UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS CURSO DE HISTÓRIA CLAUDIA MORAES FERNANDES



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Transcrição:

0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS CURSO DE HISTÓRIA CLAUDIA MORAES FERNANDES GUERRA DO PARAGUAI: o discurso oficial e a participação do Maranhão (1864-1870) São Luís

1 2006 CLAUDIA MORAES FERNANDES GUERRA DO PARAGUAI: o discurso oficial e a participação do Maranhão (1864-1870) Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, para a obtenção do grau de Licenciatura em história. Orientador: Profº Ms. Carlos Alberto Ximendes. São Luís

2006 2

3 CLAUDIA MORAES FERNANDES GUERRA DO PARAGUAI: o discurso oficial e a participação do Maranhão (1864-1870) Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, para a obtenção do grau de Licenciatura em História. Aprovada em: / / BANCA EXAMINADORA Profº Ms. Carlos Alberto Ximendes (orientador) 1º Examinador 2º Examinador

4 Aos meninos da minha vida.

5 AGRADECIMENTOS Ao professor Remberto, que muito me incentivou a galgar os caminhos da História; À professora Elisabeth, por ter me ajudado no começo deste trabalho; Ao professor Carlos Alberto Ximendes, pelas valiosas contribuições durante a construção deste trabalho, pela dedicação, pela paciência e pelo fornecimento de seu material bibliográfico, necessário para a realização deste; À Coordenação do curso e a todos os professores que, durante a minha vida acadêmica, mantiveram comigo relação de aprendizagem, pelo conhecimento e pelas contribuições que orientarão minha prática profissional; Ao pessoal da Biblioteca Benedito Leite, pela paciência e ajuda durante a construção da Monografia; Aos meus pais, que me ajudaram a traçar este caminho; Ao professor Geraldo Castro, pelos inúmeros debates travados que em muito enriqueceram este trabalho; À professora Ocirema Fernandes, que cuidadosamente ajudou-me na correção ortográfica deste; Ao professor Carlos Augusto Scansette, pelo seu apoio intelectual; A uma estudante de História da UFMA, embora sem saber seu nome, por ter me emprestado sua carteira da Biblioteca para que eu pudesse xerocopiar alguns livros.

6 A Paz queremos com fervor, a guerra só nos causa dor, porém, como a pátria amada, foi agora ultrajada, lutaremos com valor Canção do Soldado

7 RESUMO A versão da Guerra do Paraguai veiculada na imprensa nacional visava legitimar o conflito perante a opinião pública. Esboça-se um debate historiográfico acerca das visões sobre a origem do conflito. Discorre-se sobre como o discurso é construído e utilizado pelo governo nos jornais (maranhenses) e nos discursos da Igreja Católica. Elabora-se uma análise conclusiva de como se deu a participação do Maranhão na guerra e suas conseqüências na região. Palavras-Chave: Brasil, Paraguai, Argentina, Inglaterra, Uruguai, Maranhão, imprensa, discurso.

8 ABSTRACT The version of the War of Paraguay transmitted in the national press it sought to legitimate the conflict before the public opinion. A debate historiográfic is sketched concerning the visions on the origin of the conflict. She discourse on as the speech it is built and used by the government in the newspapers (from Maranhão) and in the speeches of the Catholic Church. A conclusive analysis is elaborated of as he felt the participation of Maranhão in the war and your consequences in the area. Keywords: Brazil, Paraguay, Argentina, England, Uruguay, Maranhão, presses, speech.

9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 9 1 UM DEBATE HISTORIOGRÁFICO... 11 1.1 A versão tradicional... 11 1.2 A versão revisionista... 13 1.3 A versão atual... 15 2 ANÁLISE DO DISCURSO... 19 2.1 O discurso como imposição da verdade... 19 2.2 O jornal como forma de propagação do discurso... 20 3 A PARTICIPAÇÃO DO MARANHÃO NA GUERRA... 24 3.1 Os Voluntários e a Guarda-Nacional... 24 3.2 A Igreja e a Guerra... 25 3.3 A Sociedade e os Escravos... 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 30 REFERÊNCIAS... 31 ANEXOS... 33

10 INTRODUÇÃO O presente estudo é resultado da inquietação de uma estudante de História, que entrou no curso motivada pelo desejo de contribuir com a formação político-cultural das pessoas por acreditar que elas sentem, cotidianamente, os reflexos da falta de informação substanciosa ao seu aprendizado. A temática sobre a Guerra do Paraguai foi escolhida devido à sua necessidade e, digamos, curiosidade de conhecer como se deu a maior guerra de que o nosso país já participou, e que nossos livros do ensino médio quase não dão importância. É contraditório não sabermos muito sobre este conflito, afinal, essa guerra foi um acontecimento que movimentou grandes recursos, não só econômicos mas principalmente humanos, consumiu cerca de 300 (trezentas) mil vidas (embora, à luz da pesquisa moderna, o número de 200 duzentas- mil ou até 150 cento e cinqüenta mil vidas possa ser considerado uma estimativa mais razoável)(doratioto, 2001), e, apesar de todo o seu significado para os países envolvidos Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil-, ainda é um tema pouco discutido. Ousamos até afirmar que se estuda melhor as 1ª e 2ª Guerras Mundiais que a nossa grande guerra. Isso não ocorre somente nas salas de aula do Ensino Médio, onde é feita apenas uma análise superficial dos fatos. O que é pior, ocorre também nas cadeiras de nossas universidades. Não estamos com isso querendo defender um patriotismo exacerbado, pelo contrário, queremos apoiar a sua relação (Guerra do Paraguai) com um campo de trabalho, não novo, mas quase inexplorado, que é a análise do discurso patriótico montado para convencer a população da necessidade da guerra.. Nossos alunos hoje pensam o conflito, se é que o pensam, desprezando-o, não dando o devido valor ao seu termo histórico. Outro motivo que influenciou na decisão de estudar o processo da Guerra do Paraguai foi o fato de se tratar de um assunto pouco estudado, muito menos quando associada à participação do Maranhão no conflito. Nós, enquanto profissionais de História, até o momento não temos uma vasta documentação que enseje como se deu tal participação. Nem mesmo o maior expoente dos historiadores maranhenses, Mário Meireles, em seu livro História do Maranhão, relata alguma coisa sobre o conflito com o Paraguai.

