Como o empirista David Hume as denominam. O filósofo contemporâneo Saul Kripke defende a possibilidade da necessidade a posteriori.

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Transcrição:

Disciplina: Filosofia Curso: Comunicação Social 1º ano Prof. Esp. Jefferson Luis Brentini da Silva A Estética A Estética Transcendental de Immanuel Kant 13/05/2014 Pretendo inicialmente produzir uma consideração da primeira parte da teoria do conhecimento da filosofia kantiana que é denominado como sendo a estética transcendental. Kant nessa estética procura demonstrar que tempo e espaço são formas puras da nossa intuição sensível e que possuem realidade empírica na medida em que são condições de possibilidade de nossa experiência O contexto em que surge a filosofia kantiana é antecedido pelo intenso debate entre filósofos denominados como racionalista e empirista, além do intenso progresso das ciências. Essas duas vertentes distintas divergiam em torno de muitas vias do conhecimento em todos os seus âmbitos, seja ele dado como conhecimento teórico, moral ou estético. O racionalista acreditava que o conhecimento tem por fundamento as idéias da razão, princípios racionais a priori e necessários; e que o sucesso do conhecimento científico era devido a esse seu caráter a priori sendo que o conhecimento matemático seria então o modelo principal do conhecimento que segue aqueles fundamentos. Já o empirista, por sua vez, acreditava que todo conhecimento, fora o matemático, tem por fundamento a experiência sensível, ou seja, ele é dado a posteriori; e o sucesso das ciências era devido à sua relação direta com a experiência sensível. Aqui, o conhecimento modelo, que deriva de tais fundamentos, seriam as

ciências como a física e outras que suam do método experimental, as chamadas relações de fato 1. Nesse embate nenhuma das duas correntes conseguia uma vitória sobre a outra. Os racionalistas explicavam o porquê do sucesso das ciências com os seus princípios a priori, e para ele a noção de a priori e necessário, o qual eles identificavam com a noção de juízo analítico e estendiam esse procedimento à metafísica. Mas estes não conseguiam explicar o porquê do fracasso da metafísica, que assistia a um debate que não chegava a lugar nenhum, sem conclusões seguras, contrariamente às ciências. Os empiristas, por outro lado, explicavam o fracasso da metafísica com a sua noção de que todo o conhecimento efetivo é o conhecimento que passa via algum dos sentidos, ou seja, é um conhecimento a posteriori, o qual ele identificava com os juízos sintéticos. Porém eles não conseguiam fundamentar as ciências somente apoiados nesse conhecimento a posteriori e contingente. Kant aparece no cenário filosófico buscando um meio termo entre estas duas correntes. Busca por um lado fundamentar as ciências e, por outro, abrir a possibilidade da metafísica no plano moral. Para isso ele propõe uma distinção que ainda não havia sido contemplada por racionalista, nem empiristas. A distinção consiste na separação da noção de conhecimento a priori da noção de juízo analítico, e da noção de conhecimento a posteriori da noção de juízo sintético. Contudo Kant não estabeleceu uma separação entre as noções de necessário e a priori, o que hoje constitui uma das críticas à sua filosofia 2. Kant estabelece que o conhecimento a priori é aquele que é independente da experiência e necessário; contrário a ele é o conhecimento a posteriori, que depende da experiência e é contingente. Já a noção de juízo analítico é a de que o predicado do juízo está expresso no sujeito, porém não somos informados de nada por tais juízos, por exemplo, cavalo é animal. Já nos juízos sintéticos o predicado não está contido no sujeito, logo, esse juízo nos informa algo do sujeito. De posse dessa distinção, Kant pretende descobrir se é possível um conhecimento sintético a priori. Esse tipo de conhecimento que Kant quer admitir consiste em um conhecimento que é sintético, na medida que é sobre a experiência e nos informa algo sobre ela; e é a priori, pois é independente da experiência. Mas como isso é possível? Ora, o conhecimento sintético a priori é o conhecimento das nossas estruturas cognitivas 1 Como o empirista David Hume as denominam. 2 O filósofo contemporâneo Saul Kripke defende a possibilidade da necessidade a posteriori. 2

