REFLEXÕES SOBRE A FUNÇÃO SINTÁTICA DE ATRIBUTO Antônio Sérgio Cavalcante da Cunha (UERJ; UNESA)

Documentos relacionados
P R O G R A M A EMENTA: OBJETIVOS:

P R O G R A M A EMENTA:

Funções gramaticais: Sujeito e predicado. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

FUNÇÕES SINTÁTICAS NA ORAÇÃO FUNDAMENTOS DE SINTAXE APOIO PEDAGÓGICO 11/05/2018 SAULO SANTOS

Aula 5 Funções sintáticas e transitividade verbal

Funções gramaticais: Objeto direto e indireto. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Professor Jailton. www. professorjailton.com.br

Lições de Português pela análise sintática

Apresentação 11 Lista de abreviações 13. Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM

Aula 7 O sujeito gramatical: tipologia (primeira parte)

PROBLEMAS LINGUÍSTICOS - A SINTAXE DE CONCORDÂNCIA. Profª Ms. Marina Miotto Negrão

PERÍODO: I P R O G R A M A Unidade 1: História externa da Língua Portuguesa

PORTUGUÊS III Semestre

Aula 6 Funções sintáticas e transitividade verbal (segunda parte)

P R O G R A M A. IV Unidade Prática de textos: Textos de autores portugueses e brasileiros dos séculos XIX e XX

ADVÉRBIOS, UMA ABORDAGEM CRÍTICA Fernanda Cristina Saraiva (UERJ)

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9. O ESTUDO DO SIGNIFICADO NO NÍVEL DA SENTENÇA...13 Objetivos gerais do capítulo...13 Objetivos de cada seção...

5 Comentários. 5.1 O Problema do Predicativo do Sujeito

Morfologia, Sintaxe e Morfossintaxe substantivo, verbo, Morfologia. Morfologia classes gramaticais

Conceituação de sujeito das gramáticas x definições de profissionais de Língua Portuguesa

Sumarizando: o que é uma língua. Métodos para seu estudo...44

FUNDAÇÃO EUCLIDES DA CUNHA CONCURSO PÚBLICO DE SÃO MATEUS RESPOSTA AO RECURSO DA PROVA OBJETIVA

META Descrever os diferentes tipos de Predicado. Mostrar as especificidades do Predicativo.

LENDO TEXTOS. Prof. Paola C. Buvolini Freitas Mestre em Estudos Linguísticos

TRANSITIVIDADE VERBAL: TEORIA E PRÁTICA GRAMATICAIS

DISCUTINDO OS CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE SUJEITO NO PORTUGUÊS DO BRASIL Antônio Sérgio Cavalcante da Cunha (UERJ-FFP)

Aspectos morfossintáticos da língua portuguesa

1 Introdução. 1 CÂMARA JR., J.M, Estrutura da língua portuguesa, p Ibid. p. 88.

Sumário PARTE 1. Gramática

Obs.: Essa regra de concordância é excessivamente cobrada por todas as bancas.

Professora Patrícia Lopes

Plano de Ensino. Meses Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Aulas Regulares Aulas de

Oração subordinada: substantiva relativa e adjetiva relativa

GRAMÁTICA MODERNA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Professora Patrícia Lopes

E IR E SEUS COMPLEMENTOS EXCEPCIONAIS.

META Apresentar as possibilidades de análise no que respeita ao Sintagma Preposicionado que ocupa obrigatoriamente a área do predicado.

OS DIFERENTES CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA CLASSIFICAÇÃO DE PALAVRAS EM GRAMÁTICAS ESCOLARES

AULA 11. Sintaxe da oração e do período MINISTÉRIO DA FAZENDA

A morfologia divide as palavras em classes gramaticais; já a sintaxe estuda a função das palavras dentro de um contexto oracional.

