X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

Documentos relacionados
PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO POR Spathaspora passalidarum HMD 14.2 UTILIZANDO HIDRÓLISE ÁCIDA E ENZIMÁTICA

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO COM E SEM PRÉ-TRATAMENTO COM ÁCIDO SULFÚRICO DILUÍDO

Aplicações tecnológicas de Celulases no aproveitamento da biomassa

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

USO DO CARBONATO DE SÓDIO COMO ALTERNATIVA PARA O PRÉ-TRATAMENTO DO BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR SOB CONDIÇÕES AMENAS DE PRESSÃO E TEMPERATURA

Aspectos da conversão de biomassas vegetais em Etanol 2G. Prof. Dr. Bruno Chaboli Gambarato

AVALIAÇÃO DO BAGAÇO E BIOMASSA DE GENÓTIPOS DE SORGO SACARINO PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO

PRODUÇÃO DE BIOETANOL A PARTIR DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

COMPARAÇÃO DE DIFERENTES ESTRATÉGIAS DE PRÉ-TRATAMENTO PARA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DA BIOMASSA DE JABUTICABA PARA PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

PRÉ-TRATAMENTO ALCALINO DO BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR SOB CONDIÇÕES AMENAS

Uma análise das diferentes fontes de carboidratos para obtenção do bioetanol. Silvio Roberto Andrietta BioContal

1. INTRODUÇÃO. J.A.C. CORREIA 1, A.P. BANDEIRA 1, S.P. CABRAL 1, L.R.B.GONÇALVES 1 e M.V.P. ROCHA 1.

ESTUDO COMPARATIVO DO PRÉ-TRATAMENTO POR PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO SEGUIDO DE HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PALHA DE CANA DE AÇÚCAR E SABUGO DE MILHO

Produção de etanol a partir de resíduos celulósicos. II GERA - Workshop de Gestão de Energia e Resíduos na Agroindústria Sucroalcooleira 13/06/2007

PRODUÇÃO DE ETANOL DE HIDROLISADO ENZIMÁTICO DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO

AVALIAÇÃO DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE Brachiaria brizantha UTILIZANDO COMPLEXO ENZIMÁTICO COMERCIAL

AVALIAÇÃO DO EFEITO DA CARGA DE SÓLIDOS SOBRE A HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR E COMPARAÇÃO ENTRE COMPLEXOS ENZIMÁTICOS COMERCIAIS

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ENZIMÁTICO DE ENZIMAS COMERCIAIS NA HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR DO RIO GRANDE DO NORTE

Produção de monossacarídeos por hidrólise

POTENCIAL FERMENTATIVO DE FRUTAS CARACTERÍSTICAS DO SEMIÁRIDO POTIGUAR

Produção de monossacarídeos por hidrólise

ESTUDO DO PRÉ-TRATAMENTO QUÍMICO EM FIBRA DA CASCA DE COCO VERDE PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL 2G

Soluções usadas em escala industrial ou escala ampliada

HIDRÓLISE E FERMENTAÇÃO SIMULTÂNEA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR PRÉ-TRATADO HIDROTERMICAMENTE

SEPARAÇÃO DAS FRAÇÕES E OTIMIZAÇÃO DO BRANQUEAMENTO COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO (H2O2) DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR SUBMETIDO A DIFERENTES PRÉ-TRATAMENTOS VISANDO A PRODUÇÃO DE ETANOL PELO PROCESSO SFS

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

ESTUDO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO E FRACIONAMENTO DA LIGNINA PROVENIENTE DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES PRÉ-TRATAMENTOS PARA DESCONSTRUÇÃO DA BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA

Pré-tratamento de materiais lignocelulósicos

PRÉ-TRATAMENTO DE BIOMASSA DE CANA-DE-AÇÚCAR POR MOINHO DE BOLAS EM MEIOS SECO, ÚMIDO E NA PRESENÇA DE ADITIVOS

Produção de Etanol Via hidrólise. Maria Filomena de Andrade Rodrigues 25/08/2009

Desenvolvimento de um processo verde de separação por estireno-divinilbenzeno para eliminar inibidores de fermentação do licor de pré-tratamento ácido

