A GESTÃO AMBIENTAL EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS 1



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Transcrição:

A GESTÃO AMBIENTAL EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS 1 LORENZETT, Daniel Benitti 2 ; ROSSATO, Marivane Vestena 2 ; NEUHAUS, Mauricio 3 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Curso de Ciências Contábeis (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: dlorenzett@gmail.com; marivavest@gmail.com; mcneuhaus@gmail.com RESUMO As empresas do ramo de abastecimento de combustíveis, por serem entidades potencialmente poluidoras, vêm buscando interagir de forma mais harmoniosa com o meio ambiente. Assim, este trabalho buscou verificar as medidas de gestão ambiental que devem ser adotadas por esse ramo de atividade, de acordo com a legislação ambiental existente. Para tanto, foi realizado um estudo de caso, utilizando a técnica de observação e a técnica da entrevista estruturada, junto a um posto de combustíveis, localizado na cidade de Santa Maria - RS. Os resultados revelaram que a entidade apresenta gestão ambiental e gestão de resíduos, atuando dentro dos padrões estabelecidos pela legislação, uma vez que os resíduos e efluentes gerados nas atividades são tratados e eliminados de forma segura. Palavras-chave: postos de combustíveis; legislação ambiental; gestão ambiental. 1. INTRODUÇÃO As atividades desenvolvidas pelos postos de combustíveis são consideradas potencialmente poluidoras, pois podem ser prejudiciais a água, ao solo e ao ar. Assim essas empresas vem investindo em proteção ambiental de forma a assegurar a integridade do meio ambiente. Nesse âmbito, as administrações públicas estão estabelecendo normas e procedimentos mais seguros e adequados para tais empresas, potencialmente poluidoras. Nesse contexto, surgiu a seguinte questão-problema: quais as medidas de gestão ambiental estão sendo adotadas e quais devem ser adotadas pelo segmento de abastecimento de combustíveis? Este estudo justifica-se pela necessidade de obtenção de informações referentes à adoção de medidas de gestão ambiental no segmento de abastecimento de combustíveis. Para tanto, especificamente foi realizado um levantamento das atividades desenvolvidas num posto de combustível; identificado de que forma ocorre à interação da entidade com o meio ambiente; e levantadas as medidas de gestão ambiental que estão sendo adotadas e as que devem ser adotadas para atender a legislação vigente. Esse estudo foi estruturado para ser apresentado em quatro seções, além desta introdução, onde a seção dois apresenta o referencial teórico. A seção três contém a 1

metodologia da pesquisa. A seção quatro, por sua vez, contempla os resultados e discussões. E a seção cinco, que apresenta as considerações finais. 2. REFERÊNCIAL TEÓRICO 2.1 O ramo de postos de combustível Segundo Santos (2005), os postos de combustíveis possuem basicamente as seguintes instalações: bombas de abastecimento; tanques subterrâneos de armazenamento; pontos de descarga de combustíveis; tanque para recolhimento e guarda de óleo lubrificante usado; tubulações enterradas que comunicam o ponto de descarga com o reservatório e este com as bombas; edificações para escritório e arquivo morto; loja de conveniência; centro de lubrificação e de lavagem; unidade de filtragem de diesel; e o sistema de drenagens oleosas e fluviais. Para Lorenzett e Rossato (2010, apud Santos, 2005), os postos de combustíveis desenvolvem atividades como: recebimento e armazenamento de combustíveis em tanques subterrâneos; abastecimento, lubrificação e lavagem de veículos; drenagem e purificação dos efluentes líquidos; troca de óleo e de filtros; e operação da loja de conveniência. Segundo os autores (2010), essas atividades são consideradas potencialmente poluidoras, uma vez que manuseiam produtos derivados de petróleo, podendo causar danos ao meio ambiente. Ainda, segundo Lorenzett e Rossato (2010, apud Santos, 2005), os impactos ambientais causados pelo desenvolvimento das atividades de posto de combustível podem ser controlados ou até mesmo evitados, desde que, se invista na adoção de medidas de gestão ambiental. 2.2 Legislação ambiental aplicável aos postos de combustíveis O comércio varejista de combustíveis está submetido à legislação ambiental desde 1981, através da Lei Federal nº 6.938, que foi regulamentada pelo Decreto Federal n.º 99.274/90. Essa atividade foi considerada sujeita ao licenciamento ambiental pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 237 em 1997, e mais recentemente regulamenta e padronizada pela Resolução CONAMA nº 273 de 2000. 2

