CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS DO PORTUGUÊS Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

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Transcrição:

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS DO PORTUGUÊS Afrânio da Silva Garcia (UERJ) afraniogarcia@gmail.com 1. Introdução O objetivo deste trabalho foi o de fazer um levantamento das conjunções adversativas do português contemporâneo e das diferenças porventura existentes entre elas. Para tanto, não nos limitamos simplesmente a quantificar a ocorrência dessa ou daquela conjunção, mas tentamos delimitar o tipo de ambiente em que elas ocorrem e a nuance significativa que cada uma delas transmite, a partir de determinados fatores sintáticos e semânticos, que serão objeto de discussão na próxima seção do trabalho. Resolvemos utilizar como corpus do trabalho três livros de um dos mais consagrados autores brasileiros contemporâneos, aclamado tanto pela crítica especializada quanto pelo público em geral: João Ubaldo Ribeiro. As obras escolhidas foram: Sargento Getúlio, representativa de uma linguagem bastante descuidada e informal, característica do personagem-narrador e da maneira como é narrada a história, através do fluxo de consciência; Livro de histórias, com uma linguagem bem mais cuidada e formal; e Política, com uma linguagem extremamente cuidada e formal, característica do discurso didático e científico. Quanto à originalidade e à validade do trabalho, acreditamos que qualquer tentativa séria de se precisar quais são as características distintivas das conjunções adversativas seria de extrema valia para o progresso dos estudos linguísticos do português, não só por se tratar de uma pesquisa nova (ao que se saiba, não existe praticamente nenhuma pesquisa já feita ou em vias de conclusão sobre o assunto) como também por lidar com uma parte tão importante para a comunicação, como é o caso das conjunções adversativas. 88 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

2. Fatores semânticos e sintáticos DEPARTAMENTO DE LETRAS 2.1. Função coordenativa e função coesiva O primeiro fator a se considerar ao analisarmos as conjunções adversativas é verificar se elas estão desempenhando uma função coordenativa, ou seja, se elas estão relacionando orações pertencentes a um mesmo período, ou se elas estão desempenhando uma função coesiva, isto é, se elas estão relacionando partes maiores do discurso, como períodos ou parágrafos. A partir daí, poderemos definir se a função desta ou daquela conjunção adversativa é, prioritariamente ou exclusivamente, juntar orações ou juntar períodos ou parágrafos. Parece-nos óbvio que uma subdivisão das conjunções com função coesiva faz-se necessária a partir desta distinção: aquelas que introduzem no discurso um novo período e aquelas que introduzem no discurso um novo parágrafo, visto um parágrafo ser uma unidade textual muito mais ampla do que um simples período. Para uma definição do que sejam coesão e função coesiva, recomendamos a leitura da introdução do livro Cohesion in English, de Halliday e Hasan (p. 1-30). 2.2. Posição na frase Um segundo fator a se considerar seria a posição das conjunções adversativas no interior da frase, de modo a delimitar quais as que ocorrem preferencialmente, ou sempre, em posição inicial e quais as que o- correm preferencialmente, ou sempre, em posição não inicial. No segundo caso, seria interessante, igualmente, verificar-se quais ocorrem em posição medial e quais ocorrem em posição final. 2.3. Mesma polaridade ou polaridades distintas O terceiro fator a se levar em conta é se a sentença introduzida pela conjunção adversativa tem a mesma polaridade que a sentença precedente ou se ambas têm polaridades distintas. Polaridade equivaleria à tradicional divisão das sentenças em afirmativas e negativas (cf. Cohesion in English, de Halliday e Hasan, p. 176). SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 89