11 Neste estudo, buscamos compreender como se processou, ao longo dos anos, as visões que caracterizaram o conflito com o nosso vizinho, e porquê das suas colocações. Embora todas as visões (e são 3 - três) sejam igualmente importantes no apanhado geral deste trabalho, deter-nos-emos principalmente na visão tradicional, pois é através de seu discurso dito oficial que o conflito vai ser positivado perante a população brasileira. Não trataremos, aqui, do desenrolar da guerra, pois achamos que isto é extremamente desnecessário para o desenvolvimento deste trabalho, mas é claro que não deixaremos o leitor sem saber o que se está passando (Anexo A). Apenas vamos nos fixar nos pontos mais importantes (as ditas fases da guerra) em que a historiografia tradicional 1 determinou como sendo expoentes máximos do conflito. A metodologia de pesquisa que orientou este trabalho foi baseada no Método Histórico-Dialético, porque nos proporcionou uma visão da totalidade do objeto, ou seja, possibilitou compreender a Guerra do Paraguai como uma totalidade maior que se constitui de totalidades menores, dentre as quais está o processo de formação dos Estados Nacionais do Prata e seus interesses geopolíticos na região. Nesta perspectiva, compreendemos que nosso objeto de estudo se constitui de inúmeras relações com outros aspectos da realidade, influenciando e sendo influenciado pela dinâmica da mesma, como uma unidade na diversidade. Este estudo está organizado em três partes. A primeira consiste em um aprofundado debate historiográfico, trazendo uma discussão acerca das concepções e princípios de tais correntes. A segunda parte compreende a análise dos discursos utilizados pelo poder dominante a fim de formalizar e legitimar o conflito. A terceira parte constitui uma análise conclusiva de como se deu a participação do Maranhão no conflito, e, inclusive, qual a participação da Igreja neste, destacando a visão operante na época, através dos relatos nos jornais maranhenses. Trabalhamos com três jornais, A Situação, O Publicador Maranhense e A Fé, e o Semanário Maranhense, que não deixa de ser um jornal, embora seja publicado semanalmente. 1 Entende-se aqui como historiografia tradicional os primeiros autores que estudaram o conflito, como Cerqueira e Taunay.

12 1 UM DEBATE HISTORIOGRÁFICO 1.1 A versão tradicional A maior guerra da América do Sul desde a sua colonização, a Guerra do Paraguai, teve vários estudiosos 2 tentando justificá-la, cada um tendo uma versão para os interesses que teriam levado à eclosão do conflito que, ou se convergem, ou se distanciam. Os discursos utilizados por tais estudiosos é um exemplo de como a História é uma criação que pode servir para vários fins. As primeiras narrativas historiográficas sobre o conflito foram construídas tão logo sua eclosão, como é o caso de Cerqueira, Taunay e Max von Versen. Essas obras, sobretudo de oficiais combatentes, foram construídas através da seleção e organização dos discursos desenvolvidos pelo Estado e pelas elites imperiais durante o confronto. O ponto ápice desse discurso é quando se dá o golpe republicano de 1889, o qual se deu sob a égide da alta oficialidade do Exército, principal interessada na consolidação dessas leituras tradicionais. Para apoiar a idéia de que a intervenção militar constituiu uma reação ao ataque dos territórios brasileiros, esses relatos propuseram comumente como o estopim do conflito o aprisionamento do vapor brasileiro Marquês de Olinda, em 11 de novembro de 1864, e não a intervenção brasileira, dois meses antes, contra o governo constitucional uruguaio, apoiado pelo Paraguai. A historiografia tradicional, da qual fazem parte autores como Cerqueira e Taunay, explica a origem da guerra como sendo fruto das pretensões megalomaníacas do ditador paraguaio Solano López. Esta versão afirma que o ditador tinha o intuito de assumir o controle de parte do território uruguaio, desde as antigas missões argentinas e das reduções jesuíticas no sul do Brasil, formando assim o Paraguai Maior (HEICHEL; GUTFREIN, 1995, p. 35). Melhor explicando, nas palavras do próprio Cerqueira (1910, p.46): O ditador do Paraguai, que se preparava, desde muito, para a realização dos seus projetos de expansão e supremacia na América Meridional, aproveitou a invasão (do Brasil no Uruguai), como pretexto para um rompimento, e, em plena paz, aprisionou no dia 11 de novembro de 1864, o vapor brasileiro Marquês de Olinda [...]. 2 Cerqueira, Taunay, Max von Versen,Chiavenato, Doratioto, Ricardo Salles.

13 Essa versão da guerra surge como ouro para o Brasil justificar sua guerra contra esse país, pois, quando o Paraguai tenta abocanhar parte de seu território, no momento em que aprisiona o vapor brasileiro, vê-se obrigado a defender patrioticamente seus limites territoriais, ruflando a sociedade a participar desta guerra a que nos provocou o presidente López. Encontramos em Taunay a constatação de que as camadas mais baixas dos estratos sociais brasileiros que foram convocados para formar os batalhões de soldados, posicionavam-se de forma diversa com relação ao conflito. Estes aproveitavam as oportunidades de fuga que apareciam, tornando alto o número de desertores. Dos soldados (homens livres ou ex-escravos ou mesmos escravos) aos oficiais, as imagens de um Paraguai tirano e usurpador da soberania das nações livres, e de um exército nacional salvador e civilizador sedimentaram-se nos discursos utilizados pela classe interessada no conflito. A historiografia nacionalpatriótica (tradicional) propôs que a guerra fosse contra a ditadura de Solano López, e não contra o povo paraguaio. Fonte: www.scielo.com.br, do artigo de André Toral Figura 1 O ditador paraguaio Solano López

