IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 968

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Transcrição:

Página 968 DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE AFLATOXINAS EM GRÃOS DE AMENDOIM INOCULADOS ARTIFICIALMENTE COM Aspergillus parasiticus EM FUNÇÃO DE DIFERENTES PERÍODOS DE INCUBAÇÃO 1 Pollyne Borborema Alves de Almeida 1 ; Tatiana Silva Santos 2 ; Wirton Macedo Coutinho 3 1Bolsista CNPq, graduada em Ciências Bilógicas - pollynecaroca@hotmail.com; 2 Doutoranda na UFCG tatysilvasantos@hotmail.com; 3 Pesquisador da Embrapa Algodão -wirton@cnpa.embrapa.br RESUMO. Objetivou-se neste trabalho avaliar o nível de contaminação de aflatoxinas em grãos de amendoim inoculados artificialmente com uma cepa toxicogênica de Aspergillus parasiticus em função de diferentes períodos de incubação. Os grãos de amendoim foram previamente irradiados com irradiação gama ( 60 CO) na dose de 25 kgy (Kilograys) e inoculados artificialmente com inóculo em pó de A. parasiticus na concentração de 30 x 10 5 esporos/g de caolim em pó. Para simular as condições ideais de umidade e temperatura à produção de micotoxinas por fungos toxicogênicos, 800 g de grãos de amendoim foram fracionados em porções de 200 g e acondicionados em dessecadores contendo solução salina saturada de nitrato de potássio - KNO3 (93,58% UR) no interior de câmaras BOD ajustadas à temperatura de 30 C e fotoperíodo de 12 horas, durante 28 dias. A cada sete dias de incubação foi realizado o teste de sanidade dos grãos, extração, identificação e quantificação das aflatoxinas associadas. O isolado testado não produziu aflatoxinas aos 7 dias de incubação; aos 14 dias, A. parasiticus produziu apenas as aflatoxinas B1 (6,0 µg.kg -1 ) e G1 (5,1µg.kg -1 ). A partir de 21 dias de incubação, o isolado de A. parasiticus sintetizou elevadas concentrações das aflatoxinas B1 21 dias (86,7 µg.kg -1 ), 28 dias (960,0 µg.kg -1 ); G1 21 dias (89,1 µg.kg -1 ), 28 dias (505,6 µg.kg -1 ); e G2 21 dias (27 µg.kg -1 ), 28 dias (713,3 µg.kg -1 ). A aflatoxina B2 não foi detectada nos grãos de amendoim utilizados neste estudo. Palavras-chave Arachis hypogaea, Micotoxinas B1, G1 e G2. INTRODUÇÃO As aflatoxinas são as principais micotoxinas e representam o maior perigo associado à cadeia produtiva do amendoim. São produzidas principalmente pelos fungos Aspergillus flavus Link e A. parasiticus Speare em condições favoráveis de umidade e temperatura (CAST, 2003). A contaminação por aflatoxinas em amendoim é decorrente principalmente de falhas no controle da umidade e temperatura, tanto na produção quanto no armazenamento, que favorecem o desenvolvimento de fungos toxicogênicos. No campo de produção, as micotoxinas podem ser 1 Embrapa Algodão / PIBIC