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 2.4. Tipo de relação de sentido Um quarto fator a ser considerado seria o tipo de relação de sentido que se estabelece entre a oração, período ou parágrafo que contém a conjunção adversativa e a oração, período ou parágrafo a que a conjunção adversativa remete. Distinguimos três tipos básicos de relação de sentido: a) Oposição pura e simples em que o sentido de uma determinada porção do texto se opõe ao de outra, sem maiores complicações, como no exemplo abaixo. 1) Alípio queria falar, mas não podia,... (Sargento Getúlio, p. 15) b) Oposição ao esperado em que o sentido de uma determinada porção do texto se opõe ao que seria de se esperar a partir de uma outra porção do texto, como no exemplo que se segue. 2) Então se deu-se que a velha comeu o macaco mas o macaco saiu inteiro,... (op. cit., p. 105) c) Restrição em que uma determinada porção do texto se opõe a outra de uma maneira incompleta, como que restringindo o que fora dito anteriormente, como no exemplo abaixo. 3) Verdade que tem certos velhos que ainda são machos, mas esses é do tempo antigo, não é de hoje. (op. cit., p. 122) Além desses, encontramos algumas ocorrências de partes do texto introduzidas por orações adversativas que não se enquadravam em nenhum dos tipos acima, as quais foram reunidas sob a denominação outros. 2.5. Tipo de junção O último fator a ser estudado na nossa pesquisa das conjunções adversativas foi o tipo de junção entre o segmento de discurso que contém a conjunção adversativa e o segmento de discurso a que a conjunção adversativa remete. Consideramos de suma importância o fato de essa junção ser correlativa ou não. Junção correlativa seria aquela em que as duas partes do discurso estivessem de tal forma associadas que a primeira, dita prótase, prenunciaria a segunda, dita apódose. É importante notar, no entanto, que o fato de a prótase preparar a apódose ou de a apódose ser a conclusão lógica e 90 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS necessária do pensamento expresso pela prótase não implica, necessariamente, numa sequenciação temporal, como podemos ver no seguinte exemplo. (4) É não só bravo mas hábil. (CÂMARA JR., 1981, p. 87) Dividimos, portanto, as orações, períodos e parágrafos introduzidos por conjunção adversativa em dois tipos: aqueles que implicam uma junção correlativa e aqueles que implicam uma junção não correlativa. 3. Resultados da pesquisa 3.1. Resultados gerais da pesquisa Antes de estudarmos os resultados específicos da pesquisa, com relação a cada conjunção adversativa, vale a pena dar uma olhada nos resultados gerais da pesquisa. Foram encontradas 906 conjunções adversativas, distribuídas da seguinte maneira: CONJUNÇÃO Nº DE OCORRÊNCIAS PORCENTAGEM Mas 847 93,49% Contudo 24 2,65% Entretanto 16 1,77% Porém 15 1,65% No entanto 4 0,44% Em Sargento Getúlio, o livro cuja linguagem busca reproduzir o modo de falar descuidado e cheio de regionalismos do povo, foram encontradas 333 conjunções adversativas, distribuídas do seguinte modo: CONJUNÇÃO Nº DE OCORRÊNCIAS PORCENTAGEM Mas 328 98,5% Porém 4 1,2% Entretanto 1 0,3% Em Livro de histórias, expresso numa linguagem mais cuidada, embora coloquial, foram encontradas 378 conjunções adversativas, dispostas da seguinte forma: SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 91