14 Até hoje, infelizmente essa versão tradicionalista do conflito ainda é pensada em nossa sociedade, como demonstra Andrade (apud TORAL, 1999, p.43): Vilão Como cadete de Infantaria do Exército brasileiro, fico feliz por saber que estão desmistificando a imagem do Paraguai como vítima da Guerra. Todos sabem que aquele país queria expandir suas fronteiras em detrimento dos outros. Inclusive, o próprio Monteiro Lobato, (1994, p. 171), comenta a respeito do conflito, concretizando ainda a visão tradicionalista: [...] Pedro II teve também uma terrível guerra durante o seu reinado-a Guerra do Paraguai, que o Brasil se viu obrigado a sustentar durante cinco anos contra o Ditador López, verdadeiro dono absoluto daquele país. Essa versão perdurou, e como vimos aqui, por muito tempo, e somente nas décadas de 1960 em diante é que vai surgir uma nova corrente, a revisionista. 1.2 A versão revisionista Durante a década de 60, pensava-se que os problemas do mundo resultavam basicamente da exploração imperialista, e desta maneira, a Guerra do Paraguai seria um próprio e típico exemplo de disputas imperialistas. Assim, o fomento da guerra é atribuído à Inglaterra, que teria manipulado Brasil e Argentina para aniquilar o Paraguai, pois segundo essa corrente que tem como maiores nomes Pomer e Chiavenato, o Paraguai era independente economicamente da Inglaterra e sem dívida externa, dando mal exemplo a seus vizinhos fronteiriços, pois estes seriam extremamente dependente, como explica Chiavenato (1985, p.2), enquanto o Brasil, a Argentina e o Uruguai importavam até alfinetes (nós comprávamos da Inglaterra, por exemplo, esquis para neve!), o Paraguai importava basicamente técnicos, formando profissionais e criando sua própria tecnologia. E complementando: Diziam que o Brasil se cobria de vergonha para destruir um país que despontava como única terra livre da América [...]. Os aliados guerreavam por um engano, para atender aos interesses de dominação econômicos da Inglaterra, que estavam sendo contestados pelo ditador Solano López. (CHIAVENATO, 1985, p.19).

15 Assim como a versão tradicionalista, esta corrente revisionista ainda hoje é aceita perante a sociedade brasileira. Segundo Ottoni (apud TORAL, 1999, p.43): Injustiça Acho vergonhoso o fato de nossa nação ter participado de uma guerra tão violenta e injusta. Como alguém pode ter orgulho diante de milhares de mortos e tanta covardia? É incompreensível. Qual o orgulho de ter praticamente destruído um outro país em favor da Inglaterra? A corrente revisionista aposta literalmente em uma guerra suja E devastadora de povos; guerra de rapina, mantida e camuflada por interesses obscuros [...]; guerra com uma mão ultramarina apresentando o ouro e outra, nativa, recebendo-o como lucro e recompensa para assassinar irmãos e vizinhos; [...]. (POMER, 1997, p.10). Empreende-se aqui uma tentativa de análise das formações sociais envolvidas na guerra e de crítica geral da historiografia tradicional. Procurava-se relatar os acontecimentos desde a ótica das populações envolvidas no conflito, e não das classes dominantes. Essa corrente obteve grande sucesso e influenciou o imaginário histórico brasileiro porque galvanizou a longa memória de horrores que fora a guerra, até então semi-soterrado pelo discurso patriótico. O posicionamento da escravidão é amplamente influenciado, como nos diz Chiavenato (1985, p.23), nós estamos (os negros escravos) aqui matando o Paraguai onde não tem escravidão, defendendo o Império que escraviza a gente. A narrativa sugere ter constituído o conflito um choque entre o Brasil, nação monárquica, constitucional e liberal, Estado escravista, e o Paraguai, Estado despótico, autocrático, atrasado, uma nação de homens livres. A importante determinação dos combates pela essência escravista do Estado brasileiro, foi percebida por Caxias. O velho oficial referiu-se a essa realidade ao execrar a qualidade militar dos libertos, homens que não compreendem o que é pátria, sociedade e família, que se consideram ainda escravos (CERQUEIRA, 1980). Por muito tempo reinou essa concepção dos interesses na guerra, e, ainda hoje, sente-se os reflexos de tais posicionamentos. Embora uma nova corrente que explique melhor os acontecimentos tenha surgido, como logo veremos, esta análise perdura em nosso cotidiano escolar, nos livros didáticos de Gilberto Cotrim e/ou Luís Koshiba e, principalmente, nas apostilas de cursos prévestibulares, por exemplo: [...] as causas da guerra foram basicamente econômicas, uma vez que o Paraguai possuía uma economia auto-suficiente e poderia atrapalhar

16 a política econômica que a Inglaterra vinha desenvolvendo na América do Sul (CASTRO, 2006, p. 211). Essa versão foi rebatida duramente nos últimos anos, onde autores como Salles e Doratioto, que são da corrente atual, identificam o conflito como fruto dos interesses dos Estados Nacionais do Prata e seus problemas internos. 1.3 A versão atual Esta versão está centrada em amplos documentos que diminuem a influência da Inglaterra e aumenta os interesses dos países envolvidos. Mostraremos, aqui, então, tais interesses, segundo os quais este estudo apóia. Durante o século XIX, as operações militares desempenhadas pelo Brasil concentraram-se sem exceção na área platina. Uma série de fatores justifica tal concentração, dentre eles o fato de que as fronteiras orientais do Brasil eram quase inabitadas, sendo separadas do resto do país por florestas e pantanais quase impenetráveis, e o Mato Grosso é expoente disto, visto que era, através dos rios Paraná e principalmente Paraguai, que ele contactava com o resto país. Neste ponto, o Brasil tinha uma disputa fronteiriça com o Paraguai, clamando pela livre navegação do rio Paraguai. Porém o governo paraguaio condicionava tal garantia à definição das fronteiras à altura do Rio Branco, enquanto o Império brasileiro reivindicava o rio Apa como marco fronteiriço (HEICHEL; GUTFREIND, 1995, p.35).

