1/6 TRIBUNAL MARÍTIMO FC/NCF PROCESSO Nº 26.310/11 ACÓRDÃO



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Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO FC/NCF PROCESSO Nº 26.310/11 ACÓRDÃO Embarcação a remo tipo Double Skiff sem nome e não inscrita. Naufrágio como resultado de navegação fora da raia destinada ao esporte por decisão dos remadores. Alteração no vento que provocou marolas e virou o barco. Responsabilidade pelo acidente apontada ao instrutor não configurada. Falta de embarcação de apoio que não configura fato da navegação, mas descumprimento do Regulamento da Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário. Penalidade administrativa a ser imposta pelo representante da Autoridade Marítima. Arquivamento. Vistos, relatados e discutidos o presente processo. Tratam os autos do naufrágio de um barco a remos, ocorrido no dia 14 de abril de 2011, na baía sul, Florianópolis/SC, tendo por consequência a morte de um remador adolescente. A embarcação envolvida foi um double skiff não inscrito, construído em fibra de vidro, com 9,7m de comprimento, 0,34m de boca, com capacidade para dois remadores, pertencente ao Clube de Remo Aldo Luz. Segundo se apurou, dois adolescentes alunos de uma escolinha de remo organizada pela ONG Floripafuturo, que utiliza os equipamentos e o espaço do Clube de Remo Aldo Luz, remavam um double skiff nas proximidades da ponte Pedro Ivo. Em determinado momento uma onda teria desestabilizado o barco e o adolescente que estava sentado a ré levantou seu remo provocando o emborcamento. Inicialmente os dois subiram no casco, mas em seguida tentaram chegar à margem nadando. Um deles desistiu e voltou para o barco emborcado, sendo resgatado pelo corpo de bombeiros. O outro se afogou, tendo seu corpo sido encontrado dias depois. Durante o inquérito foram ouvidas sete testemunhas, entre elas o adolescente sobrevivente e o instrutor de remo da ONG. O adolescente relatou os fatos como transcritos acima, acrescentando que, logo que a embarcação virou, os dois se seguraram no casco e seu companheiro o convenceu de nadar até a margem. No entanto ele resolveu voltar para o barco, pois seu companheiro estava muito nervoso e tentava se segurar nele. Em seguida teria passado um barco e ele não viu seu companheiro mais. Disse também que o instrutor nunca ia com eles a bordo, dando instruções da praia, mas que naquele dia o instrutor estava com outro grupo. Afirmou que nenhum adulto acompanhava as atividades, seja a bordo ou em outra embarcação e que não havia, portanto, nenhuma embarcação dando cobertura. Disse que o tempo estava bom e que 1/6

receberam orientação do instrutor de que voltassem quando começasse a fazer marola. O instrutor, Lucas Zoldan Marin, disse à Capitania que é o presidente da ONG Floripafuturo e instrutor voluntário de remo havia oito meses quando de seu depoimento. Relatou que existe uma embarcação a motor que acompanha os alunos ou então o instrutor embarca na função de timoneiro e que os adolescentes que se acidentaram sabiam nadar e estavam instruídos a usar o próprio barco como salva-vidas em caso de emborcamento. Disse que viu do trapiche que os alunos tinham se afastado da raia de segurança e estavam com dificuldade de voltar, tendo acionado os bombeiros. Informou que eles remavam em um mar tranquilo e sem ventos e que o vento sul começou a soprar somente às 16h30min, mas que a aula se encerraria às 16h. Por fim, reiterou que os alunos foram treinados por três meses acerca dos procedimentos de segurança, que deveriam se segurar no barco em caso de emborcamento enquanto o pessoal de terra providenciaria socorro, mas que não teve como conter a impulsividade deles. Duas testemunhas que estavam embarcadas na lancha MARGILL, que foi acionada para ajudar no resgate, disseram que acreditam que o acidente tenha ocorrido em função do vento sul que entrou por volta das 16h muito forte, com rajadas de até 70km/h, provocando carneirinhos. Disseram que quando chegaram ao skiff este tinha apenas a proa para fora d água e quando o içaram para bordo o mesmo se partiu. A pessoa que resgatou o adolescente disse que passava pelo local e o avistou sobre o casco acenando. Colocou-o a bordo e depois o transferiu para o barco do corpo de bombeiros. Disse que o menino lhe contou que seu companheiro se apavorou com a chegada do vento sul e resolveu seguir a nado desaparecendo nas águas. Relatou que o vento sul atingia 70km/h e formou ondas de até 2m e que o menino estava bastante longe de terra e não havia nenhuma pessoa olhando. O membro do corpo de bombeiros que atendeu ao pedido de socorro disse que foi acionado às 15h50min, na mesma hora em que o vento sul entrou e que 30 minutos depois começou a chover. Confirmou que pegou o adolescente de uma outra lancha e que ele contou que seu amigo sabia nadar, mas se apavorou e desapareceu. Por fim foi ouvido o presidente da Federação Catarinense de Remo que afirmou que em nenhum lugar do mundo o esporte é praticado com os atletas usando coletes salvavidas. O Encarregado do Inquérito relatou o acidente pessoal com o adolescente, que faleceu vítima de afogamento, com danos materiais, pois a embarcação se partiu enquanto tentavam resgatá-la e disse, como é óbvio, que não houve poluição marinha. Na análise dos dados obtidos durante a perícia, os peritos ressaltaram, em suas palavras, que dois menores, sem a necessária experiência para tripular uma embarcação 2/6

