2º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SAUDE & AMBIENTE 19 a 22 de OUTUBRO de 2014, BELO HORIZONTE /MG DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO E CONFLITOS TERRITORIAIS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM COMUNIDADES DO ENTORNO DO COMPLEXO INDUSTIAL PORTUÁRIO DE SUAPE Stevam Gabriel Alves 1, Solange Laurentino dos Santos². 1 Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: stevam_gabriel@hotmail.com 2 Orientadora e Professora Adjunta do Depto. de Medicina Social; E-mail: solaurentino@hotmail.com
Resumo O Complexo Industrial Portuário de Suape tem sido alvo de importantes investimentos tanto da iniciativa privada, como do setor público, tendo como premissa o desenvolvimento, não só da região como do estado de Pernambuco. Contudo tais empreendimentos têm originado inúmeros impactos, não só no ambiente, como também nas populações que tradicionalmente os ocuparam. Essas populações, apesar de utilizarem os recursos naturais existentes, geralmente são excluídas das decisões sobre o destino de seus territórios, onde no qual é a partir dele que é retirada muitas vezes sua fonte de subsistência, ou ainda pior, estas pessoas, que apresentam um modo de vida de baixo impacto ambiental, são deslocadas de áreas já historicamente ocupadas por elas, para regiões distantes e que não possibilitam a permanência de seus hábitos e modos de vida. Palavras Chaves: Grupos de Risco, Meio Ambiente, Vulnerabilidade Social. O presente artigo foi elaborado a partir das primeiras análises em campo para a elaboração de minha Dissertação de Mestrado na Universidade Federal de Pernambuco
CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM COMUNIDADES DO ENTORNO DO COMPLEXO INDUSTIAL PORTUÁRIO DE SUAPE 1. INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, o rápido desenvolvimento que o Brasil tem vivenciado possibilitou grandes transformações, resultando em novas formas de produção e ocupação territorial. Com isso, houve aumento da utilização dos recursos naturais e da industrialização, o que contribui para a alteração e degradação do meio ambiente, expondo a população a riscos e perigos de contaminação (REIS et al., 2012). Os problemas ambientais decorrentes desse comportamento conformam sistemas complexos nos quais intervêm processos sociais, econômicos e políticos (AUGUSTO, 2005). Neste contexto, os problemas ambientais se acumulam e representam situações de risco, com impactos crescentes na qualidade do ar, da água, do solo e na saúde da população (PORTO, 1997). De acordo com Reis et al. (2012), apesar do desenvolvimento humano ligado ao processo de urbanização e industrialização ser analisado positivamente, percebe-se que o mesmo se tornou um problema de saúde pública e, mais especificamente, da saúde ambiental, pois esse crescimento nem sempre foi acompanhado de melhorias sociossanitárias, e os desafios persistem. Em Pernambuco, o Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros Suape tem recebido, nos últimos anos, uma série de investimentos tanto do setor público quanto do privado, gerando um grande ciclo de crescimento econômico. Sua importância estratégica vai além do Estado e é considerado como um importante indutor do desenvolvimento regional. Situado na porção Sul da Região Metropolitana do Recife, distante cerca de 40 quilômetros da capital, está entre os municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, com acesso a partir da BR-101 e da PE-60. Já o Território Estratégico de Suape (figura 1) compreende oito municípios: Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca (Zona de influência direta); Jaboatão dos Guararapes, Escada e Moreno (Zona de influência indireta); Ribeirão, Sirinhaém e Rio Formoso (PERNAMBUCO, 2012).
