Os desafios de namorar com um estrangeiro Esse não é um texto em que vou contar como é namorar um espanhol porque eu realmente não acredito que exista O espanhol, já que cada pessoa é completamente diferente e os estereótipos são apenas isso: estereótipos que costumam ser diferentes da realidade. Mas isso não significa que não existam desafios ao se relacionar com um estrangeiro porque eles existem! Antes de vir para a Espanha, eu sempre disse que nunca namoraria um espanhol porque meu avô era filho de espanhóis e era bastante machista, então sempre fiz uma relação entre espanhóis e machismo. Como já comentei, não dá para generalizar e é claro que há muitos espanhóis que não são machistas e que eu queimei a língua depois que comecei a sair com o Juan. 1 / 5
Por isso, nesse post não vou falar especificamente de namorar/casar com um espanhol, mas sim sobre se relacionar com uma pessoa de outro país. Background cultural diferente Praticamente todas as referências que vocês têm vão ser diferentes, desde a maneira como são celebrados os aniversários até os rituais de morte, passando pelo esquema escolar e os programas de televisão. O Juan não entendia nada quando, em nosso primeiro Natal juntos, eu estava ansiosa para chegar meia-noite e abraçar e beijar a família dele porque aqui isso simplesmente não existe e não acontece nada especial à meia-noite do Natal. Pode parecer besteira, mas tem horas que você fica boiando nas conversas ou então passa vergonha porque faz ou fala coisas erradas. Da primeira vez que fomos convidados a um casamento e o pessoal falou que eu teria que pagar os talheres (cubiertos), eu achei que era pagar literalmente os talheres e fiquei achando que os noivos eram mão de vaca, quando na verdade essa é uma expressão que se refere a ajudar a pagar o casamento, já que muitos casais moram juntos e não fazem lista de presente, e sim pedem dinheiro no dia do casamento para pagá-lo. E também tem aquele momento em que você quer fazer uma referência a algum programa ou cantor e, é claro, ele não tem a menor ideia do que você está falando. O Juan nunca vai entender que eu queria que nosso filho se chamasse Renato porque amava o Renato Russo. Também nunca esqueço do dia que estávamos conversando e eu disse: nossa, parece aquele dia que o Silvio Santos sentou na barra da piscina e a barra caiu e ele se afogou e blablabla... tava toda empolgada rindo e contando e ele me pergunta: e quem é Silvio Santos? E quando ele fala que arroz e feijão é uma mistura que não tem sentido? Aí é DR na certa! Não ter família ou amigos do seu lado Não me refiro à saudade, que é uma constante, mas quando a gente mora em outro país e tem uma relação com um estrangeiro, essa pessoa nunca vai ter uma relação muito próxima com a sua família ou amigos, por mais carinho que tenha por eles. Morando aqui, nós não podemos conviver com eles, não temos histórias para compartilhar e isso é um pouco triste. 2 / 5
O peso na relação Se você tem uma relação com um estrangeiro e mora no país da pessoa, especialmente se foi para lá ou ficou por causa dela, é comum jogar um peso muito grande na relação, já que essa pessoa acaba fazendo o papel de família, de amigo E de namorado, enquanto ele/a sempre vai ter por perto os amigos e a família dele/a. Claro que é muita responsabilidade para uma pessoa só, por isso é importante saber equilibrar senão as chances de não dar certo são altas. Para mim, essa foi a parte mais difícil no começo, mas as coisas melhoraram bastante quando comecei a trabalhar e fiz meus próprios amigos. Além disso, não dá para ficar jogando na cara do outro que ficou por causa dele quando as coisas não dão certo. Afinal, a gente fica por um desejo próprio ou pelo menos é assim que deveria ser. Onde morar Para quem tem uma relação com um estrangeiro, sempre há a opção de morar no país de origem de um dos membros do casal ou em um terceiro