431 Estudos e Pesquisas em Legados e Megaeventos - parte do capítulo:



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Transcrição:

Capítulo publicado no livro Legados de Megaeventos Esportivos CONFEF/Ministério do Esporte, 2008 com apoio do SESI DN, SESC Rio e Universidade Gama Filho. ISBN.978-85-61892-00-5 431 Estudos e Pesquisas em Legados e Megaeventos - parte do capítulo: Voluntários Volunteers Pesquisa Comparativa entre Voluntários dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 e Voluntários dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 Verônica Périssé Nolasco / Grupo Estudos Olímpicos UGF / Carla Tavares / Denise Fonseca / Mônica Rodrigues / Sesc Rio / Eliana Maia / Fábio Costa / IH / Lamartine DaCosta / Grupo Estudos Olímpicos UGF The Volunteers of the Pan American Games Rio 2007 a comparative study with the volunteers of the Olympic Games of Athens 2004 This study aimed to develop, reinforce and extend research already done about volunteer work in sports events as a legacy and register of the facts that took place in the Rio 2007 Pan American Games. Two distinct instruments were used: (i) the questionnaire applied to the research in Athens2004, and (ii) the questionnaire applied to the authors of the project Atlas of Sports in Brazil-2004, which was also implemented with volunteers. A presente investigação tem como objetivo caracterizar perfis pessoais e condições operacionais dos voluntários do PAN 2007 com base em comparações de abordagens similares feitas com voluntários dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004. Como tal, o levantamento produzido com amostras do voluntariado do PAN 2007 e dos Jogos de Atenas 2004 inseriu-se na linha de pesquisa sobre voluntários esportivos conduzida desde 2004 na Universidade Gama Filho-UGF e, posteriormente, depois de 2005 no SESC Rio (Perissé Nolasco, 2007). A base de dados para a fase UGF das pesquisas foi constituída por participação na montagem do Atlas do Esporte no Brasil (DaCosta, 2005) ao passo que a fase SESC Rio apoiou-se nos projetos sócio-culturais desta entidade por meio de sua Gerência de Esporte e Lazer. No caso dos voluntários do PAN 2007 obteve-se suporte do Instituto da Hospitalidade - IH, instituição responsável pela capacitação on line de parcela significativa dos voluntários dos Jogos Pan-Americanos através do Ministério do Turismo. A experiência da produção do Atlas do Esporte no Brasil reuniu 410 autores voluntários. Por seu turno, o projeto Sesc Voluntário Pelo Esporte - o qual tem como objetivo reunir e capacitar voluntários em todas as áreas do esporte favorecendo assim a participação social e o desenvolvimento da cidadania beneficiou o andamento de competições esportivas promovidas por parceiros do SESC Rio e por organizadores diversos de eventos. Em resumo, as áreas de atuação do projeto Sesc Voluntário Pelo Esporte, tem abrangido capacitação e atuação: na área de pesquisa através de aplicação de questionários; na área acadêmica através de atuação em congressos, seminários, e cursos; na área do esporte de alto rendimento junto aos eventos que reúnem atletas ou pára-atletas. na área social com foco na participação e exercício da cidadania, com vistas à construção de um mundo mais justo e com melhor qualidade de vida.

