CITOLOGIA DO LAVADO TRAQUEOBRÔNQUICO DE EQUINOS ESPORTISTAS NA REGIÃO DE GUARAPUAVA - PARANÁ. Ana Carolina Fanhani de Arruda Botelho (IC Voluntária UNICENTRO), Igor Garcia Motta (IC Voluntária - UNICENTRO), Douglas Duhatschek (Discente UNICENTRO), Karen Regina Lemos (Orientador), e-mail: krlemos@yahoo.com.br Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Medicina Veterinária/Guarapuava, PR GRANDE ÁREA: Medicina Veterinária. SUB-ÁREA: Clínica e Cirurgia Animal. Palavras-chave: DIVA, ORVA, Videoendoscopia. Resumo: Os cavalos atletas são extremamente solicitados fisicamente nas atividades esportivas, sendo expostos a longos períodos de treinamento com intensidades variadas e pequenos intervalos de repouso. Com o intuito de melhorar a dinâmica dos treinamentos e consequentemente a atuação em torneios, competições, é de suma importância o emprego de testes para a avaliação do desempenho atlético e da saúde dos animais, maximizando os resultados obtidos nas competições. O estudo foi realizado com 7 animais esportistas, de diferentes idades e sexo, submetidos a videoendoscopia das vias respiratórias inferiores. Os resultados do questionário HOARSI demonstraram que a maioria (6) dos animais apresentaram boa ou excelente performance atlética e um escore HOARSI 4, ou seja, sem sinais de doenças respiratória e somente 1 com queda de desempenho atlético apresentou sinais clínicos suaves de doença respiratória (escore HOARSI 3), fato diretamente correlacionado com o qualidade do ambiente e alimentação. Introdução O Brasil possui a quarta maior tropa de equinos do mundo, com 58 milhões cabeças. Em termos regionais, a porcentagem de equinos é a seguinte: Sudeste (24,4%), Nordeste (23,4%), Centro-Oeste (18,7%) e Sul (18,2%) (IBGE, 2013). Estes animais atletas são extremamente solicitados fisicamente nas atividades esportivas, sendo expostos a longos períodos de treinamento com intensidades variadas e pequenos intervalos de repouso. (CROCOMO et al., 2009). Em virtude da participação em torneios, competições, é de suma importância o emprego de testes para a avaliação do desempenho atlético e da saúde dos animais, visto que os testes e exames diagnósticos podem ser considerados valiosas ferramentas para maximização dos resultados obtidos nas competições (MELCHERT et al., 2012). É importante que as técnicas de avaliação endoscópica e citológica das vias aéreas sejam parte integrante da rotina clínica de equinos, pois as desordens respiratórias ocupam um papel significativo na saúde e desempenho dos cavalos de todas as idades e funções desportivas (VIEL e HEWSON, 2003).
Materiais e métodos O estudo foi realizado com 7 animais esportistas, de diferentes idades e sexo, pertencentes aos proprietários que residem na microrregião de Guarapuava- PR e participam de atividades esportivas diversas, entre elas o laço comprido. Um exame clínico minucioso e avaliação completa do histórico do animal, foram feitas e registradas. Utilizou-se um videoendoscópio veterinário Equiboard VET 9830 e a técnica realizada foi a preconizada por Santos et al., (2007). As primeiras porções examinadas foram as regiões faríngeas e laríngeas. Em seguida, inseriu-se o endoscópio na traquéia, para determinação do escore de muco traqueal e coleta do lavado traqueal (LT). O aspirado traqueal (AT) foi obtido após a avaliação endoscópica das vias aéreas superiores. Para isso, instilou-se na traquéia do animal, de 10-15 ml de solução salina isotônica estéril, pelo próprio videoendoscópio com o auxílio de uma seringa de 20 ml estéril, obtendo-se o lavado traqueal (LT). As amostras de AT foram colocadas em dois tubos de ensaio nomeados por animal e refrigeradas até serem levadas ao laboratório o mais rápido possível após a coleta, para assim evitar a deteriorização da morfologia celular e proliferação bacteriana. No laboratório, coletou-se alíquotas de 0,5 µl de cada amostra, as quais foram submetidas a citocentrifugação a 1000 rpm por 10 minutos em citocentrifuga Presvac CT-12, totalizando 4 lâminas por animal. Após a cito centrifugação, as lâminas foram fixadas com metanol e foram coradas através do Método Giemsa. A contagem total de células nucleadas e as avaliações de função celular não foram possíveis, uma vez que o número de células encontrado foi muito pouco, e ainda, em algumas lâminas, não foram encontradas células para contagem. O questionário padrão HOARSI (RAMSEYER et. al., 