Figura 1 Território Estratégico de Suape. Fonte: http://escadaedesenvolvimento.files.wordpress.com/2011/03/terr-suape.png. Essa concentração de investimentos representa uma boa perspectiva de desenvolvimento e crescimento. Porém, traz no seu bojo, os risco de conflitos socioambientais, a exemplo de degradação ambiental e a migração intensa e irregular que acarreta em aumento da demanda por habitação, transporte, serviços sociais, além de infraestrutura e demais serviços, tanto para os usos residenciais quanto produtivos (BRAGA, LIMA, 2009). OBJETIVOS: Investigar a correlação entre os conflitos socioambientais existentes nas comunidades diretamente ligadas às áreas do Complexo Industrial e Portuário de SUAPE, com as atividades produtivas desta área. Realizar diagnóstico socioambiental das comunidades do entorno do complexo, compreendendo as áreas de Mercês e Massangana. METODOLOGIA As comunidades estudadas estão inseridas dentro do Complexo Industrial Portuário de Suape. Para o desenvolvimento da pesquisa foram necessárias algumas visitas onde, através de conversas com alguns moradores e constatações visuais, identificamos alguns aspectos sociais, econômicos e ambientais que devem ser contemplados no trabalho. A pesquisa
bibliográfica foi de grande importância para o melhor entendimento sobre a relação entre saúde, ambiente e território e os conflitos existentes nas comunidades com o CIPS. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os primeiros contatos com o objeto estudado, a partir da revisão de literatura e de reuniões com a administração do CIPS e a Sec. De Saúde do Estado de PE possibilitaram, numa primeira abordagem, o levantamento e a identificação de conflitos sociais de duas categorias: o agrário-fundiário relacionado à questão de posse e uso da terra para fins de moradia e produção; e o socioambiental relacionado ao conceito de (Acselrad, 2004), onde os conflitos socioambientais ocorrem quando são envolvidos grupos sociais com modos diferenciados de apropriação, uso e significado do território. São originados quando pelo menos um dos grupos sofre ameaças em relação continuidade das formas sociais de apropriação do seu meio. Estas ameaças podem acontecer por impactos indesejáveis ocorridos com o solo, água, ar ou sistemas vivos, decorrentes do exercício e das práticas de outros grupos. Dessa forma, o conflito socioambiental é visualizado quando surgem os desequilíbrios ambientais, em consequência de atividades antrópicas. Engenho Mercês A comunidade do Engenho Mercês está localizada na Zona Industrial Portuária do CIPS no município de Ipojuca e é cortada pelas principais vias de acesso à área do porto. Os grandes empreendimentos como a Refinaria Abreu e Lima, M&GPolímeros, Petroquisa, etc. estão situados nas terras desse antigo engenho, de onde nasce o Rio Tatuoca, cujas nascentes localizam-se na área de instalação da Refinaria. Por estar localizada em meio a esses grandes empreendimentos, as famílias da presente comunidade, serão realocadas mediante indenização. Essas retiradas vêm ocorrendo aos poucos, na medida em que são instalados novos empreendimentos. Outro fator que a administração de Suape alega para a realocação dessa comunidade é o fato de estar susceptível a alguma contaminação advinda da refinaria, uma vez que, os dutos da refinaria Abreu e Lima estão localizados abaixo da comunidade e caso ocorra algum vazamento de efluente, a comunidade seria a principal afetada. Segundo informações fornecidas pela liderança comunitária, a comunidade possui aproximadamente 460 famílias que não vivem mais apenas da agricultura e da pesca por conta das exceções de Suape e também pela falta de investimentos públicos. Entretanto, algumas famílias ainda utilizam os manguezais do estuário do rio Tatuoca para a pesca de subsistência,
e de árvores frutíferas como o cajueiro, a mangueira, coqueiros etc... Cuja oferta natural vem diminuindo justamente gradativamente por conta da retirada dessa vegetação para a construção das novas empresas. A comunidade carece de serviços sociais, principalmente de serviços saúde, pois, não há nenhum posto médico, sendo necessário o deslocamento até os Municípios de Ipojuca e do Cabo. Outra carência é a de infraestrutura, uma das reclamações dos moradores a falta de calçamento das ruas, em sua maioria de barro, dificultando bastante o acesso quando chove. É visível que a comunidade está praticamente abandonada pelo poder público local e assim aos poucos, a comunidade vai sendo cercada por indústrias que dificultam ainda mais os principais acessos à localidade. Foto 1- Refinaria Abreu e Lima localizada no Engenho Mercês. Fotografo: Stevam Gabriel. Observa-se na comunidade do Engenho Mercês um espaço social que ainda vem sendo utilizado pelos seus residentes como espaço de valor de uso, demonstrado pela interação de todos os agentes sociais no seu cotidiano, ao utilizar-se dos recursos naturais, mangue e fruteiras, inerentes aos pequenos modos de produção, inerentes aos grupos mais vulneráveis no processo da dominação do capital sobre a terra e o campo (LEFEBVRE, 1991, ROSSINI, 2009). Engenho Massangana A comunidade do Engenho Mercês está localizada na Zona Industrial Portuária de Suape no litoral sul município do Cabo de Santo Agostinho a cerca de 50 Km do Recife.