Página 969 produzidas quando ocorrem elevadas temperaturas e estresse hídrico prolongado durante as últimas três a seis semanas do ciclo da cultura, enquanto no armazenamento a produção desses metabólitos secundários é favorecido pelo alto teor de umidade dos grãos (FONSECA, 2009). Apesar do avanço em relação ao conhecimento dos fatores que favorecem a produção de aflatoxinas, pouco se sabe a partir de quanto tempo após a infecção por fungos toxicogênicos são produzidas as micotoxinas. Essa informação é importante para que se possam definir estratégias de controle de micotoxinas, desde o manejo da cultura no campo de produção até a seleção de genótipos resistentes aos fungos toxicogênicos. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi estudar o nível decontaminação de aflatoxinas em grãos de amendoim inoculados artificialmente com A. parasiticus em função de diferentes períodos de incubação. METODOLOGIA O estudo foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Algodão. Foram utilizados grãos de amendoim da cultivar BRS Havana (safra 2006/2007) irradiados com radiação gama, na dose de 25 kgy (Kilogray), para eliminar todos os microrganismos associados. Os grãos foram previamente analisados quanto à contaminação por micotoxinas, não sendo detectadas aflatoxinas associadas e, em seguida inoculados com uma cepa toxicogênica de A. parasiticus (#IMI242625), produtora das aflatoxinas B1, B2, G1 e G2, na forma de pó. O inóculo foi preparado utilizando esporos desidratados do fungo misturado à caolim em pó, conforme metodologia descrita por Andrade (2008). Utilizou-se 1 g do inóculo em pó de A. parasiticus, ajustado para 30 x 10 5 esporos/g de caolim para cada 1 kg de grãos de amendoim. Os grãos de amendoim foram incubados em condições de umidade e temperatura ótimas para produção de micotoxinas, ou seja, umidades relativas do ambiente superiores a 85% e temperaturas de 30 o C ± 2 ºC. Para simular essas condições, 800 g de grãos foram fracionados em porções de 200 g e acondicionados em dessecadores contendo solução salina saturada de nitrato de potássio - KNO3 (93,58% UR) no interior de câmaras BOD ajustadas à temperatura de 30 C e fotoperíodo de 12 horas, durante 28 dias. Aos 7, 14, 21 e 28 dias foram realizados testes para avaliação da sanidade e detecção e quantificação das aflatoxinas associadas aos grãos

Teste de sanidade Página 970 Para avaliação da sanidade, 100 grãos de cada tratamento foram distribuídos em placas de Petri esterilizadas de 9,0 cm de diâmetro (10 grãos/placa de Petri), contendo 20 ml de meio Czapeck Ágar previamente esterilizado. As placas contendo os grãos foram incubadas em câmara de crescimento com temperatura de 20 o C ± 2 o C e fotoperíodo de 12 horas, durante sete dias. Após esse período, foi realizada a identificação e a contagem dos grãos contaminados com A. parasiticus e outros fungos associados, examinando individualmente as sementes ao microscópio estereoscópico Extração, identificação e quantificação das aflatoxinas Para cada tratamento empregado (dias de incubação) foram utilizados 200 g de grãos de amendoim, os quais foram moídos e peneirados em malha de 20 Mesh. Depois de peneirado, cada tratamento foi acondicionado em embalagem hermeticamente fechada e mantidas em freezer (-20 o C) até a realização da extração. Para as extrações das aflatoxinas foi adotada a metodologia descrita em Brasil (2000) modificado (IN nº. 09, de 24 de março de 2000, DOU Seção 1, p. 35-41, 30 mar. 2000). A análise das aflatoxinas nos grãos foi realizada por meio de cromatografia em camada delgada (CCD), utilizando-se cromatofolhas de alumínio da marca Merck (KIESEL GEL-60 / 1.05553), com comprimento e largura de 10 cm e espessura de 0,2 mm. Nas cromatofolhas foram aplicados 6 µl das amostras e 3, 4 e 6 µl dos padrões B1 e G1 (15 µg.ml -1 ) e B2 e G2 (10 µg.ml -1 ), distribuídos em pontos previamente marcados nas cromatoplacas. Após a aplicação dos padrões e das amostras foi realizada a eluição bidirecional, utilizando-se para isso uma cuba de vidro com clorofórmio:acetona (9:1) e, em seguida, outra cuba contendo o eluente tolueno:acetato de etila:ácido fórmico (5:4:1). Após a eluição, a cromatofolha foi retirada da cuba e, após a evaporação da solução, a mesma foi colocada em câmara com luz ultravioleta de 366 nm para a observação da presença de manchas fluorescentes indicativas de aflatoxinas. A concentração de cada aflatoxina detectada foi calculada de acordo com a fórmula: )V*S*Y( Concentraç (ão g/kg =) )W*X( Em que: Y = concentração do padrão de aflatoxina (µg/ml); S = volume em µl do padrão da toxina com fluorescência equivalente à amostra; V = volume final do extrato da amostra em µl; X = volume aplicado do extrato (amostra) em µl; W = massa da amostra em gramas no extrato final.

