ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL E SUSCETIBILIDADE AOS RISCOS NOS BAIRROS BARROSO, CAJAZEIRAS E JANGURUSSU: CIDADE DE FORTALEZA CEARÁ

Documentos relacionados
UNIDADES ECODINÂMICAS DA PAISAGEM DO MUNICÍPIO DE JEREMOABO- BA.

Trabalho de Campo. Disciplina: Quantificação em Geografia Docente: Profa. Dra. Iara Regina Nocentini André

Utilização de Técnicas de SIG e de Campo para Identificação de Áreas Sensíveis com Intuito de Regularização Fundiária

ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE JARDIM OLINDA - PR

MUDANÇAS NA FORMA DE DELIMITAR A ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTES (APP) DOS RIOS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA OS RIOS SEMIÁRIDOS.

ESTUDOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MORTO JACAREPAGUÁ/RJ

AVALIAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DO USO DO SOLO NOS BAIRROS ROQUE E MATO GROSSO EM PORTO VELHO RO

ESTUDO DE CASO DA VULNERABILIDADE À OCUPAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE BLUMENAU (SC-BRASIL) COM APLICAÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) 1

MAPEAMENTO DE ÁREAS SUSCETÍVEIS À EROSÃO NO MUNICÍPIO DE UBÁ-MG RESUMO

O 2º do artigo 22 passa a vigorar com a seguinte redação:

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA SUB-BACIA DO RIO INGAÚRA, SÃO LUIS (MA).

ANÁLISE CARTOGRÁFICA DO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG

Alterações no padrão de cobertura da terra na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ nos anos de 1985 e DOMINIQUE PIRES SILVA

Retrospectiva sobre regimes hidrológicos e importância do planejamento urbano na prevenção quanto a eventos extremos

ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO LITORAL DE CAPONGA, CASCAVEL-CE

Geógrafo Frank Gundim Assessora Especial de Planejamento do DER-RJ

VULNERABILIDADE SOCIAL DO MUNICÍPIO DE NATAL, RN, BRASIL: METODOLOGIA E APLICAÇÃO 1

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA. Prof.ª Larissa da Silva Ferreira Alves TCC II

AVALIAÇÃO EMPÍRICA DE PARÂMETROS AMBIENTAIS APLICADOS AO MUNICÍPIO DE CRISTINÁPOLIS, SERGIPE

ESTUDO DA OCUPAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO DOS PEREIRAS (IRATI-PR)

AS FAVELAS DA GRANDE ARACAJU

VULNERABILIDADE AMBIENTAL DOS SISTEMAS LACUSTRES DO LITORAL CEARENSE: O CASO DA LAGOA DAS ALMÉCEGAS, PARAIPABA, TRAIRI CE, BRASIL

DIAGNÓSTICO E MONITORAMENTO DO ASSOREAMENTO NO RIO SÃO FRANCISCO ENTRE PETROLINA-PE E JUAZEIRO-BA.

B) Aponte duas causas para o aumento do consumo mundial de água das últimas décadas do século XX até os dias atuais.

Dia 10/12/2014 Eixo 1

USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO XIDARINI NO MUNICÍPIO DE TEFÉ-AM.

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental FRAGILIDADE POTENCIAL E EMERGENTE NO BAIRRO BRIGADEIRO TOBIAS, SOROCABA SP

GEOMORFOLOGIA ANTRÓPICA E RISCOS GEOMORFOLÓGICOS NA MICROBACIA DO CÓRREGO ÁGUA FRIA, ANÁPOLIS (GO) Andrelisa Santos de Jesus 1 ; Homero Lacerda 2

2. AS PAISAGENS NATURAL E CULTURAL DAS UNIDADES FEDERATIVAS

MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE ARAXÁ MG, UTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO ROCHA, M. B. B. 1 ROSA, R. 2

SOBRINHO, J. Falcão ; ROSS, J. L. S.. O Processo de Erosão em Ambiente de Superfície Sertaneja - Varjota (CE). Geousp, v. 21, p.

RESUMO. Palavras-Chave: Degradação, microbacia do riacho Mucambinho e Planejamento.

IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NO SISTEMA HIDROLÓGICO - INUNDAÇÕES NO MUNICÍPIO DE GUARUJÁ SP

MAPEAMENTO DIGITAL E PERCEPÇÃO DOS MORADORES AO RISCO DE ENCHENTE NA BACIA DO CÓRREGO DO LENHEIRO SÃO JOÃO DEL-REI - MG

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE RISCOS E DESASTRES NATURAIS NA AMAZÔNIA PLANO DE TRABALHO

OCUPAÇÃO ESPACIAL E AS ENCHENTES EM SÃO JOÃO DEL- REI

Anexo X Programas Temáticos

O III PLANO DIRETOR E A ZONA NORTE: A questão do rururbano na cidade de Pelotas-RS

ESTUDO DA FRAGILIDADE AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE CARIACICA- ES: CONTRIBUIÇÃO PARA O PLANEJAMENTO MUNICIPAL

A expansão urbana sobre o relevo do Município de Porto Alegre RS

DINÂMICAS GEOAMBIENTAIS: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

RESUMO. Rafael Carvalho Santos

Palavras Chave: segunda residência; produção do espaço urbano; dinâmica imobiliária; Santos SP; segregação socioespacial 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Uso de geotecnologias para mapeamento de enchentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sapê

2. Contestando o Tratado de Tordesilhas, o rei da França, Francisco I, declarou em 1540:

Avaliação de perigos e riscos de inundação em Campos do Jordão (SP) aplicada à gestão local de risco de desastres

ANALISE DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO BAIXO CURSO DO RIO MARANGUAPINHO EM FORTALEZA CE. Eixo Temático: Problemas Socioambientais Urbanos e Rurais.

Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p

CONTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA PARA O ESTUDO DOS RISCOS NA SERRA DO PILAR, V. N. DE GAIA

Programa de Retomada de Conteúdo

Riscos de inundações fluviais e estuarinas

APLICAÇÃO DE GEOTECNOLOGIAS NA ANÁLISE DE ÁREAS SUSCEPTÍVEIS AO ALAGAMENTO NA CIDADE DE BOA VISTA-RR

CLASSES DE DECLIVIDADE DA SUB-BACIA HIDROGRAFICA DO RIACHO DO SANGUE CE: AUXILIO A GOVERNANÇA TERRITORIAL

Riscos Naturais em Portugal

Córregos Urbanos de Mossoró-RN e Risco de Inundação

HIERARQUIZAÇÃO DAS MORADIAS EM SITUAÇÃO DE RISCO GEOMORFOLÓGICO ASSOCIADO À DINÂMICA FLUVIAL NA VILA URLÂNDIA, SANTA MARIA RIO GRANDE DO SUL¹

TESES E DISSERTAÇÕES

ANÁLISE COMPARATIVA DA FRAGILIDADE AMBIENTAL COM APLICAÇÃO DE TRÊS MODELOS

ESCOLA ESTADUAL DR. JOSÉ MARQUES DE OLIVEIRA - ANO 2016 TRABALHO DE ESTUDOS INDEPENDENTES

Geografia. Estrutura Geológica do Brasil. Professor Luciano Teixeira.

RISCOS GEOMORFOLÓGICOS E HIDROLÓGICOS NA MICROBACIA DO CÓRREGO DOS CESÁRIOS EM ANÁPOLIS (GO)

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

ELABORAÇÃO DE MAPA GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE SP.

Problemas Socioambientais no Córrego do Barbado, trecho do Bairro Jardim das Américas, Cuiabá - MT

II Semana de Geografia UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006

PORTARIA Nº 115/2013 PROGRAD/UFPR, de 09 de setembro de Aprova Ajuste Curricular no Curso de Geografia aplicável à Resolução 67/08-CEPE.

Reis, Claudio Henrique; Amorim, Raul Reis Imprensa da Universidade de Coimbra; RISCOS - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança

Representação de áreas de riscos socioambientais: geomorfologia e ensino

O USO E OCUPAÇÃO DA BACIA DO ALTO CURSO DO RIO UBERABINHA, MG E OS REFLEXOS NA PERMEABILIDADE DO SOLO E NA RECARGA DA ZONA SATURADA FREÁTICA

ESTUDO PLUVIOMÉTRICO E FLUVIOMÉTRICO PRELIMINAR NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO EMBU-GUAÇU, SP.

PROJECTO: Geologia das Áreas Urbanas GEOURBE Gabriela Pires

A EXPANSÃO URBANA NA REGIÃO LESTE DA CIDADE DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA (SP) E A FORMAÇÃO DE NOVAS CENTRALIDADES

RELAÇÃO ENTRE EXPANSÃO URBANA E O RELEVO LOCAL O CASO DO MUNICÍPIO DE SOROCABA (1)

Dinâmica da paisagem no parque nacional de Jurubatiba e seu entorno (Rio de Janeiro, Brasil)

O PROCESSO INTERATIVO NA ELABORAÇÃO DA CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO

O CRESCIMENTO URBANO E OS IMPACTOS SÓCIOAMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS:

MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE RISCO À INUNDAÇÃO NA CIDADE DE GUARAPUAVA-PR

SUMÁRIO Unidade 1: Cartografia Unidade 2: Geografia física e meio ambiente

Planejamento Ambiental

EVIDÊNCIAS DE RISCOS A INUNDAÇÕES E ALAGAMENTOS A PARTIR DA LEITURA DA PAISAGEM NO BAIXO CURSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO

PROJETOS DE PESQUISA VINCULADOS AO MESTRADO PROFISSIONAL EM GEOGRAFIA

Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) RISCOS A INUNDAÇÃO NA CIDADE DE JOÃO PESSOA-PB

DIAGNÓSTICOS DE PROCESSOS EROSIVOS NO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA MS

Riscos Naturais e Protecção Civil. 16 de Dezembro de 2010 Escola Secundária de Barcelinhos

LEGISLAÇÃO URBANA DE JUIZ DE FORA

Revisão do Plano Diretor Estratégico Desafios para a Revisão do PDE SMDU DEURB

I - METOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO

Incompatibilidade legal de uso e ocupação do solo em Caçapava do Sul RS (2012) 1 RESUMO

X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste

GESTÃO AMBIENTAL E POLITICAS PUBLICAS. INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO NA EROSÃO DA ÁREA COSTEIRA NA PRAIA DO MURUBIRA, ILHA DE MOSQUEIRO PA.

LEGISLAÇÃO URBANA DE JUIZ DE FORA

DIAGNÓSTICO DE RISCOS AMBIENTAIS E ALTERNATIVAS PARA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE TRECHO DO RIO GUANDU

Problemas ambientais no setor paulista da Serra do Mar:

APLICAÇÃO DE UM MÉTODO MULTIVARIADO PARA GERAÇÃO DE SUPERFÍCIES DE DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL

MAPA GEOMORFOLÓGICO PRELIMINAR DA PORÇÃO SUDOESTE DE ANÁPOLIS- GO EM ESCALA 1/ Frederico Fernandes de Ávila 1,3 ;Homero Lacerda 2,3 RESUMO

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA SUB-BACIA HIDROGRAFICA DO CÓRREGO DO CERRADÃO

Oficina QUAPÁ-SEL Euro-ELECS

Mapeamento de áreas de risco a inundação e solapamento de margem na zona leste da cidade de São Paulo, Brasil Resumo: Palavras-chave: 1.

GEOGRAFIA DO BRASIL Relevo e Solo

Transcrição:

ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL E SUSCETIBILIDADE AOS RISCOS NOS BAIRROS BARROSO, CAJAZEIRAS E JANGURUSSU: CIDADE DE FORTALEZA - CEARÁ Sales, L.B. 1 ; Santos, J.O. 2 ; 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Email:lihbenicio@hotmail.com; 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Email:jader.santos@hotmail.com; RESUMO: O presente artigo tem como objetivo tratar das alterações na dinâmica ambiental em razão da ocupação dos ambientes mais frágeis em bacia urbana situada nas imediações do bairro Castelão na cidade de Fortaleza-CE. Para o alcance do objetivo delineado foram procedidas investigações multitemáticas de modo a definir a fragilidade ambiental urbana. Os resultados obtidos possibilitaram o estabelecimento dos problemas decorrentes da ocupação desordenada e a indicação da susceptibilidade aos riscos. PALAVRAS CHAVES: Fragilidade Ambiental; Riscos Ambientais; Meio Urbano ABSTRACT: This article presents the environmental changes due to the occupation of fragile environments taking place around Castelão, a neighborhood in Fortaleza-CE. In order to achieve this goal, several cross-thematic researches were made in a way to define the urban environmental fragility. The results were able to establish the issues caused by disorderly occupation and the indication of susceptibility to social and environmental risks. KEYWORDS: Environment Fragility; Socioenvironment Riscks; Urban INTRODUÇÃO: Problemas geoambientais como enchentes e inundação são eventos que ocorrem de forma natural nos ambientes mais susceptíveis a esses fenômenos. No entanto, o que se observa é a intensificação desses fenômenos em decorrência da ação antrópica. Problemática esta intensificada pela impermeabilização do solo, retirada da mata ciliar, aumento do escoamento superficial e assoreamento de rios e lagoas. Esses problemas são impulsionados pela urbanização descontrolada e à precariedade da gestão ambiental e territorial. A partir do século XX grande parte da população brasileira saiu das áreas rurais e migrou para os centros urbanos. Esse adensamento populacional desencadeou problemas ambientais diversos. A paisagem da cidade de Fortaleza - CE passou por profundas transformações decorrentes da ocupação desordenada do território. A precariedade da fiscalização urbana e ambiental ocasionou a ocupação dos ambientes 78

