POTENCIALIDADE DE PRODUÇÃO DE ÓLEOS DE ESPÉCIES FLORESTAIS. I-CANDEIA Leandro Silva Rodrigues, Acadêmico Engenharia Florestal da UFLA Alexsandro Dassié Cordeiro, Acadêmico de Engenharia Florestal da UFLA Luiz Czank Júnior, Acadêmico de Engenharia Florestal da UFLA Antônio Carlos Fraga, Professor Titular DAG-UFLA, fraga@ufla.br Pedro Castro Neto, Professor Titular DEG-UFLA, pedrocn@ufla.br Maria das Graças Cardoso, Professora Adjunto DQI-UFLA, cardoso@ufla.br 1 Introdução A utilização de óleos essenciais apresentou crescimento acelerado nos últimos anos, devido a alta demanda de produtos naturais de origem vegetal. Estes por sua vez, são empregados nas industrias de perfumaria, aromas, fármacos, alimentos, etc. A candeia (Eremanthus erythropappus) pela sua alta concentração do constituinte químico alfa-bizabolol vem sendo utilizada devido ao seu grande potencial em exibir propriedades antiflogística, antibacteriana, antimicótica, dermatológicas e espasmódicas (Teixeira et al., 1996). A candeia desenvolve-se bem em solos pobres, rasos e predominantemente em áreas com altitudes entre 1000 e 1700 m (Pérez, 2001). Possui um grande potencial a ser explorado e por isso vem sofrendo uma intensa predação, sendo explorada quase que totalmente sem um plano de manejo adequado. Atualmente existe uma alta demanda da madeira de candeia para a extração de óleo na região do sul de Minas Gerais. O óleo refinado obtido desta madeira possui um alto valor de mercado, atingindo valores de até 55 dólares o quilo, tendo como mercado, principalmente a Europa cuja principal utilização do alfa-bizabolol é como fixador na indústria de perfumes. A extração do óleo da madeira pode ser realizada por solventes orgânicos específicos, processo desvantajoso economicamente, sendo que o processo mais comum é o de arraste a vapor por injeção direta de vapor d agua. A quantidade de óleos essenciais retirados por estes métodos pode variar de 0,5% a 2% de peso de óleo em relação ao peso seco da madeira. As variações de rendimento podem ocorrer devido a fatores edafoclimáticos, diferentes procedências entre árvores, bem como diferenças entre métodos de extração, tempo de extração, entre outras.
A extração otimizada deste tipo de óleo poderá permitir o potencial de desenvolvimento da espécie na região, com um sistema de manejo florestal adequado, gerando empregos e fonte de renda. 2 Revisão de Literatura 2.1 Características da espécie A candeia (Eremanthus erythropappus) é uma espécie florestal de grandes potencialidades, sendo classificada como sendo da família das Asteraceae, é pertencente ao grupo ecológico das pioneiras e é precursora na invasão de campos (Carvalho, 1994) Características distintivas da árvore de candeia podem ser descritas de acordo com Rizzini (1979) como sendo árvore pequena de mais ou menos 10m de altura e 30 cm de diâmetro com fuste irregular e curto apresentando copa muito ampla. Segundo Araújo (1944), a raiz é pivotante, formando um sistema radicular homogêneo, pouco desenvolvido. As folhas são simples, opostas e com pilosidade cinéria (Chaves e Ramalho, 1996). Tem característica marcante devido a dupla coloração na parte superior sendo verdes e glabras e na parte inferior possuem um tom branco, tementoso e aveludadas (Corrêa, 1931). As flores são hermafroditas apresentando inflorescência de cor púrpura nas extremidades dos ramos ( Araújo, 1994). A inflorescência juntamente com as folhas duplamente coloridas resulta em um aspecto característico para a árvore, identificando-a à distância (Rizzini, 1979). As sementes da candeia são leves, fotoblásticas positivas e de reduzido tempo de armazenamento (CETEC, 1994). A espécie é amplamente utilizada para inúmeros fins, conforme Rizzini, (1979) seu emprego é muito estimado para moirões de cerca, postes e esteios. É lenha de primeira, queimando mesmo verde e dando chama clara; todavia, a fumaça é mal cheirosa.pérez (2001) cita que atualmente, um dos principais usos desta espécie é para extração de óleo, o qual tem alto valor comercial.