SUMÁRIO ORTOGRAFIA... 29

COORDENAÇÃO, SUBORDINAÇÃO E CORRELAÇÃO: TRÊS PROCESSOS DISTINTOS DE FORMAÇÃO DO PERÍODO COMPOSTO

Há dois sintagmas essenciais: o sintagma nominal (SN), cujo núcleo é um nome ou palavra que seja equivalente; e o sintagma verbal (SV) cujo núcleo é

Concurseiro. Espaço do. Português Prof. Joaquim Bispo. Sinta-se a vontade para estudar conosco. O seu espaço de preparação para concursos públicos

CLASSIFICAÇÃO DAS CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

A ORDEM DOS CLÍTICOS EM LÉXIAS VERBAIS SIMPLES: UMA ANÁLISE DAS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS Cristiane Jardim Fonseca (UERJ)

9 - (CESGRANRIO) Complete CORRETAMENTE as lacunas da seguinte frase: A obra de Huxley, se faz alusão no texto, descreve uma sociedade os atos dos

PORTUGUÊS CONCORDÂNCIA NOMINAL (ESTUDO DIRIGIDO)

Pronome relativo A língua portuguesa apresenta 7 formas de pronomes e advérbios relativos consensuais: Que O que Quem O qual Onde Quanto Cujo

8 Referências bibliográficas

Língua Portuguesa. Professoras: Fernanda e Danúzia

Capítulo1. Capítulo2. Índice A LÍNGUA E A LINGUAGEM O PORTUGUÊS: uma língua, muitas variedades... 15

UM OLHAR SOBRE OS COMPLEMENTOS VERBAIS ROCHA LIMA, A NGB, A SALA DE AULA Tania Maria Nunes de Lima Camara

Orações Subordinadas d Adjetivas. Apostila 3, Capítulo 9 Unidades 39 e 40 (pág. 322 a 329)

Plano de Ensino IDENTIFICAÇÃO TURMA: 20 H

Sobre a classificação das Subordinadas Substantivas / Completivas aquela revisão que você reixpeita! 1

Verbo "Transitivo Adverbial" - Uma Mera Questão de Rótulo?

PLANO DE ENSINO. Dados de Identificação. Ementa. Objetivos

APOIO PEDAGÓGICO AO NÚCLEO COMUM

VERBOS LEVES OBSERVAÇÕES SOBRE O PORTUGUÊS DO BRASIL 3 Nataniel dos Santos Gomes (UFRJ, UNISUAM)

Aula6 CONSTRUÇÕES NEGATIVAS. Lêda Corrêa

ESTUDO SOCIOFUNCIONALISTA DE ESTRUTURAS COM O CLÍTICO SE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

CURSO DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO PARÁ DATA 10/08/2016 DISCIPLINA PORTUGUÊS PROFESSOR RICARDO ERSE MONITOR LUCIANA FREITAS

Aula O ADVÉRBIO, O ADJUNTO ADVERBIAL. META Apresentar o sintagma adverbial.

RESPOSTA A RECURSO CONTRA QUESTÃO DE PROVA

INFLUÊNCIAS PROSÓDICAS, ACÚSTICAS E GRAMATICAIS SOBRE A PONTUAÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS

OBJETO DIRETO E OBJETO INDIRETO EM UM LIVRO DIDÁTICO: GRAMÁTICA NORMATIVA VS. GRAMÁTICA EXPLICATIVA/GERATIVA

PREPOSIÇÃO: APONTAMENTOS TEÓRICOS E DIDÁTICOS PELA PERSPECTIVA DA MORFOSSINTAXE.

Nº da aula 02. Estudo da Sintaxe

02/03/2014 MORFOLOGIA X SINTAXE

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

CURSO ANO LETIVO PERIODO/ANO Departamento de Letras º CÓDIGO DISCIPLINA CARGA HORÁRIA Introdução aos estudos de língua materna

6. PLANOS DE DISCIPLINAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ COORDENADORIA DE CONCURSOS CCV PARECER

Concordância verbal e nominal

CAPÍTULO 1 O ESTUDO DAS PALAVRAS

Palavras-chave: Transitividade Complementos Verbais Preposição.

