leucócitos. Na Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFT os valores totais de eritrócitos e leucócitos foram determinados por meio de um contador automático de células (modelo CC550-CELM ) e a avaliação das plaquetas foi realizada manualmente utilizando câmara de Neubauer, segundo JAIN (1993). O valor do hematócrito foi obtido por microcentrifugação capilar de sangue e o valor de hemoglobina verificado utilizando o método da cianometahemoglobina com leitura por meio de analisador bioquímico (BIOPLUS, modelo BIO-200 ). A contagem diferencial de leucócitos foi realizada sob microscopia óptica, em objetiva de imersão (100x), segundo MATOS&MATOS (1995). Somente os resultados hematológicos dos animais que estavam positivos no exame parasitológico foram utilizados neste estudo. Os dados obtidos foram utilizados para preenchimento de uma ficha de invetigação elaborada no programa EpiInfo 3.5.4 (2004) e as análises foram realizadas por meio de estatísticas descritivas utilizando o mesmo programa. Os valores hematológicos observados foram comparados com valores de referência (JAIN, 1993). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram analisadas amostra de sangue de 29 animais. Em 4 amostras não foi possível realizar a contagem diferencial de leucócitos por má qualidade da coloração. Na tabela 1 esta demonstrada a frequência das principais alterações encontradas no hemograma e leucograma dos cães com leishmaniose, onde destaca-se a anemia, linfocitose e monocitopenia. A constatação de anemia na maioria dos animais é um achado esperado em infecção canina por Leishmania spp. (FREITAS et al., 2012). Estudos indicam que a anemia se desenvolve nesses animais após a hiperatividade do sistema retículoendotelial e também pela falha na síntese de hemoglobina (REIS, 2006). Em relação ao tipo de anemia, alguns autores relataram que a anemia normocítica normocrômica é a mais freqüente em cães com leishmaniose visceral (AGUIAR et. al., 2007; COSTA-VAL et. al., 2007), no entanto neste estudo observou-
se a maioria dos animais com anemia macrocítica normocrômica (20%), embora anemia normocítica normocrômica e microcítica normocrômica tenha sido um achado também frequente, ambas observada em 16% dos animais pesquisados. Tabela 1. Frequência das alterações encontradas no hemograma e leucograma de cães com leishmaniose visceral, Araguaína-TO. Alterações Laboratoriais N % Anemia 29 72,4 Leucocitose 29 31,0 Linfocitose 25 60,0 Neutrofilia 25 12,0 Neutropenia 25 08,0 Eosinopenia 25 12,0 Eosinofilia 25 08,0 Monócitopenia 25 52,0 Desvio nuclear de neutrófilo à esquerda 25 32,0 Trombocitopenia 15 13,3 A linfocitose observada nos cães com infecção por Leishmania spp. também foi relatada por AGUIAR et. al., (2007) e pode ser resultante de uma resposta compensatória, com o objetivo de fornecer linfócitos a órgãos alvos do parasito (REIS et al., 2006). Frequências variadas nos valores hematológicos em cães com LV também podem ocorrer devido a fatores como o tempo de evolução da doença e diferenças na resposta imune do hospedeiro (AMUSATEGUI et. al., 2003). Assim, conclui-se que cães de Araguaína-TO, positivos para Leishmania ssp., apresentaram alguns parâmetros hematológicos alterados, destacando-se a anemia com macrocitose, microcitose ou normocitose e normocromia na análise eritrocitária e a linfocitose e monocitopenia na análise dos leucócitos e, apesar do hemograma ser uma ferramenta de diagnóstico laboratorial complementar que pode auxiliar no diagnóstico clínico da leishmaniose visceral canina, esta deve ser utilizada com cautela, pois as alterações observadas são comuns a outras doenças dos cães. LITERATURA CITADA AGUIAR, P. H. P.; SANTOS, S.O, PINHEIRO, A.A., BITTENCOURT, D.V.V., COSTA, L. G., JULIÃO, F. S., SANTOS, W. L. C., BARROUIN-MELO, S. M., BORASCHI, C. S. S., NUNES, C.M. Quadro clínico de cães infectados naturalmente
por Leishmania chagasi em uma área endêmica do estado da Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 8, p. 283-294, 2007. AMUSATEGUI, I.; SAINZ, A.; RODRIGUEZ, F.; TESOURO, M. A. Distribution and relationships between clinical and biopathological parameters in canine leishmaniasis. European Journal of Epidemiology, v. 18, p. 147-156, 2003 BANETH, G.; AROCH, I. Canine leishmaniasis: A diagnostic and clinical challenge. The Veterinary Journal, v. 175, p. 14-15, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica. Brasília DF, 6. ed., 2005. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) Disponível em: <http://www.saude.gov.br/bvs>. Acesso em: 01 mar. 2013. CIARAMELLA, P.; OLIVA G.; DE LUNA, R.; GRADONI, L.; AMBROSIO, R.; CORTESE, L.; SCALONE, A.; PERSECHINO, A. A retrospective clinical study of canine leishmaniasis in 150 dogs naturally infected by Leishmania infantum. Veterinary Record, London, v. 141, p. 539-543, 1997. COSTA-VAL, A. P.; CAVALCANTI, R. R.; GONTIJO, N. F.; MICHALICK, M. S. M.; ALEXANDER, B.; WILLIAMS, P. Canine visceral leishmaniasis: Relationships between clinical status, humoral immune response, haematology and Lutzomyia (Lutzomyia) longipalpis infectivity. Veterinary Journal, v. 174, p. 636-643, 2007. EPI Info for DOS, version 3.5.4. Atlanta: Centers for Disease Control and Prevention. Division of Public Health Surveillance and Informatics, 2004. Disponível em: <http://www.cdc.gov/epiinfo/epi5/ei5.htm/>. Acesso em: 15 jun. 2012. FREITAS, J. C. C.; NUNES-PINHEIRO, D. C. S.; LOPES-NETO, B. E.; SANTOS, G. J. L.; ABREU, C. R. A.; BRAGA, R. R.; CAMPOS, R. M.; OLIVEIRA, L. F. Clinical and laboratory alterations in dogs naturally infected by Leishmania spp. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 45, p. 24-29, 2012. JAIN, N. C. Essentials of veterinary hematology. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. 417 p. MATOS, M.S.; MATOS, P.F. Laboratório Clínico Médico Veterinário. 2.ed., São Paulo: Ateneu, 1995. REIS, A.B.; MARTINS-FILHO, O.A.; TEIXEIRACARVALHO, A.; CARVALHO, M.G.; MAYRINK, W.; FRANÇA-SILVA, J.C.; GIUNCHETTI, R.C.; GENARO, O.; CORRÊA-OLIVEIRA, R. Parasite density and impaired biochemical/hematological status are associated with severe clinical aspects of canine visceral leishmaniasis. Research in Veterinary Science, v. 81, p. 68-75, 2006. AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT e da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Tocantins"