Com respeito à parceria do SESC Rio com o Instituto da Hospitalidade, utilizou-se um mailing enviado pelo Instituto aos voluntários, composto por 10.500 endereços. Deste conjunto de informações estabeleceu-se um link como acesso ao questionário da pesquisa, o qual foi computado pelo Sistema SESC de Informática. Neste procedimento eletrônico, as respostas foram tabuladas em uma base de dados, com geração de gráficos e tabelas. A partir desta organização foi possível fazer comparações entre respostas de voluntários dos Jogos Pan-Americanos com itens similares de atuação do voluntariado dos Jogos Olímpicos de Atenas obtidos em Christian Adam (2004). O questionário on line foi respondido por 1.529 voluntários o que indica um número de respondentes a 14,56 % do total de consultas. Por seu turno, o questionário aplicado durante os Jogos Olímpicos de Atenas abrangeu um universo de 385 respondentes na modalidade de pesquisa de campo. A validade do procedimento on line foi estabelecida por equivalência com pesquisas que usaram o método de resposta por correspondência. A cifra mínima de 10% de respondentes para validação da pesquisa por correspondência da versão brasileira foi obtida em Barry e Lang (2000), autores de estudo com metodologia similar ao presente estudo. A estratégia metodológica da aplicação do instrumento relacionado ao PAN 2007 acompanhou procedimentos de Bing, Akintoye, Edwards e Hardcastle (2005), condutores de um survey de bases similares ao que ora se descreve. Segundo esta última fonte referenciada, fatores motivacionais de escolha foram formatados como percepções por parte dos respondentes. Tais percepções foram elaboradas por meio de uma seleção feita na literatura técnica correspondente ao tema da pesquisa citada, adotando-se o critério da relevância. Em síntese, ambas as amostras Rio 2007 e Atenas 2004 podem ser considerados na esfera da metodologia científica com grau adequado de representatividade, o que nos remete ao estudo da pesquisa em si mesma. Em geral, perguntas idênticas dos levantamentos Atenas e Rio mostraram que os respondentes consideram em sua grande maioria, ser fundamental o treinamento para as ações a serem desempenhadas. Também se observou ainda na ordem geral de caracterizações, que entre os voluntários do Rio de Janeiro 73% praticavam esportes regularmente e em Atenas apenas 68,8 %. Por outro lado, no Rio 96,27% e em Atenas 86,9 % tinham interesses profissionais ligados ao esporte e ao público esportivo. Constatou-se também que durante o desenvolvimento das tarefas relacionadas ao Voluntariado Esportivo dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, 57,35 % não sentiram necessidade de uma supervisão e/ou gerência mais próxima, enquanto 40,54% sentiram a necessidade de gerência mais próxima. Ao perguntar aos voluntários do Rio se as orientações recebidas foram suficientes para a elaboração do seu trabalho no Grupo de Voluntários Esportivos dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, recebemos as seguintes respostas: 66,77% disseram: sim, me adaptei bem às tarefas ; 23,41% disseram: sim, porém poderia haver mais supervisão ; e 6,17 % disseram que as orientações recebidas não foram suficientes para desenvolvimento das tarefas. Esta pergunta não constou do questionário de Atenas. Perguntou-se também ao grupo de voluntários do Rio se houve apoio para participação no PAN 2007 por parte das instituições de trabalho dos voluntários e 35,64% disseram que sim ; 19% disseram que não, porque não solicitei ; 6,67% disseram que não, porque solicitei e foi recusado ; e 37,27 % disseram não ter vínculo de trabalho com instituições. Dos voluntários nos Jogos do Rio, 17,64% estavam empregados em empresas públicas; 30,57 % na iniciativa privada; 6,81 % classificaram-se como aposentados ou pensionistas e 33,88 % declararam ter outros vínculos de emprego. Tal caracterização foi apenas relacionada aos voluntários do Rio, dos quais 68,86 % eram moradores da cidade no período do PAN, isto é julho de 2007. Na ordem particular de caracterizações, a partir de perguntas equivalentes para os grupos Rio e Atenas, nas respostas correspondentes participação de gêneros (Quadro 1), observamos que em ambos os casos a participação feminina superou