17 Figura 2 Mapa feito por Taunay 3 Somado a isso, junta-se o fato de que os rios da Bacia Platina eram de grande importância econômica e militar, pois era por meio deles que praticamente toda a produção da Argentina, do Paraguai, do Uruguai e das províncias do Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul era exportada. Por esses motivos, os países envolvidos no conflito tinham interesse e empenho em dominar a rede fluvial platina, interesse que igualmente tinham os Estados Unidos, França e Inglaterra, pois para essas potências, a livre navegação internacional nas águas do estuário era fundamental para a expansão e mesmo manutenção dos seus negócios (HEICHEL; GUTFREIND, 1995). O governo inglês, visando resgatar seu imenso interesse econômico na região platina, buscou ter absoluta liberdade de comércio e navegação nos rios platinos, além de procurar impedir que Brasil e Argentina se fortalecessem o suficiente para controlar a bacia do Prata. Percebe-se que os mercados internos 3 TAUNAY, Visconde de. A retirada da Laguna: episódio da guerra do Paraguai. Cia das Letras; p. 135. Achei interessante colocar esse mapa, mesmo não estando perfeitamente visível, pois é de grande valia para o entendimento das posições dos rios.

18 dos países platinos foram sempre abastecidos com produtos da indústria inglesa e que, em todas as guerras ocorridas nessa região, a sua influência foi sempre respeitável. Porém, [...] o interesse oficial britânico consistiu, de início, em evitar a guerra (do Paraguai) ou, ao menos, impedir que ela afetasse de forma considerável a vida comercial no Prata (DORATIOTO, 1999, p.55). Assim, levando-se em consideração que os Estados nacionais do Prata estavam ainda em processo de formação territorial, cuja unidade via-se constantemente ameaçada, pois o fortalecimento de um país ameaçava constantemente a segurança dos demais, percebe-se que o estopim do conflito apresenta-se no momento em que o Brasil invade o Uruguai, que é justamente quando a República Paraguaia rompe imediatamente relações com o Império, afirmando tacitamente que o equilíbrio de forças e a soberania dos países da região platina haviam sido atingidos (HEICHEL; GUTFREIND, 1995, p. 46). Porém, é interessante assinalar que a intervenção no território uruguaio não ocorreu apenas por questões de limites. A sua posição na questão da navegação na bacia do Prata era altamente estratégica para os países envolvidos no conflito. A Argentina ambicionava cerca de 1/3 (um terço) do território paraguaio e também almejava que o mercado interno desse país fosse aberto aos produtos estrangeiros. Isso significa dizer que qualquer produto importado pelo Paraguai passaria obrigatoriamente pelo porto de Buenos Aires e por sua alfândega. Desta maneira, os comerciantes e o próprio governo argentinos apostavam numa subordinação paraguaia, lucrando tanto com a sua importação quanto com a exportação. O próprio Paraguai se via encurralado em seu território, e por isso que Francia, o primeiro presidente paraguaio após sua independência, desenvolveu sua política voltada para o mercado interno, afinal seu país não tinha saída para o mar e, se quisesse tal saída, e no caso da bacia platina não ter livre navegação, teria que se submeter aos interesses argentinos, pois como vimos o Paraguai tem, desde o início, grande dificuldade de exportar sua produção - os principais produtos eram o fumo e o erva mate - uma vez que depende do Rio da Prata, dominado pelos mercadores de Buenos Aires. Com os seus sucessores, e mais especificamente, Solano López, é que o Paraguai vai se lançar definitivamente na defesa da livre navegação e inclusive na política de não intervenção dos países, respeitando assim o jogo de forças na região. Porém, nesse emaranhado de confusões, a Argentina e o

19 Brasil vão se ver ameaçados pelo possível surgimento de uma 3ª (terceira) potência na região, o Paraguai. E é desta maneira que, ao unirmos os interesses de todos os países que participaram direta ou indiretamente do conflito, vamos chegar a uma visão estratégica da guerra. E esta não foi resultado somente dos interesses do ditador Solano López. Nem só das questões imperialistas da Inglaterra. Resume-se nos desejos, nas vontades dos países. Leia-se bem, dos, no plural. Como o recorte deste trabalho se dá na construção da verdade construída do conflito, veremos agora mais detalhadamente a versão tradicionalista, analisando o discurso utilizado pelas pessoas interessadas nesta guerra.

20 2 ANÁLISE DO DISCURSO 2.1 O discurso como imposição da verdade Estamos estudando um acontecimento do passado, mais precisamente no século XIX, quando estava no auge o positivismo 4. Porém, ao fazer-se uma análise mais profunda, alguns como Falcon (2002), Chartier (1991) e White (1994) dizem que de fato não existe um passado epistemológico. Ele só vai existir enquanto narrativas envoltas de discursos históricos que surgem como representações da realidade. Assim, se o passado chega até nós através de escritos, resta-nos saber em quais condições eles foram produzidos, e mais ainda a própria subjetividade do autor. Devemos entender também como se deu a urdidura desses enredos, reconhecendo o papel ativo da linguagem e dos textos na criação e descrição da realidade histórica. Foucault (1996, p.37) enfatiza veemente que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada e organizada por um certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos. Então, os interessados em manter seus poderes tendem a afirmar e reafirmar seus discursos em função da própria manutenção de seus interesses. Um meio bem eficaz da manutenção dessa ordem é o sistema de educação, como mais uma vez nos mostra Foucault (1996, p.44-45), o que é afinal um sistema de ensino senão uma ritualização da palavra; senão uma qualificação e uma fixação dos papéis para os sujeitos que falam [...]; senão uma distribuição e uma apropriação do discurso com seus poderes e seus saberes?. Pensamos, desta maneira, o discurso perpassado não só na área da educação, mas também nos meios jornalísticos, onde é o local por excelência que se difunde e se legitima os saberes culturais. A obra de Foucault nos força a consciência para uma apreensão do mundo na forma como este poderia ter existido antes de aparecer nele a própria consciência humana, um mundo que é 4 Doutrina que prega a ordem e o progresso. Ver Comte.

