CAPELANIA HOSPITALAR EVANGÉLICA: ASPECTOS FORMATIVOS DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM CONTEXTO DE DOENÇAS E ENFERMIDADES 1



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Transcrição:

CAPELANIA HOSPITALAR EVANGÉLICA: ASPECTOS FORMATIVOS DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM CONTEXTO DE DOENÇAS E ENFERMIDADES 1 Tamara Souza da Silva 2 Lenise Maria Ribeiro Ortega 3 Sessão temática: Educação e Trabalho RESUMO: O presente trabalho é referente aos resultados parciais da pesquisa de iniciação científica que tem como título Capelania Hospitalar Evangélica: uma análise da formação do capelão que atua nas alas de internação infantil, a qual vem sendo desenvolvidaa partir de análises teóricas. O objetivo principal da pesquisa é delinear a pedagogia de formação do Capelão hospitalar, tendo como pressuposto a formação cristã e as contribuições dos teóricos da educação contemporânea. Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa que busca por meio do levantamento bibliográfico e da análise de documentos, desenhar a formação e o trabalho do Capelão hospitalar. Apresentam-se neste trabalho os resultados da primeira parte da pesquisa que se propôs a realizar um levantamento dos textos bíblicos que evidenciam aspectos pedagógicos e formativos das ações de Cristo e analisar os que são utilizados na formação do Capelão Hospitalar. Palavras-Chaves: Capelania hospitalar;trabalho e formação do Capelão;Doença e enfermidade. INTRODUÇÃO Quando pensamos nos hospitais como espaços sociais, não podemos desconsiderar a relação que os sujeitos constroem entre si, não apenas no que diz respeito ao contexto de doenças, mas também no tocante as práticas educativas que 1 Projeto de Iniciação Científica, aprovado no Programa de Bolsa de Iniciação Científica PROBIC, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPEMIG. 2 Graduanda do Curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. 3 Professora Orientadora. Professora do Departamento do Instituto de Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

permeiam esses espaços. Brandão (1981), diz que não existe educação, mas educações, uma vez que educar é uma prática que acontece em todos os lugares da sociedade. Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: Educação? Educações. (BRANDÃO, 1981, p. 7). Dentro desses espaços de internação coletiva, os sujeitos desse processo também estão imersos em uma constante prática de ensino e aprendizado, que vai do paciente que está ali todos os dias em contato com a rotina do hospital, aos voluntários que estão presentes em dias e horários específicos, como é o caso do Capelão. Ele é a pessoas que doa para o outro, duas coisas que atualmente estão muito escassas: tempo e cuidado. Além de levar uma assistência religiosa aos jovens e adultos, ele também elabora constantes atividades lúdicas que contribuem na recuperação das crianças, auxiliando-as a reeditar suas experiências ruins de dor e sofrimento e o desconforto de estar fora da sua rotina. Entendemos que essas ações estão fundamentadas em práticas pedagógicas que fazem parte da formação do pedagogo hospitalar, contudo, no caso da formação do Capelão, elas se mostram carente de uma sistematização formalizada dos seus modelos formativos. O interesse dessa investigação se dá pela necessidade de se compreender a atuação pedagógica do Capelão que atua na ala infantil, em espaços onde a criança se encontra em um estado de fragilidade física e emocional, a partir do exemplo de Jesus, e de sistematizar uma proposta formativa para a Capelania Hospitalar Infantil, tendo como referência os relatos bíblicos do Novo Testamento (NV) sobre os princípios de amor e de valorização a vida, que são a base do cristianismo. Como sabemos, o ser humano está em constante processo de construção e a partir da nossa observação, percebemos que em nossa sociedade, há uma preocupação com a construção intelectual e moral do sujeito, que são extremamente importantes no processo de desenvolvimento humano, desde a mais tenra idade. Entendemos também que a fé, por sua vez, traz uma contribuição que transcende essas construções dos