em número a participação masculina, o que sugere explicações preliminares de auto-afirmação feminina via voluntariado em megaeventos ou de haver mais mulheres com tempo disponível para o trabalho voluntário do que homens para a mesma função. No quadro 2 relacionou-se a participação voluntária entre os habitantes locais e/ou forasteiros. Neste quesito, em Atenas a participação de estrangeiros foi consideravelmente superior aos Jogos do Rio, sugerindo influência da proximidade geográfica européia ou intercâmbio maior entre países na mesma região. Importa considerar também que os Jogos realizados em Atenas foram Olímpicos, sendo assim de caráter mais abrangente que os Jogos do Rio, de abrangência apenas pan-americana, envolvendo um número menor de países. No quadro 3 constata-se que nas faixas etárias até os 30 anos, a participação de voluntários foi mais expressiva em Atenas; nas faixas de 31-40 anos, ambos os Jogos tiveram o mesmo índice de participação; a partir dos 41 anos, houve maior participação nos Jogos do Rio. Outra interpretação cuja informação vale para o Pan do Rio - é de que a Lei do Voluntariado não Brasil não permite a participação de voluntários com faixa etária inferior a 18 anos. No quadro 4 encontra-se o estado civil dos voluntários em que a participação de solteiros tem maior destaque em Atenas, sendo que no Rio o número de casados é mais expressivo. Assim, pode-se interpretar que apesar de haver uma parcela de voluntários com faixa etária mais avançada nos Jogos do Rio, também nota-se que a maior concentração de voluntários se encontra nas faixas de idade até 40 anos. Esta constatação em ambos os lugares nos oferece uma informação valiosa para os próximos megaeventos a serem produzidos no Brasil, no sentido da preparação das capacitações para voluntários. Outrossim, em Atenas Estudos e Pesquisas em Legados e Megaeventos os solteiros são expressivamente mais representativos em sua participação, o que nos remete à colocação feita na pesquisa de Atenas sobre o fato de que a grande maioria de voluntários foi de estudantes. Por outro lado, no Rio a participação da sociedade foi bem mais ampla tanto para os casados quanto para os divorciados e/ou separados e viúvos. Esta constatação nos mostra que no Rio a mesclagem de estado civil permite que os organizadores de evento sejam mais beneficiados quanto à escolha dos voluntários, tendo em vista que estado civil impõe poucas barreiras para a participação. Para o quadro 5 encontramos o item religião então constatando que o cristianismo é mais representativo em ambas as cidades, o que pode ser explicado pelo fato de que há variantes das idéias cristãs. Observa-se também que significativamente enquanto no Rio aqueles que pertencem a outras religiões não se abstiveram de dizê-lo, em Atenas aqueles que não são cristãos não responderam a esta pergunta. Sugere-se assim, que a cultura do Rio aparenta ser mais aberta à revelação das opções de religiosidade e, portanto mais acessível à integração de diferentes grupos sociais. No quadro 6 que trata do tema da formação educacional, visualizamos realidades bastante distintas, posto que a grande maioria de voluntários do Rio é graduada ou pós-graduada, enquanto em Atenas os níveis de formação escolar são mais mesclados entre os voluntários. Este fato oferece aos organizadores de eventos a possibilidade de direcionamento (mix na linguagem mercadológica) para a comunicação tendo em conta que seu maior público tem níveis de formação bastante próximos. No quadro 7 podemos verificar que as informações sobre idiomas não obedecem ao mesmo critério de apresentação das respostas, contudo pode-se concluir que em ambos os locais houve expressivo número de voluntários com habilidades múltiplas em idiomas, sendo talvez uma característica típica de voluntariado de megaeventos. No quadro 8 podemos observar o percentual de voluntários que trabalham, a saber, que no Rio 65,15 % e em Atenas 31,2 % responderam afirmativamente. A pesquisa de Atenas esclareceu, todavia que a maioria de seus voluntários era de estudantes. No quadro 9 encontra-se uma seqüência de circunstâncias motivacionais através das quais houve maior ou menor envolvimento para participar dos Jogos. Podemos notar que esta questão está numerada em escala de 1 para muito importante a 5