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TIPO DE PRÉ-TRATAMENTO NA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE BIOMASSAS NA PRODUÇÃO DE ETANOL LIGNOCELULÓSICO

Biorrefinarias - Futuro certo e limpo

ESTUDO DO PROCESSO DE HIDROLISE DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS DO MILHO PARA PRODUÇÃO DE BIOETANOL

Produção de Bioetanol a partir de Materiais Lenho-celulósicos de Sorgo Sacarino: Revisão Bibliográfica

ETANOL CELULÓSICO Obtenção do álcool de madeira

USO INTEGRAL DA BIOMASSA DE CANA-DE-AÇÚCAR PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

HIDRÓLISE E FERMENTAÇÃO DE ARUNDO DONAX L. PRÉ-TRATADO PARA PRODUÇÃO DE ETANOL 2G.

AVALIAÇÃO DO PRÉ-TRATAMENTO ÁCIDO DO SABUGO DE MILHO VISANDO A PRODUÇÃO DE ETANOL 2G

PD&I em Processos Bioquímicos

ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DE RESÍDUOS DO CULTIVO DE MILHO PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

Etanol Lignocelulósico

AVALIAÇÃO DA HIDRÓLISE ÁCIDA DO BAGAÇO DE ABACAXI PARA LIBERAÇÃO DE AÇUCARES FERMENTECÍVEIS

SÍNTESE DE CELULASE POR CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO: OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DA MICROALGA Chlorella pyrenoidosa

APLICAÇÃO DE COMPLEXO ENZIMÁTICO LIGNOCELULÓSICO PARA A HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

HIDRÓLISE ÁCIDA DA PALMA FORRAGEIRA VISANDO A PRODUÇÃO DE LICOR GLICOSÍDICO

PRODUÇÃO DE GOMA XANTANA A PARTIR DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO POR SACARIFICAÇÃO E FERMENTAÇÃO SIMULTÂNEAS DA BIOMASSA DE PALMA FORRAGEIRA PRÉ-TRATADA EM MEIO ALCALINO

Utilização de Membrana de Fibras Ocas na Destoxificação de Hidrolisado Hemicelulósico de Bagaço de Cana-de açúcar visando à Produção de Etanol

Biorefinarias (conceitos de uso integrado da biomassa vegetal)

CARACTERIZAÇÃO DE CINZAS, LIGNINA, CELULOSE E HEMICELULOSE EM BAGAÇO DE SORGO E CANA-DE- AÇÚCAR

INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO INICIAL DE AÇÚCAR NA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA DO SUCO DE MELÃO

Biorefinarias (conceitos de uso integrado da biomassa vegetal)

EFEITO DE DIFERENTES FORMAS DE PREPARO DO INÓCULO E DE CONCENTRAÇÕES DOS NUTRIENTES NA PRODUÇÃO DE ETANOL POR Saccharomyces cerevisiae UFPEDA 1238

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA JESSYCA ALINE DA COSTA CORREIA

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TRIÂNGULO MINEIRO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E INOVAÇÃO NÚCLEO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Reações em meio ácido Sumário e objetivo das aulas (2 aulas)

Reações em meio ácido Sumário e objetivo da aula (2 aulas)

Reações em meio ácido Sumário e objetivo da aula (2 aulas)

CARACTERÍSTICAS DE BIOMASSAS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL: BAGAÇO E PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR

INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES DE CULTIVO NA FERMENTAÇÃO DE XILOSE POR DUAS LINHAGENS DE LEVEDURAS

Technological Demands for Higher Generation Process for Ethanol Production

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA PRODUÇÃO DA ENZIMA XILOSE REDUTASE POR Candida tropicalis ATCC 750 USANDO HIDROLISADO HEMICELULÓSICO DO BAGAÇO DE CAJU

OS DESAFIOS DO ETANOL LIGNOCELULÓSICO NO BRASIL

Produção de Etanol a partir da forrageira Brachiaria Brizantha cv. Marandu.

