Psicossomática CURSO: GESTÃO DE EQUIPES.
Psicossomática: estudo da pessoa como ser histórico, que é um sistema único constituído por três subsistemas: corpo, mente e social.
Histórico Psicossomática: termo introduzido na Medicina em 1818 por Helmholtz com o sentido, naquela época, de designar as doenças somáticas que surgiam tendo como fator etiológico os aspectos mentais.
Denominações somatose (um fenômeno clínico que se expressa no corpo), psicossomática, doença psicossomática, conversão somática, manifestação somática, manifestação somatoforme, transtorno somatoforme, distúrbio psicossomático, psicopatologia somática.
Diretrizes Diagnósticas A) Pelo menos dois anos de sintomas físicos múltiplos e variáveis para os quais nenhuma explicação adequada foi encontrada; B)Recusa persistente de aceitar a Informação ou o reasseguramento de diversos médicos de que não há explicação física para os sintomas;
A Psicossomática tem seus pilares assentados sobre os conhecimentos da Fisiologia (em especial da Psicofisiologia), da Psicologia Social, da Patologia Geral, das Psicologias Dinâmicas (notadamente, a Psicanálise) e das concepções holísticas. (Rodrigues & Gasparini, 1992)
O simbólico na Psicossomática Não significa, pura e simplesmente, uma descarga da tensão no corpo, mas a impossibilidade, total ou parcial, de sua elaboração e transformação em afeto;
Características das manifestações psicossomáticas: Expressa uma comunicação desconhecida do sujeito. Solução de conflitos intrapsíquicos. Pode ser revertido através da palavra. Discurso típico (equívocos, contradições, etc.). Correlação temporal com determinados acontecimentos e datas.
Clínica psicanalítica para as doenças psicossomáticas Possibilitar a palavra ao paciente, criando um campo de produção de significações.
Corpo: envelope psíquico da dor Lenice Pimentel Cabral (UFAL)
CASO CLÍNICO Mulher de 62 anos, casada, atividades domésticas, natural de Pernambuco, 9 filhos, 2º ano primário, católica, recomendada por dermatologista Terapia psicanalítica por 2 anos Queixa principal: crises de erisipela* nos membros inferiores, com febre e dificuldade de se locomover *infecção de pele e tecido subcutâneo com o comprometimento dos linfáticos
Crises mais freqüentes de uns tempos para cá os filhos se tornaram independentes e o marido teve aposentadoria antecipada Vejo meu marido em casa, sentado na cadeira fazendo carinhos na gata; os filhos trabalhando e eu nessa mesmice Diz sentir falta dos tempos de namoro com o marido Em relação à ser a gata Não tenho mais idade. Hoje são meus filhos que namoram. Acho bonito namorar Sua vida girava em torno do marido, dos 9 filhos e da casa
Sua preocupação agora é porque as crises de erisipela estão mais freqüentes; sente febre e as pernas ficam muito vermelhas; Aí eu não posso andar ; meu corpo fica muito quente Através da pele, essa paciente expressa seus conflitos, seus desejos quentes, de uma sexualidade ainda ativa, mas ambígua na sua expressão
escolhia a pele, este envelope psíquico que recobre o corpo, e que guarda em si uma história (Ester Bing, 1991) A pele, como rosas vermelhas, se abria para deixar passar a dor de um desejo silenciado. Desejo ardente, carente de reconhecimento, capaz de incendiar ao simples toque
Comentários do caso Crises dermatológicas associadas às tensões vividas na família As crises se agravaram quando os filhos começaram a se tornar independentes e foram saindo de casa; o marido, doente do coração, foi aposentado Parada, não andando para lá e para cá, em busca do que fazer, ela se deixava observar/tocar pelos familiares seu corpo transportava nas pernas o desejo que não mais se deslocava As feridas abriam caminho para o olhar do Outro
Com a terapia... Ganhos secundários com as crises É incrível, mas acho que a minha tristeza tem também um pouco de inveja. Vejo minhas filhas, sobretudo elas, namorando, se divertindo, indo para festas, dançando, e eu aqui, sozinha. Representação-coisa representação-palavra Nomeação, simbolização A maior tristeza que eu tive foi quando descobri que tinha parado de sonhar (chora) Supletivo, outras realizações
Perspectivas Freud (1905): Toda enfermidade é intencional, pois o sujeito, de uma forma ou de outra, adquire ganhos secundários com as enfermidades - o sintoma é um enigma que precisa ser decifrado, com valor de comunicação para quem decifra
Guyton (1992): a dor como algo que invade o soma para proteger o indivíduo Joyce McDougall (1991): no corpo da paciente estava se encenando toda uma história de vida que havia se distanciado da fala Uma grande dor surge sempre de um transtorno do eu (fibromialgia, erisipela, etc)
- a comunicação na somatose é um ato, um fazer no corpo
Joyce McDougall: somatoses despertar para si e para os limites (físicos, psíquicos); adoecer para alcançar a sensação de existir, ter limites e poder se cuidar sozinho O diálogo de surdos entre soma e psique é o que define o corpo psicossomático PSICANALISTA: representar as palavras que faltam e tentar fazer com que a lesão seja nomeada; fazer com que o analisando retome a palavra de algo compacto, que simbolize a lesão, que encontre um sintoma novo no seu lugar.
Referências bibliográficas: Ávila, L. A. (1996). Doenças do corpo e doenças da alma: uma apresentação. Estudos de Psicologia, 13, 47-58. Cabral, L.P (1998). Corpo: envelope psíquico da dor. Rev. Bras. Med. Psicossomática, 2(4): 141-144. Eva, A. C., Vilardo, R. & Kubo, Y. (1994). Psicossomática e nossa prática psicanalítica. Revista Brasileira de Psicanálise, 28, 39-49. Filho, O. C. S. (1994). Psicanálise do paciente psicossomático. Revista Brasileira de Psicossomática, 28, 111128. Hisada, S. (2000). Transtornos psicossomáticos: uma visão winnicottiana. Mudanças: psicoterapia e estudos psicossociais, 8, 81-88. Marcantonio, A. P. F. Um estudo sobre a Somatose Infantil em pacientes portadores de Leucemia. Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS. Rodrigues, A. & Gasparini, A. (1992). Uma perspectiva psicossocial em Psicosomática: via estresse e trabalho. Em Mello Filho, J. (Org.) Psicossomática Hoje. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. Sami-Ali (1993). Corpo Real, Corpo Imaginário. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. Silva, A. & Caldeira, G. (1992). Alexitimia e pensamento operatório. A questão do afeto na Psicosomática. Em Mello Filho, J. (Org.) Psicossomática Hoje. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.