para menos importante. Vamos registrar aqui os 2 tópicos mais importantes para cada um dos Jogos: em Atenas o que mais importou aos voluntários foi fazer parte de um evento de nível internacional com 1,27 pontos e o fato de viver experiência de atmosfera inigualável com 1,49 pontos. No Rio de Janeiro os 2 tópicos mais motivadores foram fazer parte de um evento de nível internacional com 1,66 pontos e ter a oportunidade de trabalhar numa experiência única com 1,67 pontos. Em ambas as situações podemos perceber que os valores entre os homens com caráter de fortes emoções têm a mesma força de resposta para a participação voluntária, ou seja, que os grupos sociais são movidos em sua maioria por causas comuns a todos. No quadro 10 são apresentados os meios de comunicação através dos quais os voluntários fizeram uso para inscreverem-se nos Jogos. Em ambos os casos, tanto em Atenas quanto no Rio de Janeiro, a grande maioria de voluntários utilizou a Internet para sua inscrição. Todavia em Atenas a quantidade de voluntários que utilizou o telefone ou fax foi consideravelmente superior ao mesmo item no Rio. Considerando-se que as tarifas telefônicas na Europa são bem mais acessíveis que as brasileiras, este fato torna-se mais oportuno. Com relação às inscrições via correios, observamos que a população da Grécia deve ser mais tradicional favorecendo assim o uso de cartas via correios, algo menos evidente do que no Brasil. No quadro 11 verifica-se que o tempo médio gasto pelos voluntários para chegar de suas acomodações ao local dos Jogos foi para Atenas em média 53,24 minutos; já no Rio a medição do tempo levado foi medida em percentuais, a saber: 10 min - 8,10 %; 20 a 30 min - 31,13 %; 1 hora 32, 89%; e 2 horas ou mais 20,85%. Ou seja: no PAN 2007, os voluntários gastaram mais tempo em média - em trânsito do que em Atenas, refletindo assim as condições de transporte público e privado de menor eficiência habitualmente revelada com relação ao Rio de Janeiro. No quadro 12 registra-se o tempo de trabalho por dia dedicado aos Jogos: em Atenas houve uma média de 7,74 h/dia, enquanto no Rio a média de horas trabalhadas foi superior, pois 52,19 % trabalharam até 8 h/dia e 39,96% trabalharam entre 8 e 15 horas/dia. No quadro 13 observamos que em Atenas os custos foram considerados positivos por um grande numero de voluntários, fato que ocorreu em incidência um pouco menor no Rio de Janeiro. No quadro 14 são estimados os percentuais de experiência em voluntariado dos voluntários dos Jogos, verificando-se para os Jogos do Rio que 57,35% dos voluntários já haviam trabalhado em funções semelhantes e nos Jogos de Atenas 38% dos voluntários já o haviam sido anteriormente. No quadro 15, com referência aos Jogos Pan-Americanos, 84,89% dos voluntários crêem que este evento tem grande e duradouro futuro. Nos Jogos Olímpicos de Atenas a cifra desta pergunta é próxima a de Atenas: 79,2%. Para o quadro 16, apresenta-se a média estimada para a avaliação do Manual preparado para treinamento e orientação dos voluntários em uma escala de 1 para muito bom a 5 para muito ruim. Em Atenas a média foi 1,9 e no Rio um total de 50,28% dos voluntários foram marcados na avaliação entre 1 e 2 pontos. No quadro 17 a pergunta aos voluntários - eles ou elas incidiu na importância atribuída ao treinamento para as ações a serem desempenhadas nos megaeventos esportivos da investigação, ao que no Rio 95,35 % disseram ser muito necessário e em Atenas 63,5 % confirmando tal necessidade. Esta discrepância pode ser atribuída em princípio a existência de uma gestão mais eficiente e próxima das ações dos voluntários ocorrida em Atenas, porém esta hipótese requer estudos mais pormenorizados. Considerações Finais Para dar sustentação teórica às conclusões que se seguem, fez-se uma revisão da literatura técnica existente sobre o voluntariado em geral e sobre o voluntariado

esportivo, seguindo-se o modelo de pesquisa abordado por Périssé Nolasco com colaboração de DaCosta (2006): (1) Os voluntários dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007 e dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, em ambas as cidades declararam ter se engajado visando ao alcance de oportunidades profissionais Rio 96,27% e Atenas 86,9% -, mas apresentam um elevado índice de adesão a causas de benefícios coletivos, pois no Rio 57,35% já haviam sido voluntários antes dos Jogos e em Atenas 38% também o haviam sido. Ou seja: estes voluntários ajustam-se à concepção alcançada nos referenciais teóricos da pesquisa citada de 2004, de que há normalmente sobreposição de vários propósitos na adesão ao voluntariado esportivo. (2) Os fatores motivacionais dominantes quanto ao engajamento dos voluntários nos Jogos foram especificamente: em Atenas fazer parte de um evento de nível internacional com 1,27 pontos e o fato de viver experiência de atmosfera inigualável com 1,49 pontos; no Rio de Janeiro os 2 tópicos mais motivadores foram fazer parte de um evento de nível internacional com 1,66 pontos e ter a oportunidade de trabalhar numa experiência única com 1,67 pontos. No contexto destes destaques, constatou-se que fazer parte do movimento olímpico é igualmente importante para os voluntários de ambas as