relativamente instável fizeram-se ao mar, nessa embarcação, sem o devido acompanhamento por parte de instrutores. Também não souberam identificar condições climáticas adversas que contribuíram para o ocorrido. Ressaltaram os peritos também que, embora exista previsão normativa que dispensa o uso de coletes salva-vidas durante treinamentos ou competições em embarcações a remo, há a obrigatoriedade do acompanhamento de uma embarcação de apoio. Sua falta impossibilitou um resgate com maior presteza de modo a evitar o falecimento do adolescente. Na resposta aos quesitos os peritos ressaltaram também que, embora apresentasse indícios de pequenos reparos, o estado geral do barco a remo não trazia indicativos de que pudesse ter contribuído para o acidente. O encarregado do inquérito concluiu, assim, que o instrutor de remo Lucas Zoldan Marin agira com negligência, responsabilizando-o pelo acidente, anotando, porém que contribuíram para o acidente a inexperiência dos remadores e a condição meteorológica adversa. Notificado do resultado do inquérito apresentou defesa prévia firmada por advogado devidamente constituído, na qual informa que a ONG por ele presidida, Instituto Floripafuturo, busca, em convênio com a FUCAS Fundação CASAN, promover a inclusão de jovens carentes no esporte. Nessa condição usa as instalações e equipamentos do Clube de Regatas Aldo Luz, tradicional clube catarinense, com cerca de 50 alunos na faixa dos 12 aos 18 anos de idade. No clube, antes de começarem a remar embarcações no mar, passam primeiramente por uma prática ministrada no tanque de remo e num simulador. Da mesma forma, antes de se lançarem ao mar, passam por um longo período de adestramento teórico, no qual são enfatizadas as normas e procedimentos de segurança, limites de segurança para navegação desse tipo de embarcação e uso da embarcação como salva-vidas no caso de emborcamento. Seguindo a defesa, disse que no dia do acidente estava no trapiche que fica defronte a três dos clubes de remo locais e viu quando os dois remadores se afastaram da raia de regatas em direção à Praia do Riso, contrariando as instruções de segurança recebidas e ignorando os acenos e gritos de advertência que fazia. Disse também que viu o remador que se afogou se sentar numa pedra, enquanto o outro aguardava a bordo e ali ter consumido maconha. A informação sobre uso de drogas pelo adolescente vítima do acidente teria sido passada pelo outro adolescente em seu depoimento perante a Polícia Civil. Esse depoimento não consta dos autos. O instrutor em sua defesa prévia disse, ainda, que no instante em que viu os 3/6

adolescentes saindo da raia teria começado os procedimentos de resgate dos dois. Os remadores começaram a remar de volta para o clube e o remador que havia consumido entorpecente, soltou os remos, provocando o desequilíbrio e o emborcamento do skiff. Contrariando novamente os ensinamentos, ao invés de se manterem no barco, teriam os remadores começado a nadar para terra, vindo um deles a se afogar. Assistindo tudo de onde estava, acionou o Corpo de Bombeiros, que imediatamente se dirigiu para o local, mas não a tempo de evitar o afogamento de um dos remadores. Com esse relato dos fatos busca sua exculpabilidade apontando o acidente à culpa exclusiva da vítima, negando a conclusão do inquérito, que apontara o acidente à negligência do Instituto Floripafuturo no desenvolvimento das atividades desportivas. Destacou, ainda, que o adolescente sobrevivente em seu depoimento afirmou categoricamente que eles receberam todas as instruções de segurança e os procedimentos que deveriam ter tomado em caso de acidente, demonstrando que não seria correto afirmar que a vítima não estaria apta à prática do remo desportivo. Ressalta por fim que seu projeto tem grande importância social no sentido da aproximação de jovens carentes do esporte e que conta com parcos recursos, não sendo razoável obrigá-lo a manter uma embarcação de apoio, que não é utilizada nem mesmo pelos atletas profissionais. Destacou também que em toda a história do remo catarinense nunca houve outro caso de morte por afogamento de um remador por naufrágio da embarcação. Pede, assim, que o inquérito seja arquivado ou, que, ao menos, lhe seja aplicado o perdão judicial, pois sofre o trauma pela perda de um dos alunos de seu projeto social. Juntou procuração, cópia do contrato entre a ONG Instituto Floripafuturo e a Fundação CASAN FUCAS e o convênio firmado com o Clube de Regatas Aldo Luz. Os autos vieram a este Tribunal que os encaminhou à PEM, que ofereceu representação em face do Instituto Floripafuturo e de Lucas Zoldan Marin, este na qualidade de presidente do instituto, com fulcro nos art. 14, a e 15, e, da Lei nº 2.180/54. Depois de resumir os principais fatos narrados no inquérito a PEM afirma que os representados teriam infringido normas e procedimentos da navegação contribuindo para o incidente. Disse que os adolescentes navegavam sem o acompanhamento de uma embarcação de apoio e que não dispunham da necessária experiência, visto que não observaram as condições meteorológicas reinantes. Disse a PEM, ainda, que a falta do uso de material de salvatagem e de uma lancha de apoio ensejaram no desfecho trágico, promovendo pela responsabilização do Instituto e do Sr. Lucas, pois teriam autorizado o uso do skiff por adolescentes sem disponibilizarem uma embarcação de apoio, atitude que teria culminado no emborcamento e 4/6