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Conjunção Nº de Ocorrências Porcentagem Mas 360 95,26% Porém 10 2,64% Entretanto 5 1,32% Contudo 2 0,52% No entanto 1 0,26% Em Política, expresso na linguagem técnico-científica, altamente cuidada, ocorreram 195 conjunções adversativas, de acordo com a seguinte ordem: Conjunção Nº de Ocorrências Porcentagem Mas 159 81,54% Contudo 22 11,28% Entretanto 10 5,13% No entanto 3 1,54% Porém 1 0,51% Com relação ao tipo de função, tivemos os seguintes resultados, considerando-se o total de 906 conjunções: Coordenativa 627 69,2% Coesiva 279 30,8% introduz período 247 27,26% introduz parágrafo 32 3,54% Em Sargento Getúlio, os resultados foram os seguintes, para um total de 333 conjunções: Tipo de função Nº de Ocorrências Porcentagem Coordenativa 239 71,77% Coesiva 94 28,23% introduz período 91 27,32% introduz parágrafo 3 0,91 Em Livro de histórias, tivemos os resultados abaixo, para um total de 378 conjunções: Coordenativa 277 73,28% Coesiva 101 26,72% introduz período 84 22,22% introduz parágrafo 17 4,50% Em Política, os resultados foram como se segue, para um total de 195 conjunções: 92 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS Coordenativa 112 57,43% Coesiva 83 42,57% introduz período 72 36,92% introduz parágrafo 11 5,65 Com relação à posição na frase, tivemos os seguintes resultados, para um total de 906 ocorrências: Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 890 98,23% Meio de frase 16 1,77% Devido ao número reduzidíssimo de ocorrências de conjunção adversativa em meio de frase (não havendo sequer uma ocorrência de conjunção adversativa em fim de frase), deixaremos para estudá-las mais a- diante, quando abordarmos cada conjunção isoladamente. Com relação à polaridade, tivemos os seguintes resultados gerais, para um total de 906 ocorrências: Mesma polaridade 532 58,72% Polaridades distintas 374 41,28% Em Sargento Getúlio, os resultados foram os que se seguem, para um total de 333 ocorrências: Mesma polaridade 174 52,25% Polaridades distintas 159 47,75% Em Livro de histórias, os resultados foram os seguintes, para um total de 378 ocorrências: Mesma polaridade 249 65,87% Polaridades distintas 129 34,13% m Política, chegamos aos seguintes resultados, para um total de 195 ocorrências: Mesma polaridade 110 56,41% Polaridades distintas 85 43,59% No que concerne ao tipo de relação de sentido, tivemos os seguintes resultados gerais, para um total de 906 conjunções adversativas: SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 93

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Oposição 576 63,57% Oposição ao esperado 119 13,13% Restrição 176 19,43% Outros 35 3,87% Em Sargento Getúlio, chegamos aos resultados abaixo, para um total de 333 ocorrências: Oposição 182 54,65% Oposição ao esperado 67 20,12% Restrição 66 19,82% Outros 18 5,41% Em Livro de histórias, os resultados foram os que se seguem, para um total de 378 ocorrências: Oposição 287 75,92% Oposição ao esperado 43 11,37% Restrição 36 9,52% Outros 12 3.19% Em Política, atingimos os seguintes resultados. Para um total de 195 ocorrências: Oposição 107 54.87% Oposição ao esperado 9 4.61% Restrição 73 37.43% Outros 6 3.09% Por último, tivemos os seguintes resultados gerais com relação ao tipo de junção, para um total de 906 ocorrências: Correlativa 125 13.79% Não correlativa 781 86.21% Em Sargento Getúlio, os resultados foram os seguintes, para 333 ocorrências: Correlativa 39 11.71% Não correlativa 294 88.29% 94 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS Em Livro de histórias, obtivemos os seguintes resultados, para um total de 378 ocorrências: Correlativa 33 8.73% Não correlativa 345 91.27% Em Política, chegamos aos resultados abaixo, para um total de 195 ocorrências: Correlativa 52 26,67% Não correlativa 143 73,33% Com base no que foi observado nos resultados gerais da pesquisa, podemos afirmar que: a) A menos que o escritor João Ubaldo Ribeiro se desvie profundamente da norma padrão do português contemporâneo do Brasil, pode-se dizer que a conjunção todavia não é produtiva (ou é muito pouco produtiva) na modalidade brasileira do português nos dias de hoje. b) A supremacia da conjunção mas sobre as demais é incontestável (entre 98,5% e 81,5%). c) A locução conjuntiva no entanto é muito pouco usada no português de ultramar (entre 0,0% e 1,5%). d) As conjunções porém e contudo se comportam de maneira diametralmente oposta com relação ao tipo de linguagem empregado: quanto mais cuidada é a linguagem, mais se usa contudo e menos se usa porém, e vice-versa. e) Igualmente, quanto mais cuidada é a linguagem, tanto mais se usam as conjunções adversativas com função coesiva. f) O uso de conjunções adversativas em meio de frase é extremamente raro (0,67%). g) Ao que parece, o fato de o segmento de discurso introduzido pela conjunção adversativa ter ou não a mesma polaridade da oração ou sentença precedente não é relevante (entre 52,2% e 65,9% dos casos, a polaridade é idêntica). h) No que concerne às relações de sentido, embora a oposição pura e simples seja a mais frequente sempre, a taxa de uso de orações que ex- SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 95