país por motivos de trabalho, por exemplo. Ou seja, muita opção sempre causa confusão. No nosso caso, foi relativamente fácil. Eu já estava aqui, amava a cidade e queria ficar. Mas houve momentos, quando não conseguia encontrar emprego, que falamos em ir pro Brasil, mas sem nunca estabelecer prazos ou propor a sério, porque a gente sabia mesmo que queria ficar aqui. O problema é que nem sempre é tão fácil assim se decidir ou convencer o outro, porque um lado sempre tem que ceder mais. Casar A pergunta que sempre aparece depois de vocês vão casar? é onde?. Não temos planos de casar, mas se fossemos fazer isso, eu gostaria que fosse no Brasil porque minha família é muito maior e é claro que não daria para todo mundo vir. Além disso, sempre digo que já passamos o ano inteiro perto da família e dos amigos dele, então acharia justo que fosse no Brasil. Mas é claro que nem todo mundo ia sair feliz... 3 / 5
Ter filhos Outra dessas grandes questões da vida. Ter filho com um estrangeiro morando no exterior representa vários desafios. Na minha opinião, os mais complicados são: ter a minha família longe, ensinar português e ensinar a cultura brasileira. Mas também sempre passa pela minha cabeça: e se a gente se separasse e eu quisesse voltar? Se expressar em outro idioma Quando começamos a morar juntos, quase todos meus amigos do Máster tinham voltado para seus países e eu não encontrava trabalho, por isso me sentia muito sozinha e triste. A questão é que, embora já falasse espanhol fluentemente, eu tinha uma dificuldade enorme em expressar meus sentimentos em espanhol e isso só piorava quando eu chorava. Então, houve muitas vezes em que eu chorava e falava em português e o Juan, entendendo 10% do assunto, só me consolava e dizia que ia ficar tudo bem. Hoje em dia, essa dificuldade foi parcialmente superada porque eu ainda acho que não há nada como usar o idioma materno nessas horas, mas a vantagem é que o Juan já entende bastante português, então pelo menos já pode me consolar com algo mais que no pasa nada, hahahaha! Culturas e jeitos de pensar diferentes Sem dúvida, ter culturas diferentes pode representar problemas algumas vezes, embora eu acredite que o lado positivo é muito maior. Nesse sentido, acho que namorar um espanhol é fácil porque as culturas são próximas e não há um choque. Acho que a única coisa em que somos bem diferentes é na maneira de reagir, já que os espanhóis normalmente (mas com exceções) costumam ser muito diretos, do tipo dizer sim se você perguntar pra ele se está mais gorda. Tem gente que acha que é grosseria, mas eu já me acostumei e acho que é franqueza mesmo e entre eles não é visto como problema. Uma vez, uma amiga cortou o cabelo e não ficou muito bom, mas eu disse que tinha ficado, claro! O comentário do Juan ao vê-la pela primeira vez depois do corte: mas o que é isso que você fez no cabelo?. Quase morri de vergonha e depois comentei com ele que tinha sido grosseiro, mas aparentemente eu fui a única a ficar chocada. 4 / 5
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) Madrid por um dia, uma semana, um mês ou a vida inteira... Ter férias no Brasil Não me levem a mal, eu amo o Brasil e amo SP, mas gastar as férias (e a grana) indo para casa às vezes me dá uma dor no coração porque não é férias. No fim, você acaba tendo um monte de compromisso vendo as pessoas, resolvendo coisas burocráticas, comendo pastel, churrasco, feijoada... não é que seja ruim, mas eu adoro conhecer lugares novos, culturas novas, línguas diferentes... por isso é que eu não vou para o Brasil com tanta frequência, apesar de depois sempre ficar morrendo de saudades. E voltando à história do meu avô, tive uma grata surpresa ao descobrir que aqui há muito menos machismo do que eu pensava. Ainda há um longo caminho pela frente, mas estamos avançando. Alguém já passou por alguma dessas situações ou outra diferente? Me contem! 5 / 5