Análise estatística Página 971 Utilizou o delineamento em blocos ao acaso com quatro tratamentos (períodos de armazenamento 7, 14, 21 e 28 dias) e cinco repetições, sendo cada unidade amostral composta por 200 g de grãos de amendoim moído. Em razão de não se ter verificado homogeneidade de variâncias, as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se modelos lineares generalizados, por meio da rotina GENMOD do sistema estatístico SAS versão 9.1.3 (SAS Institute, Inc. Care, NC, USA). As análises de deviance (testes de razão de verossimilhanças para as fontes de variação controladas no modelo) foram realizadas de forma sequencial (tipo I). RESULTADOS E DISCUSSÃO A inoculação artificial de A. parasiticus foi eficaz na contaminação e/ou infecção de 100% dos grãos (Tabela 1). Apenas três das quatro aflatoxinas analisadas foram detectadas - B1, G1 E G2 (Figura 1). A aflatoxina B2 não foi constatada nos grãos analisados. Na avaliação da contaminação por aflatoxinas, verificaram-se diferenças estatísticas significativas (P < 0,001) entre os tratamentos estudados (períodos de incubação de 7, 14, 21 e 28 dias), tanto na detecção quanto na quantificação das aflatoxinas B1, G1 e G2 associadas aos grãos. A concentração (µg.kg -1 ) das aflatoxinas detectadas variou em função do período de incubação. Não se constatou contaminação por aflatoxinas nos grãos com 7 dias de incubação. Aos 14 dias de incubação, constatou-se contaminação dos grãos apenas com as aflatoxinas B1 (6,0 µg.kg -1 ) e G1 (5,1 µg.kg -1 ). Com esses níveis de contaminação, o lote não seria descartado para o consumo humano, uma vez que o Ministério da Saúde determina o limite máximo de contaminação de 20 µg.kg -1 para o somatório das aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 (BRASIL, 2002). Aos 21 dias de incubação dos grãos, houve um aumento significativo no nível de contaminação das aflatoxinas B1 (86,7,0 µg.kg -1 ) e G1 (89,1 µg.kg -1 ), assim como a detecção da aflatoxina G2 (27,0 µg.kg -1 ), o que implicaria no descarte do lote para o consumo, segundo os padrões de contaminação estipulados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2002). Aos 28 dias de incubação, houve um incremento da contaminação dos grãos de forma exponencial, com níveis elevados B1 (960,0 µg.kg -1 ), G1 (505,6 µg.kg -1 ) e G2 (713,3 µg.kg -1 ). Nesse período de incubação verificou-se abundante crescimento do fungo A. parasiticus sobre os grãos de amendoim. A produção de micotoxinas por espécies de Aspergillus tem sido extensivamente estudada em diferentes condições de umidade e temperaturas; entretanto, poucos estudos têm sido realizados para

Página 972 se determinar o tempo que fungos toxicogênicos demandam para produzir micotoxinas em condições ótimas de umidade e temperatura para o seu desenvolvimento. A maioria dos estudos tratam da produção de micotoxinas em meios de cultura sintéticos ou semi sintéticos e não sobre grãos. Dentre os trabalhos realizados com grãos, destaca-se o de Winn e Lane (1978), que inocularam grãos de milho e sorgo com uma cepa toxicogênica de A. flavus, incubaram à 25 o C e 30 o C em ambiente com umidade relativa de 90%, durante 48 e 72 horas, e constataram a produção das aflatoxinas B1 e B2 nesse curto período de incubação. Em um outro estudo, Diener e Davis (1968) detectaram elevados índices de aflatoxinas em grãos de amendoim inoculados com A. parasiticus e incubados durante 7 e 15 dias em temperaturas de 25 o C e 30 o C. Os resultados obtidos por esses autores diferem dos resultados obtidos neste estudo, quando não foram detectadas aflatoxinas associadas aos grãos de amendoim inoculados com um isolado de A. parasiticus incubados por um período de 7 dias. Esse resultado contrastante pode está relacionado à fatores genéticos, como a capacidade em produzir micotoxinas de cada isolado fúngico. Em vários outros estudos tem se constatado considerável variação na capacidade para produzir aflatoxinas pelas diversas linhagens do grupo A. flavus, mesmo quando são isoladas da mesma fonte (LEAICH; PAPA, 1974; MOREAU, 1979; TANIWAKI et al.,1993). A produção de aflatoxinas também varia quantitativamente de cultura para cultura, e isolados toxigênicos crescidos no mesmo substrato, e sob as mesmas condições, podem produzir aflatoxinas variando de 100 a 2000 mg.g -1 de substrato (MURAKAMY et al., 1966). Baseado nos resultados obtidos neste estudo e comparando com os vários outros que também estudaram a influência do período de incubação na produção de aflatoxinas por fungos toxicogênicos (DIENER; DAVIS, 1966; WINN; LANE, 1978), constata-se que o tempo demandado por fungos toxicogênicos para produção de micotoxinas é bastante variável. Vários fatores, dentre os quais a susceptibilidade do substrato à colonização do fungo produtor e fatores biológicos, como capacidade genética do fungo em produzir micotoxinas e quantidade de esporos viáveis, podem interferir no tempo demandado para produção destas micotoxinas.