no afogamento de um dos remadores. Pede sejam condenados nas iras da Lei e ao pagamento das custas processuais. Publicada Nota de Arquivamento por ordem deste Relator, transcorreu o prazo sem que houvesse manifestação de interessados. Decide-se. Ainda que se encontre na atitude dos representados uma transgressão à NORMAM 03/DPC, que no seu item 0410 estabelece que... as embarcações de competição a remo estão dispensadas de dotar o material previsto neste capítulo, desde que utilizadas em treinamento ou competição e, em qualquer caso, acompanhadas por uma embarcação de apoio (...), não se pode afirmar que o naufrágio se deu em razão da falta desta embarcação de apoio. O naufrágio foi fruto da atitude desastrada dos dois adolescentes que remavam o double skiff que, contrariando as ordens de seu instrutor e as instruções de segurança passadas, se afastaram da raia delimitada para navegação de seu tipo de embarcação enquanto o tempo estava bom e quando o tempo virou não tiveram a habilidade suficiente para evitar o emborcamento. Sabe-se que esse tipo de embarcação não é preparada para navegar em águas agitadas e, assim, mesmo remadores experientes poderiam naufragar com o skiff se colhidos pelo vento sul e por ondas. Assim, não foi a atitude dos representados que permitiu o naufrágio, mas o conjunto formado pela virada do tempo com o desprezo pela segurança demonstrada pelos rapazes que causou o acidente. Quanto ao fato da navegação, exposição a risco, que estaria caracterizado por não haver por perto uma embarcação de apoio, tampouco pode ser vista como caracterizadora do fato da navegação expor a risco as vidas e fazendas de bordo. Quem colocou em risco as vidas e fazendas de bordo, pelo que foi apurado durante o inquérito, foram os remadores quando desobedeceram as instruções de segurança passadas pelo segundo representado. A navegação com o skiff na forma como foram orientados os adolescentes era absolutamente segura. A vítima, no entanto, aumentou exponencialmente o grau de risco de uma atividade segura, ao deixar a raia definida para o esporte indo navegar em local sujeito a marolas. O descumprimento do item 0410 da NORMAM-03/DPC não representa, em si, o fato da navegação caracterizado por expor a risco as vidas e fazendas de bordo. Se assim o fosse, os vários clubes de remo desportivo que há no país estariam cometendo esse fato diariamente, pois que é prática comum que seus atletas saiam de suas sedes desacompanhados. O descumprimento da norma, no entanto, quando noticiada à Capitania como in casu, impõe a aplicação de sanção prevista no RLESTA. Assim, por não enxergar nas atitudes dos representados o fato da navegação e, 5/6

menos ainda, relação com o acidente, entendo que o processo deva ser arquivado em seu início, não sendo recebida a representação. Deve-se, por outro lado, oficiar à CPSC para que aplique ao primeiro representado, Instituto Floripafuturo, a penalidade constante do art. 23, inc. VIII, do RLESTA, por terem descumprido o item 0410 da NORMAM-03/DPC. Assim, ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente e do fato da navegação: xxx; b) quanto à causa determinante: xxx; e c) decisão: julgar prejudicada a análise deste processo, por entender que a atitude dos representados não configura fato ou acidente da navegação, mandando arquivar os autos, não recebendo a representação. Oficiar à Capitania dos Portos de Santa Catarina, agente da Autoridade Marítima, para que aplique ao primeiro representado, Instituto Floripafuturo, a penalidade constante do art. 23, inciso VIII, do RLESTA, por terem descumprido o item 0410 da NORMAM-03/DPC. Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 16 de outubro de 2012. Cumpra-se o Acórdão: Aos 15 de fevereiro de 2013. NELSON CAVALCANTE E SILVA FILHO Juiz-Relator LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente DINÉIA DA SILVA Diretora da Divisão Judiciária AUTENTICADO DIGITALMENTE 6/6