2007) foi utilizado e a ocorrência de sinais clínicos e o manejo na propriedade foram obtidos a partir das respostas dos proprietários ou gerentes das propriedades. Baseados nos sinais respiratórios citados pelos proprietários (tosse, descarga nasal, dispnéia respiratória). O desempenho atlético, tempo confinamento, tipo de forragem da cama, sazonalidade dos sintomas e escore corporal também foram utilizados para caracterização do fenótipo do paciente equino com afecção inflamatória das vias aéreas. O projeto foi enviado para o comitê de ética e experimentação animal (CEUA) da UNICENTRO e foi aprovado sob o número 022/2014. Resultados e Discussão Dentre os animais estudados, seis (6) eram criados em sistema fechado, com acesso somente uma vez ao dia à pista de areia para executar atividades diárias. Um animal apenas era criado em um sistema de combinação pasto e baia, sendo que durante o dia ficava solto e era preso durante a noite. O tipo de ambiente ao qual o cavalo encontra-se exposto como a cama, tipo de alimento, são fatores importantes relacionados a doenças respiratórias e deve-se determinar se há alguma relação entre o início dos sinais clínicos e alguma alteração no ambiente ou
estação do ano (MICHELLOTO JÚNIOR, 1993). Poeiras de estábulos contém fungos, endotoxinas e componentes inorgânicos, podendo influenciar substancialmente a inflamação pulmonar. O sistema de ventilação das baias das propriedades onde encontravam-se esses animais foi considerado adequado em aproximadamente 80% dos estabelecimentos, o que poderia justificar esse número baixo encontrado de animais com afecções respiratórias, quando comparado com as construções no hemisfério norte onde a ventilação é mecânica e em geral insuficiente para manter o ambiente livre de patógenos (LAVOIE, 2007) Entre os animais estudados, a maioria apresentava escore 4 para o sistema HOARSI, uma vez que não apresentavam episódios de tosse e descarga nasal, ou seja, não apresentavam sinais clínicos de doença respiratória. Um animal apenas apresentava escore 3, com descarga nasal mucosa esporádica e tosse ocasional. A tosse, é um mecanismo de defesa do trato respiratório e deve ser caracterizada quando presente e caracteriza presença de processo inflamatório (MICHELLOTO JÚNIOR, 1993). Segundo Michelloto Júnior (1993), um dos mais importante mecanismo de limpeza das vias aéreas é o sistema de transporte mucociliar. A avaliação semiquantitativa do muco traqueal foi feita de acordo com o escore de 0 a V, segundo Gerber et al (2004), no qual o grau 0 de muco (M0) corresponde à ausência completa de muco e o grau V, presença profusa de secreção traqueal ocupando mais que 25% de toda sua extensão. Dois animais apresentavam grau II de muco na traqueia e o restante grau I. Um dos animais com grau II de muco apresentava ainda tosse esporádica e queda de rendimento. Os animais eram alimentados com concentrado e feno de aveia ou azevém, e apenas um animal era alimentado com concentrado e feno de alfafa. Nos demais animais domésticos, problemas respiratórios não são tão intensos, com exceção dos equinos, que podem ser acometidos por doenças respiratórias e digestivas causadas por fungos (REIS et. al., 2001). A doença pulmonar crônica obstrutiva e alterações digestivas em equinos estão associadas com a presença de fungos em fenos e palhas. Os esporos de fungos, também podem contribuir para o aparecimento de cólica em equinos. Para analisar a qualidade dos volumosos e mesmo do material usado para cama, Wichert et al. (2008), analisaram a qualidade dos materiais fibrosos (fenos, pré-secados, silagens e palhas usadas como cama de baias), comparando suas qualidades tácteis, visuais e olfativas com os valores de lipopolissacarídeos (LPS) presentes nesses volumosos. Os teores de LPS correlacionaram-se negativamente ao tempo de secagem dos fenos e positivamente com a contagem microbiológica dos alimentos. Observaram que o cuidado com a aquisição dos alimentos não se repete para a qualidade das camas. Este material apresentou menor qualidade higiênica, sendo apontado como uma fonte potencial de problemas respiratórios nos animais estabulados. Entre os 7 animais estudados, apenas um possuía a cama forrada com serragem e os demais possuíam a cama de chão batido com forragem. Especificamente esse primeiro animal apresentava queda de rendimento e secreção nasal após exercício e respiração anormal durante o mesmo.
