FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EJA NO SISTEMA PRISIONAL BAIANO: A INCLUSÃO DO ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA PENITENCIÁRIA DE SERRINHA

Documentos relacionados
A CONFLUÊNCIA ENTRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E O CURRÍCULO: A INCLUSÃO EDUCACIONAL DO ALUNO SURDO.

FORMAÇÃO CONTINUADA ONLINE DE PROFESSORES QUE ATUAM COM ESCOLARES EM TRATAMENTO DE SAÚDE Jacques de Lima Ferreira PUC-PR Agência Financiadora: CNPq

Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Educação Integral dos Trabalhadores

PLANO DE DISCIPLINA. Faculdade Internacional do Delta Curso: Serviço Social. Período: 2º/ UNIDADE TEMÁTICA:

O QUE ORIENTA O PROGRAMA

Atividades práticas-pedagógicas desenvolvidas em espaços não formais como parte do currículo da escola formal

PLANO DE TRABALHO DO PROFESSOR

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO ENSINO DA MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS

I ENCONTRO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NOS CURSOS DE LICENCIATURA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA: EM BUSCA DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

3 Metodologia de pesquisa

FORMAÇÃO DOCENTE NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIRG

O PROEJA, A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O MUNDO DO TRABALHO

CARTA DA PLENÁRIA ESTADUAL DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA DE PERNAMBUCO AO MOVIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, AOS MOVIMENTOS SOCIAIS E À SOCIEDADE

SUA ESCOLA, NOSSA ESCOLA CLARI E AS ATITUDES POSITIVAS

Plano de Articulação Curricular

PLANEJAMENTO ESTRATEGICO DO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES Junho de 2014 a junho de 2016

A UTILIZAÇÃO DO OBSERVATÓRIO DE IDEIAS E DO NÚCLEO DE PESQUISA DA UEG INHUMAS: importância para os docentes

ENADE: OS RESULTADOS INFLUENCIAM NA GESTÃO ACADÊMICA E NA QUALIDADE DOS CURSOS

TÍTULO: PROJETO EDUCAÇÃO JOVENS E ADULTOS (EJA) CIDADÃO: UMA EXPERIÊNCIA DE PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE ESCOLA.

Movimento Nossa São Paulo Outra Cidade 1º Encontro Educação para uma outra São Paulo Temática: Educação Profissional

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA DISCIPLINA MARISTA

Comitê Científico do Enangrad

Rodrigo Claudino Diogo 1, Valéria A. Ribeiro de Lima 2, Vanusa Maria de Paula 3, Rosymeire Evangelista Dias 4

Dados internacionais de catalogação Biblioteca Curt Nimuendajú

DANÇA E CULTURA VISUAL: DIÁLOGOS POSSÍVEIS NO CONTEXTO ESCOLAR Lana Costa Faria 1. Palavras chave: diálogo, dança, educação e cultura visual.

PROFUNCIONÁRIO CURSO TÉCNICO DE FORMAÇÃO PARA OS FUNCIONÁRIOS DA EDUCAÇÃO.

REQUERIMENTO (Do Sr. Dr. UBIALI)

Programa Estadual de Educação ambiental do Rio de Janeiro. Processo de construção coletiva

Ministério da Educação Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre Pró-Reitoria de Extensão - PROEX

PROJETO PROLICEN INFORMÁTICA NA ESCOLA : A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA E O ENSINO MÉDIO PÚBLICO

Uma formação dos professores que vai além dos saberes a serem ensinados

PROJETO BRINCANDO SE APRENDE

PPC. Aprovação do curso e Autorização da oferta PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO FIC - DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

TABLETS COMO RECURSO DE ENSINO: UM ESTUDO COM PROFESSORES DE MATEMÁTICA NUMA ESCOLA PÚBLICA DA PARAÍBA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO DA ESCOLA INCLUSIVA. Marcos Legais Resolução CNE-CES Resolução CNE-CES PROJETO PEDAGÓGICO

