V CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO - 29 DE AGOSTO A 01 DE SETEMBRO DE 2005 EVOLUÇÃO DO SISTEMA PLANTIO DIRETO (SPD) DE ALGODÃO NO OESTE DA BAHIA: EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE Valmor dos Santos. Eng. Agrônomo / Consultor em SPD / Diretor Administrativo da AGROLEM, Caixa Postal 798, 47850-000, Luís Eduardo Magalhães BA. E-mail: valmorsantos@uol.com.br. 1. BREVE HISTÓRICO: O Sistema Plantio Direto (SPD), constitui-se em uma tecnologia 100% brasileira. Sendo que através do uso desta tecnologia obtém-se um equilíbrio entre questões sócio-econômicas e agro-ecológicas. O SPD para as culturas de milho e soja nos parece mais simples, mas no que se refere a cultura do algodão os resultados positivos não apareceram da noite para o dia, mas sim devido ao trabalho incansável de diversos representantes da cadeia produtiva do algodão. Os primeiros trabalhos positivos obtidos a nível de propriedade são da safra 1.999/2000, onde produziu-se 257 @ / ha de algodão em caroço na Faz. Catarinense São Desidério BA. Sendo que naquela ocasião o proprietário da fazenda. Engº Agrônomo Marcos Júnior Beck, aceitou o desafio de plantar algodão pela primeira vez em sua propriedade e acima de tudo teve a coragem e ousadia de conduzir a lavoura em SPD. Sendo que desde esta data o referido produtor tem cultivado o algodão em SPD, com resultados altamente positivos no que se refere a produtividade, qualidade e ganhos ambientais. A partir da safra 2003/2004, outros empresários da mesma região começaram a cultivar o algodão tanto em Sistema de Cultivo Convencional (SCC) como em Sistema Plantio Direto (SPD), em algumas propriedades temos lado a lado os dois sistemas de plantio, objetivando avaliar a performance dos mesmos. As produtividades obtidas na referida safra foram altas em ambos os sistemas, oscilando entre 270 @ / ha a 330 @ de algodão em caroço / ha. Nesta safra 2004/2005, deu-se continuidade as mesmas estratégias de trabalho e estamos começando a quantificar os primeiros resultados, mas acredita-se que as produtividades serão positivas, devendo oscilar entre 270 @ / ha a 360 @ de algodão em caroço / ha. Levando-se em conta a complexidade da tecnologia de plantio direto do algodoeiro, procurou-se verificar quais as condições reuniu-se para obtenção destes resultados altamente positivos. Sendo que pode-se dizer que as condições fundamentais são: Solos com perfil melhorado nos aspectos químicos, físicos e biológicos, rotação anual de cultura, plantio de espécies que produzam resíduos suficientes em quantidade e de qualidade e pessoas qualificadas e motivadas.
2.CONSEQÜÊNCIAS DA MONOCULTURA E MANEJO INADEQUADO DO SOLO: Erosão eólica, laminar e em sulcos, degradando os solos e as coleções de água; Redução da Matéria Orgânica do Solo; Maior incidência de plantas invasoras, pragas e doenças; Elevação dos custos de produção; Redução da produtividade; Aumento dos riscos de exclusão de produtores do processo produtivo. 3. ALGUNS QUESTIONAMENTOS: 3.1 COMO PRATICAR UMA AGROPECUÁRIA ONDE CONCILIA-SE QUESTÕES SÓCIO-ECONÔMICAS E AGRO-ECOLÓGICAS? Através do Sistema Plantio Direto ( SPD) e Integração Lavoura Pecuária (ILP) 3.2 QUAIS OS PRINCIPAIS GANHOS DO SPD E ILP PARA A SOCIEDADE EM GERAL? Preservação dos recursos naturais; Melhora a produtividade e estabilidade dos cultivos; Aumenta a geração e distribuição de renda; Reduz custos de produção; Cria novas possibilidades de empregos para mão-de-obra qualificada; Melhora a imagem do agricultor frente a sociedade brasileira e do mundo todo. 3.2 QUAIS SÃO AS BASES FUNDAMENTAIS DO SPD? Solos com perfil melhorado nos aspectos químicos, físicos e biológicos; Plantio de espécies para formação de palha (proteção dos solos); Ausência de preparo do solo e fogo; Obrigatoriedade da rotação anual de culturas. Sendo assim todo e qualquer sistema de plantio que desrespeitar qualquer um dos fundamentos acima não se constitui em SPD. Tendo em vista a problemática histórica da monocultura em nosso País. Surge mais uma questão, ou seja, como implantar o SPD nas propriedades rurais, respeitando-se as bases fundamentais do sistema? Os empresários rurais do oeste baiano estão destinando uma parte da sua área para implantação do SPD. Nessas glebas adota-se os fundamentos básicos do sistema, fazendo-se o monitoramento em um prazo mínimo de execução de 06 anos.