sujeitos sociais, que por meio dos ensinamentos cristãos, auxilia no apoio emocional em tempo de crise, como é o caso das crianças hospitalizadas e de suas famílias. Neste sentido, o papel do Capelão hospitalar se destaca do papel do Pedagogo hospitalar já que nele, além de uma ação religiosa, ainda se apresentam as ações pedagógicas que demandam formação e compreensão desse papel. Consideramos que os hospitais, por se tratarem de ambientes que têm como foco o cuidado com o corpo das pessoas, necessitam da presença de voluntários e/ou profissionais que dotados de um conjunto de práticas pedagógicas, humanizem o lugar, amenizando o desconforto do período de internação das crianças e dos familiares que as acompanham, de forma personalizada. Mediante a constatação de que ainda não há estudos dessa natureza, a discussão e a reflexão sobre este tema, poderá contribuir com o processo de construção da identidade e dos elementos pedagógicos que devem estar presentes na formação do Capelão Hospitalar que dedica seu tempo em visitar os leitos das pessoas hospitalizadas. Entendemos que é necessário traçar um perfil da Capelania Hospitalar, sustentado na formação pedagógica cristã, de forma a conciliar uma base teórica que, alinhada à fé, levará a uma prática mais completa e eficaz dentro do contexto hospitalar. Esse modelo fomentará um processo formativo mais organizado, com vista a promover uma estrutura pedagógica destinada à formação dos capelães hospitalares, a qual ainda se encontra incipiente, carente de umareflexão sobre os desafios e dificuldades presentes nas atividades com a ala infantil. METODOLOGIA Para conhecer melhor o cenário de atuação do Capelão hospitalar, nesta pesquisa fizemos um recorte e focalizamos a prática do Capelão evangélico, que tendo por base os princípios cristãos, presta assistência àqueles que se encontram num contexto de fragilidade emocional, auxiliando-os por meio da fé, da esperança e do amor. Até o momento, foi desenvolvida a primeira etapa da pesquisa que consiste nas leituras e análises dos quatro primeiros evangelhos da Bíblia Sagrada,levantando

asnarrações que evidenciam a relação prática que Jesus Cristo estabeleceu com os enfermos e doentes do seu tempo. Essas leituras e análises serviram para mapear as ações pedagógicas que servem de modelo e podem ser aplicadas na formação do Capelão, auxiliando na construção da sua identidade. Após as leituras dos evangelhos, foi feita uma seleção dos trechos que apontam um direcionamento para a ação cristã, junto aos doentes e enfermos que necessitavam da cura. Os trechos selecionados foram organizados, tendo como referência o fato de se tratar de uma doença ou de uma enfermidade. As análises, portanto, consideraram a abordagem qualitativa, as quais procuraram destacar as ações pedagógicas que Cristo utilizava ao levar o alívio à dor física. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E DISCUSSÃO A partir das pesquisas e análisesrealizadas, pudemos distinguir dois conceitos utilizados por Jesus quando fazia as curas que são: doenças e enfermidades. Ao buscar o significado destes conceitos, constatamos que o conceito doença se relacionaà patologia clínica ligada ao corpo, enquanto que o conceito enfermidade se relacionaà percepção que a pessoa com determinada doença, tem sobre si mesma naquele momento, podendo ou não evoluir para outras patologias. (HELMAN, 2005). Por exemplo, se uma pessoa tiver câncer de estômago no Brasil e outra pessoa tiver o mesmo tipo de câncer na China, os sintomas clínicos da doença serão os mesmos, porém uma pessoa pode tender a ser mais depressiva do que a outra, mudando o tipo de enfermidade que é oriunda da doença. Nesse sentido, o meio em que a pessoa está inserida, como por exemplo a família, a cultura, os costumes ea religião, pode exercer influência sobre a percepção que ela terá de si em dado momento. Diferenciar esses dois conceitos,,portanto, é importante para que possamos compreender o tipo de intervenção realizada por Jesus Cristo ao se deparar com um pedido de cura. Ao abordar sobre a relação de Cristo com os enfermos e doentes, logo nos remetemos ao ato da cura. A partir das leituras realizadas nos evangelhos foi possível observar que a cura não era reduzida a um ato de curandeirismo, onde era dada apenas