De acordo com a Resolução do CONAMA nº 273/00, em seu Art. 4, será exigido do posto de combustível, para poder operar, as seguintes licenças ambientais: I - Licença Prévia - LP: concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação; II - Licença de Instalação - LI: autoriza a instalação do empreendimento com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo medidas de controle ambiental e demais condicionantes da qual constituem motivo determinante; III - Licença de Operação - LO: autoriza a operação da atividade, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação (CONAMA, 2000, n/p). De acordo com o Art. 8, dessa mesma Resolução, os proprietários, arrendatários ou responsáveis pelo estabelecimento, em caso de impactos e consequentes passivos ambientais, responderão solidariamente pelos prejuízos causados, sejam eles ao meio ambiente ou a pessoas. Sugerindo a ocorrência de responsabilidade em todo sistema de sucessão na propriedade da área contaminada. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA Este trabalho, quanto à abordagem da pesquisa, classificou-se como pesquisa qualitativa, que para Richardson (2008), é a tentativa de se entender a natureza do problema estudado, através da observação e descrição, tendo por objeto situações complexas ou estritamente particulares, sem utilizar procedimentos estatísticos para análise do problema, o que imprime certo teor de subjetivismo a pesquisa. Em relação aos objetivos, segundo definições de Andrade (1999), esta pesquisa foi considerada descritiva e exploratória, pois observou as situações e relações que ocorreram com o objeto estudado, sem que para isso, houvesse interação do pesquisador com o objeto alvo de estudo, constituindo-se num trabalho inicial, que fundamentará outro tipo de pesquisa, uma vez que o assunto estudado é recente e pouco explorado. Quanto aos procedimentos técnicos, esta pesquisa fez uso da pesquisa documental; do estudo de caso; da técnica da observação; e da técnica da entrevista estruturada. Segundo Marconi e Lakatos (2005), a pesquisa documental é uma forma de coleta de dados restrita a documentos, como jornais, imagens, leis e gravações. Este procedimento foi utilizado na verificação da legislação pertinente a atividade de posto de abastecimento de combustível. 3

O estudo de caso foi realizado no posto de combustíveis, Investimento em Proteção Ambiental tem seu Retorno Ltda, localizado na cidade de Santa Maria/RS, onde foram observados as atividades realizadas no estabelecimento e principalmente foram identificadas as medidas de gestão ambiental adotadas na entidade, através dos procedimentos da observação e da entrevista estruturada. O procedimento da observação, para Martins (2006, p.23), ao mesmo tempo em que permite a coleta de dados das situações, envolve a percepção sensorial do observador, distinguindo-se, enquanto prática científica, da observação da rotina diária. Ao passo que a entrevista estruturada, segundo definições de Marconi e Lakatos (2005, p. 199), é aquela em que... o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido..., onde as perguntas feitas são predeterminadas, e aplicadas à pessoas selecionadas segundo um plano. Dessa forma os dois procedimentos se completam, pois a entrevista estruturada pode preencher as lacunas deixadas pelo procedimento da observação. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 As atividades desenvolvidas no posto de abastecimento de combustível Através do uso da técnica da observação, foi constatado, que no estabelecimento estudado, são realizadas as seguintes atividades: a) Atividade de armazenamento de combustível; b) Atividade de abastecimento de veículos; c) Atividade de lavagem de veículos; d) Atividade de troca de óleo, filtros e de lubrificação; e) Atividade de loja de conveniência. 4.2 Interação dos postos de combustível com o meio ambiente A interação com o meio ambiente, como demonstrado no Quadro 1, ocorre em função do consumo de recursos naturais e dos resíduos gerados pela atividade, principalmente quanto ao destino dado a esses resíduos decorrentes das atividades operacionais realizadas no estabelecimento. Conforme demonstrado no Quadro 1, as atividades desenvolvidas geram resíduos sólidos e líquidos. Tais resíduos por serem potencialmente perigosos ao meio ambiente, e devem ser eliminados de forma segura. Assim, a entidade prima por tratar os efluentes líquidos, e terceirizar a disposição final dos resíduos sólidos para empresas especializadas. 4