prévias, o que significa que antes de um contato com o objeto, já sabemos algo sobre o objeto isso constitui o que Kant entende por transcendental. É a revolução copernicana : no conhecimento não se pode anular completamente o sujeito que conhece em favor do objeto, nem o contrário, o objeto conhecido ser anulado pelo sujeito, mas ele é uma relação entre estes dois, na qual o objeto se amolda àquelas formas de conhecer do sujeito. Com a possibilidade de tal conhecimento surge a distinção kantiana entre fenômeno e coisa-em-si. Se ao conhecermos um objeto impomos-lhe que se molde à nossa forma de conhecê-lo, então não podemos conhecer o objeto independentemente dessa nossa forma, ou seja, como o objeto seria em si mesmo. Podemos ainda supor que, se essas nossas formas de conhecer fossem diferentes, o objeto considerado por nos também poderia ser diferente, ou se apresentar de outra maneira a nós. Assim, não podemos conhecer à coisa em si mesma, mas apenas ao seu fenômeno que é até onde nosso intelecto nos permite ir. A partir da distinção entre fenômeno e coisa-em-si Kant cumpre o que pretendia 3, ou seja, fundir a noção racionalista do conhecimento com a noção empirista: fundamenta as ciências e demonstra o fracasso da metafísica, primeiro que o conhecimento científico implica em certa necessidade, e segundo que o nosso intelecto não nos permite ir além da experiência possível. Na base dessa fusão promovida por Kant está a Estética Transcendental, que é uma investigação acerca da sensibilidade pura, isto é, a sensibilidade antes de qualquer contato com o objeto. Ela é uma ciência de todos os princípios a priori da sensibilidade. Nela Kant tem a intenção de, primeiramente, isolar a sensibilidade abstraindo de todo o conteúdo do entendimento e seus conceitos restando apenas a intuição empírica. Depois, apartar da intuição aquilo que pertence à sensação, restando apenas a intuição pura. A sensibilidade e o entendimento são as fontes do conhecimento humano, e não pode haver um conhecimento efetivo se não for por meio deles: como no caso da razão, a faculdade das idéias incondicionadas, que tem idéias necessárias à moral, mas que, porém, não podem ser conhecidas, somente pensadas. Aqui tratarei somente daquela primeira fonte de conhecimento, tratando da segunda somente se for preciso. O entendimento e seus conceitos são temas da Lógica Transcendental. 3 A questão aqui não é a de saber se podemos ou não aceitar tal distinção, mas a de promover uma exposição que seja o mais fiel às intenções de Kant. 3

Kant começa a estética com as seguintes palavras: Não importa o modo e os meios pelos quais um conhecimento se refira a objetos, é pela intuição que se relaciona imediatamente com estes. (B 33) A partir da intuição nos relacionamos com os objetos no mundo e verifica na medida em que tais objetos nos são dados na sensibilidade. A sensibilidade é a capacidade de receber representações (receptividade); através dos objetos dados na sensibilidade temos a intuição. Essa intuição provocada pela sensação do objeto é a chamada intuição empírica; ela é a posteriori, isto é, somente pode ser verificada na experiência. A essa intuição Kant não se dedica tanto, pois sua investigação está mais preocupada com o que é a priori na intuição. Isso pode representar uma perca para seu pensamento, na medida em que pode implicar num afastamento da experiência: nossa maior fonte de conhecimento. O fundamento da intuição empírica, ou sua forma a priori, é algo que não pode ser apreendido na experiência, é uma representação pura. A essa representação pura Kant chama intuição pura; ela se encontra em nossa mente, segundo ele, independente dos objetos no mundo. Ela é na verdade o fundamento de nossa representação dos objetos no mundo. Kant procura estabelecer que essa intuição pura é constituída de espaço e tempo; o primeiro seria a forma do sentido externo, ou a representação dos objetos no espaço, e o segundo a forma do sentido interno, representação dos objetos no tempo. Kant faz o que ele chama de uma exposição metafísica e exposição transcendental dos conceitos de espaço e tempo. Na exposição metafísica do espaço, a idéia principal é a de que o espaço não é um conceito empírico abstraído da experiência externa, mas sim uma intuição pura. Essa intuição é, para Kant, a possibilidade para a própria experiência, na medida em que ela é uma representação a priori e necessária, que fundamenta todas as intuições externas; assim, não poderia haver nenhuma representação sem haja a representação a priori do espaço. O espaço também não é um conceito discursivo, ou um conceito universal das relações das coisas em geral; mas sim uma intuição pura a priori, da qual as proposições geométricas derivam. Kant diz o seguinte na exposição metafísica, já englobando o que tratará na exposição transcendental: (...) as proposições geométricas, como por exemplo, que num triângulo a soma de dois lados é maior que o terceiro, não deriva nunca de conceitos 4