21 simplesmente o que parece ser. Este é o caminho buscado por todo o historiador, e não caberia aqui, neste momento, uma discussão acerca do que é verdade para a História. Assim, a análise do discurso deve mostrar à luz do dia o jogo da rarefação imposta com um poder fundamental de afirmação (FOCAULT, 1996, p.70). O nosso estudo é a Guerra do Paraguai e como o discurso oficial foi apresentado à população. Sabemos que tal discurso foi construído pelo Império brasileiro a fim de legitimar a guerra, embora seja interessante lembrar que esse discurso foi estabelecido pelo próprio governo imperial, que soltava apenas as informações convenientes para a imprensa. Vamos estudar, então, como de fato se deu a legitimação perante a população. Mas, para não cair na ingenuidade, recorreremos ao pensamento de Nietzche (apud RAGO; GIMENES, 2000, p.25), que traduz perfeitamente o que estamos buscando: O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível. Assim, estudaremos agora como a versão tradicionalista da guerra foi construída e divulgada nos jornais maranhenses, sem perder de vista que esse discurso traduz uma construção da história como artefato de manipulação do povo. 2.2 O jornal como forma de propagação do discurso Visto que as palavras de uma narrativa não conseguem de fato representar o que realmente se propõe a fazer, vamos partir agora para o nosso objeto de estudo: os jornais maranhenses. Trabalhamos com 3 (três) jornais maranhenses, a saber A Situação, O Publicador Maranhense e A Fé. Os dois primeiros constituem jornais oficiais da Província do Maranhão, enquanto o último se auto-intitula como jornal de cunho religioso. O Semanário Maranhense é literário, de caráter cultural. A grande guerra do Brasil com o Paraguai se dá no período compreendido entre novembro de 1864 a março de 1870. Porém, ao lermos os jornais antes do início do conflito, verificamos que muito pouco se falava do Paraguai. Às vezes ele

22 era citado, mas apenas de maneira a informar seus leitores do que estava acontecendo em seu território. O jornal O Publicador Maranhense (1864, p.2) afirmava que no Paraguay também não havia novidade. Os demais jornais, e mesmo o Publicador maranhense, discorrem abundantemente sobre a querela do Brasil com o Estado Oriental, leia-se Uruguai. O jornal A Situação (1864, p.3) afirma: Teve hontem lugar na câmara a discussão [...] relativas aos desgraçados negócios do Brazil com o Estado Oriental. [...] A política do governo no Estado Oriental era continuarem a ser os brazileiros assassinados e roubados por aquela horda de salteadores[...]. Percebe-se, então, que questões envolvendo o Paraguai não eram importantes para os leitores, sendo de ordem superior às questões com o Uruguai. Mas, enfim, o conflito explode. E o discurso muda. Agora, o Paraguai passa a ser não mais um país desprezível, mas sim um país de selvagens imprudentes, O facto ocorrido em Assunpção, com o Vapor Márquez de Ollinda, que foi tomado pello Paraguay, quando reinava entre o Império e aquella republica plena paz, quando nenhum motivo justificava a menor hostilidade[...]. (O PUBLICADOR MARANHENSE, 1865, p.3). É bom ressaltar que não só os jornais brasileiros publicavam comentários acerca do Paraguai, como também os jornais argentinos, amedrontados de seu vizinho militarizado, alertavam o governo que o perigo para a Argentina encontravase na pessoa do ditador López, que aspirava ser o Átila da América do Sul. (O PUBLICADOR MARANHENSE, 1865, p.3). Os jornais vão difundir também aspectos negativos dos paraguaios, dizendo, por exemplo, que eles tomavam os gados sem passar recibo, fazendo assim um verdadeiro saque (O PUBLICADOR MARANHENSE, 1865, p.2), e também publicando amplas linhas se reportando a fatos que demonstram a perversidade por parte dos paraguaios, como um fuzilamento que teria acontecido de 25 (vinte e cinco) índios por eles. O motivo seria que esses mesmos índios teriam vendido, e aqui é bom frisar que isso ocorre ao contrário dos saques dos paraguaios, gado ao exército brasileiro (O PUBLICADOR MARANHENSE, 1865, p.2) A demora para o fim do conflito estava exasperando as famílias brasileiras que perdiam seus homens, maridos e filhos. A população começava a estremecer diante das inúmeras convocações para a região do conflito. E toda essa situação

23 tinha que ter um culpado: o Paraguai, visto que o dictador López, entregue a uma certa inactividade, parece resolvido à lenta guerra de defensiva, [...], no intuito de prolongar o mais que lhe for possível o desenlace final da grande lucta travada e mantida há tanto tempo (SEMANÁRIO MARANHENSE, 1867, p.5). Constantemente se veiculava que os paraguaios andavam mal vestidos, descalços, que a maior parte de seus exércitos eram compostos por velhos e crianças. Dizia-se até que, quando da invasão do Mato Grosso, os paraguaios assassinaram famílias inteiras, deflorando mulheres ingênuas, como em um conto publicado no Semanário Maranhense, em 2 de fevereiro de 1868, número 23, página 03. E assim, por todos os anos em que o conflito se estendeu, os jornais vão difundindo uma imagem negativa tanto do Paraguai como o do seu ditador, agora não mais presidente, Solano López. A imprensa nacional, e, por conseguinte a maranhense, vão insistentemente veicular que a guerra nos foi provocada por López, mas não explica de maneira consistente o porquê. O jornal A situação em 29 de maio de 1869, página 02 publica um discurso do Imperador D. Pedro II aos deputados e senadores, no qual diz que são amigáveis as relações do Império com os governos das nações estrangeiras, excepto do Paraguay, onde tem prosseguido, com honra e gloria para o Brazil e para os nossos alliados, a guerra a que nos provocou o tirano López. Também o Semanário Maranhense (1867, p.7), afirma que neste empenho de honra, que não pode ser solvido senão com a derrota do bárbaro, que sem o menor motivo creou-nos a necessidade da guerra [...]. O imaginário da guerra era tão intenso, que Aluísio Azevedo (1994, p.17) em O Mulato, nos descreve uma viúva, triste, sozinha, vítima das desmesuras do ditador paraguaio, e nos narra como se deu a morte de seu esposo: D. Eufrasinha. Viúva de um oficial do quinto de infantaria, batalhão que morreu todo na Guerra do Paraguai [...]. Dez dias depois de casados, seguira ele para o campo de batalha e, no denodo da sua coragem, fora atravessado por uma bala de artilharia [...]. Assim, sem explicar quase nada e divulgando sempre que o culpado da guerra era o próprio Paraguai, a imprensa nacional apela ao patriotismo da população, clamando-a para que todos se unissem para defender o país do inimigo. E é desta maneira que o discurso oficial vai legitimar o conflito perante a opinião pública, levando-os a crer que realmente a pátria tinha sido ultrajada, que o nosso