ATIVIDADE DESENVOLVIDA Armazenamento de combustível Abastecimento de veículos Lavagem de veículos Troca de óleo, filtro e lubrificação Loja de conveniência Tratamento dos efluentes líquidos RECURSOS NATURAIS CONSUMIDOS RESÍDUOS / EFLUENTES GERADOS DESTINO DOS RESIDUOS / EFLUENTES Não consome Vapores tóxicos Lançado diretamente no ar Água da chuva para Efluentes líquidos Tratados e eliminados limpeza no esgoto comum Flanelas utilizadas São recolhidas por no abastecimento empresa Água da chuva como matéria-prima Água da chuva para limpeza Efluentes líquidos Flanelas, estopas e esponjas utilizadas nas lavagens Efluentes líquidos Óleo queimado, filtros usados, embalagens de lubrificantes, flanelas e estopas utilizadas nas atividades Efluentes líquidos especializada Tratados e eliminados no esgoto comum São recolhidas por empresa especializada Tratados e eliminados no esgoto comum São recolhidos por empresa especializada e enviados para aterros sanitários ou reciclados Água da chuva para limpeza Tratados e eliminados no esgoto comum Não consome Lodo tóxico É recolhido por empresa especializada Quadro 1 - Interação da atividade com o meio ambiente Fonte: Lorenzett e Rossato (2010) As atividades desenvolvidas pelo posto de combustível mantêm relações diretas e intensas com o meio ambiente, através do contato com os compartimentos solo, água e ar. Esse contato é evidenciado através de aspectos ambientais como: liberação de gases toxicos no ar; derrame e vazamento de combustiveis no solo e na água; e má disposição dos resíduos. Esses aspectos podem causar vários impactos ambientais, como: a contaminação do ar, das águas superficiais e subterrâneas, dos rios locais, da bacia hidrográfica da região, e do solo. Esses impactos estão direta e indiretamente relacionados com a redução da diversidade da fauna e da flora, podendo, comprometer, da mesma forma, a saúde humana, especialmente dos funcionários que desenvolvem as atividades no posto de abastecimento de combustível. 5

Quanto aos aspectos nos quais a empresa interage com o meio ambiente, podem ser citados os seguintes: a captação da água da chuva, sua utilização, tratamento e devolução a natureza; o armazenamento e monitoramento de combustível; o abastecimento e os cuidados durante o abastecimento; e a manutenção de uma área verde. A posição da empresa frente a estes aspectos consiste em utilizar dos recursos naturais sempre de forma responsável, procurando não agredir o meio ambiente, reduzindo os custos da atividade e contribuindo para o equilibrio ambiental. 4.3 Levantamento das medidas de gestão ambiental Através da técnica da observação e da entrevista estruturada foi observado que o posto estudado adotou todas as medidas exigidas pelos órgãos fiscalizadores no âmbito ambiental, necessárias para exercer a atividade. Verificou-se, também, que a adoção dessas medidas data do período da licença de implantação (LI), como condição para a obtenção da licença de operação (LO). As medidas exigidas pelo órgão ambiental para a concessão e renovação da licença de operação são as seguintes: a) A coleta semestral de amostra dos poços de monitoramento para verificação da qualidade da água subterrânea para controle e detecção de vazamentos do sistema de abastecimento subterrâneo de combustíveis, devendo ser apresentado laudo anual ao órgão fiscalizador das análises realizadas; b) O óleo queimado, somente poderá ser coletado por empresa licenciada pelo órgão ambiental estadual, com comprovação dessa alienação via nota fiscal; as águas utilizadas, caso devolvidas à natureza deverão passar por processo de desentoxicação em caixa separadora de água e óleo; c) A comercialização de lubrificantes está condicionada à compra de fornecedores que realizam a coleta das embalagens pós-consumo, ou seja, a logística reversa dos materiais pós-consumo; d) O piso da pista de abastecimento deve ser impermeável com drenagem conectada a caixa separadora, não sendo permitido abastecimento fora dele; e) O abastecimento dos tanques subterrâneos somente poderá ser realizado por veículo licenciado para fontes móveis de poluição no órgão ambiental; f) É proibida a utilização de tanques subterrâneos remanufaturados; g) A área de lavagem dos veículos deve ser drenada e conectada a caixa separadora, sendo seu piso impermeável; 6