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES pressam restrição vai aumentando conforme a linguagem passa a ser mais cuidada (de 19,8% para 37,4%). i) Já a taxa de uso de orações que expressam oposição ao esperado sofre o efeito inverso: quanto mais cuidada a linguagem, tanto menos ocorrem tais orações (de 20,1% para 4,6%). j) No que diz respeito ao tipo de junção, a junção não correlativa é muito mais frequente, embora a junção correlativa torne-se bastante frequente (26,7%) na linguagem didático-científica. Nas seções seguintes, estudaremos cada conjunção isoladamente, de modo a verificar se o tipo de conjunção empregado influencia os números acima. 3.2. Mas Foram encontradas 847 ocorrências da conjunção mas, as quais correspondem a 93,48% do total, sendo 360 em Livro de histórias (correspondendo a 95,23%), 328 em Sargento Getúlio (equivalendo a 98,49%) e 159 em Política (totalizando 81,53%). Como podemos notar, ocorre um decréscimo bastante significativo na sua taxa de frequência quando se emprega a linguagem didático-científica. Com relação ao tipo de função desempenhado pela conjunção adversativa, chegamos aos seguintes resultados: GERAL (847 ocorrências) Coordenativa 618 72,96% Coesiva 229 27,04% introduz período 209 24,67% introduz parágrafo 20 2,37% SARGENTO GETÚLIO (328 ocorrências) Coordenativa 236 71,95% Coesiva 92 28,05% introduz período 89 27,13% introduz parágrafo 3 0,92 96 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS LIVRO DE HISTÓRIAS (360 ocorrências) Coordenativa 272 75,55% Coesiva 88 24,45% introduz período 76 21,11% introduz parágrafo 12 3,34% POLÍTICA (159 ocorrências) Coordenativa 110 69,18% Coesiva 49 30,82% introduz período 44 27,67% introduz parágrafo 5 3,15% Com relação à posição na frase, não houve sequer um exemplo de utilização da conjunção mas em posição não inicial na oração. Além disso, tal uso soa por demais estranho, impossível mesmo no estágio atual da nossa língua. Com relação à polaridade, chegou-se aos seguintes resultados: GERAL (847 ocorrências) Mesma polaridade 492 58,09% Polaridades distintas 355 41,91% SARGENTO GETÚLIO (328 ocorrências) Mesma polaridade 170 51,82% Polaridades distintas 158 48,18% LIVRO DE HISTÓRIAS (360 ocorrências). Mesma polaridade 238 66,11% Polaridades distintas 122 33,89% POLÍTICA (159 ocorrências). Mesma polaridade 84 52,83% Polaridades distintas 75 47,17% Com relação ao tipo de relação de sentido, chegou-se aos seguintes resultados: SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 97

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES GERAL (847 ocorrências). Oposição 571 67,41% Oposição ao esperado 109 12,87% Restrição 132 15,58% Outros 35 4,14% SARGENTO GETÚLIO (328 ocorrências). Oposição 181 55,18% Oposição ao esperado 65 19,82% Restrição 64 19,51% Outros 18 5,49% LIVRO DE HISTÓRIAS (360 ocorrências) Oposição 286 79,44% Oposição ao esperado 38 10,55% Restrição 25 6,94% Outros 11 3,07% POLÍTICA (159 ocorrências) Oposição 104 65,41% Oposição ao esperado 6 3,77% Restrição 43 27,04% Outros 6 3,78% Com relação ao tipo de junção, os resultados foram os seguintes: GERAL (847 ocorrências) Correlativa 102 12,04% Não correlativa 745 87,96% SARGENTO GETÚLIO (328 ocorrências) Correlativa 37 11,28% Não correlativa 291 88,72% LIVRO DE HISTÓRIAS (360 ocorrências) Correlativa 31 8,61% Não correlativa 329 91,39% 98 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