mais frágeis. Grande parte dessa população é de baixa renda, e por não ter opções adequadas de moradia instalaram suas habitações em ambientes fortemente instáveis tais como dunas, faixa de praia, planícies fluviomarinhas e setores das planícies fluviais e lacustres mais susceptíveis a inundações. Esses ambientes são caracterizados pela ação intensa dos processos morfogênicos, constituindo áreas de risco à ocupação. Realidade que pode ser facilmente verificada nas planícies e terraços fluviais que bordejam a calha principal do rio Cocó. Com o crescente aumento da impermeabilização devido ao avanço da urbanização em Fortaleza e sua região metropolitana o problema tem se agravado, sobretudo, quando da incidência do período chuvoso. É nesse contexto que o presente artigo se apresenta ao propor investigação da fragilidade ambiental em área de expansão urbana, legal e ilegal, da cidade de Fortaleza-CE. Utilizou-se como recorte de análise a área de entorno da planície fluvial do rio Cocó nas proximidades do Castelão, envolvendo os bairros Cajazeiras, Barroso e Jangurussu. MATERIAL E MÉTODOS: A fragilidade ambiental é uma metodologia de investigação que tem como finalidade fornecer a análise das componentes ambientais de forma integrada, sinteticamente tratadas e representadas no território. A análise da fragilidade ambiental está sustentada em concepções teóricas e metodológicas que consideram a estrutura e funcionamento do meio físico natural e as intervenções promovidas pelas atividades antropogênicas, dentre as quais destacam-se Tricart (1977), Christofoletti (1979, 1999), Ross (1994, 2006), Souza (2000). Os procedimentos adotados neste trabalho seguem os princípios estabelecidos para a Fragilidade Ambiental Urbana de Santos e Ross (2012) que utilizam a geomorfologia e os padrões de urbanização como critérios fundamentais para a definição da fragilidade. Segundo Santos e Ross (2012) a análise da fragilidade ambiental passa necessariamente por extensivo levantamento bibliográfico e geocartográfico, envolvendo atividades de campo e escritório que conduzem a estudos básicos do relevo, solo, subsolo, uso do território e do clima. Com base neles, são gerados produtos intermediários, mediante relatórios e/ou cartografia temática e sintética (ROSS, 1994). Dentre os produtos intermediários para definição da fragilidade o mapa geomorfológico integrado assume destaque. Referido mapa foi construído conforme a metodologia de Ross (1992) e adaptações de Santos (2011) apresentando os padrões de formas e as formas de relevo (3º e 4º táxons), com informações relativas à morfometria, litologia, solos, cobertura e urbanização, além das formas atuais (6º táxon). Os dados e informações produzidos foram trabalhados em ambiente SIG (ArcGis 9.3) onde foi construído o mapa sintético da fragilidade ambiental. Os procedimentos técnicos e operacionais foram desenvolvidos mediante três fases fundamentais: analítica, sintética e integrativa, valorizando o conhecimento integrado e a delimitação de espaços com diferentes níveis de fragilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Várias cidades do Brasil veem sofrendo com um processo acelerado de urbanização e a cidade de Fortaleza não foge a essa regra. A falta de planejamento e gestão ambiental e territorial é exposta de diversas maneiras, tendo como consequência mais marcante a ocupação desordenada dos ambientes de maior susceptibilidade aos riscos socioambientais. De acordo com SANTOS (2007) o Brasil é um país onde ocorrem 79