Até o presente momento da pesquisa, identificamos alguns conflitos socioambientais causados principalmente pela necessidade de expansão e ocupação territorial por parte dessas grandes companhias e grupos econômicos internacionais que estão se estabelecendo no CIPS, a poluição, a transformação acelerada da paisagem local, dentre outros fatores, constituem problemas reais que de uns tempos pra cá, começam a incomodar a comunidade. Vale ressaltar que os dez hectares atuais da comunidade estão cercados não só por indústrias, estradas e viadutos, mas também por moradias de uma comunidade pobre e desprovida de serviços principalmente de saúde, pois, não dispõe de um posto médico e de infra-estrutura uma vez que as ruas são de barro e o acesso se torna difícil quando chove; não dispõe de saneamento básico, habitações precárias. Figura 1. Localização do Engenho Massangana no Complexo Industrial de Suape. Fonte: www.google.com.br/maps Figura 2. Imagem de satélite do Engenho Massangana. Fonte: www.google.com.br/maps
Como citado anteriormente, a consolidação do polo de Suape começa a gerar outros problemas que vem sendo observados na área: insuficiência na infraestrutura, dificuldades de acesso, carência de um sistema viário e de transportes que atenda à demanda atual dos que lá trabalham. O Engenho está próximo à principal estrada de acesso a Suape que já não é mais suficiente para atender o fluxo de veículos, nem tem a manutenção adequada, apresentando problemas de congestionamento e falta de segurança para todos que a utilizam. Por conta do atual crescimento econômico de Suape, surge à esperança de emprego para um grande contingente de trabalhadores e desempregados, observa-se no Engenho Massanga um fluxo desordenado através do aumento perceptível no número de invasões e construções irregulares. Até o presente momento não houve nenhum problema em relação a essa questão, mas se isto continuar a se desenvolver sem a intervenção do Estado, é certo que futuros problemas irão acontecer.
CONCLUSÃO Em conclusão, foi observado que em áreas de grandes empreendimentos, como o Complexo Industrial e Portuário de Suape, os desafios são grandes. Os processos de desenvolvimento econômico, sobretudo quando ocorrem de modo rápido, interferem nas relações entre homem e meio ambiente, determinando ou contribuindo para a existência de condições e situações de risco que interferem nos níveis de saúde das populações, influenciando ou alterando os perfis de sua vida.
REFERÊNCIAS ACSELRAD, HENRI. (2004). As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais. In Henri Acselrad (Org.), Conflitos Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará. AUGUSTO, L. G. S.; CARNEIRO, R. M.; COSTA, A. M. (2005). Vigilância Ambiental: um novo conceito uma nova abordagem. In: AUGUSTO, L. G. S.; FLORÊNCIO, L.; CARNEIRO, R. M. (Org.). Pesquisa (ação) em Saúde Ambiental: Contexto, Complexidade, Compromisso Social. 2. ed. Recife: Ed. Universitária da UFPE. p. 31-38. BRAGA, M C A, LIMA, A S Q. (2009). Território estratégico de Suape: diretrizes para uma ocupação sustentável. Humanae, v.1, n.3, p.54-65. LEFEBVRE, Henri. The production of space. Oxford: Blackwell, 1991. MICHELS, C. et al. (2004). Avaliação de Risco à Saúde Humana em Terminais de Armazenamento de Petróleo e Derivados: estudos de casos. In: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS, Cuiabá. p. 1-12. Disponível em: <http://www.remas.ufsc.br/publicacoes/apcn031.pdf.> Acesso em: 19 nov. 2012. PE DESENVOLVIMENTO. Disponível em: http://pedesenvolvimento.com/os-municipios/ <acesso em: 20 de novembro de 2013> PORTO, C. C. et al. Anamnese. In: PORTO, C. C. (1997). Semiologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1. ed., cap. 2, p. 37-47. REIS, M. M. et al. A estruturação da vigilância da qualidade do ar relacionada à saúde humana no município de Volta Redonda / RJ : incorporando os diversos atores sociais. Disponível em: <portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/mso2a6.pdf.> Acesso em: 19 novembro de 2013. ROSSINI, ROSA ESTER. A produção do novo espaço rural: pressupostos gerais para compreensão dos conflitos sociais no campo. CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária, v. 4, n. 8, p. 5-28, ago. 2009. SILVEIRA, KARLA AUGUSTA. (2010). Conflitos socioambientais e participação social no Complexo Industrial Portuário de Suape, Pernambuco. Karla Augusta Silveira. - Recife: O Autor.