PLANEJAMENTO ANUAL 2016

confunde algumas pessoas, mesmo sendo alunos e ate professores da area. A

2 A tradição gramatical

CURSO DE FISIOTERAPIA Autorizado pela Portaria nº 377 de 19/03/09 DOU de 20/03/09 Seção 1. Pág. 09 PLANO DE CURSO

Aula9 COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO. Lêda Corrêa

6 Análise de dados. Predicados Existenciais Haver com sentido existencial 21 ocorrências (91%) Existir 2 ocorrências (9%)

Sumário. Apresentação. Parte 1 Período simples 1 Quadro geral dos termos da oração 3 Frase, oração e período 3

VARIAÇÃO NO USO DAS PREPOSIÇÕES EM E PARA/A COM VERBOS DE MOVIMENTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Súmario APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO SINOPSES PARA CARREIRAS FISCAIS APRESENTAÇÃO PARTE I FONÉTICA

Conteúdos para o teste de ingresso MATEMÁTICA agosto 2018 (Ingresso em 2019) INGRESSO DE 6ª PARA 7º. ANO/2019 DO ENSINO FUNDAMENTAL

INTRODUÇÃO À SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA

Orações subordinadas substantivas e adjetivas

CONTEÚDOS PARA O 3º. TESTE DE INGRESSO Dezembro 2018 MATEMÁTICA (ingresso em 2019) INGRESSO NO 7º. ANO/2019 DO ENSINO FUNDAMENTAL

Semântica no Reconhecedor Gramatical Linguístico

ALGUMAS PROPOSTAS DE ANÁLISE DA COORDENAÇÃO E DA SUBORDINAÇÃO A PARTIR DO COMPORTAMENTO DAS CONJUNÇÕES DA ÁREA DA CAUSA E DA EXPLICAÇÃO

Aula4 ASPECTOS DA TRANSITIVIDADE VERBAL EM LÍNGUA PORTUGUESA. Lêda Corrêa

Funções do substantivo. Sujeito Objeto direto Objeto indireto Complemento nominal Predicativo Aposto

CURSO DE DIREITO. Pré-requisito: Nenhum Período Letivo: Professor: Tatiana Fantinatti Titulação: Graduada, Mestre e Doutora em Letras

Bárbara da Silva. Português. Aula 52 Adjunto adnominal

Linguística e Língua Portuguesa 2016/01

Transcrição:

DEPARTAMENTO DE LETRAS REFLEXÕES SOBRE A FUNÇÃO SINTÁTICA DE ATRIBUTO Antônio Sérgio Cavalcante da Cunha (UERJ; UNESA) sergio03@ism.com.br INTRODUÇÃO O presente artigo pretende fazer uma reflexão sobre a função sintática denominada atributo, por Mário Perini (2000). Este autor faz uma análise bem mais profunda dos termos adverbiais na oração, considerando que, aquilo que as gramáticas tradicionais chamam de adjunto adverbial pode ser dividido em uma série de funções sintáticas de caráter adverbial, como: adjunto adverbial, adjunto oracional, adjunto circunstancial, atributo, negação verbal, cada uma diferenciando-se da outra em pelo menos um traço distinto no comportamento sintático. 1. Como a tradição gramatical trata as funções adverbiais As gramáticas escolares, que seguem a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), consideram que os termos adverbiais na oração só podem exercer a função de adjunto adverbial, diferenciandoos pelo caráter semântico (de tempo, de modo, de lugar, de dúvida etc.). Isso leva a uma infindável lista de adjuntos adverbiais que varia de compêndio para compêndio, de acordo com o número de possibilidades semânticas que cada autor consiga vislumbrar. Quando muito, alguns textos tradicionais fazem a distinção entre adjunto adverbial, considerado uma função sintática acessória, e um complemento de natureza adverbial, que, por não ser previsto pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), acaba recebendo diferentes nomes: Kury chama-o de complemento adverbial, Rocha Lima, de complemento circunstancial e Celso Pedro Luft, de complemento indireto locativo. Aliás, quanto a este último autor, parece, então, que ele só admite que tais termos adverbiais só podem passar a ideia de lugar, quando, na verdade, elas podem passar outros sentidos. Na sentença SOLETRAS, Ano IX, Nº 18. São Gonçalo: UERJ, 2009 133