24 país tinha tido a integridade territorial violada, que a honra de nossos cidadãos tinha sido transgredida. E vejamos, por toda a historiografia nos é passada a idéia de que realmente o Paraguai foi o grande tirano, pois estudamos a guerra do Paraguai, e não a guerra com o Paraguai. Um detalhe: quando o Brasil invade o Uruguai no intuito de colocar no poder os colorados (rivais dos blancos, apoiados pelo Paraguai), López declara que a política do governo imperial ameaçou deslocar o equilíbrio do Prata (Anexo B), e imediatamente declarou a guerra ao Brasil. Os jornais publicaram a declaração de guerra do Paraguai, mas em nenhum momento refutaram o que López afirmava acerca do equilíbrio da e na região da Bacia Platina ter sido afetada pela política externa brasileira. A Argentina também indagou ao Brasil quais seriam suas ambições na região platina, a respeito da ilha de Martin Garcia, onde, por tratados existentes entre os dois países, afirmava-se a neutralidade da ilha como forma de afastar a ameaça à livre navegação dos rios. Mas o governo portenho, ao ver a poderosa esquadra brasileira durante o conflito com o Paraguai, assustou-se com a possibilidade de tender o predomínio do Brasil na conquista da região, pois via-se claramente que o Brasil não achava rival na região (SEMANÁRIO MARANHENSE, 1867, p.6). Mais uma vez se interpelava ao Brasil sobre o equilíbrio na região platina. E mais uma vez o governo imperial fazia-se de surdo, e não dava resposta alguma. Como vimos no capítulo anterior, a guerra se justificou na busca da manutenção deste equilíbrio, servindo ao mesmo tempo aos interesses individuais de cada país envolvido. O governo do Paraguai afirmava que era necessário esta manutenção. O governo argentino se sentiu um tanto receoso quanto aos desígnios do Brasil na região. E diante destas circunstâncias, o governo imperial, tendo em seu comando D. Pedro II, imperador aos quatorze anos de idade, com sua personalidade marcada pelo quero já, se viu em uma situação de extrema comodidade quando o Paraguai lhe declarou guerra, posto que agora ele poderia contar com os brios de patriotismo de seus cidadãos para levar até o fim os seus objetivos. Assim, utilizando-se de todos os meios para arregimentar forças para a campanha com o Paraguai, o governo Imperial buscou, através da imprensa nacional, de fato, legitimar o conflito e, desta maneira, vencer a grande guerra do Brasil.

25 3 A PARTICIPAÇÃO DO MARANHÃO NA GUERRA 3.1 Os Voluntários e a Guarda-Nacional Assim que o conflito com o Paraguai eclode, o governo imperial envia um Aviso (26 de dezembro de 1864) para as províncias, solicitando aumentar o número de praças do exército e da armada e, inclusive, criar os corpos de Voluntários. O presidente da Província do Maranhão, na época, era o doutor Ambrósio Leitão da Cunha, que respondeu ao Aviso imperial dizendo que empregaria todos os esforços possíveis, apelando para o patriotismo do povo. O apelo à defesa da honra foi tamanho que o presidente provincial, em um ofício datado de 25 de fevereiro de 1865, diz: [...] vendo as tendências que se têm manifestado para a apresentação de voluntários, nas comarcas da capital, do Rosário e do Itapecuru-Mirim, mandei sustar nelas o recrutamento. (DUARTE, 1981, p.162). Assim, pode ser constatado que no início havia uma grande onda de patriotismo, principalmente da mocidade ludovicense. Formava-se, com esses jovens corajosos, o primeiro Batalhão de Voluntários da província do Maranhão, o qual recebera a numeração de 22 Corpo de Voluntários da Pátria, contando com um efetivo de 354 homens. Porém, como nos mostra o historiador Johny Araújo (2001), a formação de batalhões não foi algo tão fácil, pois os cofres da província não comportavam despesas relativas a destacamentos da Guarda Nacional para o serviço da guerra, além de demonstrar uma relativa preocupação com a segurança interna da província. Com a partida do 22 Batalhão, o Maranhão foi incumbido de fornecer mais homens, num total de 1.060 (um mil e sessenta), organizados em dois batalhões, o 36 e 37. O processo de arregimentação dos corpos da Guarda Nacional foi um tanto problemático, visto que a desorganização era seu principal motivo. Com a mudança de presidente da Província, em 14 de junho de 1865, assumiu o Sr. Lafayete Rodrigues Pereira, que conseguiu juntar 586 (quinhentos e oitenta e seis) praças, faltando ainda 474 (quatrocentos e setenta e quatro) homens para o Maranhão atingir sua cota (ARAÚJO, 2001, p.43-44).

26 Porém a dificuldade para completar o contingente foi muito grande, visto que era comum os guardas nacionais do interior se refugiarem nas matas para não marcharem para a guerra. Mas mesmo diante de tais dificuldades, o Maranhão continuou enviando sempre efetivos (em pequenos números), no intuito de preencher vazios causados por doenças ou mesmo nos combates (ARAÚJO, 2001, p.44). 3.2 A Igreja e a Guerra Desde a Carta de 1824 que a Igreja e o Estado caminham juntos, unidos pelo regime do Padroado. De acordo com este regime, o Estado tem o direito e o dever de se intrometer na gerência da Igreja, nomeando seus clérigos e inclusive repassar verbas para suas dioceses. Embora a Igreja se ressinta com o Estado, ela vai ocupar um lugar importantíssimo para o desenrolar da guerra. Esses ressentimentos são oriundos da entrada do protestantismo no Brasil, onde percebemos claramente essa questão: É assim, que devemos hoje seguir no Brazil, onde se observa infelizmente um indefferentismo intulerável [...]; é preciso espancar o protestantismo, sob pena de merecermos a censura de havermos abandonado o nosso posto (JORNAL A FÉ, 1864, p.4). A Igreja Católica, através do jornal A Fé, que se auto-intitula jornal religioso e literário, expressa um grave descontentamento em relação a um acontecimento ocorrido no Rio de Janeiro, mais precisamente em Niterói, em 24 de Novembro de 1865, o qual foi chamado de Questão Kelly. Aconteceu que o Sr. Kelly (estrangeiro) foi a uma casa em Niterói e, a portas abertas, diante de uma multidão atraída por ele mediante convites, circulares e anúncios, pregou doutrinas contrárias aos dogmas da santa Igreja Católica. E pior, contou ainda com a segurança da polícia do Império, de modo a salvaguardar sua vida. O fato foi amplamente discutido, e um clima de insatisfação reinou nos clérigos perante esta situação pois Kelly, escocês, pregava o protestantismo em uma nação onde a religião oficial era a católica (JORNAL A FÉ, 1865, p.4).

