Apeoesp busca diálogo para melhorar a segurança nas escolas

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Transcrição:

Maria Izabel Azevedo Noronha Apeoesp busca diálogo para melhorar a segurança nas escolas SEGUNDO PESQUISA, VIOLÊNCIA EM ESCOLAS DE SP ATINGE 4 EM 10 PROFESSORES E REVELA QUE MAIS DA METADE CONSIDERA SUA ESCOLA VIOLENTA por Emília Sobral redacao7@cipanet.com.br Fotos divulgação Maria Izabel Azevedo Noronha, mais conhecida como Bebel, professora efetiva de língua portuguesa na rede estadual de ensino de São Paulo, é presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e membro do Conselho Nacional de Educação. A Apeoesp acaba de divulgar uma nova pesquisa sobre violência nas escolas, com indicadores preocupantes. A pesquisa, que ouviu 1,4 mil pessoas em 167 municípios do Estado, revela que 95% dos professores acreditam que o uso de drogas e de álcool, o tráfico de drogas e a briga de gangues são as situações que mais geram violência. Os dados coletados demonstram, novamente, a gravidade do problema e alertam para a necessidade de urgentes providências para controlá-lo e resolvê-lo. Entre os índices, a pesquisa apontou que 44% dos professores já sofreram algum tipo de violência em sua unidade escolar e 57% consideram as escolas violentas. Outro dado mostra que, para os professores, violência escolar remete a agressões, mas também à falta de respeito e de educação dos alunos. Enquanto 39% dos dos revelaram que as agressões verbais (como xingamentos e falta de respeito) são os principais problemas, um grupo de 5% afirmou já ter sofrido agressão física. 20 Security Brasil www.cipanet.com.br

consulta 2208 consulta 2208

Nesta, Bebel afirma que, além de medidas contra a violência nas escolas, a grande saída para a educação é o investimento, não apenas material, mas na valorização dos professores e, nesse caso, também dos agentes públicos que atuam no combate à violência. SECURITY: Como a Apeoesp tem lidado com o aumento da violência contra os professores nas escolas estaduais? MARIA IZABEL AZEVEDO NORONHA - As notícias rotineiras sobre episódios de violência nas escolas veiculadas pela imprensa revelam a situação dramática da rede estadual de ensino, mas infelizmente não é um tema novo para nós. Cada novo episódio é visto com apreensão pelo sindicato, que oferece apoio jurídico e reivindica, em intervenções junto ao Executivo e Legislativo e com manifestações públicas, medidas efetivas para conter essa onda de violência. Em 1998 lançamos a campanha Paz nas Escolas, que foi retomada em diversas ocasiões e será novamente retomada. Ela propõe iniciativas conjuntas entre governo, escolas e comunidade para enfrentar o problema. Uma pesquisa realizada pela Apeoesp em 2006, portanto há sete anos, em parceria com o Dieese, indicava que, naquele momento, 87% dos professores e professoras da rede estadual haviam tomado ciência de casos de violência na escola. A agressão física foi citada por 82% dos dos como rotineira. O sindicato vai divulgar uma nova pesquisa sobre a questão nos próximos dias, que confirmam os dados anteriores e os aprofundam. A pesquisa foi realizada pelo Instituto DataPopular, contratado pelo sindicato, e entrevistou professores em todas as regiões do Estado. Vivemos essa situação no nosso cotidiano e temos a percepção de sua extensão e gravidade. Por isso, consideramos que o número de escolas atingidas pode ser ainda maior, pois nem todas as ocorrências são registradas. O Professor Mediador é uma medida que a Secretaria de Educação em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública vem implantando. Essa medida já está valendo? Qual a sua opinião sobre essa iniciativa? Todos os esforços para solucionar o problema são bem-vindos, mas há problemas de implementação. O Sistema de Proteção Escolar foi anunciado em fevereiro de 2010 e ele estabelece que cada escola pode contar com até dois professores mediadores. Os ex-professores de psicologia têm prioridade para essa função. Os estudantes não têm mais aulas de psicologia, já que a disciplina foi extinta do currículo. Então, por mais que os mediadores tenham bom relacionamento com os alunos e a comunidade, há uma série de fatores que dificultam o diálogo e, infelizmente, como temos visto em inúmeros casos, nem sempre eles conseguem agir. Por outro lado, o governador vetou projeto de lei da deputada Ana do Carmo (PT), que estabelece a presença de psicólogos nas escolas. Estamos lutando para que esse veto seja derrubado pelos deputados estaduais. Para a Apeoesp, que ações devem ser implantadas para combater a violência escolar, que resulta em grande parte no risco aos professores? Acreditamos que o Estado tem demorado muito para agir. Se a escola não se tornar um lugar prazeroso para seus alunos, respondendo a seus anseios, e se a autoridade do professor não for reconstituída, por meio de políticas de valorização, a violência escolar vai persistir. Por isso, cabe ao governo desenvolver políticas coletivas, nas quais a questão da violência não seja vista de forma isolada, mas como parte de uma política educacional que assegure ensino de qualidade para todos. Na sua opinião, qual é o papel dos sistemas de segurança eletrônicos, como, por exemplo, câmeras de vigilância, para diminuir os casos de risco à segurança patrimonial e da comunidade escolar? A violência no interior das escolas não se resume a um problema de segurança, embora seja necessária a presença efetiva da ronda escolar no entorno das unidades escolares para prevenir a presença do tráfico de drogas, vândalos, gangues e outros criminosos. 22 Security Brasil www.cipanet.com.br