gerais de linha ou de triângulo, mas da intuição, e de uma intuição a priori, com uma certeza apodítica (B39) Com a exposição transcendental do espaço, Kant quer mostrar como é possível o conhecimento sintético a priori a partir dessa intuição pura. Kant vê a geometria como uma a ciência que expõe sinteticamente e a priori as propriedades do espaço. A necessidade na qual implica suas proposições é devido ao seu caráter a priori. Portanto, conclui Kant, o espaço tem que ser uma intuição pura, pois dele deriva proposições necessárias. Das exposições metafísicas e transcendentais do espaço, Kant tira duas conclusões: uma é que o espaço não representa uma propriedade da coisa em si, nem dessas coisas nas relações entre si; outra é que o espaço é a forma de todos os fenômenos dos nossos sentidos externos, ele é a condição subjetiva da sensibilidade que permite a intuição externa. Dessa forma o espaço é subjetivo; somente podemos atribuílo às coisas na medida em que elas são objetos da nossa sensibilidade. Contudo não podemos fazer dessa condição particular da sensibilidade as condições da possibilidade das coisas em si mesmas. Mas, diz Kant, considerando o espaço sob o ponto de vista humano, então a regra assume validade universal e sem limitação. A realidade empírica do espaço referese a toda nossa experiência exterior possível; mas se abandonarmos a condição da possibilidade da experiência e o considerarmos como algo que se refere à coisa em si, o espaço e sua idealidade transcendental, nada são, além do espaço, segundo Kant, nenhuma outra representação subjetiva pode chamar-se a priori objetiva. Na exposição metafísica do conceito de tempo, Kant procura mostrar que o tempo não é um conceito empírico tirado da experiência, mas sim uma intuição fundamental. Ele diz que sem a representação a priori do tempo, nem a simultaneidade nem a sucessão se apresentariam à percepção, ou seja, somente com essa representação podemos demonstrar a existência de uma coisa num e mesmo tempo (simultaneidade), ou em tempos diferentes (sucessivamente). O tempo é uma representação fundamental que constitui a base de todas as intuições. Não podemos suprimir a noção de tempo dos fenômenos, porém podemos pensá-lo separadamente. O tempo é como o espaço, a condição da possibilidade dos fenômenos; e implica numa tal necessidade, que possibilita a existência de princípios apodíticos das relações do tempo ou dos axiomas do tempo em geral. Tempos diferentes não são simultâneos, mas sim sucessivos; assim como espaços diferentes são simultâneos, e não 5