Valorização de subprodutos do processamento da Cana-de-açúcar

CARACTERIZAÇÃO DAS BIOMASSAS FIBRA DO SISAL, PALMA FORRAGEIRA E BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR COMO MATÉRIAS PRIMAS POTENCIAIS PARA PRODUÇÃO DE QUÍMICOS

Estudo do Pré-tratamento e da Hidrólise do Bagaço de Cana Utilizando a Vermiculita Ativada com Ácido como Catalisador

EFEITO DA CARGA DE SÓLIDOS E DE ENZIMAS NA HIDRÓLISE DA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR

ESTUDO CINÉTICO DO PROCESSO SFS EM BIORREATOR PARA PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

OZONÓLISE NO TRATAMENTO DO BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR PRA PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO POR HIDRÓLISE ENZIMÁTICA

CINÉTICA DA HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA EMPREGANDO ENZIMAS PRODUZIDAS POR Myceliophthora thermophila EM CULTIVO SÓLIDO

PROSPECÇÃO DE BACTÉRIAS E LEVEDURAS LIPOLÍTICAS DO ESTADO DO TOCANTINS PROMISSORAS EM APLICAÇÕES INDUSTRIAIS

PRODUÇÃO DE ÁLCOOL A PARTIR DO BAGAÇO: O PROCESSO DHR DEDINI HIDRÓLISE RÁPIDA

Processo produtivo do etanol de segunda geração usando bagaço de cana-de-açúcar

PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS A PARTIR DA PROCESSAMENTO DA MANDIOCA

UE EMBRAPA AGROENERGIA Bioquímica de Renováveis

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

AVALIAÇÃO DO TIPO DE GÁS E DA PRESSÃO INICIAL NO TRATAMENTO HIDROTÉRMICO DA PALHA DE CANA-DE- AÇÚCAR PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO.

UE EMBRAPA AGROENERGIA Bioquímica de Renováveis

PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

RELAÇÃO DE VAZÃO DE AR E ALTURA DE LEITO COMO CRITÉRIO DE ESCALONAMENTO NO CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO DE ASPERGILLUS NIGER EM BIORREATOR DE COLUNA

CARACTERÍSTICAS USOS

INFLUÊNCIA DOS CONTAMINANTES NO RENDIMENTO FERMENTATIVO NA PRODUÇÃO DO BIOETANOL

Brazilian Bioethanol Science and Technology Laboratory - CTBE

UTILIZAÇÃO DE HANSENIASPORA SP ISOLADA NO SUCO DO MELÃO NA FERMENTAÇÃO ALCÓOLICA

CINÉTICA DE ADSORÇÃO DE FURFURAL PELO ADSORVENTE ARGILA BENTONITA

PROCESSO SACARIFICAÇÃO

ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO POR DR - X E FTIR E HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR SUBMETIDO

Biorefinarias (conceitos de uso integrado da biomassa vegetal)

L. P. FRASINELLI, C. O. CRISTOVÃO, R. TERÁN-HILARES, SILVIO S. SILVA e JÚLIO C. SANTOS

VIABILIDADE CELULAR DE Pichia stipitis CULTIVADA EM MEIO MÍNIMO E SOBRE A PRESENÇA DE INIBIDORES

Luxo do lixo. Dafne Angela Camargo*, Bruna Escaramboni, Pedro de Oliva Neto

Utilização de planejamento experimental no pré-tratamento oxidativo em meio alcalino do bagaço de cana-de-açúcar

Transcrição:

Blucher Chemical Engineering Proceedings Dezembro de 2014, Volume 1, Número 1 X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica Influência da pesquisa em Engenharia Química no desenvolvimento tecnológico e industrial brasileiro Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Universidade Severino Sombra Vassouras RJ Brasil PRODUÇÃO DE XILITOL E ETANOL A PARTIR DE HIDROLIZADO ENZIMÁTICO DE BAGAÇO DE CAJU GOMES* 1, S. D. L.; ALBUQUERQUE 2, T. L.; JUNIOR 1, J. E. M.; GONÇALVES 3, L. R. B.; M. V. P.ROCHA 3 1 2 3 Aluno do DEQ/UFC Mestrando do DEQ/UFC Professor da DEQ/UFC Departamento de Engenharia Química - Universidade Federal Ceará Endereço Campus Universitário do Pici, Bloco 709, Fortaleza, CEP. CEP 60455-760, CE, email: valponterocha@yahoo.com.br RESUMO - O aproveitamento de resíduos agroindustriais tem ganhado cada vez mais relevância, devido à necessidade de descarte desse material rejeitado da indústria e pode ser utilizado para a produção de outros produtos. O bagaço do caju (BC), resíduo obtido em larga escala no nordeste brasileiro, possui baixo valor agregado. Dessa forma, diversos estudos que visam incorporação de valor a essa matéria-prima são desenvolvidos. Nesse trabalho, investigou-se a produção de etanol e xilitol por uma linhagem de Candida tropicalis a partir do hidrolisado enzimático do BC pré-tratado. A hidrólise enzimática foi realizada a fim de se obter açúcares monoméricos fermentescíveis como, xilose e glicose, a partir das cadeias de hemicelulose e celulose presentes na biomassa do BC. Para potencializar a ação enzimática, testaram-se no BC in natura dois pré-tratamentos alcalinos: com hidroxido de sódio (NaOH) e com peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ). Determinou-se que a maior concentração de açúcares foi obtida na hidrólise enzimática do BC pré-tratado com H 2 O 2 pelas enzimas xilanase, complexo celulase e hemicelulase, com as respectivas cargas de 6, 4 e 7 mg de proteína por grama de BC pré-tratado. A levedura C. tropicalis produziu xilitol e etanol utilizando os carboidratos obtidos da hidrólise enzimática do bagaço de caju. Palavras chave: enzimas, bagaço de caju, etanol, xilitol. INTRODUÇÃO O conceito de biorrefinaria foi desenvolvido para ser um modelo ideal de processamento integral da biomassa lignocelulósica (Modenbach e Nokes, 2013). Essa biomassa é um dos recursos renováveis mais disponíveis e representa uma materiaprima promissora de baixo custo, para a produção de biocombustíveis, bioenergia e biomoléculas de valor agregado (Boussarsar et al., 2009). A biomassa lignocelulósica é composta principalmente de celulose, hemicelulose e lignina, estando esses constituintes distribuídos em diferentes quantidades percentuais, dependendo da espécie e condições de crescimento (Fengel e Wegener, 1989).