Seduc debate reestruturação curricular do Ensino Médio

ENSINO-APRENDIZAGEM DA CARTOGRAFIA: OS CONTEÚDOS COM BASES MATEMÁTICAS NO ENSINO FUNDAMEANTAL 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE EDUCAÇÃO CEDUC CURSO DE PEDAGOGIA UNIVERSIDADE VIRTUAL DE RORAIMA (RELATÓRIO DE PESQUISA)

PROJETO DO CURSO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO INTEGRADO EM INFORMÁTICA

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ANDRADINA NOME DO(S) AUTOR(ES) EM ORDEM ALFABÉTICA TÍTULO DO TRABALHO: SUBTÍTULO DO TRABALHO, SE HOUVER

Leônidas Siqueira Duarte 1 Universidade Estadual da Paraíba UEPB / leonidas.duarte@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓCIO: Carga Horária Semestral: 40 h Semestre do Curso: 3º

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Editora Atlas,

Curso de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária de Medicamentos, C...

Os alunos selecionados devem trazer no dia da primeira aula, os seguintes documentos:

Política de Responsabilidade Socioambiental da PREVI

Introdução

TERMO DE REFERÊNCIA. 1. Justificativa

INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS.

ORGANIZAÇÃO TECNOLÓGICA DO TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE DE UMA UNIDADE HOSPITALAR DE ATENDIMENTO ÀS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS *

S enado Federal S ubsecretaria de I nfor mações DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

POLÍTICA DE ALTERNATIVAS PENAIS: A CONCEPÇÃO DE UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA E DE JUSTIÇA 1

Data: 06 a 10 de Junho de 2016 Local: Rio de Janeiro

Estadual ou Municipal (Territórios de Abrangência - Conceição do Coité,

O ENSINO DE ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA/PB

DOCUMENTO SUBSIDIO PARA ASSEMBLÉIA GERAL DA ANPSINEP

1. Perfil A Faculdade de Medicina de Campos foi criada pela Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia (SFMC), na sessão de 02 de agosto de 1965,

SILVA, Maurício - UNINOVE - maurisil@gmail.com RESUMO

O ensino da música através da criação e sonorização de uma história para a produção de um vídeo educativo

PROJETO DE AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL DA COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO

PROGRAMA INTERNACIONAL DE APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A SUA INTERDISCIPLINARIDADE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE UNICENTRO MÍDIAS NA EDUCAÇÃO CHRISTIANE MAIA DA SILVEIRA ORIENTADOR: PROFESSOR PAULO GUILHERMETI

PROJETO DE LEI N.º 3.129, DE 2015 (Da Sra. Clarissa Garotinho)

As Novas Tecnologias no Processo Ensino-Aprendizagem da Matemática

GRUPO DE ESTUDO E PESQUISA EM MÍDIA/ MEMÓRIA, EDUCAÇÃO E LAZER - MEL

AS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS PARA O ALUNO COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO

ABORDAGEM METODOLÓGICA EM GEOGRAFIA: A PESQUISA DE CAMPO*

Projeto 10Envolver. Nota Técnica

Identidade e trabalho do coordenador pedagógico no cotidiano escolar

CIBERESPAÇO E O ENSINO: ANÁLISE DAS REDES SOCIAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL II NA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR VIANA

Qualidade Social na Educação Básica e Diversidade: os desafios para enfrentar as desigualdades

FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO: UM ESTUDO REALIZADO NO CURSO DE PSICOLOGIA DA UNISC

O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CARTA PESSOAL: UMA EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA

POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS X EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: QUESTÕES PARA O DEBATE

FOTOGRAFIA NA LATA: CRIATIVIDADE COM PINHOLE, MARMORIZAÇÃO E BLOG PARA AS ESCOLAS MUNICIPAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL DE SANTA MARIA

Faculdade de Tecnologia SENAI Belo Horizonte

O Papel do Gerente/Administrador Financeiro das Empresas

A GINÁSTICA RÍTMICA ENQUANTO PRÁTICA ESPORTIVA EDUCACIONAL INCLUSIVA NA VILA OLÍMPICA DA MANGUEIRA (2002/2013)

