A QUALIDADE DE VIDA NAS CIDADES MÉDIAS: UM DEBATE EM EVOLUÇÃO

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Transcrição:

A QUALIDADE DE VIDA NAS CIDADES MÉDIAS: UM DEBATE EM EVOLUÇÃO Modalidade: Resumo Expandido ET 03 Cidades médias e redes de empresas: conceitos, abordagens sociológica, filosófica e interpretações Rita de Cássia Oliveira Alves 1 Josenaldo de Souza Alves 2 Saulo Silva Teixeira 3 1. INTRODUÇÃO Por que compreender papel das Cidades Médias? Qual a relevância do fomento essa discussão? O que está por trás da junção dessas duas palavras que conferem grande poder a um ambiente em termos de qualidade de vida? Os pesquisadores desta temática enfrentam o desafio de propiciar conteúdo teórico-conceitual a um termo constituído, o qual, ao caracterizar-se por múltiplas peculiaridades, encontra-se em permanente fase de transição, especialmente ao considerar-se as dimensões tempo e espaço. Refletir sobre a complexidade conceitual do tema cidades médias, associada à qualidade de vida da população é, quase sempre, o ponto de partida daqueles que se empenham em compreendê-la e traduzi-la, sob a perspectiva desta mobilidade. É essencial refletir, inicialmente, sobre os processos sociais e espaciais que constituem as cidades, inclusive as médias, na medida em que estas têm se materializado, ao longo dos anos, por meio de dois campos escalares específicos e complementares, a saber: a escala intraurbana e a escala interurbana. Em tais escalas, é possível verificar os vínculos sociais e econômicos, consubstanciados, historicamente, às principais funções das cidades. Suas funcionalidades, por meio dos fluxos e processos, legitimariam a caracterização do tipo de cidade (pequena, 1 Doutora. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Brasil, rcassialimaa@gmail.com, (77) 9 8824-6470 2 Mestre. Faculdade Independente do Nordeste - Fainor, Brasil, josenaldo@yahoo.com.br 3 Mestrando. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Brasil, saulo.uesb@hotmail.com

média ou grande) no seu ambiente intra urbano e sua região de influência. Para tanto, este estudo, pretende, inicialmente, reconhecer a dinâmica das cidades médias no mundo, para, em seguida, compreender a dinâmica de criação das cidades médias no Brasil. Buscar-se-á, mesmo que concisamente, refletir sobre a origem e evolução das cidades médias, desenvolvidos nas diferentes fontes do pensamento geográfico, para estabelecer uma correlação entre os temas cidades e a qualidade de vida. Dessa forma, ainda que não se pretenda esgotar conceitos para algo que, sobretudo, está em transformação, se propõe a apresentar algumas concepções que têm permeado os estudos sobre o tema, para contribuir com as reflexões sobre a melhoria da qualidade de vida de uma população. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 RECONHECENDO A DINÂMICA DAS CIDADES MÉDIAS NO MUNDO O acelerado processo de urbanização pelo qual o mundo tem passado vem despertando o interesse de muitos pesquisadores pelo tema cidades médias. Uma das hipóteses mais prováveis para tal motivação, é que a discussão sobre as características deste perfil de cidades tem fomentado o debate acerca das possibilidades de busca por uma melhor qualidade de vida da sua população e daqueles que vivem na sua hinterlândia. Na década de 1930, o geógrafo Christaller (1966) fomentava esse debate quando buscou explicar, por meio do princípio básico da Teoria dos Lugares Centrais, a centralidade do espaço organizado em torno de um núcleo urbano principal, denominado lugar central. Para o autor, a região complementar, ou entorno, possuiria uma relação de co-dependência com o núcleo principal, por este constituir-seno lócus ofertante de bens e serviços, que deveriam ser genuinamente urbanos. A grande contribuição da Teoria dos Lugares Centrais de Christaller nas discussões sobre cidades médias consiste, dentre outros importantes aspectos, na elaboração de um modelo que posiciona a cidade como local central para o controle de toda relação, seja com o campo, seja com as pequenas cidades, sendo estes subordinados às decisões socioeconômicas advindas da cidade hierarquicamente maior. Foram realizadas, pioneiramente na França, os primeiros estudos sobre desequilíbrios inter-regionais e intra-redes urbanas da Europa, em função da intensa concentração populacional em sua capital, Paris. Nesse cenário, ao longo do tempo, algumas correntes começam a dar forma às concepções iniciais sobre cidade média, considerando a associação

