ORALIDADE E ESCRITURALIDADE: CONTINUUM DE PRÁTICAS SOCIAIS E DISCURSIVAS I E L P 2 5 ª A U L A 1 9. 0 8 P R O F. P A U L O S E G U N D O
INTRODUÇÃO Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos nem uma dicotomia (MARCUSCHI, 2001: 17). Atualmente, seria melhor falar em escrituralidade nessa citação. Stubbs (1980) a fala tem uma primazia cronológica indiscutível sobre a escrita. A fala é adquirida naturalmente via socialização, ao passo que a escrita é adquirida em contextos formais da prática educacional, ou seja, na escola. Consequência maior prestígio da escrita.
ORALIDADE X ESCRITURALIDADE; LETRAMENTO X ALFABETIZAÇÃO (MARCUSCHI, 2001) Oralidade: práticas sociais interativas para fins comunicativos que envolvem gêneros textuais do domínio da proximidade comunicativa. Escrituralidade: práticas sociais interativas para fins comunicativos que envolvem gêneros textuais do domínio da distância comunicativa. Letramento: processo de domínio de práticas ou gêneros textuais do domínio da escrituralidade. Alfabetização: processo de aprendizado do código escrito/grafemático. Letramento Alfabetização: em geral, esses processos estão correlacionados, mas é possível estar inserido em práticas de letramento sem ser alfabetizado.
FALA X ESCRITA MODALIDADES DE USO DA LÍNGUA (MARCUSCHI, 2001) Fala: processo discursivo ou processo de produção textual que envolve formas orais de comunicação. Escrita: processo discursivo ou processo de produção textual que envolve formas materiais de constituição gráfica. Fala e escrita não se configuram em uma dicotomia. Além disso, a escrita não consiste em uma representação da fala. Trata-se de um continuum. Entretanto, nem sempre a visão foi essa.
(FALSAS) DICOTOMIAS BERNSTEIN (1971), LABOV (1972), OCHS (1979) Fala Contextualizada Dependente Implícita Redundante Não planejada Imprecisa Não normatizada Fragmentária Escrita Descontextualizada Autônoma Explícita Condensada Planejada Precisa Normatizada Completa Tal concepção, forte durante a década de 70, postulava uma menor complexidade à fala em relação à escrita. Além disso, considerava a primeira como o lugar do erro e do caos gramatical, enquanto concebia a escrita como a modalidade da norma e do bom uso gramatical. Quadro: Marcuschi (2001: 29)
(FALSAS) DICOTOMIAS OLSON (1977), ONG (1982), GOODY (1977) Cultura oral Pensamento Concreto Raciocínio prático Atividade artesanal Cultivo da tradição Ritualismo Cultura letrada Pensamento Abstrato Raciocínio lógico Atividade tecnológica Inovação constante Analiticidade Biber (1988) destaca a importância da linguagem escrita para o desenvolvimento da arte, da ciência e para o estabelecimento de uma educação formal. Entretanto, nega a polarização absoluta da visão culturalista da década de 70 e início da década de 80, tal qual exposta no quadro acima, de Marcuschi (2001). Três problemas emergem de tal dicotomização: 1. etnocentrismo; 2. supervalorização da escrita; 3. concepção totalizante da sociedade em termos de níveis de letramento.
FALA E ESCRITA EM CONTINUUM A hipótese que defendemos supõe que: as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica entre dois polos opostos (Marcuschi, 2011: 37). Oesterreicher (2006) Meio corresponde à manifestação física do discurso oral, por meio de sons (fones), ou escrita, por meio de símbolos fixados em determinado suporte (grafemas). Concepção, por sua vez, abrange as condições de comunicação do texto e as estratégias adotadas para sua formulação, tendo em vista o modo como o evento discursivo fora concebido ou estruturalmente planejado, de forma a revelar graus em um continuum entre proximidade e distância comunicativa.
MEIO E CONCEPÇÃO (OESTERREICHER) Concepção + Oralidade - Chat em redes sociais - Bilhete - Conversa espontânea - Entrevista Escrito - Artigo científico - Tese - Palestra - Telejornal Oral Meio + Escrituralidade
PERFIL CONCEPCIONAL DAS PRÁTICAS DISCURSIVAS + Oralidade (proximidade comunicativa) + Escrituralidade (distância comunicativa) Caráter privado de comunicação Caráter público de comunicação Intimidade ou familiaridade interpessoal; maior conhecimento partilhado Ausência de intimidade ou familiaridade; menor conhecimento partilhado Forte participação emocional Falta de participação emocional Inserção do discurso no contexto Não inserção do discurso no contexto situacional Referencialização direta (eu-aqui-agora) Referencialização indireta (ele-lá-então) Intensa cooperação Fraca cooperação Dialogicidade Monologicidade Espontaneidade Reflexão Pluralidade temática Fixação temática A proposta de Oesterreicher (2006) procura abarcar toda a realidade genéricointeracional a partir de perspectivas relacionadas a condições de produção comunicativas universais. Os componentes arrolados na tabela são potenciais e marcam pontos em um continuum que, na extrema esquerda, corresponderia a uma conversação espontânea entre pessoas íntimas (proximidade comunicativa) e, na extrema direita, ao discurso acadêmico ou jurídico escritos, por exemplo (distância comunicativa).