POLÍTICA (159 ocorrências) DEPARTAMENTO DE LETRAS Correlativa 34 21,38% Não correlativa 125 78,62% Podemos concluir, a partir do que foi observado, que: a) A conjunção mas tende a ser muito mais usada com função coordenativa do que com função coesiva. b) Ao que parece, a polaridade não exerce grande influência no uso da conjunção mas. c) A conjunção mas é muito mais frequentemente usada para indicar o- posição pura e simples do que para indicar oposição ao esperado, restrição ou outros tipos de relação de sentido. (d) O emprego da conjunção mas no tipo de junção correlativa é bastante raro (exceto com relação à linguagem didático-científica, em que a taxa de frequência torna-se um pouco mais alta: 21,38%). e) Como já foi dito, a conjunção mas só ocorre em posição inicial na frase. 3.3. Contudo Foram encontradas 24 ocorrências da conjunção contudo, correspondendo a 2,65% do total, sendo 2 em Livro de histórias (0,52%) e 22 em Política (11,28%). Com relação ao tipo de função, tivemos os seguintes resultados: GERAL (24 ocorrências) Coordenativa 1 4,17% Coesiva 23 95,83% introduz período 19 79,17% introduz parágrafo 4 16,66% LIVRO DE HISTÓRIAS (2 ocorrências) Coesiva 2 100% introduz período 1 50% introduz parágrafo 1 50% SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 99

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES POLÍTICA (22 ocorrências) Coordenativa 1 4,55% Coesiva 21 95,45% introduz período 18 81,82% introduz parágrafo 3 13,63% Com relação à posição na frase, tivemos os seguintes resultados: GERAL (24 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de Frase 16 66,67% Meio de Frase 8 33,33% LIVRO DE HISTÓRIAS (2 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de Frase 2 100% POLÍTICA (22 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de Frase 14 63,64% Meio de Frase 8 36,36% Com respeito à polaridade, chegamos aos seguintes resultados: GERAL (24 ocorrências) Mesma polaridade 16 66,67% Polaridades distintas 8 33,33% LIVRO DE HISTÓRIAS (2 ocorrências) Mesma polaridade 1 50% Polaridades distintas 1 50% POLÍTICA (22 ocorrências) Mesma polaridade 15 68,18% Polaridades distintas 7 31,82% Quanto ao tipo de relação de sentido, os resultados a que se chegou foram: 100 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

GERAL (24 ocorrências) DEPARTAMENTO DE LETRAS Oposição 2 8,33% Oposição ao esperado 1 4,17% Restrição 21 87,50% LIVRO DE HISTÓRIAS (2 ocorrências) Restrição 2 100% POLÍTICA (22 ocorrências) Oposição 2 9,09% Oposição ao esperado 1 4,54% Restrição 19 86,37% Por último, com relação ao tipo de junção, os resultados foram os seguintes: GERAL (24 ocorrências) Correlativa 17 70,83% Não correlativa 8 29,17% LIVRO DE HISTÓRIAS (2 ocorrências) Correlativa 1 50% Não correlativa 1 50% POLÍTICA (22 ocorrências) Correlativa 16 72,73% Não correlativa 6 27,27% Como podemos observar, a conjunção contudo: a) É normalmente usada com função coesiva, em vez de função coordenativa. b) Tanto pode ser usada no começo quanto no meio da frase, embora seja mais usada no começo da frase. c) Tanto pode ser usada com orações que têm a mesma polaridade que aquelas às quais a conjunção remete, quanto com orações de polaridades distintas, apesar de o primeiro caso ser mais comum que o segundo. SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 101