27 Porém, mesmo insatisfeita com as ações do governo imperial, a Igreja Católica vai ajudar (e muito) a dispor de forças e organizar a ida dos batalhões para a guerra. Inclusive, o clero da capital promoveu uma subscripção (espécie de lista de doações) para ser distribuída entre as famílias dos soldados piauienses e maranhenses que morreram na guerra com o Paraguai. Essa lista era publicada mensalmente e quem se inscrevia e não contribuía, tinha ao lado de seu nome a frase: não pagou, fazendo com que as pessoas incluídas realmente cumprissem com as suas obrigações (JORNAL A FÉ, 1865, p.4). A Igreja também exalta sua grande contribuição dizendo em notas publicadas que acolhia, nos conventos, os jovens do interior que se alistassem como Voluntários da Pátria, onde o Rev Provincial Fr. Caetano [...] animava-os evangelicamente à depositar no altar da patria offendida a defesa própria de um povo livre e independente (JORNAL A FÉ, 1865, p.4). Completando ainda que é assim que o clero presta sempre aos seu paiz bons officios. O Bispo do Maranhão, na época, vai contribuir com o que ele mesmo publica no jornal A Fé (1865, p.1), Em vista da posição excepcional porque passa o paiz, que se acha empenhado em sustentar uma justa guerra com um inimigo ingrato, tenho resolvido de, com as minhas companheiras 5, prestar serviço em testemunho de nossos sentimentos de caridade, amor, e dedicação á nossa Pátria, e, pois, nos offerecemos à cozer duzentas camizas para as praças que tem de seguir desta província em defesa da nação brasileira. E desta maneira a Igreja, além de estimular a doação para a causa da guerra, dando ela mesma o exemplo perante os seus fiéis, vai celebrar em sua matriz, por todos os sábados durante todo o período da guerra, uma missa a S. Sebastião, padroeiro desta cidade de São Luís, para que cesse a guerra atroz que devora nossos irmãos (JORNAL A FÉ, 1867, p.4). E mais, nas vésperas dos embarques dos nossos bravos soldados para a guerra, a Igreja promovia em suas missas discursos a fim de exaltar a coragem de nossos heróis e, com isso, ajudar o governo provincial a arregimentar forças (voluntários) para o preenchimento da cota que o Maranhão teria que contribuir. (Anexo C). 5 Entenda-se freiras.

28 Às vezes a Igreja se lembrava de seu abandono pelo Império, publicando notas em que dizia que o Brazil, absorto nas suas operações bellicas com o Paraguay, nem um minuto consagrou aos interesses religiosos do Imperio, [...] onde ouvem-se os gemidos da Egreja, que lamenta o seu fatal abandono. Assim a Igreja demonstra sua dependência ao governo e, em alguns casos, é chamada a atenção por se envolver em questões fora de sua alçada, onde o Bispo afirma ao presidente da província: [...] Tenho a honra de accusar o recebimento do officio [...], com as copias dos officios do Dr. Chefe de Polícia desta província [...]. A matéria desses officios nada mais é do que, que o Rvnd Vigário de San João de Côrtes Padre Lourenço Candido Ribeiro de Britto, invadindo a juris dicção das autoridades civis, sem delegação e sem poder próprio está procedendo com força armada um recrutamento forçado [...] (JORNAL A FÉ, 1866, p.1 e 2). Entretanto, a partir do momento em que o recrutamento não é mais voluntário e sim forçado (pois a onda patriótica do início do conflito em menos de 18- dezoito- meses se desfaz), a Igreja vai alforriar seus escravos a fim de contribuir com a defesa da Pátria, e mais uma vez incentivar seus fiéis a tomarem a mesma posição. 3.3 A Sociedade e os escravos Diante de inúmeros apelos à sociedade brasileira, tanto da Igreja quanto dos jornais, os maranhenses se enchem de brios e, mesmo aqueles que não vão de fato à guerra, dela participam de alguma maneira. Ou doam certas quantias em dinheiro, ou camisas e tecidos, ou mandam rezar missas, ou alforriam seus escravos e para a guerra os mandam. De alguma forma se contribui. Mas, com o deslocamento da Guarda Nacional para o Sul (juntamente com o exército e com os Voluntários da Pátria), o próprio presidente da Província vai sentir-se preocupado com o fato de que a população escrava ficou em número superior à livre, constituindo um verdadeiro perigo iminente (ARAÚJO, 1994, p.17), afinal, esta pobre gente (escravos) parece acreditar que a actual guerra tem alguma affinidade com a causa de sua libertação. (ARAÚJO, 1994, p.18).