Nossa nova pesquisa mostra que a presença da ronda escolar é menor nos locais onde há mais ocorrências de violência nas escolas. Entretanto, a grande saída é o investimento, não apenas material, mas na valorização dos profissionais da educação e, nesse caso, também dos agentes públicos que atuam no combate à violência. É preciso haver mais funcionários nas escolas e maior participação da comunidade na gestão das unidades. Diante do aumento no número das ocorrências de violência em escolas estaduais, a Apeoesp tem feito algum tipo de orientação específica para a proteção dos professores? Os professores que são vítimas da violência e, frequentemente, até adoecem em razão do intenso estresse ao qual são submetidos, recebem assistência jurídica do sindicato. Registre-se que o departamento jurídico da Apeoesp tem atuado em diversos casos dessa natureza. Relatos de professores com problemas de insônia, síndrome do pânico e em licença médica por conta das agressões são conhecidos de todos os que lidam com a educação pública em nosso Estado. A Apeoesp acredita que vigilantes privados podem ajudar a diminuir as ocorrências em escolas estaduais? A presença da ronda escolar no entorno das escolas é indispensável para evitar o tráfico e afastar possíveis criminosos. Dentro da escola, acreditamos que as soluções passam pela melhoria das condições de trabalho e de ensino-aprendizagem, renovação dos métodos pedagógicos, transformação dos espaços e reorganização dos tempos escolares e do currículo e participação das famílias. Defendemos a contratação, formação e valorização dos agentes de organização escolar, inspetores, que possam atuar para conter atos de indisciplina, cumprindo um papel educativo. A grande saída para a educação e a segurança é o investimento, não apenas material, mas na valorização dos servidores públicos. Security Brasil 23 A Apeoesp criou algum canal para receber denúncias dos docentes? Como funciona? Em 2009, criamos o espaço Observatório da Violência no site da Apeoesp. Trata-se de uma iniciativa inédita; não há outro Observatório da Violência Escolar em São Paulo. Recebemos nesse espaço registros de casos de violência na escola, informaconsulta 2209