h) A limpeza e manutenção da caixa separadora devem ser realizadas conforme especificações do órgão fiscalizador; i) Quanto às emissões atmosféricas deve ser realizada manutenção nos dispositivos de controle de vapores dos tanques subterrâneos conforme especificações do fabricante e apresentado laudo anual dessas manutenções; j) Deve ser apresentada, anualmente, comprovação da destinação correta, dos resíduos gerados, como lodo da caixa separadora, embalagens de lubrificantes, óleo queimado, flanelas e estopas; k) Deve ser mantido ao menos dois funcionários treinados nas atividades de controle ambiental, prevenção e combate a incêndios e acidentes, com comprovação anual; l) Deverá manter uma área de preservação de 577,50 m². Como medida de controle ambiental, o posto de combustível estudado adotou para o armazenamento de combustível, tanques ecológicos anticorrosivos, de forma a evitar possíveis vazamentos de combustíveis. Além dessa medida, o posto mantém dois poços de monitoramento na área dos tanques subterrâneos, da onde são retiradas amostras das águas subterrâneas semestralmente para verificar seu grau de pureza, de forma a assegurar que essas águas não serão contaminadas. O estabelecimento utiliza para o abastecimento as bombas eletrônicas, o que permite maior precisão no abastecimento. Essas bombas possuem, em seus bicos, um sensor que aciona quando da presença de calor excessivo ou do contato com o combustível, quando o tanque encontra-se cheio, impedindo assim o derrame de combustível e também possíveis explosões. Contam ainda, com um sistema interno que impede a volta de combustível para a bomba, impedindo, em caso de incêndio, que o fogo atinja maiores proporções, reduzindo a probabilidade de explosões. Além da adoção de equipamentos mais modernos, como medidas de segurança, os frentistas utilizam uma flanela para realizar o abastecimento, com a qual limpam o bico da bomba quando da retirada do veículo no término do abastecimento. Tal prática, evita o gotejamento de combustível tanto no veículo como no piso do estabelecimento. Destaca-se nas atividades de toca de óleo, filtro e lubrificação, que todo o óleo queimado retirado de veículos é conduzido ao tanque reservatório de óleo queimado de forma canalizada, para posterior coleta por empresa especializada, sendo os demais resíduos, como: flanelas, estopas, embalagens e filtros usados, são devidamente armazenados para posterior coleta por empresas especializadas, através da cadeia de logística reversa desses materiais. 7

Todo o perímetro das atividades do posto é cercado por canaletas, desde a área dos tanques até a pista de abastecimento. Essas canaletas são interligadas a caixa separadora de água e óleo e servem para condução dos efluentes líquidos, gerados pela atividade, para a caixa separadora, onde receberão tratamento. Pode-se elencar como práticas e procedimentos adotados no decorrer das atividades diárias e que se relacionam com a proteção e preservação do meio ambiente, os seguintes: captação da água da chuva; canalização e tratamento dos efluentes líquidos; canalização dos resíduos de óleo queimado; armazenamento de resíduos (óleo queimado, flanelas, estopas, embalagens e filtros); devolução das embalagens de lubrificantes aos fornecedores; e destinação correta dos resíduos gerados nas atividades. As medidas de gestão ambiental adotadas contemplam o aproveitamento da água da chuva e o tratamento dos efluentes líquidos, onde são retirados da água todos os resíduos químicos antes de sua devolução para a natureza, através da caixa separadora de água e óleo. Essa caixa separadora é formada por uma grande caixa subterrânea, subdividida em varias caixas menores. Nela a água passa por várias fases de decantação, onde é gradativamente desentoxicada. Essa água, já sem os resíduos, ainda não é uma água plenamente limpa. Consiste numa água turva e meio barrenta, não podendo ser reutilizada na atividade. Seu destino consiste no lançamento junto ao esgoto comum, ao passo que os resíduos químicos provenientes da separação são estocados para posterior coleta por empresa especializada. Para o caso de ocorrência de acidentes ambientais, o posto possui pessoal treinado e equipamentos para imediato controle da situação, mas é imprescindível que a FEPAM seja imediatamente comunicada bem como as refinarias fornecedoras (co-responsáveis) para que se possa mensurar e controlar plenamente os danos. Assim, o supervisor e o gerente são treinados por uma empresa que presta serviços de treinamento à funcionários de postos de combustíveis, para operação, manutenção e resposta a acidentes. Também é realizado um treinamento anual com os demais funcionários do posto com vistas aos corretos procedimentos para o desenvolvimento das atividades. Quanto o que determina a Resolução nº 273/2000 do CONAMA, foram realizados todos os estudos pertinentes à localização das instalações antes do início da construção delas. Os referentes à adoção de tecnologias ecologicamente corretas, para as instalações do estabelecimento, e aqueles previamente à entrada em operação, bem como os testes e ensaiados nos equipamentos e sistemas para a comprovação da inexistência de falhas ou vazamentos, de forma a possibilitar a avaliação de sua conformidade com o Sistema 8