COMUNIDADE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

Apresentação dos encontro de formação Plano Individual de Atendimento para medidas de proteção e medidas socioeducativas

A Orientação Educacional no novo milênio

Características do professor brasileiro do ensino fundamental: diferenças entre o setor público e o privado

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

PARTICIPANDO DA CONSTRUÇÃO DA AGENDA 21 DA UFFS, CAMPUS CERRO LARGO, RS

O MEIO AMBIENTE: TEMA TRANSVERSAL

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E AS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA

MAPEAMENTO DA SITUAÇÃO EDUCACIONAL DOS SURDOS NA REGIÃO DE ABRANGÊNCIA DO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE IRATI/PR

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: O PROGRAMA ESCOLA ACESSÍVEL

VIII Oficinas de Formação A Escola na Sociedade da Informação e do Conhecimento praticar ao Sábado. E-learning. 3 de Março de 2007

FORMAÇÃO EM PERSPECTIVA INCLUSIVA: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE CURSOS DE PEDAGOGIA

RELATÓRIO FINAL - INDICADORES - DOCENTES ENGENHARIA AMBIENTAL EAD

Ficha de Actividade. Conteúdos: Os diferentes processos e serviços do Arquivo Municipal.

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA EM FEVEREIRO DE MAIS EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE MESQUITA - RJ

A CRIAÇÃO DOS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA: PERSPECTIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR

PROJECTO FUNDAMENTAÇÃO

A PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES TITULARES DAS SÉRIES/ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

ESTADO DA PARAÍBA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE EDITAL Nº. 02 /2015/SES/CEFOR-PB

Transcrição:

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EJA NO SISTEMA PRISIONAL BAIANO: A INCLUSÃO DO ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA PENITENCIÁRIA DE SERRINHA Juliana Gonçalves dos Santos ¹; Antônio Pereira 2 ¹ MPEJA-UNEB, Coordenadora Pedagógica de EJA da Rede Municipal de Serrinha, Grupo de Pesquisa em Educação Social, Currículo e Formação de Educadores, juli.goncalves10@yahoo.com.br; 2 Doutor em Educação -UFBA, professor UNEB, Grupo de Pesquisa em Educação Social, Currículo e Formação de Educadores, antonyopereira@yahoo.com.br; EIXO TEMÁTICO: SUJEITOS DA E DIVERSIDADES RESUMO As reflexões tecidas ao longo deste artigo faz parte do nosso projeto de pesquisa, em andamento, no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação de Jovens e Adultos pela Universidade do Estado da Bahia, pesquisa intitulada Formação de professores de EJA no sistema prisional baiano: A inclusão do ensino de história e cultura afro-brasileira na penitenciária de Serrinha. Nos centramos nos questionamentos: quais as dificuldades pedagógicas dos docentes da EJA do sistema prisional de Serrinha enfrentam em suas práticas pedagógicas para efetivar a temática étnico-racial em cumprimento a Lei 10.639/03? E de que maneira uma formação em serviço nessa temática contribuiria para melhorar suas práticas? Assim, a metodologia adotada será a pesquisa de intervenção educativa, pesquisa bibliográfica e análise documental, seguido dos instrumentos de aplicação de questionário, método de observação e realização de formação numa perspectiva de re-criação no chão das celas de aulas. Espera-se que este projeto possa contribuir na discussão do campo acadêmico sobre a história e cultura afro-brasileira no conjunto penal, colaborar com outros espaços da sociedade, fomentar debates para repensar num currículo praticado significativo. Palavras-chave: Relações raciais- Formação- EJA INTRODUÇÃO: As reflexões tecidas ao longo deste artigo faz parte do nosso projeto de pesquisa, em andamento, no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação de Jovens e Adultos pela Universidade do Estado da Bahia, pesquisa intitulada Formação 1