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES d) É usada quase que exclusivamente para expressar a relação de sentido de restrição. e) É usada geralmente para expressar uma correlação (junção correlativa) entre dois segmentos do discurso. 3.4. Entretanto Houve 16 ocorrências da conjunção entretanto, correspondendo a 1,77% do total, sendo 1 em Sargento Getúlio (0,3%), 5 em Livro de histórias (1,32%) e 10 em Política (5,13%). Com relação ao tipo de função, obtivemos os seguintes GERAL (16 ocorrências) Coordenativa 1 6,25% Coesiva 15 93,75% introduz período 12 75% introduz parágrafo 3 18,75% SARGENTO Getúlio (1 ocorrência) Função Coesiva introduz período LIVRO DE HISTÓRIAS (5 ocorrências) Coordenativa 1 20% Coesiva 4 80% introduz período 2 40% introduz parágrafo 2 40% Política (10 ocorrências) Função Coesiva 10 100% introduz período 9 90% introduz parágrafo 1 10% Com relação à posição na frase, chegamos aos resultados abaixo: GERAL (16 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 12 75% Meio de frase 4 25% 102 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS SARGENTO GETÚLIO (1 ocorrência) Meio de frase (na verdade, ocorre após a contração no em início de período) LIVRO DE HISTÓRIAS (5 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 5 100% POLÍTICA (10 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 7 70% Meio de frase 3 30% Com respeito ao tipo de polaridade, os resultados foram os seguintes: GERAL (16 ocorrências) Mesma polaridade 10 62,5% Polaridades distintas 6 37,5% SARGENTO GETÚLIO (1 ocorrência) Polaridades distintas LIVRO DE HISTÓRIAS (5 ocorrências). Mesma polaridade 3 60% Polaridades distintas 2 40% POLÍTICA (10 ocorrências). Mesma polaridade 7 70% Polaridades distintas 3 30% Com relação ao tipo de relação de sentido, os resultados foram os seguintes: GERAL (16 ocorrências). Oposição 2 12,50% Oposição ao esperado 3 18,75% Restrição 11 68,75% SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 103

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES SARGENTO GETÚLIO (1 ocorrência). Oposição ao esperado LIVRO DE HISTÓRIAS (5 ocorrências). Oposição 1 20% Oposição ao esperado 1 20% Restrição 3 60% POLÍTICA (10 ocorrências). Oposição 1 10% Oposição ao esperado 1 10% Restrição 8 80% Quanto ao tipo de junção, chegamos aos seguintes resultados: GERAL (16 ocorrências) Correlativa 1 6,25% Não correlativa 15 93,75% SARGENTO GETÚLIO (1 ocorrência) Não correlativa LIVRO DE HISTÓRIAS (5 ocorrências) Não correlativa 5 100% POLÍTICA (10 ocorrências) Correlativa 1 10% Não correlativa 9 90% A partir do que foi exposto, chegamos às conclusões abaixo, em relação à conjunção entretanto: a) A sua função é quase sempre coesiva. b) O fator polaridade parece não ser de importância para sua utilização. c) Sua relação de sentido primordial é a de restrição. d) Sua posição é geralmente no início da frase. 104 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS e) Sua junção é, com raras exceções, não correlativa. 3.5. Porém A conjunção porém ocorre 15 vezes no corpus, correspondendo a 1,65% do total, sendo 4 em Sargento Getúlio (equivalente a 1,20%), 10 em Livro de histórias (2,64%) e 1 em Política (0,51%). Com relação ao tipo de função, os resultados a que se chegou foram: GERAL (15 ocorrências) Coordenativa 7 46,67% Coesiva 8 53,33% introduz período 6 40% introduz parágrafo 2 13,33% SARGENTO GETÚLIO (4 ocorrências) Coordenativa 3 75% Coesiva 1 25% LIVRO DE HISTÓRIAS (10 ocorrências) Coordenativa 4 40% Coesiva 6 60% introduz período 5 50% introduz parágrafo 1 10% POLÍTICA (1 ocorrência) Função Coesiva introduz parágrafo Quanto à posição na frase, tivemos os resultados abaixo: GERAL (15 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo da frase 11 73,33% Meio de frase 4 26,67% SARGENTO GETÚLIO (4 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 1 25% Meio de frase 3 75% SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 105