dos pelos associados, e também publicamos reportagens que, muitas vezes, foram originadas por denúncias feitas pelo próprio sindicato às TVs, rádios, jornais e sites. O site da Apeoesp tem ainda uma seção dedicada a trabalhos acadêmicos que destaca mestrados e doutorados sobre indisciplina, o bullying e o adoecimento dos professores afetados por essa realidade. Registre-se que os casos mais recentes de violência na escola que chegaram ao conhecimento público pelas reportagens nos jornais de grande circulação foram denunciados pela própria Apeoesp, que mantém um diálogo permanente com os professores, a imprensa e a sociedade sobre a questão. Atualmente, o celular faz parte da vida das pessoas, incluindo dos jovens estudantes. Na sua opinião, essa tecnologia tem influenciado a existência de ocorrências de violências na escola? Como os professores estão lidando com o desrespeito dos alunos em utilizarem o celular durante as aulas? A concorrência com equipamentos eletrônicos e o desrespeito dos estudantes no uso dos celulares é apenas mais um dos problemas que os professores enfrentam na sua rotina. Defendemos o diálogo entre pais, professores e alunos para estabelecer regras diplomáticas no uso desses equipamentos. Sabemos que há uma nova atitude juvenil, ligada às novas tecnologias. Para que a escola seja um espaço acolhedor para os jovens, é preciso investimento para a assimilação das novas linguagens e o respeito às regras estabelecidas para uma convivência diplomática entre professores, funcionários e alunos. Como é possível reduzir ocorrências de roubos, depredações, pichações e vandalismos no ambiente escolar? Observamos que muitos casos de agressão e depredação são decorrentes do processo de sucateamento a que a escola pública foi submetida. Infelizmente, nas escolas estaduais ainda faltam bibliotecas, salas de leitura, laboratórios e quadras devidamente equipados. Faltam profissionais como psicólogos, assistentes sociais e inspetores para apoiarem o trabalho dos professores e faltam também computadores, tablets e outros recursos tecnológicos. A própria escola poderia, com essas ferramentas, funcionar como agente preventivo à violência e não mais uma vítima dela. Para reduzir os casos de violência em ambiente escolar, geralmente as escolas privadas optam por câmeras e controle rígido de entrada e saída das escolas. A senhora acredita ser uma boa medida para combater a violência? Nas escolas estaduais os desafios ainda são anteriores às novas tecnologias, como o uso de câmeras sofisticadas. Existe uma completa permissividade nas escolas, que foi provocada pelo sucateamento e pelo desrespeito à figura do professor. As provas a que são submetidos grande parte dos professores, ao final da qual são qualificados pelo próprio governo e parte da mídia como incompetentes, contribuem para desgastar a figura do professor perante os estudantes. É preciso sim controlar o acesso, para evitar a entrada de assaltantes, traficantes e outros criminosos. Mas é necessário também um diálogo permanente da Secretaria da Educação com a comunidade escolar. Na sua opinião, a participação de professores em um seminário de segurança é uma iniciativa válida para prepará-los para a autodefesa? Todas as medidas e informações sobre o tema segurança são muito importantes. Mas a tarefa do professor é educar; ele não pode ser treinado para atuar como se fosse enfrentar perigosos adversários. O professor foi sendo sucessivamente diminuído perante seus alunos, que também não conseguem mais enxergar na escola um caminho indispensável para uma vida melhor. Os educadores precisam ser incentivados e valorizados para que possam exercer com altivez o seu papel. A senhora acredita que programas que promovam parcerias entre a escola, a comunidade e a sociedade civil possam reduzir os casos de violência nas escolas? Para não pensarmos de imediato em medidas mais sofisticadas, o governo deveria começar por recompor urgentemente o quadro de funcionários em todas as unidades escolares. Também deveria abrir ampla discussão curricular, reconhecendo nas escolas autonomia para elaborar e gerir seus projetos políticopedagógicos por meio dos conselhos de escola. As parcerias e o diálogo constante entre a escola, a comunidade e a sociedade civil são salutares para reestabelecer o papel de escola como agente transformador. 24 Security Brasil www.cipanet.com.br