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Meu irmão está bem, o elemento bem pode ser considerado um complemento adverbial ou circunstancial e, no entanto, não passa a ideia de lugar. A razão encontrada por alguns gramáticos para a criação dessa nova função sintática, não prevista na NGB, está no fato de que o adjunto adverbial é incluído no grupo dos termos acessórios e esses autores reconhecem a existência de termos adverbiais que nada têm de acessórios. Mais recentemente, Bechara (1999), também reconhecendo este problema, fala dos determinantes circunstanciais ou adverbiais, acrescentando o seguinte: Levada exclusivamente pelo aspecto semântico, a gramática tradicional igualou estes termos também sintaticamente, considerando-os ambos adjuntos adverbiais, isto é, como termos não argumentais, vale dizer fora do âmbito da regência do verbo da oração, isto é, não pedidos por ele. (p. 436) Dessa forma, o que leva Bechara, Rocha Lima, Kury e Luft a criarem uma nova função sintática fora da NGB é o caráter argumental, portanto, não acessório, dessa nova função, em contraposição ao caráter não argumental, acessório, do adjunto adverbial. Henriques (2008) inicia o capítulo sobre adjunto adverbial citando Perini: A tradicional categoria dos advérbios encobre uma série de classes, às vezes de comportamento sintático radicalmente diferente (p. 187). No entanto, acaba por conformar-se com a postura mais tradicional, considerando apenas o adjunto adverbial, subdividindo-o em várias categorias semânticas. 2. O atributo Perini caracteriza o atributo com os seguintes traços sintáticos: [-CV, +Ant, -Q, +CN, +Cl, +PA, -pndp]. Assim, essa função sintática caracteriza-se por não manter uma relação de concordância com o verbo da oração (relação que é privativa do sujeito), poder ser anteposto, isto, ser posto no início da oração, antes mesmo do sujeito, não poder ser retomado por uma pergunta o quê? ou quem? manter uma relação de concordância com algum elemento nominal da oração (concordância em gênero e número), poder ser clivado e po- 134 SOLETRAS, Ano IX, Nº 18. São Gonçalo: UERJ, 2009

DEPARTAMENTO DE LETRAS der ocorrer em posição de auxiliar (entre o sujeito e o verbo da oração ou entre o sujeito e a negação verbal, caso ela esteja presente na oração). Nos exemplos dados pelo autor, essa função sintática seria, para a gramática tradicional, ora o que ela chama de predicativo do sujeito, ora adjunto adverbial. Deixando de lado o traço PA (posição de auxiliar), que o próprio autor admite ser o menos satisfatório, uma vez que, não raro, houve vacilação por parte de seus informantes sobre a possibilidade de uma determinada expressão ocorrer na posição de auxiliar, teríamos, para o atributo, então, a seguinte matriz de traços: [-CV, +Ant, -Q, +CN, +Cl, -pndp]. Como exemplos de atributo, o autor nos fornece os seguintes: Jeremias reclama frequentemente. Jeremias reclama indignado. Observando os exemplos dados por Perini, podemos ver que o traço CN (concordância nominal) é facilmente verificado no segundo exemplo (indignado), mas não pode ser verificado no primeiro. Perini nos explica que, se trocarmos frequentemente por indignado, a concordância passa a ocorrer (Jeremias reclama indignado, Maria reclama indignada, Jeremias e Pedro reclamam indignados, Maria e Helena reclamam indignadas). O autor não usou nenhum outro argumento para sustentar sua proposta. Podemos perceber, no entanto, outro possível argumento que poderia ser usado. Como a palavra frequentemente é um advérbio, não é variável e, por isso, não pode, por questões morfológicas, concordar com ninguém. Já indignado é um adjetivo e, portanto, variável, pelo menos em número (no caso do adjetivo utilizado no e- xemplo do autor, é também variável em gênero). Assim, o problema não estaria no nível da sintaxe, mas no léxico, nas características de cada classe de palavras: variabilidade ou invariabilidade. Por isso, os dois elementos são, para o autor, atributos nas frases acima mencionadas. SOLETRAS, Ano IX, Nº 18. São Gonçalo: UERJ, 2009 135