de professores de EJA no sistema prisional baiano: A inclusão do ensino de história e cultura afro-brasileira na penitenciária de Serrinha. Pretende corroborar para o fortalecimento da práxis pedagógica do corpo docente, quanto ao cumprimento do ensino de história e cultura afro-brasileira nas turmas de EJA do ensino fundamental II, o que demanda uma necessidade de compreender como acontece no estabelecimento de ensino prisional de Serrinha-BA, as práticas educativas que consolidam ou tratam a alteração da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", Lei 10.639/03. Direcionamos a investigação para solucionar a seguinte questão: quais as dificuldades pedagógicas dos docentes da EJA do sistema prisional de Serrinha enfrentam em suas práticas pedagógicas para efetivar a temática étnico-racial em cumprimento a Lei 10.639/03? E de que maneira uma formação em serviço nessa temática contribuiria para melhorar suas práticas? Assim, propomos explicitar as dificuldades que versam a aplicabilidade da lei 10.639/03 na operacionalização diária da prática docente no âmbito prisional e potencializar a prática educativa dos professores da EJA do conjunto penal de Serrinha a partir de um curso de formação continuada com a temática étnico-racial, numa perspectiva de re-criação didática de possibilidades de corroborar com a reinserção social dos sujeitos privados de liberdade. Sujeitos estes, com estigmas sociais entranhados, preto, pobre, sem escolaridade, presidiário, vindos da criminalidade, dos contextos violentos, oriundos das desigualdades econômicas e sociais, discriminados, exclusos, vulneráveis, que fazem parte dos resquícios escravocrata, onde domesticaram sua cultura, alienaram suas mentes e estereotiparam suas trajetórias de vida. Assim, ao tratar do tema EJA, relações raciais nas prisões abarcam desafios e possibilidades de reflexão crítica da diversidade cultural, ampliação dos debates sobre combate ao racismo, as folclorizações e as discriminações advindas de culturas hegemônicas, que colocam o negro como submisso e inferior. Assim, para contribuir na desconstrução dessas memórias negativas que foram impostas ao negro, implicam em bases formativas, por isso, sugerimos potencializar a prática educativa dos professores da EJA do conjunto penal de Serrinha a partir de um 2

curso intervenção formativa com a temática étnico-racial. Para tanto, adotamos o seguinte percurso metodológico abordagem qualitativa, pela sua característica de cunho descritivo e pela importância instrumental do pesquisador em contato ao objeto pesquisado. Pautamos numa concepção de pesquisa intervenção pedagógica, por acreditar numa re-construção de conhecimento e de identidade numa perspectiva coletiva, onde os sujeitos da pesquisa compreendem aos educadores em serviço da Unidade Prisional de Serrinha, onde abrigam pessoas que foram condenados, por atos ilícitos, ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado e semiaberto, cuja instituição considerada de segurança máxima, com base administrativa de co-gestão com inciativa privada. Também, optamos pela pesquisa bibliográfica e análise documental, seguido dos instrumentos de aplicação de questionário, método de observação e realização de formação numa perspectiva de re-criação no chão das celas de aulas, tendo como principal instrumento para registro de dados o diário de campo. Assim, os principais contributos teóricos da nossa pesquisa Arroyo (2010), Freire (1996), Gomes (2008), Haddad; Di Pierro (2000), Ireland (2011), Julião (2010), Munanga (2004), Nóvoa (1992), Onofre (2007), Santos (2001) Tardif (2002), entre outros, para nos dar possibilidades de empoderamento teórico e poder intervir na realidade. Espera-se que este projeto possa contribuir na discussão do campo acadêmico sobre a história e cultura afro-brasileira no conjunto penal, colaborar com outros espaços da sociedade, fomentar debates para repensar num currículo praticado significativo, como também, desenvolver uma práxis pedagógica de promoção das relações de etnias, que auxilie na formação do exercício da cidadania de jovens e adultos capazes de retornar a sociedade pós-muros, conscientes de sua pluralidade cultural. 3