CONCLUSÕES Página 973 - O isolado testado não produziu aflatoxinas aos 7 dias de incubação; - Aos 14 dias de incubação, o isolado de A. parasiticus utilizado sintetizou apenas as aflatoxinas B1 e G1 em níveis de contaminação abaixo dos padrões estipulados pelo Ministério da Saúde para descarte do consumo humano, - Nos períodos de incubação de 21 e 28 dias, grandes quantidades das aflatoxinas B 1, G1 e G2 foram produzidas pelo isolado de A. parasiticus testado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Daniele D. Inoculação de grãos de amendoim com esporos de fungos toxicogênicos veiculados por caolim em pó. 2008. 35p. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande. BRASIL. Agência Nacional De Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 274 de 15 de out. de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, out. 2002. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa nº 9, de 24 de março de 2000. Aprova os métodos analíticos de referência para análise de micotoxinas em produtos, subprodutos e derivados de origem vegetal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 mar. 2000. CAST. Mycotoxins: Risks in plant, animal, and human systems. RICHARD, J. L.; PAYNE, G. A. (Ed.), CAST, 2003. 199 p. (Task Force Report, No. 139). DIENER, U. L.; DAVIES, N. D. Effect of environment on aflatoxin production in freshly dug peanuts. Tropical Science, v.10, p 22-25. 1968. FONSECA, H. Preservação e controle de micotoxina em produtos agrícolas. (Boletim Técnico, 7). Disponível em: < www.micotoxinas.com.br>. Acesso em: 10 jun. 2009. LEAICH, L. L.; PAPA, K. E. Aflatoxins in mutants of Aspergillus flavus. Mycopathologia et Mycologia Applicata, v. 52, p. 223-229, 1974. MOREAU, C. Moulds, Toxins & Food. Chichester: John Wiley, 1979. 477 p.

Página 974 MURAKAMY, H.; OUWAKI, K.; TAKASE, S. Aflatoxin strain, ATCC 15517. Journal of Generaland Applied Microbiology, v. 12, p. 195-206, 1966. TANIWAKI, M. H.; FONSECA, H.; PIZZIRANI-KLEINER, A. A. Variabilidade de produção de aflatoxinas por linhagens de Aspergillus flavus em diferentes tempos de manutenção. Scientia Agrícola, v. 1, p.140-150, 1993. WINN, R. T.; LANE, G. T. Aflatoxin production on high moisture corn and sorghum with a limited incubation. Journal of Diary Science, v. 61, n. 6, p. 762-764, 1978. Tabela 1 Micoflora associada aos grãos de amendoim inoculados artificialmente com A. parasiticus em diferentes períodos de incubação submetidos ao teste de sanidade em meio Czapeck Ágar. Micoflora (%) Incubação (dias) A. parasiticus A. niger Penicillium spp. 7 100,0 9,0 32,0 14 100,0 29,0 41,0 21 100,0 0,0 0,0 28 100,0 24,0 9,0 1000 960,0 1000 1000 Concentração (µg/kg) 800 600 400 200 0 B 1 800 G 1 800 G 2 Concentração (µg/kg) 600 400 200 86,7 6,0 0 7 14 21 28 Período de armazenamento (dias) 505,6 89,1 5,1 7 14 21 28 Período de armazenamento (dias) Concentração (µg/kg) 713,0 600 400 200 27,0 0 7 14 21 28 Período de armazenamento (dias) Figura 1 Concentração das aflatoxinas B1, G1 e G2 em grãos de amendoim inoculados artificialmente com A. parasiticus em diferentes períodos de incubação.