3.3 QUAL É O PRINCIPAL GARGALO PARA ADOÇÃO DO SPD E ILP? Entendimento e capacitação das pessoas. 3.4 QUAIS SÃO AS ALTERNATIVAS EXISTENTES ATÉ O MOMENTO PARA FORMAÇÃO DE PALHA NOS CERRADOS? As principais alternativas econômicas e agronômicas viáveis são: Rotação de culturas introduzindo as culturas de milho, sorgo e arroz nos sistemas de produção; Consorciação de cultivos (Milho + gramíneas, Sorgo + Gramíneas, Arroz + gramíneas e Soja + Gramíneas); Integração lavoura-pecuária (ILP) pastagens; Sobressemeadura. 4. POSSÍVEIS SEQÜÊNCIAS DE ROTAÇÕES DE CULTURAS NO SPD E ILP (INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA) 4.1 Seqüência 01: Área dividida em 02 lotes para um ciclo de rotação anual, utilizando-se as culturas de milho consorciado com Brachiaria ruziziensis e soja: Área Rotação Lote Fração Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 01 1/2 M + B S M + B S M + B S M + B S M + B 02 1/2 S M + B S M + B S M + B S M + B S Legenda: - M+ B = Milho consorciado com Brachiara ruziziensis. - S = Soja. 4.2 Seqüência 02: Área dividida em 03 lotes para um ciclo de rotação anual, utilizando-se as culturas de algodão, milho consorciado com Brachiaria ruziziensis e soja: Área Rotação Lote Fração Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 01 1/3 M + B S A M + B S A M + B S A 02 1/3 S A M + B S A M + B S A M + B 03 1/3 A M + B S A M + B S A M + B S Legenda: - M + B = Milho consorciado com Brachiara ruziziensis. - S = Soja. - A = Algodão
4.3 Seqüência 03: Área dividida em 04 lotes para um ciclo de rotação anual, utilizando-se as culturas de algodão, milho consorciado com B. brizanthas, pastagem (ILP) e soja. Área Rotação Lote Fração Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 01 1/4 M + B P S A M + B P S A M + B 02 1/4 P S A M + B P S A M + B P 03 1/4 S A M + B P S A M + B P S 04 1/4 A M + B P S A M + B P S A Legenda: - M + B = Milho consorciado com Brachiara brizantha. - P = Pastagem - A = Algodão - S = Soja. 5. PRINCIPAIS AÇÕES REALIZADAS NO OESTE BAIANO REFERENTES AO SPD E ILP*: 1º EPDOB (Encontro de Plantio Direto do Oeste Baiano), realizado em junho de 2001 pela AGROLEM**; 2º EPDOB (Encontro de Plantio Direto do Oeste Baiano), realizado em junho de 2002 pela AGROLEM; Fundação do CPD***, criado em junho de 2002 pela AGROLEM e outras entidades do agronegócio; Dias de Campo realizados anualmente a partir de 2002 iniciativa do CPD com o apoio de outras entidades do agronegócio; Lançamento do PAS (Programa de Agricultura Sustentável para o Oeste da Bahia) outubro de 2004 iniciativa da AGROLEM e outras entidades e instituições. * ILP Integração Lavoura-pecuária. ** AGROLEM - Associação dos Engenheiros Agrônomos de Luís Eduardo Magalhães BA. *** CPD Clube de Plantio Direto do Oeste Baiano sediado em Luís E. Magalhães BA.
6. ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DE PRÁTICAS AGRÍCOLAS EQUIVOCADAS: SCC* algodão erosão em sulco em área 345 terraceada imagem 46. Erosão eólica imagem
SCC algodão baixa infiltração de água apesar SCC algodão perca de água e solo - do preparo profundo do solo imagem 387 imagem 541
SCC após chuva torrencial imagem 717 eólica - SCC algodão erosões: laminar e imagem 940
7. EXPERIÊNCIAS POSITIVAS EM SPD NO OESTE DO ESTADO DA BAHIA: Associação de práticas mecânica e biológica para SPD de soja sobre palha de milho + Brachiaria conservação dos solos e estradas imagem 133 ruziziensis imagem 826
SPD de feijão sobre palha de milho imagem 608 de milho SPD de algodão sobre palha Figura 01 imagem 864
SPD de algodão sobre palha de milho figura 02 Trincheira em SPD de algodão imagem 563 imagem 809
SPD de milho sobre socas de algodão manejadas manejadas com herbicidas figura 01 imagem 171 487 SPD de milho sobre socas de algodão com herbicidas figura 02 imagem
SPD de soja sobre socas de algodão manejadas SPD de soja sobre socas de algodão manejadas com herbicidas figura 01 - imagem 515 com herbicidas figura 02 imagem 434 NOTA: Nos casos de Sistema Plantio Direto (SPD) de milho ou soja sobre socas de algodão manejadas com herbicidas, observar o controle exemplar tanto das socas como das tigüeras de algodão. Desta forma fica demonstrado que existe tecnologia agronômica para destruir as socas e controlar eficazmente as tigüeras de algodão nas culturas de soja ou milho plantadas em rotação com o algodão.
8. ALTERNATIVAS AGRONÔMICAS E ECONÔMICAS PARA FORMAÇÃO DE RESÍDUOS EM SPD NA FRANJA LESTE DOS CERRADOS: Sobressemeadura imagem 507 Consorciação de milho + Brachiaria Ruziziensis imagem 633
Consorciação de soja + Brachiaria ruziziensis Consorciação de soja + B. ruziziensis Figura 01 imagem 876 figura 02 imagem 650 NOTA: Com relação as possibilidades para formação de palha em Sistema Plantio Direto (SPD), entende-se que para a franja leste dos cerrados a melhor alternativa consiste na consorciação de culturas, precisamente a cultura do milho consorciado com gramíneas, tendo em vista que através desta tecnologia produz-se a palha concomitantemente com a produção de grãos de milho. Vale a pena lembrar que as braquiárias utilizadas consorciadas com o milho, não afetam negativamente a produtividade da cultura principal, pois esta tecnologia foi validada cientificamente pela EMBRAPA em 1988.
9. CONCLUSÃO: Entende-se que o principal desafio que nosso País terá que enfrentar nos próximos anos, será conciliar o crescimento econômico da nossa agropecuária com as questões sociais e ambientais. Sendo assim a prática de uma agricultura cada vez diversificada, adotando-se o SPD e a ILP em larga escala na região dos cerrados brasileiros, nos tornará mais competitivos frente a globalização econômica, bem como será possível preservar a natureza e criar novos postos de trabalho para pessoas qualificadas. Acredita-se na capacidade e criatividade de todas as pessoas envolvidas nos diversos segmentos do agronegócio brasileiro, mas penso que está destinado um papel e responsabilidade cada vez maior aos profissionais da engenharia agronômica frente aos novos desafios, que estão exigindo novas atitudes. Entende-se também que Deus nos criou a sua imagem e semelhança, portanto por natureza somos criativos e capazes de contribuir com o progresso da humanidade. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Coleção Sistema Plantio Direto: Palha: Fundamento do Plantio Direto. Dourados MS. 2002. KLUTHCOUSKI, J. et al. Sistema Santa Fé - Tecnologia Embrapa: Integração lavourapecuária: Santo Antonio de Goiás: (Embrapa Arroz e Feijão. 2000. 28p. Circular Técnica, 38). PLATAFORMA PLANTIO DIRETO. Sistema Plantio Direto. http://www.embrapa.br/plantiodireto/introducaohistorico/sistemaplantiodireto.htm. 2000. Disponibilizada em 13.4.2000 SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; MARONEZZI, A.C. Um Artigo do Plantio Direto: Sistemas de Cultivo e Dinâmica da Matéria Orgânica. Goiânia-GO. Fevereiro de 2001.