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Obs.: É importante notar, no entanto, que a conjunção porém que ocorre em começo de frase, ocorre após a conjunção mas. Meio de frase LIVRO DE HISTÓRIAS (10 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 9 90% Meio de frase 1 10% POLÍTICA (1 ocorrência) Quanto ao tipo de polaridade, os resultados foram os seguintes: GERAL (15 ocorrências) Mesma polaridade 11 73,33% Polaridades distintas 4 26,67% SARGENTO GETÚLIO (4 ocorrências) Mesma polaridade 4 100% LIVRO DE HISTÓRIAS (10 ocorrências) Mesma polaridade 6 60% Polaridades distintas 4 40% POLÍTICA (1 ocorrência) Mesma polaridade Quanto ao tipo de relação de sentido, os resultados foram: GERAL (15 ocorrências) Oposição 1 6,67% Oposição ao esperado 5 33,33% Restrição 9 60% SARGENTO GETÚLIO (4 ocorrências) Oposição 1 25% Oposição ao esperado 1 25% Restrição 2 50% 106 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

Restrição DEPARTAMENTO DE LETRAS LIVRO DE HISTÓRIAS (10 ocorrências) Oposição ao esperado 4 40% Restrição 6 60% POLÍTICA (1 ocorrência) Em relação ao tipo de junção, chegou-se aos resultados abaixo: GERAL (15 ocorrências) Correlativa 3 20% Não correlativa 12 80% SARGENTO GETÚLIO (4 ocorrências) Correlativa 2 50% Não correlativa 2 50% LIVRO DE HISTÓRIAS (10 ocorrências) Correlativa 1 10% Não correlativa 9 90% POLÍTICA (1 ocorrência) Não correlativa Podemos concluir, com relação à conjunção porém, que: a) O tipo de função parece não ter importância para o emprego da conjunção porém, visto as porcentagens serem quase as mesmas. b) A posição preferencial da conjunção porém é no começo da frase. c) É mais comum o uso da conjunção porém com sentenças que têm a mesma polaridade que aquelas a que remetem. d) É muito raro o emprego da conjunção porém em sentenças que expressam oposição. e) É menos comum o uso da conjunção porém com sentenças correlativas do que com sentenças não correlativas. SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 107

3.6. No entanto FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Houve 4 ocorrências da conjunção no entanto, correspondendo a 0,44% do total, sendo 1 em Livro de histórias (0,26%) e 3 em Política (1,54%). Não houve sequer uma ocorrência a da conjunção no entanto em Sargento Getúlio. Com relação ao tipo de função, os resultados foram os seguintes: GERAL (4 ocorrências) Coordenativa 1 25% Coesiva 3 75% introduz período 1 25% introduz parágrafo 2 50% LIVRO DE HISTÓRIAS (1 ocorrência) Função Coesiva introduz parágrafo POLÍTICA (3 ocorrências) Coordenativa 1 33,33% Coesiva 2 66,66% introduz período 1 33,33% introduz parágrafo 1 33,33% Com relação à posição na frase, os resultados foram: GERAL (4 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 3 75% Meio de frase 1 25% LIVRO DE HISTÓRIAS (1 ocorrência) Começo de frase POLÍTICA (3 ocorrências) Posição Nº de Ocorrências Porcentagem Começo de frase 2 66,66% Meio de frase 1 33,33% No tocante ao tipo de polaridade, todas as ocorrências da conjunção no entanto introduziam sentenças com a mesma polaridade que a sentença à qual remetiam. 108 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS Em relação ao tipo de relação de sentido, os resultados foram os que se seguem: Restrição GERAL (4 ocorrências) oposição ao esperado 1 25% Restrição 3 75% LIVRO DE HISTÓRIAS (1 ocorrência) POLÍTICA (3 ocorrências) Oposição ao esperado 1 33,33% Restrição 2 66,66% No que diz respeito ao tipo de junção, chegou-se aos resultados abaixo: GERAL (4 ocorrências) Correlativa 1 25% Não correlativa 3 75% LIVRO DE HISTÓRIAS (1 ocorrência) Não correlativa POLÍTICA (3 ocorrências) Correlativa 1 33,33% Não correlativa 2 66,66% As conclusões a que se chegou com relação à conjunção no entanto foram: a) Ao que parece, ela tende a ser usada mais com função coesiva do que com função coordenativa. b) Também parece ser preferencialmente empregada em começo de frase. c) Tudo indica que ela introduz exclusivamente sentenças com a mesma polaridade que a daquelas às quais remete. d) Parece não ser empregada para expressar oposição pura e simples e ser raramente empregada para expressar a oposição ao esperado. SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 109