Brasileiro de Certificação. Conforme determinado pela FEPAM, o posto, ainda, mantém uma área verde para preservação ambiental. Para a obtenção da licença prévia foram realizados os estudos de localização junto a Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (FEPAM) e a Agencia Nacional do Petroleo (ANP); para obtenção da licença de instalação foram realizados os estudos de tecnologias, e foram adotadas as bombas eletrônicas, os tanques ecológicos, e a estação de tratamento de efluentes liquidos (caixa separadora); e para obtenção da licença de operação foram realizados os testes e ensaios nos equipamentos de forma a comprovar que estes estavam em conformidade com o sistema brasileiro de certificação. Tendo o posto, portanto, passado pelas três fases do licenciamento ambiental, a licença prévia, a licença de instalação e a licença de operação. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer deste estudo foi observado que o posto de combustível estudado desenvolve as atividades de armazenamento de combustível, abastecimento e lavagem de veículos, troca de óleo, troca de filtros, lubrificação e loja de conveniência. Tais atividades mantêm relações diretas e intensas com o meio ambiente, através do contato com o solo, a água e o ar, podendo causar prejuizoz diretos e indiretos ao meio ambiente e à saúde humana, especialmente dos colaboradores da entidade, que desenvolvem as atividades mencionadas. Dessa maneira, foi identificado que a entidade interage com o meio ambiente através do desenvolvimento dessas atividades, uma vez que ela está em constante contato com a água, o solo e o ar, podendo, em caso de descuidos, vir a causar danos ambientais. Do trabalho de levantamento das medidas de gestão ambiental exigidas pela legislação vigente, como requisito para exercer a atividade de posto de combustível, foi constatado que o estabelecimento estudado vem adotando todas as medidas cabíveis, como: controle e detecção de vazamentos, tratamento dos efluentes líquidos e disposição final adequada dos resíduos gerados pela atividade, além de manter uma preocupação constante com a questão ambiental. Para futuras investigações, fica a sugestão de trabalhar comparativamente, estudando um posto de combustível que esteja adequado às normas e um que não esteja adequado, para verificaçar até que ponto um posto com instalações irregulares poderia exercer suas atividades. 9

REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução a metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. CONAMA. Resoluções: resolução n 273 de 29 de novembro de 2000. [s.l.]: CONAMA, 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res00/res27300.html>. Acesso em: 25 de Set. 2009. LEITE, Paulo Roberto. Logística reversa: meio ambiente e competitividade. 2. Reimpressão. São Paulo, SP: Pearson Prentice Hall, 2006. LORENZETT, Daniel Benitti; ROSSATO, Marivane Vestena. A gestão de resíduos em postos de abastecimento de combustíveis. Revista Gestão Industrial, v. 6, n. 2, p. 110-125. Ponta Grossa, PR, 2010. Disponível em: <http://www.pg.utfpr.edu.br/depog/periodicos/index.php/revistagi/article/view/598/479>. Acesso em: 30 de Jun. 2010. MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2006. MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. 9. Reimpressão. São Paulo: Atlas, 2008. SANTOS, Ricardo José Shamá dos. A gestão ambiental em posto revendedor de combustíveis como instrumento de prevenção de passivos ambientais. 2005. 217f. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão do Meio Ambiente). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005. 10