29 Os escravos aproveitaram a falta de guarnição, principalmente na Baixada Ocidental, e fugiram. Nesses momentos de instabilidade Os quilombolas abandonavam as matas, transitando armados pelas estradas e invadindo as fazendas, a fim de insuflar aqueles que permaneciam sob o jugo dos seus senhores a abandonar os estabelecimentos e segui-los para os quilombos. (ARAÚJO, 1994, p.22). Como a maioria da população livre do interior se refugiou nas matas para fugir do recrutamento, uma grande desorganização sócio-econômica surgiu no Maranhão, onde: Com ataques periódicos de índios aos estabelecimentos de lavoura, o medo que os escravos infligiam aos lavradores com suas constante ameaças e atos de rebeldia, eram fatores suficientes para manter, no interior da Província, a classe senhorial em permanente estado de pânico e insegurança. (ARAÚJO, 1994, p.26). E não tardou as ameaças se concretizarem. Nos primeiros dias de julho de 1867, os escravos se rebelaram em Viana e ocuparam várias fazendas ao mesmo tempo. A rebelião corria o risco de se estender até o município de São Bento, visto que o aparato de defesa encontrava-se altamente desfalcado, inclusive de armas e, o fato de que os homens capazes de pegar em armas estivessem escondidos nas matas, agravava ainda mais a situação. Porém, como os pedidos foram muitos para que houvesse o cessamento pelo menos momentâneo do recrutamento, isto acabou acontecendo, e assim, com os homens livres pegando nas armas, os quais saíram das matas com a promessa de não mais terem de ir para a guerra, conseguiu-se esmagar o levante e a paz voltou a reinar em outubro de 1867. As mulheres também ajudavam a Pátria amada a vencer a guerra. Elas eram incentivadas a costurar fardas para seus maridos, filhos e amigos. Dizia-se nos jornais que: Quando por outras províncias o belo sexo nas suas forças apresenta-se a auxiliar o governo, será digno de todo o louvor que os collegios de meninas, escholas publicas e particulares, e as familias repartão entre si o trabalho de agulha, pedindo ao governo da provincia que lhes mande entregar as fardetas trabalhadas. (O PUBLICADOR MARANHENSE, 1865, p.4).

30 E para finalizar a participação dos maranhenses no conflito, o jornal O Publicador Maranhense, nos mostra que, quando se dá a final derrubada de Solano López, em 1870, publica que a população saiu às ruas, festejando a vitória do nosso país e a derrota do ditador paraguaio, exaltando a glória do Brasil e dando vivas ao Imperador, e aos maranhenses corajosos. (O PUBLICADOR MARANHENSE, 1870, p.2).

31 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Gostaríamos, primeiramente, de deixar bem claro, que este estudo não é somente um debate historiográfico, como alguns pretendem. Ao contrário, serve-se das visões acerca da origem do conflito para analisar como o governo imperial utilizou-se dos meios possíveis a fim de propagandear o conflito, e que até hoje nos é passado tais idéias. Algumas dificuldades foram encontradas, principalmente quanto às fontes ditas primárias (os jornais), pois nem todos se encontram micro-filmados. E pior, alguns têm muitas partes que se deterioraram, comprometendo o entendimento de seus textos. É interessante frisar que este trabalho não é um produto acabado, podendo surgir críticas e/ou complementos para o seu aprimoramento, pois quem o fez não é uma pessoa perfeita. Assim, constitui-se em um precursor de tantos outros estudos que poderão vir pela frente.

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33 JORNAL. O Publicador Maranhense, 24 de fevereiro de 1865, n 45. JORNAL. O Publicador Maranhense, 5 de Março de 1870, n 113. JORNAL. Semanário Maranhense, 8 de setembro de 1867, nº. 2. JORNAL. Semanário Maranhense, 2 de fevereiro de 1868, nº. 23. JORNAL. Semanário Maranhense, 22 de setembro de 1867, nº. 04 JORNAL. A Fé, 30 de dezembro de 1864, n 10. JORNAL. A Fé, 25 de fevereiro de 1865, n 14. JORNAL. A Fé, 7 de março de 1865, n 15. JORNAL. A Fé, 12 de junho de 1865, n 204. JORNAL. A Fé, 12 de janeiro de 1866, n s 35 e 36. JORNAL. A Fé, 9 de fevereiro de 1866, n 37. JORNAL. A Fé, 5 de maio de 1867, n 87. LOBATO, Monteiro. História do Mundo para Criança. São Paulo: Brasiliense, 1994. MOURA, José Carlos. Coleção Anglo. São Paulo: Anglo, 1990-1991. PINSKY, Jaime (org.). O ensino de história e a criação do fato. São Paulo: Contexto, 1997. POMER, Leon. Paraguai: nossa guerra contra esse soldado. 6.ed. São Paulo: Global, 1997. RAGO, Margareth; GIMENES, Renato. Narrar o passado, repensar a história. São Paulo: UNICAMP, 2000. SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército. RJ: Paz e Terra, 1990. SCWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. TAUNAY, Visconde de. A retirada da Laguna: episódio da guerra do Paraguai. São Paulo: Cia. das Letras, 1989. TORAL, André. Entre rettratos e cadávares: a fotografia na Guerra do Paraguai. Revista Brasileira de História. V. 19, n. 38. São Paulo, 1999. Disponível em www.scielo.com.br

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ANEXOS 35

36 Anexo A - Fases da Guerra (cronologia) 1864- O Brasil invade o Uruguai. Solano López rompe com o Império brasileiro e invade o Mato Grosso. 1865- O Uruguai capitula ante o Brasil e as tropas do general rebelde uruguaio Venâncio Flores, que forma novo governo. O Paraguai, na ofensiva, ocupa Corumbá, Miranda e Campo Grande, no Mato grosso, e entra no rio Grande do sul. López toma Corrientes e declara guerra a Argentina. Mas, na batalha naval de Riachuelo, a marinha paraguaia é aniquilada. 1866- Os aliados desembarcam no sul do Paraguai. Travam-se os combates de Estero Bellaco, Tuiuti, Boqueirão, Sauce, Curuzú e Curupaiti. O Paraguai paralisa a contra-ofensiva aliada. 1867- Bartolomé Mitre, presidente da Argentina (1862-1868), passa o comando dos aliados que morrem aos milhares pela cólera- ao Duque de Caxias. Combates de Arroio,- Hondo, Pare-cue e Tataíba. 1868- A esquadra brasileira bombardeia Assunção. No mesmo ano, López foge da fortaleza de Humaitá, que é ocupada. Começa a série de vitórias brasileiras conhecida como Dezembrada: Itororó, Avaí e Lomas Valentinas. 1869- Assunção é ocupada, mas López resiste no interior. Caxias é substituído pelo Conde D eu.novo governo toma posse no Paraguai. Declarado traidor, López é condenado à morte à revelia. Os aliados vencem a última batalha, Campo Grande. 1870- López é morto em Cerro Corá. Civis e militares lopistas são presos. O Paraguai perde todos os territórios reinvidicados.