A área ocupada com a cultura do caju no nordeste é de aproximadamente 700 mil hectares, com uma produção de cerca de 1.260.000.000 quilos de pedúnculo. Somente 10 a 20% da produção anual do pedúnculo de caju no nordeste brasileiro é beneficiado, com a fabricação do suco integral (70 mil toneladas/ano), principal produto da industrialização do pedunculo do caju. Com um desperdício de 80 a 90% da sua produção, a cultura do caju apresenta um baixo nível de aproveitamento do pedúnculo (Embrapa, 2013). Quando o pedúnculo é industrialmente processado para a produção do suco, 40 % (m/m) de bagaço são produzidos e geralmente são rejeitados pelas indústrias locais (Correia et al., 2012). A composição média do bagaço de caju (BC) in natura é, aproximadamente, 20,56 ± 2,19 % de celulose, 10,17 ± 0,79 % de hemicelulose e 35,26 ± 0,90 % de lignina (Correia et al., 2012; Rocha et al., 2010). A utilização do bagaço de caju, para produzir biocombustíveis de segunda geração, requer pelo menos três etapas principais: (1) o pré-tratamento, a fim de abrir a estrutura da biomassa lignocelulósica, liberando a cadeia polímerica de açúcares das suas ligações com a lignina, (2) a hidrólise enzimática que quebra os polímeros de açúcar em seus monomeros fermentáveis, e (3) a fermentação do hidrolisados enzimático em xilitol, etanol ou em outros produtos (Fitzpatrick et al., 2010; Hendriks e Zeeman, 2009, Correia et al., 2012). Como a estrutura complexa da biomassa lignocelulósica limita o acesso enzimático, faz-se necessário a realização de um pré-tratamento da fibra, a fim de melhorase a susceptividade da celulose e da hemicelulose a hidrólise enzimática (Boussarsar et al., 2009). As técnicas de prétratamento antes da hidrólise enzimática podem incluir métodos físicos (explosão de vapor, radiação, congelamento, etc) e métodos químicos (ácidos, álcalis solvente orgânico, etc) (Mood et al., 2013). Após o pré-tratamento é realizado a hidrólise (ácida ou enzimática) para obter açúcares que serão utilizados na produção de outros produtos. Na hidrólise ácida há formação de produtos considerados tóxicos ao crescimento microbiano como, ácido acético e fórmico (Albuquerque et al., 2012; Rabelo, 2007). No entanto, na hidrólise enzimática não há formação destes inibidores (Modenbach e Nokes, 2013). A hidrólise enzimática é tipicamente considerada o gargalo de toda a conversão no processo em termos de tempo e custo (Modenbach e Nokes, 2013) principalmente, pelo ainda alto custo de obtenção das enzimas, mesmo com os altos investimentos em pesquisas no ramo. Nesse contexto, avaliaram-se dois prétratamentos alcalinos: com peróxido de hidrogênio (4,3% v/v) e hidróxido de sódio (4% m/v) no BC in natura. E após estudou-se a hidrólise enzimática do bagaço de caju para obter açúcares fermentescíveis. MATERIAL E MÉTODOS Pré-tratamento do Bagaço de Caju O bagaço de caju in natura, cedido pela Indústria Sucos do Brasil S/A, foi submetido a dois pré-tratamentos, isoladamente. Parte sofreu tratamento por peróxido de hidrogênio 4,3 % (v/v) e ph 11,5, ajustado com NaOH 3 M a uma porcentagem de sólidos de 4% (m/v) a 250 rpm, 35 C por 6 h. A outra parte do bagaço in natura sofreu tratamento por uma solução NaOH 4 % (m/v) a 121 C por 30 min. Separou-se ao final do processo, por filtração à vácuo, o sólido que foi submetido a lavagens, com água destilada, para total remoção dos álcalis. Em seguida, foi seco em estufa a 50 C por 24 h e selecionado entre 0,17 a 0,84 mm. Os sólidos resultantes foram caracterizados. Caracterização do Bagaço de Caju prétratado O bagaço de caju in natura após os dois pré-tratamentos foi caracterizado quanto à sua composição de celulose, hemicelulose e lignina segundo a metodologia de Gouveia et al. (2009), validada para a caracterização de bagaço de cana-de-açúcar. Hidrólise Enzimática do Substrato Prétratado