METODOLOGIA: Para atender as peculiaridades do projeto de pesquisa adotamos a abordagem qualitativa, devido suas características de cunho descritivo e social, pela importância instrumental do pesquisador de poder estar em contato ao objeto pesquisado, o formato optado na operacionalização das técnicas interpretativas e coleta de dados, para exprimir os fenômenos imbricados na pesquisa, que às vezes está de forma subjetiva. Partindo dos referenciais de Godoy (1995, p. 58) a pesquisa de abordagem qualitativa parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve. O mesmo tratamento na pesquisa discorre Ludke e André (2015, p.14), o desenvolvimento do estudo assemelha-se a um funil: no início há questões de focos de interesse muito amplo, que no final se tornam mais diretos e específicos. Tal assertiva revela o quanto à pesquisa qualitativa é desafiante tanto no que compete ao pesquisador, quanto aos sujeitos pesquisados, postulamos isso, devido ao dinamismo da ação que pressupõem rigor na organização e análise dos dados, para obtenção de validação dos conhecimentos científicos. Desta forma, optamos pela pesquisa de intervenção educativa, que apesar da resistência em relação ao termo que simula tradicionalismo, demarcamos que o sentido aqui proposto Coaduna com Freitas (2010), referencia a intervenção num formato de depuração de conceitos que podemos considerar como ação mediada. A intervenção como categoria se apresenta com diversas possibilidades de mudanças ao contexto, por meio da interlocução entre os sujeitos numa (re)construção de conhecimento. Para Freitas (2010, p.19) concebe a pesquisa de intervenção em educação associado a mudança no processo, transformação, re-significação dos pesquisados e pesquisador, ação mediada, compreensão ativa. Diante disso, a pesquisa de intervenção em educação não se restringe apenas explicar ou descrever uma realidade, mas compreender a totalidade e traçar objetivos que proporcione interferência sócioeducativa. Na concepção de Damiani (2013, p.58), descreve a pesquisa de intervenção em educação como pesquisa no mundo real, compara a potencialidade da pesquisa 4

aplicada, nessa especificidade, fora dos ambientes laboratoriais, o que envolve pessoas e averiguação dos efeitos da prática realizada. Condicionamos, o presente e a avaliação de validação do trabalho realizado, em que não significa teste, mas o pesquisar a própria prática no ato, de forma minuciosa relacionada ao campo acadêmico, para saber quais foram os percalces, progressão e impactos nos sujeitos. Nesse aspecto, é necessário a demarcação e preponderância entre pesquisa de intervenção e projeto de ensino, pois não são similares, devido ao rigor dos métodos que serão utilizados e analisados. O projeto de ensino tem como caracterização a proposição de mudanças na prática educacional e por sua vez a pesquisa de intervenção em educação galga amplitudes de mudanças direcionados práxis-realidades dos sujeitos e os impactos para além deles, pois o conhecimento produzido permeiam outros espaços sociais. Assim a intervenção está projetada como nosso objeto de estudo. O Projeto tem como objetividade desenvolver oficinas didáticas de promoção da igualdade racial, em consonância a lei 10.639/03, para que favoreça mudanças no currículo praticado dos professores que atuam no ensino fundamental II, no ambiente prisional, buscando aporte teórico-metodológico para que sejam re-criadores da proposta, para garantir a reinserção social dos sujeitos privados de liberdade. A construção de oficina didática parte de eixos essenciais e estruturantes como saber qual a temática que quero abordar, os objetivos, o conteúdo, as estratégias, o modo de avaliação e os pressupostos teórico base, que significa a necessidade de planejamento. Assim, planejamos dez encontros, numa perspectiva que o recurso organizacional seja também adequado a realidade, para que ambas categorias conteúdo e recurso material sejam acessíveis e possibilitem a re-criação no espaço das celas de aulas. A oficina didática podemos externalizar como o ápice que desejamos de promoção e reflexão sobre as relações étnico-raciais, simboliza o momento de trocas de experiências, na visão de Volquind (2002), ele coloca que a oficina é como o momento integrador da relação sujeito aproximador do objeto que queremos desvendar, nos aprofundar. 5