grandes eventos de desastres naturais todos os anos. Dentre esses desastres, os mais presenciados são: enchentes, secas, erosão e deslizamento de terra. Todos causados pela ação climática e potencializados pela ação humana. O presente estudo procura trazer uma abordagem perceptiva na análise da fragilidade e dos riscos ambientais nas áreas de expansão das periferias urbanas de Fortaleza-CE nos bairros Cajazeiras, Barroso e Jangurussu, situados na margem direita do Rio Cocó (figura 1). Referido território compreende uma área de 15,84km² que vem passando por intensa urbanização, sobretudo, com a busca por espaços destinados à moradia. Os padrões de ocupação se traduzem pela instalação de loteamentos e condomínio nas áreas estáveis dos tabuleiros e ocupações irregulares nos ambientes mais frágeis das planícies e terraços fluviais. Dentre os problemas decorrentes da ocupação desordenada, a instalação de moradias nas áreas de maior fragilidade ambiental assume destaque, devido, sobretudo, a susceptibilidade natural desses ambientes as inundações periódicas. O problema se agrava com o avanço das áreas impermeabilizadas, que aumentam o escoamento superficial, e com a instalação de moradias precárias desprovidas de infraestrutura urbana. De acordo com Santos (2011) a área em estudo é constituída por três unidades geomorfológicas: Planície Fluvial, Terraços Fluviais e Tabuleiros Pré- Litorâneos, que apresentam diferentes níveis de fragilidade. Os resultados obtidos nessa investigação indicam a existência de quatros categorias de fragilidade (figura 2), sendo duas de fragilidade potencial e duas de fragilidade emergente. As unidades de fragilidade potencial correspondem a 65,8% da área e são classificadas em fragilidade potencial média e baixa. São constituídas, em sua totalidade, pelos tabuleiros pré-litorâneos. Configuram-se como áreas estáveis do ponto de vista morfodinâmico e que apresentam adequadas condições de infraestrutura urbana. Sua ocupação predominante é o uso comercial e residencial, com ocorrências pontuais de atividades industriais. Os problemas ambientais estão relacionados à ocorrência, eventual, de alagamentos. Estes são derivados do elevado índice de impermeabilização, da baixa declividade do terreno e de problemas com sistema de drenagem urbana, como o entupimento de bueiros e galerias, o que dificulta o escoamento superficial. Tais situações se configuram em riscos quando associadas à existência de grupos em situação de elevada vulnerabilidade social. Já as unidades de fragilidade emergente são classificadas como muito forte e forte, estando associadas às planícies e terraços fluviais do rio Cocó e seus tributários. As áreas de forte fragilidade (17,3%) são constituídas, sobretudo, pelos terraços fluviais do Cocó e setores da planície fluvial que estão mais abrigados das cheias e inundações. Já os ambientais de fragilidade muito forte são constituídos pelas planícies fluviais e compreendem 16,2%. Essas áreas apresentam fortes limitações à ocupação, pois, são atingidas por inundações frequentes. Os problemas se intensificam devido ao adensamento residencial de baixa renda verificado em setores específicos desse ambiente, sobretudo, nas margens do rio Cocó, que expõe grande parcela da população a riscos constantes. 80

Figura 01 Localização da Área de Estudo Fonte: IBGE mapa básico 1:25000 SEINF - PMF. Autores: SALES, L. B. e SANTOS, J. O. 2014. Figura 02 Mapa de Fragilidade Ambiental Fonte: Cartas planialtimétricas 1:2000 SEINF - PMF Autores: SALES, L. B. e SANTOS, J. O. 2014 81

CONSIDERAÕES FINAIS: Os resultados obtidos evidenciam que grande parcela dos ambientes de maior fragilidade ambiental estão ocupados irregularmente, desencadeando uma série de problemas socioambientais. Dentre os problemas encontrados a existência de áreas de risco assume destaque. Em sua grande maioria essas áreas são ocupadas por grupos sociais que apresentam elevada vulnerabilidade social (SANTOS, 2001) e, por conseguinte, não dispõe de condições de infraestrutura para enfrentamento das situações de crise. A investigação conduzida evidencia que o entendimento da fragilidade ambiental urbana fornece importantes subsídios ao desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao ordenamento territorial visando à redução de riscos e no intuito de minimizar os problemas decorrentes desse fenômeno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CHRISTOFOLETTI, Antonio. Análise de sistemas em Geografia. Geomorfologia. São Paulo: HUCITEC, 1979. CHRISTOFOLETTI, Antonio. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Edgard Blucher, 1999. 236p. ROSS, Jurandir Luciano Sanches. Registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia. 17-29 pp. São Paulo, IG-USP, 1992. ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. In: Revista do Departamento de Geografia n 8, 63-74 pp. DG- FFLCH-USP, São Paulo, 1994. ROSS, Jurandyr L.S Ecogeografia do Brasil: subsídios para planejamento ambiental, São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 208p. SANTOS, J. O.; ROSS, J. L. S., Fragilidade Ambiental Urbana. Revista da ANPEGE, v8, n 10, p. 127-144, ago./dez. 2012. SANTOS, J. O., Fragilidade e riscos socioambientais em Fortaleza-CE: contribuições ao ordenamento territorial. 2011: 331f. Tese (doutorado em Geografia Física) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2011. SANTOS, Rozely Ferreira dos (org.). Vulnerabilidade Ambiental: desastres naturais ou fenômenos induzidos? Brasília: MMA, 2007. 192p. TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1977. 82