cidades. (3) Outros resultados submetidos à análise sugeriram coincidentemente que os voluntários esportivos mobilizados pelos Jogos do Rio e de Atenas estariam legitimando suas adesões por razões de pertencimento a realizações de grande significado, associadas à auto-estima. E com relação aos voluntários do Rio tal associação incluiria a possibilidade de trabalho autônomo a ser exercido. Em termos de gestão, o significado provável deste pertencimento auto-referenciado é o da criação de maior responsabilidade a ser assumida de acordo com a percepção dos voluntários do Rio. E como também cultivam a autonomia, o elevado valor atribuído às grandes causas pelos voluntários dos Jogos pode ser interpretado como responsabilidade social. (4) A interpretação da responsabilidade social como uma construção em processo pelos voluntários dos Jogos teve respaldo por meio de cifras já mencionadas no item (1) anterior, para o Rio com 57,35% que já trabalharam como voluntários antes dos Jogos e para Atenas com 38% que também já haviam sido voluntários antes dos Jogos. (5) A quantificação de valores na construção do Manual preparado para os voluntários pressupõe ter sido em Atenas mais bem conceituada pelos voluntários do que no Rio, embora tenha havido proximidade de pontuação entre ambas as cidades. Com relação ao futuro dos Jogos, estes têm maior expressão projetiva para os voluntários do Rio, contudo seguidos de perto pelos voluntários de Atenas, sugerindo haver uma dimensão de imaginário social nos megaeventos olímpicos de impacto motivacional entre seus gestores. (6) Os dados que tratam dos meios utilizados pelos voluntários para realizar a inscrição nos Jogos, confirma que a Internet é um instrumento de elevada consideração no Rio de Janeiro e talvez no Brasil como um todo. Em se tratando do tempo médio levado para se chegar ao local das provas, com os voluntários de Atenas consumindo menor tempo do que os do Rio, sugere-se que o número de voluntários no Rio possa ter sido inferior à necessidade do evento, provocando assim uma carga horária maior a ser cumprida. (7) O perfil de voluntário comum à Atenas e ao Rio que introduz parâmetros de mobilização de voluntariado para futuros megaeventos define-se por indivíduos com até 40 anos, que falem diversos idiomas e que tenham nível médio completo em termos de educação. Finalmente, a par destas conclusões e em atenção a um dos principais objetivos desta pesquisa, cumpre focalizar os impactos discerníveis para a mesma como legado a ser incorporado ao esporte e à sociedade brasileira. Assim, ao longo desta, surgiram diversas confirmações sobre a necessidade de gerar e organizar o

conhecimento sobre o voluntariado esportivo, sobretudo no que concerne ao seu valor social e econômico. Esta recomendação é especialmente válida tanto quanto a contribuição para causas sociais e filantrópicas como também em projetos esportivos de grande porte, que implicam em impactos importantes com significados financeiros e sócio-culturais (Jogos Olímpicos, Jogos Pan-Americanos, Campeonatos Mundiais, etc.). E em termos práticos, o aperfeiçoamento do questionário desta investigação e a implementação de novas pesquisas sobre o voluntariado esportivo e sobre a sua gestão, constituem tarefas futuras que podem complementar e agregar mais valor ao conhecimento dos megaeventos esportivos e seus legados. Referências: ADAM, C., Athens-2004 Volunteer-Survey. Mainz: University of Mainz, 2005. BARRY, C. e Lang, M.A Report on Multimedia and Web Technique Usage in Ireland. Galway: National University of Ireland, 2000. BING,L., AKINTOYE A., EDWARDS P.J. e HARDCASTLE, C., Perceptions of positive and negative factors influencing the attractiveness of PPP/PFI procurement for construction projects in the UK- Findings from a questionnaire survey. Engineering,Construction and Architectural Management, Volume 12, Number 2, February 2005, pp.125-148. DACOSTA, L.P. (Org) Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005, pp. 793-795. Edição on line em www.atlasesportebrasil.org.br PERISSÉ NOLASCO, V. Gestão de Voluntariado do Atlas do Esporte no Brasil sob o perfil de adesão dos colaboradores, editores e patrocinadores. Dissertação de Mestrado em Educação Física. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho (orientação de DaCosta, L.P.), 2006. PERISSÉ NOLASCO, V. Voluntários em eventos esportivos e Jogos Olímpicos. In: MORAGAS, M. e DACOSTA, L.P. (Orgs), Estudios Olímpicos en España y Brasil. Barcelona: CEO-Universidad Autònoma de Barcelona, 2007, pp. 663 670 (En cooperación con Editora Gama Filho Rio de Janeiro).