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 3. Algumas reflexões Embora reconheçamos como válidos os argumentos usados por Perini, entendemos que o autor deixou de considerar algumas questões. O primeiro ponto que podemos levar em conta é que, nos dois exemplos de Perini, o traço [-Q] é aplicável aos elementos analisados. No entanto, enquanto indignado pode ser recuperado por uma pergunta adverbial com o advérbio interrogativo como? frequentemente não pode ser recuperado por qualquer pergunta adverbial, nem mesmo pergunta introduzida por quando?. Como Jeremias reclama? Jeremias reclama indignado. Quando Jeremias reclama? Jeremias reclama frequentemente. A explicação para a possibilidade de o primeiro elemento (indignado) poder ser retomado por uma pergunta adverbial é que, na sentença, o adjetivo em pauta tem valor adverbial, podendo ser facilmente substituído por indignadamente. Já o advérbio frequentemente não pode ser substituído pelo adjetivo que lhe dá origem (frequente). Não caberia, pois, dizer *Jeremias reclama frequente. A relação do adjetivo indignado se faz tanto com a forma verbal (reclama) quanto com o substantivo próprio Jeremias, razão pela qual concorda em gênero e número com o substantivo. Ao contrário, frequentemente tem relação apenas com o verbo. 4. Uma nova proposta As considerações feitas acima nos fazem chegar a uma proposta diferente da de Perini. Entendemos que, no caso de Jeremias reclama indignado, o traço +CN se aplica. Assim, definiríamos a função sintática de indignado na sentença acima pela seguinte matriz de traços: [-CV, +Ant, -Q, +CN, +Cl, -pndp]. 136 SOLETRAS, Ano IX, Nº 18. São Gonçalo: UERJ, 2009

DEPARTAMENTO DE LETRAS Entendemos, também, que a matriz não se alteraria se, ao invés do adjetivo, usássemos o advérbio indignadamente ou a expressão com indignação. Manteríamos o traço CN com o sinal positivo, pois, neste caso, cremos que se trata de uma mera opção do falante. Se a opção for pelo adjetivo, far-se-á a concordância nominal com o sujeito. Se for pelo advérbio, em virtude das características morfológicas dessa classe de palavras, que é invariável, a concordância não se manifestaria. O problema não está, pois, na Sintaxe, mas no léxico. Se pelo S Prep (com indignação), a mesma análise se aplica. O S Prep não varia para concordar com outro elemento. Já no caso de Jeremias reclama frequentemente, optaríamos, para a função sintática exercida pelo elemento frequentemente, pela seguinte matriz: [-CV, +Ant, -Q, -CN, +Cl, -pndp]. A razão para a mudança no traço CN está no fato de que frequentemente não é intercambiável com o adjetivo frequente. Assim, o problema não está somente no léxico, mas na impossibilidade de o adjetivo ser usado, na sentença em questão, no lugar do advérbio, pois não há relação entre frequentemente e Jeremias. A relação de frequentemente é exclusivamente com a forma verbal reclama. 5. Conclusões A conclusão a que chegamos é que os elementos acima explicitados não podem ser considerados como tendo a mesma função sintática. Assim, optamos por matrizes diferentes para os dois itens em questão, a saber indignado e frequentemente. Acreditamos, também, na necessidade de aprofundamento do estudo das funções sintáticas dos sintagmas adverbiais e dos sintagmas preposicionados na oração. A gramática tradicional é muito limitada nesse aspecto, fazendo a distinção pelo critério exclusivamente semântico. Já Perini vai mais adiante ao procurar caracterizar os diversos comportamentos sintáticos desses elementos. No entanto, seu pioneiro estudo merece uma reflexão, uma vez que o comportamento sintático desses elementos é extremamente variado e, portanto, complexo. SOLETRAS, Ano IX, Nº 18. São Gonçalo: UERJ, 2009 137

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES BIBLIOGRAFIA BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. HENRIQUES, Claudio Cezar. Sintaxe. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. KURY, Adriano da Gama. Lições de português pela análise sintática. São Paulo: Ática, 1991. LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. São Paulo: Globo, 1996. PERINI, Mário. Sintaxe portuguesa: metodologia e funções. São Paulo: Ática 1989.. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 2000. ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. 138 SOLETRAS, Ano IX, Nº 18. São Gonçalo: UERJ, 2009