uma ordem como anda, enxerga, seja livre. Cristo se debruçava sobre as curas que realizava, não com ações massificadas, mecânicas, mas se atentando para as particularidades de cada caso, fazendo dessa prática quase um ofício. O ofício mais do que um modo de produção não seriado, torna-se um ação repleta de significado cultural. (SOUZA NETO, 2005). Sob esta perspectiva, podemos compreender que a ação pedagógica de Jesus era atenta e voltada à construção da autonomia da pessoa, enquanto sujeito. Ao estabelecer contato com as pessoas que se encontravam imersas nesse contexto de dor e sofrimento, Cristo não as enxergava sob a ótica do meio social, que as cobria com uma capa de desigualdade e exclusão, mas às enxergava como seres humanos únicos que careciam de ter sua dignidade resgatada e se tornarem autores de sua própria vida. Cristo às curavam não apenas das doenças físicas, mas também intervinha, principalmente, nas bases dos valores da sua cultura, curando também as doenças sociais que lhes submetiam a uma condição de dor e sofrimento ainda maior, devido às ações formativas da sociedade da qual faziam parte. Ações essas que conduziam as pessoas que tinham determinada doença a ter uma visão reducionista e limitadas de si mesma, oprimindo-as mais ainda, ocasionando as enfermidades. Um exemplo é a cura de dois cegos que procuraram Jesus dizendo: Filho de Davi, tem misericórdia de nós! E Jesus se aproximando deles pergunta: Vocês creem que eu sou capaz de fazer isso? Eles responderam: Sim, Senhor! E ele tocando nos olhos deles, disse: Que lhes seja feito segundo a fé que vocês têm! E a visão deles foi restaurada 4. Quando Cristo, diz Seja feito segundo a fé que vocês têm, ele resgata a autonomia daqueles cegos, uma autonomia que o meio social daquela época sufocava quando considerava que aqueles cegos eram inúteis no seio social. Jesus tinha como base desse processo de cura o ensino das Boas Novas, que exortava e confrontava os valores sociais e culturais da época. Afinal, o que adiantaria curar um cego de sua cegueira, se a sociedade ainda tivesse como referência a sua antiga base de valores com princípios que moldavam uma consciência coletiva excludente e 4 Matheus 9.29-30

opressora? Ou ainda, se a própria pessoa depois de curada, continuasse se vendo da mesma forma que antes? Uma afirmação clássica de Jesus Cristo é "Conhecereis a verdade e a verdade voz libertará" 5. Segundo esse princípio, somos livres das imposições sociais de desigualdades e de exclusão quando conhecemos a verdade. Jesus era um grande conhecedor da Torá, da lei e da cultura do povo judeu, e observou que muitos costumes e crenças, sobrepunham a essência da Lei e os Profetas, conduzindo a práticas que feriam a dignidade do ser humano, como por exemplo, a criação de grupos que eram colocados à margem do seio social. Quando ele ensinava, ele não descartava a Lei e os Profetas, pois ela era a referência do seu povo, contudo, ele percebeu que apesar do povo reproduzir com muita intensidade os princípios dela, não havia um entendimento da sua intencionalidade com relação à retomada da essência humana. A Lei e os Profetas era constantemente usada para estabelecer relações de domínio de uns sobre os outros e não para mediar conflitos e promover o bem comum. Trazendo essas informações para a atualidade, já podemos dar início a uma reflexão sobre as doenças e as enfermidades das sociedades contemporâneas, regida por um modelo de sociedade capitalista, dividida em classes, que marginaliza e exclui os homens, submetendo-os a diferentes tipos de opressão que os adoece cada vez mais. Nesse sentido, é que buscamos compreender os ensinamentos pedagógicos de Cristo como um modelo a ser utilizado como referência na formação do Capelão hospitalar. CONSIDERAÇOES FINAIS Quando voltamos os olhos para o capelão hospitalar, nos deparamos com o desafio de ainda existir pouco material teórico-metodológico que lhes sirvam de suporte para estudo e enriquecimento da sua prática, além da carência de um estudo aprofundado do seu modelo formativo ede uma melhor compreensão do seu trabalho. O objetivo nesse momento foi o de retomar as ações pedagógicas de Cristo durante o seu 5 João 8.32

ministério, ações essas que poderão ser aplicadas no processo de construção da identidade do capelão e da sua prática enquanto um agente educador dentro do ambiente hospitalar. Consideramos que esse estudo não está fechado e apresenta determinadas limitações no momento, o que nos cabe a motivação de buscar por mais respostas.por se tratar de uma pesquisa que ainda está sendo desenvolvida, esperamos que as futuras analises possam sanar alguns questionamentos, e elucidar uma proposta de formação para mais delineada para o capelão hospitalar. REFERÊNCIAS: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? São Paulo: Editora Brasiliense, 2007. HELMAN, Cecil G. Doenças versus Enfermidade da Clínica Geral. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/campos/article/viewfile/18581/13028> Acessado em: 15 de março de 2015. SOUSA NETO, Manuel Fernandes de. Ofício, a oficina e a profissão: Reflexões sobre o lugar do professor. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n66/a07v2566.pdf>. Acessado em: 23 de março de 2015.