A hidrólise foi realizada em tampão citrato de sódio 100 mm, fixando-se a quantidade de substrato em 3 g e o volume reacional em 50 ml. Os ensaios foram conduzidos em frascos Erlenmeyer de 250 ml agitação de 150 rpm, a 45 C por 48 h. As enzimas xilanase, complexo celulase e hemicelulase foram utilizadas com as respectivas cargas de 6, 4 e 7 mg de proteína por grama de BC pré-tratado (Gomes et al., 2013). A cada 24 h, retirou-se uma alíquota da mistura para determinação de açúcares. Produção de Xilitol e Etanol por Candida tropicalis Uma linhagem de Candida. Tropicalis (GPBIO) utilizada nesse estudo, foi estocada em Agar YEPD inclinado (extrato de levedura, 10 g.l -1 ; peptona, 20 g.l -1 ; dextrose, 20 g.l -1, e ágar, 20 g.l -1 ). Para o preparo do inóculo, o micro-organismo foi cultivado em caldo YEPD por 24 h, em seguida centrifugou-se a quantidade de meio correspondente a 1,0 g.l -1 e inoculou-se o precipitado celular no hidrolisado. O hidrolisado enzimático obtido da hidrólise do BC pré-tratado por H 2 O 2 não recebeu nenhuma suplementação nutricional e foi esterilizado. A fermentação foi conduzida em agitador orbital a 30 C e 200 rpm por 96 h. Determinação da concentração de glicose, xilose, xilitol e etanol Os açúcares (glicose e xilose) e os produtos (xilitol e etanol) foram analisados por cromatografia de alta performance (CLAE), utilizando um sistema CLAE Waters (Waters, Milford, MA, EUA) equipado com um índice de refação Waters 2414 detector. As concentrações de açúcares foram analisadas utilizando coluna Aminex HPX-87P, usando como efluente água ultrapura a uma taxa de fluxo de 0,5 ml.min -1. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após realizar os pré-tratamentos no bagaço de caju caracterizou-se o material prétratado. Os resultados da caracterização estão resumidos na Tabela 1. O pré-tratamento com H 2 O 2 (4,3% v/v) resultou em uma fibra com a seguinte composição 42,91 ± 2,68% de celulose, 16,20 ± 1,13% de hemicelulose e 8,17 ± 2,68% de lignina. Os valores obtidos neste trabalho são bem semelhantes aos valores reportados por Correia et al., (2012). Já o pré-tratamento com NaOH (4% m/v) resultou em uma fibra com a seguinte composição16,21 ± 2,04% de celulose, 11,48 ± 1,53% de hemicelulose e 30,27 ± 0,27% de lignina. Tabela 1 Caracterização do BC in natura e após o pré-tratamento com H 2 O 2 e NaOH. Matéria -prima In natura H 2 O 2 4,3% NaOH 4% Extraíveis 7,79 ±0,60 5,08 ±0,33 5,76 ±0,34 Celulose 20,56 ± 2,19 42,91 ±2,68 16,21 ±2,04 Hemicelulose 10,17 ±0,79 16,20 ±1,13 11,48 ±1,53 Lignina 35,26 ±0,90 8,17 ±2,68 30,27 ±0,27 Cinzas 1,62 ±0,07 16,72 ±1,09 11,13 ±0,05 Os dois pré-tratamentos alcalinos, com H 2 O 2 e NaOH, degradaram a cadeia de lignina presente no BC, entretanto o pré-tratamento com H 2 O 2 mostrou-se mais eficiente na remoção do polímero, em relação ao outro testado, pois o BC pré-tratado com NaOH apresentou uma maior porcentagem de lignina (30,27 ± 0,27 %) em relação ao BC pré-tratado por H 2 O 2 (8,17 ± 2,68 %). O melhor resultado do pré-tratamento realizado com H 2 O 2 explica-se pelo fato do principal alvo do ataque químico na reação ser a lignina e não as demais cadeias (Rabelo, 2007). A fração sólida, resultante dos prétratamentos realizados, que apresentou maior valor percentual de hemicelulose (16,20 ± 1,13%), cadeia de interesse no presente trabalho por ser precursora do açúcar de interesse que é a xilose, foi aquela exposta a ação do H 2 O 2 4,3% (v/v). O tratamento alcalino é reportado na literatura pela sua capacidade de solubilizar a lignina, um constituinte da fibra que dificulta a ação enzimática impedindo que o sítio ativo da enzima se ligue ao substrato (Alvira et al., 2010). E os pré-tratamentos oxidativos têm sido usados para dissolver os componentes da matriz ligocelulósica e acelerar a hidrólise