RESULTADOS: A pesquisa encontra-se num levantamento bibliográfico implica em práticas de leituras e releituras, para conhecer mais sobre o tema levantado, entender o que já foi tratado ou não a respeito do tema. Quais serão nossos aportes teóricos? Assim, ponderamos em fazer uma revisão bibliográfica, no sentido de aprofundamento da temática, para que nos ajude a percorrer os caminhos para responder ou levantar mais inquietudes, numa busca reflexão dos conceitos adquiridos correlacionados ao nosso objeto de pesquisa. Segundo Preti (2005), relata que a palavra latina perquirere significa pesquisa, que requer investigação, cuidado, procura. Partindo desse pressuposto, o percurso metodológico que adotamos delineia para contínua e frequência de estudos bibliográficos, pois a idealização coaduna com o empoderamento dos sujeitos da pequisa e isso vale, tanto ao eu pesquisador e os sujeitos educadores, em que os conhecimentos construídos coletivamente possam nos ajudar a intervir na nossa realidade. Almejamos que a presente pesquisa possa desvelar o contraste da existencialidade versus a praticabilidade da lei 10.639/03, será que a determinação da lei já assegura a aplicabilidade nas salas de aula? Assim, pretendemos contribuir na dinamização das celas de aulas, estimular uma releitura sobre nossas práticas educativas articulada aos conteúdos de cultura afro-brasileira, para que essas práticas e inquietudes sejam difundidas entre os discentes que ocupam o âmbito de ensino prisional, numa perspectiva de contribuição as bases formativas, que o retorno a sociedade sejam conscientes de suas marcas e histórias identitárias. Também, esperamos que essa pesquisa transcenda o muro institucional e possa ampliar os debates no campo acadêmico, por meio da produção e discussão da literatura sobre relações étnico-raciais nas prisões, para que os descritos se tornem publicizável a sociedade e auxilie na construção de conhecimento e empoderamento aos sujeitos leitores. 6

REFERÊNCIAS: ARROYO, Miguel G. Políticas educacionais e desigualdades: à procura de novos significados. Educação & Sociedade, Campinas, v. 31, n. 113, p. 1075-1432, 2010. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 28. edição. São Paulo: Paz e Terra, 1996.. Conscientização: teoria e prática da libertação uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3 ed. São Paulo: Moraes, 1987.. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. FREITAS. Maria Teresa de Assunção. RAMOS. Bruna Sola (orgs). Discutindo sentidos da palavra intervenção na pesquisa de abordagem histórico-cultural. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2010. GODOY. A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, 35(2),1995. p. 57-63. GOMES, Nilma Lino. Descolonizar os currículos: um desafio para as pesquisas que articulem a diversidade étnico-racial e a formação de professores. In: Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2008, Porto Alegre. Anais do XIV ENDIPE, 2008. HADDAD, Sérgio; DI PIERRO Escolarização de Jovens e Adultos. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Mai-ago, 2000b, nº 14, pp.108-130.. Escolarização de Jovens e Adultos. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Mai-ago, 2000b, nº 14, pp.108-130. IRELAND, Timothy Denis. Educação em prisões no Brasil: direito, contradições e desafios. Em Aberto, Brasília, v. 24, n. 86, p. 19-39, nov. 2011. LUDKE, Menga.; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2015. 7

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica: 2004. NÓVOA, Antônio. Formação de professores e formação docente. In: Os professores e a sua formação, do mesmo autor. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1992. ONOFRE, Maria Cammarosano (org). Educação escolar entre as grades. São Carlos: EduFSCar.2007. SANTOS, Hélio. Discriminação racial no Brasil. In: SABÓIA, Gilberto Vergne; GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (Orgs). Anais de seminários regionais preparatórios para a conferência mundial contra o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata. Brasília: Ministério da Justiça, 2001. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002. VOLQUIND, L. Oficinas de Ensino: o quê, por quê? Como? 4. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2002. 8