Conclusões O exame endoscópico auxilia na detecção precoce de alterações morfofuncionais. Intervenções clínicas ou cirúrgicas, bem como melhora do manejo ambiental podem ser estabelecidas a partir dos resultados da broncoscopia, melhorando a performance e a qualidade de vida dos animais. Boas práticas de manejo, entre elas manter os animais em camas limpas e baias arejadas, com ventilação e luz solar adequadas são importantes para evitar o aparecimento dessas doenças. Referências Crocomo, L. F.; Balarin, M. R. S.; Takahira, R. K.; Lopes, R. S. Macrominerais séricos em equinos atletas da raça Puro Sangue Inglês, antes e após exercício físico de alta intensidade. Rev. Bras. Saúde. 2009, 10, 929-938. IBGE. Produção da Pecuária Municipal. 2013. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/producao_pecuaria/producao_da_pecuaria_municipal/2013/pp m2013.pdf>. Acesso em: 4 de setembro de 2015. Gerber, V. et al. Endoscopic scoring of mucus quantity and quality: observer and horse variance and relationship to inflammation, mucus viscoelasticity and volume. Equine Veterinary Journal. 2004, 36, 576-582. Lavoie, J.P. Recurrent airway obstruction (heaves) and summer pasture associted obstructive pulmonary disease. In: Equine respiratory medicine and surgery, B. C. McGorum, Ed.: Saunders, 2007; Vol.1, 565-589. Melchert, A.; Laposy, C. B.; Guasi, V. H. B.; Valle, H. F. D.; Santos, G. C. Eletrocardiografia computadorizada em cavalos Puro Sangue Lusitano submetidos a exercício físico. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 2012, 64. Michelloto Júnior, P.V. Determinação do estado do aparelho respiratório em potros psi de corrida antes do início dos treinamentos através do exame clínico, endoscopia e citologia da Secreção traqueo-bronquial. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná, 1993. Ramseyer, A. et al. Effects of genetic and environmental factors on Horse Owner Assessed Respiratory Signs Index (HOARSI). Journal of Veterinary Internal Medicine. 2007, 21, 149-156. Reis, R.A.; Moreira, A.L.; Pedreira, M.S. Técnicas para produção e conservação de fenos de forrageiras de alta qualidade. In Anais do Simpósio Sobre Produção e Utilização de Forragens Conservadas, Maringá, 2001, Vol.1, 319. Santos, L.C.P.; Michelloto Junior, P.V.M; Kozemjakin, D.A. Achados endoscópico e citológico das vias respiratórias de potros puro sangue inglês em início de treinamento no jóquei clube do Paraná. Arq. Ciên. Vet. Zooc. 2007, 10, 9-13. Viel, L.; Hewson, J. Bronchoalveolar Lavage. In: Current therapy in equine medicine, N.E Robinson, Ed.: Saunders, 2003, Vol.1, 407-411. Wichert, B.; Nater, S.; Wittenbrink, M.M. Judgement of hygienic quality of roughage
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