enzimática (Rabelo, 2007), o que torna o H 2 O 2 um pré-tratamento eficiente na deslignificação da biomassa é a adição do NaOH, durante a correção do ph da solução, que provoca a formação do ânion hidroperóxido (HOO - ) principal espécie ativa do peróxido (Rabelo, 2007). Em condições alcalinas, o peróxido é instável e se decompõe em radicais hidroxil (OH - ) e superóxido (O 2 - ) que oxidam a lignina, quebrando algumas ligações. O tratamento com NaOH, em comparação com outras tecnologias de prétratamento, utiliza temperaturas mais baixas e apresenta uma maior recuperação de açúcares, no entanto o tratamento com uma grande quantidade de licor negro torna-se um desafio com NaOH (Yu et al, 2013). Os maiores inconvenientes do método são a necessidade de neutralização da suspensão resultante do pré-tratamento (Mood et al., 2013). Após o pré-tratamento, realizou-se a hidrólise enzimática nos sólidos pré-tratados e os resultados da hidrólise enzimática estão apresentados nas Figuras 1 e 2. O maior rendimento de glicose (19,92 ± 0,63 g.l -1 ) e de xilose (8,97 ± 0,64 g.l -1 ) foram obtidos em, respectivamente, 24 h e 48 h de hidrólise para o BC pré-tratado por H 2 O 2. Já para o BC prétratado por NaOH, as maiores concentrações de glicose e xilose foram de 12,64 ± 0,50 g.l -1 e 4,87 ± 0,20g.L -1, respectivamente, com 72 h de hidrólise. Observou-se ainda que a xilose só foi liberada após 24 horas de hidrólise, supostamente pela baixa carga de enzimas utilizadas nos experimentos. O substrato pré-tratado por H 2 O 2 resultou em uma maior concentração de açúcares na etapa de hidrólise enzimática, possivelmente, pela remoção da lignina ter sido mais efetiva com este pré-tratamento quando comparado ao outro realizado. A ação das três enzimas foi importante na hidrólise enzimática do BC, pois tornou mais efetiva a quebra dos polímeros, enquanto que a maior quantidade usada de hemicelulase ajudou a direcionar a hidrólise para obtenção do açúcar de interesse que é a xilose. Xilose (g.l -1 ) 10 8 6 4 2 0 0 24 48 72 Tempo (h) Figura 1- Concentração de xilose obtida na hidrólise enzimática a 45 C e 150 rpm do BC pré-tratado com NaOH ( ) e com H 2 O 2 ( ). Glicose (g.l -1 ) 25 20 15 10 5 0 0 24 48 72 Tempo (h) Figura 2 - Concentração de glicose obtida na hidrólise enzimática a 45 C e 150 rpm do BC pré-tratado com NaOH ( ) e com H 2 O 2 ( ). Mesmo que a hemicelulose seja um polissacarídeo complexo, sua degradação enzimática é bem elucidada. Ocorre, de acordo com Aro (2004), uma ação combinada de endo-enzimas clivando internamente a cadeia principal e de exo-enzimas que liberam açúcares monoméricos e enzimas auxiliares que quebram lateralmente a cadeia de polímeros ou oligossacarídeos, levando à liberação de vários mono e dissacarídeos. Já a degradação da celulose ocorre apartir das celulases que são um complexo de enzimas constituídos de três enzimas as endoglucanases (EG), exoglucanases e β-glicosidase. As endoglucanases atacam aleatoriamente a cadeia de celulose para formar glicose, celobiose e celotriose. As celobiohidrolases (exoglucanases) fracionam a cadeia em dímeros de glicose (celobiose). Outra enzima,