destas, dentre outros fatores sociais, conferindo maior flexibilidade ao conceito. Segundo Bellet Sanfeliu e Llop Torné (2003), La delimitación del objeto de estúdio con rígidos criterios de cantidad resultaria totalmente infructuosa. Las ciudades se consideran intemedias no solo con arreglo a tallas demográficas y dimensiones determinadas (coherentesconsu contexto geográfico), sino, sobre todo, com relación a las funciones que desarrollan: el papel de mediación em losflujos (bienes, información, innovación, administración, etc) entre losterritoriosrurales y urbanos de su área de influencia y los otros centros o áreas, más o menos alejados. Funciones de intermediación entre los espacios locales, territoriales y los espacios regionales e, incluso, globales. Llop Torné (2003, p. 2). Para estes autores, outras dimensões devem ser consideradas, a exemplo da intermediação dos fluxos de bens, informações e inovação. Encontra-se expresso na visão dos autores, a busca por um conceito mais flexível e que se adeque a uma realidade de mundo que não é estática, e sim em constante processo de mutação e de caráter bastante flexível. O interesse quanto às cidades médias no Brasil remonta, mais intensamente, à década de 1970, quando ocorreu a formulação de programas governamentais relacionados à rede urbana, por meio da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU) a qual fazia parte do II Plano Nacional de Desenvolvimento do Brasil (II PND), na década de 1970. Com a implantação de tal Plano, ocorreu o aceleramento da urbanização, inicialmente verificada junto às metrópoles, as quais intensificaram a instalação de atividades econômicas, sobretudo as industriais. Questões relativas à qualidade de vida dos moradores nas poucas metrópoles existentes à época vieram a ser questionadas e colocadas à linha de frente dos debates, enquanto espaços que deveriam primar por uma vida digna aos seus habitantes. Surge, desta forma, a relevância da discussão sobre cidades médias, como possibilidade de espaço urbano próspero e com menor grau de problemas apresentados pelas metrópoles. Um dos estudos pioneiros sobre o tema no Brasil, Santos (1994), por sua vez, certamente ainda no auge do debate sobre a concepção quantitativa, definiu como cidade média aquela que tivesse população superior a 100 mil habitantes. Este autor, já nesta época, ressaltou, no entanto, a necessidade de se considerar também o nível de complexidade da divisão do trabalho existente na cidade, ou em outros termos, a diversificação de bens e serviços ofertados localmente. Entretanto, percurso indicará que, mais que a necessidade de uma conceituação de cidade média, há que se compreender o papel que ela desenvolve. A partir dessa compreensão, Soares (1999) acredita que devem ser consideradas, para identificação das cidades médias, diversas variáveis como tamanho demográfico, qualidade das relações externas, especialização e diversificação econômica, posição e sua importância na região e na