2.2 Localização da espécie A candeia ocorre na Argentina, Paraguai e Brasil (Carvalho, 1994). Conforme Rizzini, (1979), sua ocorrência no Brasil vai da Bahia a São Paulo, formando amplos agregados nos cerrados, campos e lugares devastados; é particularmente dispersa em Minas Gerais. Trata-se de uma das poucas espécies de habitat especial, pois em estado nativo é encontrada em altitudes em torno de 1000 m nas famosas terras frias. 2.3 Óleo Essencial O termo óleo essencial é empregado para designar líquidos oleosos voláteis, dotados de aroma forte quase sempre agradável extraídos de plantas por alguns processos específicos, sendo o mais freqüente a destilação por arraste com vapor d água (Craveiro et al, 1981) ou ainda, líquido fortemente odorífero, pouco solúvel na água e muito nos solventes orgânicos, que ocorre em numerosos vegetais sendo sua constituição complexa, pois encerra várias substâncias misturadas. Os óleos são constituídos principalmente de terpenos, que são compostos formados a partir de unidades isoprênicas, sendo os terpenos classificados em grupos de acordo com o número de unidades isoprenoídes presentes (Banthorpe e Charlwood, 1980). O óleo por ser um produto secundário, funcionando mais como defesa da árvore contra fungos e bactérias. Sobre o óleo da candeia pode-se descrever que é obtido através da extração feita diretamente da sua madeira, tanto do fuste como dos galhos e podendo também ser obtidos através de suas folhas. Pérez (2001) observou conforme a Tabela 1 que quanto menor a classe diamétrica, maior é a porcentagem de galhos finos (<3 cm de diâmetro) e de folhas em relação ao fuste para a variável peso do óleo contido nestas porções da planta. Ainda se pode constatar que o aproveitamento total da árvore deve ser preferível ao aproveitamento só do fuste. Este fato possibilita para um mesmo número de plantas, uma maior quantidade de óleo, ou para uma mesma quantidade de óleo, exploração de um menor número de plantas. A exceção é que não há acréscimo significativo na produção de óleo quando se faz o aproveitamento das folhas em árvores pertencentes a classes de 17,5 cm de diâmetro ou em classes superiores a esta.
Tabela 1: Médias por classes diamétrica da presença de óleo essencial da árvore de candeia considerando o fuste, os galhos e as folhas Presença de óleos essenciais Classes diamétricas (cm) Parte da Árvore 5-10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 Fuste 62,23 78,46 94,78 93,63 94,17 90,20 Galhos 6,01 8,02 4,41 5,92 4,92 9,42 Folhas 31,76 13,52 0,81 0,45 0,91 0,38 Fonte: Pérez, 2001. Os componentes químicos do óleo de candeia analisados por cromatografia gasosa de acordo com Siqueira (2002) Apresentam-se em maior proporção o alfa-bisabolol exibindo propriedades antibacterianas, antimicóticas e dermatológicas além de outros componentes identificados como o bisabolol oxidado, beta-bisabolol, alfa-eudesma, etanona e azuleno. 2.4 Métodos de extração de óleos essenciais A simplicidade de extração do óleo essencial permite que em muitos países, a exploração se constitua em industrias semi-artesanais. Um dos extrativos mais simples, de uso em laboratórios, serve para extração de pequenas quantidades de óleos e o mais complexo é de uso industrial (Craveiro et al., 1981). Os métodos de destilação pela água ou pela vaporização são os mais utilizados e oferecem resultados satisfatórios e com custo reduzido. De acordo com Craveiro et al. (1981), a destilação por arraste a vapor d água se caracteriza também pela sua extrema simplicidade. O método de extração industrial é realizado através de arraste a vapor com utilização de pressão.