β-glicosidase, possui função de conversão da molécula de celobiose em duas moléculas de glicose (Correia et al., 2012; Keshwani, 2009). Como o hidrolisado do bagaço de caju pré-tratado com peróxido de hidrogênio apresentou maiores concentrações de xilose e glicose, selecionou-se esse líquido para avaliar a produção de xilitol e etanol. A levedura Candida tropicalis foi capaz de metabolizar os carboidratos e produzir 6,8 g/l de xilitol e 6,0 g/l de etanol com 96 h de cultivo. Então, o hidrolisado enzimático obtido do bagaço de caju prétratado com H 2 O 2 pode ser utilizado para produzir xilitol e etanol. CONCLUSÃO O pré-tratamento que resultou em maior redução da lignina (8,17±2,68%) foi aquele no qual o bagaço de caju sofreu ação do peróxido de hidrogênio (4,3% m/v) e no mesmo obtevese a maior concentração de açúcares após a hidrólise enzimática, com concentrações de glicose e xilose de, respectivamente, 19,92 ± 0,63 g.l -1 e 8,97 ± 0,64 g.l -1. A levedura C. tropicalis produziu xilitol e etanol utilizando os carboidratos obtidos da hidrólise enzimática do bagaço de caju. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, T. L., GOMES, S. D. L., JUNIOR, J. E. M., GONÇALVES, L. R. B., SILVA JR, J, I., ROCHA M, V, P. (2013), Avaliação da influência de tratamentos de destoxificação do hidrolisado de bagaço de caju na produção de xilitol por Candida tropicalis. In: Simpósio Nacional de Bioprocessos - SINAFERM, Foz de Iguaçu. ALVIRA, P., TOMÁS-PEJÓ, E., BALLESTEROS, M., NEGRO, M. (2010), Pretreatment Technologies for an efficient bioethanol production process based on enzymatic hydrolysis: A review. Bioresource Technology, 101, 4851-4861. ARO, N., PAKULA, T., PENTTILA, M. (2004), Transcriptional regulation of plant cell wall degradation by filamentous fungi. FEMS Microbiology Reviews, 29, 719-739. BOUSSARSAR, H., ROGÉ, B., MATHLOUTHI, M. (2009), Optimization of sugarcane bagasse conversion by hydrothermal treatment for the recovery of xylose. Bioresource Technology, 100, 6537-6542. CORREIA, J., ROCHA, M., GONÇALVES, L. (2012), Efeito da combinação de enzimas na hidrólise enzimática do bagaço de caju pré-tratado com peróxido de hidrogênio para produção de etanol. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Química COBEQ, Búzios. EMBRAPA site: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/ges tor/caju/arvore/cont000fr3sbpu402wyiv 80084arlaeog5af.html acesso em novembro de 2013. Autor : Raimundo Marcelino da Silva Neto. FENGEL, D., WEGENER, G. (1989), Wood Chemistry, Ultrastructure and Reactions, 1 st ed., Walter de Gruyter: Berlin, p. 106-109. FITZPATRICK, M., CHAMPAGNE, P., CUNNINGHAM, M. F., WHITNEY, R. A. (2010), A biorefinery processing perspective: treatment of lignocellulosic materials for the production of valueadded products. Bioresource Technology, 101, 8915 8922. GOMES, S. D. L., ALBUQUERQUE, T. L., JUNIOR, J. E. M., GONÇALVES, L. R. B., ROCHA, V. P. (2013), Estudo da hidrólise enzimática do bagaço de caju visando a obtenção de xilose. In: Simpósio Nacional de Bioprocessos - SINAFERM, Foz de Iguaçu. GOUVEIA, E. R., DO NASCIMENTO R, T., SOUTO-MAIOR, A. M., ROCHA, G. J. M. (2009), Validação de metodologia para a caracterização química de bagaço de canade-açúcar. Química Nova, 6, 32, 1500-1503.

HENDRIKS, A. T., ZEEMAN, G. (2009), Pretreatments to enhance the digestibility of lignocellulosic biomass. Bioresource Technology, 100, 10 18. KESHWANI, D. R. (2009), Microwave pretreatment of switchgrass for bioethanol production. Tese (Doutorado). Universidade Estadual da Carolina do Norte, Carolina do Norte, Estados Unidos da América. MODENBACH, A, A., NOKES, S, E. (2013), Enzymatic hydrolysis of biomass at hightsolids loadings- A review. Biomass and Bioenergy, 56, 526-544. MOOD, S, H., GOLFESHAN, A, H., TABATABAEI, M., JOUZANI, G, S., NAJAFI, G, H., GHOLAMI, M., ARDJMAND, M. (2013), Lignocellulosic biomass to bioethanol, a comprehensive review with a focus on pretreatment. Renewable and Sustainable Energy Reviews, 27, 77-93. RABELO, S.C. (2007), Avaliação de desempenho do pré-tratamento com peróxido de hidrogênio alcalino para hidrólise enzimática de bagaço de canade-açúcar. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, área de concentração: Desenvolvimento de processos químicos, Campinas/SP, Brasil, 150p. ROCHA, M. V. P. (2010), Produção de Bioetanol a partir de Pedúnculo de caju (Anacardium occidentale L.) por Fermentação Submersa. Tese de Doutorado -UFRN, Programa de Pós Graduação em Engenharia Química PPGEQ, Área de Concentração: Engenharia de Processos, Natal/RN, Brasil, 162p. YU, Q., ZHUANG, X., YUAN, Z., QI, W., WANG, W., WANG, Q., TAN, X. (2013), Pretreatment of sugarcane bagasse with liquid hot water and aqueous ammonia. Bioresource Technology, 144, 210-215.