rede urbana de que faz parte indica pistas para compreensão de tal papel. O debate chama atenção à ênfase atribuída aos índices de qualidade de vida da sua população. 2.2 A NATUREZA DIVERSA DA QUALIDADE DE VIDA NAS CIDADES As cidades médias têm se constituído em grande área de interesse de estudos sobre qualidade de vida. Tal condição justifica-se, certamente, em função da crescente concentração da população nas cidades em escala mundial e, neste âmbito, várias metodologias para avaliação da qualidade de vida urbana vêm surgindo. Ulengin et al (2001) desenvolveram um índice de qualidade de vida para a cidade de Istambul, na Turquia, a qual prioriza quatro dimensões: ambiente físico, ambiente social, ambiente econômico e as facilidades de comunicação e transporte. Já a Câmara Municipal do Porto (CMP), em Portugal, por sua vez, propôs um modelo de análise da qualidade de vida, ao considerar quatro grandes domínios: condições ambientais, condições materiais coletivas, condições econômicas e sociedade. (SANTOS & MARTINS, 2002). Embora haja uma diversidade de metodologias sobre qualidade de vida, os indicadores de qualidade de vida mais utilizados em área urbanas referem-se à infraestrutura, à qualidade ambiental e às características demográficas e sócio-econômicas, em consonância com os conceitos das cidades médias. Dentre estes, destaque-se a renda, a educação e a saúde, sobretudo em países mais pobres. Os países mais desenvolvidos, por sua vez, abordam mais enfaticamente os aspectos imateriais, como as atividades culturais, entretenimento, lazer, participação política. 3. METODOLOGIA Busca-se ampliar o debate acerca das dimensões que envolvem o papel de uma cidade média enquanto ambiente comprometido com a qualidade de vida das pessoas. Para tanto, como procedimento metodológico, o estudo se desenvolveu a partir de uma análise bibliográfica em profundidade, realizada pelo Grupo de Pesquisa Redes de Empresa, da qual foram identificadas as principais concepções de cidade média, associadas ao conceito sobre qualidade de vida nas cidades.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como principal conclusão verificou-se que as reflexões conceituais sobre cidades médias e qualidade de vida revelaram, ora a diversidade, ora a familiaridade, de significados associados aos termos. Verifica-se, em tais estudos, que as metodologias no mapeamento da qualidade de vida em cidades médias aproximam-se e confirmam os indicadores referentes à infraestrutura urbana, além dos aspectos demográficos e socioeconômicos e à qualidade ambiental, os quais foram também abordados nas reflexões sobre cidades médias. A convergência desses aspectos, decisivamente, ratificam os estudos realizados sobre cidades médias e favorecem a uma futura proposta de modelo de aplicação. Para além, o comprometimento com a pesquisa fomenta melhoria das condições de vida para a sua população e o pleno desenvolvimento das cidades. O êxito será alcançado, portanto, se o estudo realizado estimular o compromisso ético e social, por políticas públicas que busquem, efetivamente, o desenvolvimento dos territórios e que promovam, por consequência, a emancipação do ser humano. 4. REFERÊNCIAS AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. Esquema metodológico para o estudo das cidades médias. In: Encontro Nacional de Geógrafos, 1976. Resumo de comunicações e Guias de excursões. Belo Horizonte, A.G.B., 1976, p. 6-15. BELLET, Carme e LLOP, Josep M. Ciudades Intermedias.Perfiles y Pautas, Lleda, 2001. CHRISTALLER, Walter. Central Places in Southern Germany.Tradução de Carlisle W. Baskin. New Jersey, Prentice-Hall, 1966.Título original: DienZentralenOrte in süddeutschland. SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científicoinformacional. São Paulo: Hucitec, 1994. SANTOS, L. D.; MARTINS, I. A. A qualidade de Vida Urbana: o caso da cidade do Porto. Working Papers da FEP, Porto, n. 116. 2002. Disponível em: http://www.fep.up.pt/investigacao/workingpapers/wp116.pdf. Acesso em 30 de novembro de 2013. SOARES, B. R. Repensando as cidades médias brasileiras no contexto da globalização. Formação, Presidente Prudente, Editora da UNESP, n. 6, p. 55-64, 1999. ULENGIN et al. A multidimensional approach to urban quality of life of Istanbul. European Journal of Operational Research. Amsterdan: Elservier Science, n. 130, p. 361-374, 2001.