DOCUMENTÁRIO. Prof. André Galvan. Bill Nichols Introdução ao Documentário

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Transcrição:

DOCUMENTÁRIO Prof. André Galvan Bill Nichols Introdução ao Documentário

DOCUMENTÁRIO Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Mas dessa afirmação não se deve deduzir que ele represente a realidade «tal como ela é». O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjetiva da realidade. Bill Nichols defende que cada documentário tem uma voz própria, ou seja, uma maneira particular de relatar as coisas do mundo. Para ele existem seis estilos principais de documentários: poético, expositivo, participativo, reflexivo e performático.

TIPOS DE DOCUMENTÁRIO

MODO EXPOSITIVO O modo expositivo preocupa-se mais com a defesa de argumentos do que com a estética e subjetividade. Os documentários com essa característica predominante têm como marca diferencial a objetividade e procuram narrar um fato de maneira a manter a continuidade da argumentação. Para isso, um dos recursos utilizados é o casamento perfeito entre o dito e o mostrado.

MODO EXPOSITIVO Agrupa fragmentos do mundo histórico em uma perspectiva retórica e argumentativa. Dirige-se diretamente ao espectador, através de legendas e de narração. Esses filmes adotam o comentário com voz de Deus (voz over) o orador é ouvido, mas jamais visto (objetividade e autoridade do narrador). Os documentários expositivos dependem de uma lógica informativa transmitida oralmente. As imagens desempenham papel secundário (apenas ilustram). Vemos as imagens como comprovação ou demonstração do que é dito. Marco para este tipo de documentário o escocês John Grierson, anos 30, que foi o primeiro a utilizar a palavra documentário. Grierson se interessava pelos problemas concretos dos anos 30 pobreza, desemprego, etc.

MODO POÉTICO Ao contrário do modo expositivo, o modo poético evidencia a subjetividade e se preocupa com a estética. Há uma valorização dos planos e das impressões do documentarista a respeito do universo abordado. Em relação à construção do texto, podem-se usar poemas e trechos de obras literárias.

MODO POÉTICO Os documentários poéticos retiram do mundo histórico sua matéria-prima, mas a transformam de maneiras diferentes. O modo poético começou juntamente no contexto do modernismo, como uma maneira de representar a realidade em fragmentos, impressões subjetivas, atos incoerentes e ações vagas. Ao documentário poético importa mais a emoção que a razão. Não há uma lógica linear e rígida a ser seguida, permitindo assim maior experimentação. Não há uma complexidade psicológica nos personagens. Chuva (Joris Ivens, 1929) Imagens transmitem sentimentos e não argumentos sobre a realidade. Um cão andaluz (Luis Buñuel e Salvador Dali, 1928) Mudanças abruptas de tempo e espaço/ influência do surrealismo arte como libertação diante da lógica e da razão/ ênfase no mundo do inconsciente e do sonho.

MODO OBSERVATIVO No modo observativo, o documentarista busca captar a realidade tal como aconteceu. Para isso, evita qualquer tipo de interferência que caracterize falseamento da realidade. Apenas há um registro dos fatos sem que o documentarista e sua equipe sejam notados. Dessa maneira, há pouca movimentação de câmera, trilha sonora quase inexistente e não há narração, uma vez que as cenas devem falar por si mesmas.

MODO OBSERVATIVO Nos documentários observativos olhamos para dentro da vida no momento em que ela é vivida. Os atores sociais interagem uns com os outros, ignorando os cineastas. É como se a câmera não estivesse presente. Tem pretensão de neutralidade e naturalidade. Transmitem a ideia de realidade. Não há narradores nem entrevistas. Muitos chegam a não utilizar nem mesmo legendas ou efeitos sonoros/trilha. Um dos primeiros documentários observativo foi O triunfo da vontade (Leni Riefenstahl, 1935), filmagem de um comício nazista em 1934. Leni Riefenstahl tenta passar a impressão de um registro espontâneo e desinteressado do fato. Mas sabe-se que tudo foi cautelosamente pensado e coreografado...a entrada dos líderes em cena, os discursos (repetidos), as tomadas e ângulos de câmera etc. Marco para este estilo de documentário cinema direto norte-americano, encabeçado por Robert Drew e Richard Leacock, foi um dos responsáveis por romper com o estilo clássico criado nos anos 30. A principal característica desse movimento é a defesa da nãointervenção, ou seja, a câmera deve ser a própria extensão do olhar humano.

MODO PARTICIPATIVO O modo participativo, como o próprio nome sugere, é marcado por mostrar a participação do documentarista e sua equipe. Dessa forma, torna-se um sujeito ativo no processo de gravação/filmagem, pois aparece em conversa com a equipe e provoca o entrevistado para que este fale.

MODO PARTICIPATIVO Ao contrário do estilo observativo, o modelo participativo prevê a intervenção do cineasta em cena, para dar a sensação de como é estar em determinada situação. Este tipo de documentário evidencia que a câmera interfere na realidade dos fatos. Pode-se ver e ouvir o cineasta em ação. Recusa a voz de Deus para privilegiar a interação de pessoas, em carne e osso, no momento e local dos fatos. Reduz, assim, a importância do convencimento do espectador. Marco para este estilo de documentário - Em 1960, filme Crônicas de um verão, de Jean Rouch e Edgar Morin. Este filme lança novas bases para a prática documental, com características completamente opostas ao cinema direto. Rouch foi responsável por criar o cinema-verdade, um movimento marcado pela intervenção/participação do documentarista.

MODO REFLEXIVO O modo reflexivo deixa claro para o telespectador quais foram os procedimentos da filmagem, evidenciando a relação estabelecida entre o grupo filmado e o documentarista. Nos filmes em que esse modo de representação prevalece nota-se como é a reação do grupo pesquisado diante da câmera e do seu realizador.

MODO REFLEXIVO O modo reflexivo, pode-se dizer, questiona o próprio modo como o documentário atua e intervém na realidade. Negando a premissa da capacidade da câmera de representação fiel da realidade, o modo reflexivo estimula a consciência do espectador a respeito do modo de se fazer documentários. Segundo Nichols, o modo reflexivo é o modo de representação mais consciente de si mesmo e aquele que mais se questiona (NICHOLS, 2007, p. 166). Exemplo: O homem da câmera (Vertov).

MODO PERFORMÁTICO O modo performático caracteriza-se pela subjetividade e pelo padrão estético adotado, utilizando as técnicas cinematográficas de maneira livre. Pertencem a esse modo os filmes de vídeo-arte e cinema experimental e vanguarda.

MODO PERFORMÁTICO O modo performático é aquele que dá ênfase às características subjetivas das experiências de vida e dos relatos/depoimentos de personagens. Há uma combinação entre acontecimentos reais e imaginários, conduzindo o espectador de maneira emocional, e não por argumentos lógicos ou científicos. Segundo Nichols, o documentário performático nos convida, como fazem todos os grandes documentários, a ver o mundo com novos olhos e a repensar a nossa relação com ele (NICHOLS, 2007, p. 176). Como os primeiros documentários, mistura elementos ficcionais com técnicas da oratória para tratar de questões sociais complexas. Traz consigo algumas características do cinema experimental ou de vanguarda.

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