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES e) Determina normalmente um tipo de junção não correlativa. Cabe ressaltar, no entanto, que o reduzido número de ocorrências não nos permite conclusões realmente precisas. 4. Conclusão Com base no que foi pesquisado, podemos afirmar que: a) A conjunção mas, como era de se esperar, detém uma supremacia quase que absoluta sobre as demais conjunções adversativas (entre 98,50% e 81,54%). b) Talvez a supremacia da conjunção mas se deva ao fato dela ser praticamente a única usada na modalidade mais popular da língua (isto é, menos cuidada), o que faria com que recorrêssemos a ela sempre que não estivéssemos diretamente preocupados com a linguagem (na linguagem descuidada de Sargento Getúlio, ocorrem 328 exemplos da conjunção mas contra apenas 5 exemplos de outras conjunções). c) Uma outra explicação para tal supremacia seria o fato da conjunção mas expressar prioritariamente a relação de sentido oposição pura e simples, a qual é muito mais frequente que as outras relações de sentido (entre 75,92% e 54,87%, em relação à soma das outras relações de sentido). d) Uma terceira explicação seria o fato da conjunção mas implicar, na maioria das vezes, função coordenativa (entre 75,55% e 69,18%), sendo o emprego de conjunções adversativas com função coordenativa muito mais frequente que seu emprego com função coesiva (entre 73,28% e 57,43% das ocorrências foram coordenativas). e) A posição padrão da conjunção adversativa no português contemporâneo do Brasil é, salvo exceções, no começo da frase: para um total de 906 ocorrências, houve apenas 16 casos (1,77%) em que a conjunção se encontrava em meio de frase e não houve sequer um em que estivesse no final da frase. f) A polaridade parece não ter influência no uso das conjunções adversativas, embora haja uma ligeira predominância de sentenças com a mesma polaridade que aquelas às quais a conjunção remete (entre 65,87% e 52,25%). g) O tipo de junção que se estabelece entre as sentenças introduzidas pela conjunção adversativa e a porção de texto à qual elas remetem é quase 110 SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011

DEPARTAMENTO DE LETRAS sempre não correlativa (entre 91,27% e 73,33%). Tal fato, no entanto, dependerá muito do tipo de conjunção empregado, como vimos anteriormente. h) As conjunções contudo e entretanto, por um lado, e porém, por outro lado, têm um comportamento diametralmente oposto: enquanto a frequência de contudo e entretanto vai aumentando conforme a linguagem vai ficando mais cuidada (de 0% e 0,3% em Sargento Getúlio para 11,28% e 5,13% em Política), a frequência de porém vai diminuindo (de 1,2% em Sargento Getúlio para 0,51% em Política), e vice-versa. i) A diferença básica entre contudo e entretanto parece estar no fato da primeira estabelecer um tipo de junção primordialmente correlativo (entre 70,83% a 72,73%), enquanto a segunda determina quase que exclusivamente uma junção não correlativa (entre 90% e 93,75%). j) As conjunções porém, contudo, entretanto e no entanto (quer dizer, todas exceto mas) expressam, na maioria das vezes, a relação de sentido restrição (entre 60% e 87,50%). k) Os números referentes à conjunção no entanto não nos permitiram chegar a conclusões acerca dela, exceto que ela é raramente usada no português escrito contemporâneo do Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMARA JR, J. Mattoso. Dicionário de linguística e gramática. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 1981. HALLIDAY, M. A. K. Introduction to functional grammar. Londres: Edward Arnold, 1985. ; HASAN, Ruqaya. Cohesion in English. Londres: Longman, 1979. MARQUES, Maria H. D. Iniciação à semântica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. RIBEIRO, J. Ubaldo. Sargento Getúlio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.. Livro de histórias. São Paulo Círculo do Livro, 1986.. Política. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011 111