2.5 Importância econômica As utilizações de maior ocorrência dos óleos são na produção de alimentos (condimentos e aromatizantes de alimentos e bebidas), cosméticos (perfumes e produtos de higiene) e em farmácias, e as drogas vegetais ricas em óleos voláteis são empregadas geralmente in natura. Muitos óleos são também utilizados em função de suas propriedades terapêuticas e para aromatizar medicamentos destinados a uso oral (Cardoso et al, 2000). A candeia, por possuir componentes como o alfa-bisabolol rico em propriedades farmacológicas como antibacteriano, antimicótico e dermatológico, empregado também como fixador de perfumes vem atualmente exibindo uma alta demanda comercial da madeira para extração do óleo. Um dos parâmetros visuais mais utilizados para avaliar a quantidade de madeira é o diâmetro das peças. Normalmente, peças de maior diâmetro têm uma proporção maior de cerne que de alburno (madeira branca) e como a concentração maior de óleo está no cerne, elas tem maior valor. Há no Brasil cinco indústrias que extraem o óleo de candeia natural bruto, sendo duas em São Paulo, duas em Minas Gerais e uma no Paraná. A capacidade de produção estimada de óleo de candeia natural bruto destas industrias é de 174 mil quilos por ano, o que gera uma demanda de cerca de 22 mil metros cúbicos de madeira. O rendimento obtido na destilação do óleo bruto para obtenção do alfa-bisabolol varia de 65% a 75%, ou seja, com um quilo de óleo de candeia natural produz-se 650 a 750 gramas de alfa-bisabolol. A maior parte do óleo de candeia produzido pelas indústrias é exportada, principalmente para indústrias de cosméticos e fármacos de países europeus. Os preços variam de 20 a 30 dólares por quilo, no caso do óleo bruto, e de 38 a 55 dólares por quilo, no caso do alfabisabolol. 3 Referências Bibliográficas ARAÚJO, L.C. Vanillosmopsis erythropappa (D.C.) Sch. Bip: sua exploração florestal. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1944, 54p.
BANTHORPE, D.V., CHARLWOOD, B.V. The terpenoids. In: BELL, E. A., CHARLWOOD, B. V. (Eds). Secondary plant products. Encyclopedia of plant physiology new series, v. 8. Berlin: Springer Verlag, 1980. p. 185 215. CÂNDIDO, J. F., Cultura da candeia (Vanillosmopsis erythropappa Sch. Bip.): Boletim de Extensão, Nº 35, Viçosa: UFV,1991 CARVALHO, P. E. R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidade e uso da madeira. Brasília: EMBRAPA-DNPF, 1994. 640p. CETEC. Ecofisiologia da candeia. Belo Horizonte. Set 1994. 104p. (Relatório técnico). CHAVES, M. M. F., RAMALHO, R. S. Estudos morfológicos em sementes, plântulas e mudas de duas espécies arbóreas pioneiras da família Asteraceae (Vanillosmopsis erythropappa Sch. Bip e Vernomia discolor (Spreng-Less)).Revista Árvore, Viçosa: MG, v.20, n.1, p.1-7, 1996. CORRÊA, M. P. Dicionário de plantas úteis do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura. 1931. v.1, p.431-433. CRAVEIRO, A. A.; FERNANDES, A. G.; ANDRADE, C. H. S.; MATOS, F. J.; ALENCAR, J.W.; MACHADO, M. I. L. Óleos essenciais de plantas do Nordeste. Fortaleza: UFC, 1981. 210p. (Relatório tecnico). PEDROSA, J. B.; A candeia (Vanillosmopsis erythropappa (DC)). IN: Congresso Nacional sobre essências nativas, 1, Campos do Jordão, 1982. Anais, São Paulo, Instituto Florestal, 1982. PEREIRA, A. A. S. Nutrição e adubação da candeia (Vanillosmopsis erythropappa). Lavras: UFLA, 1998. 22p. (Monografia Graduação em Eng. Florestal). PÉREZ, J. F. M. Sistema de manejo para candeia ( Eremanthus erythropappus (D.C.) Mac. Leish). Lavras: UFLA, 2001. 71p. (Dissertação Mestrado em Eng. Florestal). RIZZINI, C. T. Árvores e madeiras úteis do Brasil: manual de dendrologia brasileira. São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1979. 296p. SIQUEIRA, D. Caracterização química da casca e madeira de candeia (Eremanthus erithropappus). Lavras: UFLA, 2002. 21p. (Monografia Graduação em Eng. Florestal). TEIXEIRA, M. C. B.; NUNES, Y. R. F.; RIBEIRO, R. N. Influência da luz na germinação de sementes de candeia (Vanillosmopsis erythropappa Sch. Bip). In: ENCONTRO REGIONAL
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