sucessivos. Kant argumenta que se o tempo fosse extraído da experiência não teria tal universalidade nem certeza apodítica: somente poderíamos dizer que assim nos ensina nossa percepção comum, mas não que assim tem de ser. O tempo é, conclui Kant, uma noção pura da intuição sensível, e não um conceito discursivo. A exposição transcendental do conceito de tempo consiste na sua já mencionada necessidade que possibilita a existência de princípios apodíticos. A ciência que se funda nessa intuição é a aritmética e é devido ao caráter a priori do tempo que essa ciência tem juízos que implicam em necessidade. As conclusões de Kant sobre o conceito de tempo são: primeiro que o tempo não é algo que tem existência em si, ou seja, inerente às coisas como determinação objetiva; ele é condição a priori de todas as intuições. Segundo que ele é a noção do sentido externo, da intuição de nós e de nosso estado interior; assim, não pode ser determinação da coisa em si. E terceiro que o tempo é condição formal a priori de todos os fenômenos em geral: o espaço é condição da intuição externa, e o tempo é da intuição interna; porém, o tempo, que é condição imediata do sentido interno, é também condição mediata do sentido externo: assim podemos dizer, a partir do princípio do sentido interno, que todos os fenômenos em geral estão no espaço e no tempo. O tempo, como o espaço, diz Kant, somente tem valor objetivo em relação aos fenômenos, na medida em que é atribuído a objetos dos sentidos. Mas perde sua validade ao abstrairmos da sensibilidade da nossa intuição. A intuição é sempre sensível, pois é através dela que somos afetados por objetos. Ela é objetiva em relação aos fenômenos não às coisas em si. Para Kant, o tempo tem realidade empírica, ou seja, tem validade objetiva relacionada aos objetos que podem se apresentar aos nossos sentidos. Contudo não podemos saber se o tempo tem realidade empírica absoluta, como condição ou propriedade das coisas as propriedades que pertencem às coisas em si, não nos são dadas através os sentidos. Nisso consiste o que Kant chama de idealidade transcendental do tempo e do espaço: se abstraído de suas condições subjetivas, eles nada são, pois não pode ser atribuído às coisas em si mesmas, independentemente de suas relações com a nossa intuição. Quando aplicados aos fenômenos, tanto espaço quanto o tempo têm realidade objetiva, mas quando aplicados à coisa em si, sobre eles nada podemos dizer. Kant admite tempo e espaço como algo que é real, enquanto possui realidade subjetiva relativa à nossa experiência interna e externa. Eles não devem ser visto como 6

inerente aos objetos, mas ao intelecto do sujeito que os intui. Tempo e espaço são, para Kant, duas fontes de conhecimentos sintéticos a priori na matemática, neles se fundam geometria e aritmética, conferindo-lhes necessidade. Alguns problemas podem ser levantados acerca do pensamento kantiano. Por mais que ele parece ter cumprido o seu papel, ou seja, de ter fundido os empirismo e o racionalismo, suas soluções implicam em outros problemas. Um deles é o já mencionado problemas de Kant não haver feito uma distinção entre as noções de a priori e necessário, isso parece ter levado até às últimas conseqüências na busca da certeza apodítica. Parece-nos que tudo que é conhecido a priori é necessário, mas podemos algumas vezes ter um conhecimento a posteriori de uma proposição necessária. Mas não vou me aprofundar aqui, pois daria outro trabalho, o que não vem ao caso aqui. Outro problema parece ser o de negar a possibilidade de conhecer a coisa em si, mas por outro lado pretender conhecer a coisa em si do nosso intelecto. Kant deveria ter aberto a possibilidade do conhecimento da coisa em si para tratar o problema mais claramente. Nas exposições metafísicas dos conceitos de espaço e tempo, Kant está falando do espaço e do tempo como coisas em si, mostrando que estes não existem objetivamente no mundo, mas que são constituintes do nosso intelecto. A parte esses e outros problemas que podemos encontrar na filosofia kantiana, uma lição nos fica. A lição é que, de fato, por mais que não queiramos admitir todo aquele esquema de nosso intelecto arquitetado por Kant, a sua idéia fundamental, que é o de estabelecer o idealismo transcendental, não é excluída por isso, em favor de um realismo ou idealismo extremo. Em sua obra denominada Analítica do Belo Kant procura elaborar uma teoria concreta a respeito do belo e do sublime. Em primeira instancia formularei acerca da teoria proposta pelo filosofo supracitado acerca do belo e, a posteriori, sua teoria acerca do sublime. Kant para tentar conceituar o belo, divide sua teoria em quatro momentos, para fins didáticos, para permitir uma análise sucinta acerca do belo. O filósofo em questão inicia sua obra partindo sobre em qual via do intelecto devemos nos limitar para compreender a respeito da teoria proposta (o belo). Para distinguir se algo é belo, Kant pressupõe que deve-se partir da representação, e não do entendimento. Ou seja, surge das capacidades imaginativas do individuo e não das faculdades do conhecimento. 7

Logo, o juízo de gosto não esta engendrado na esfera do conhecimento (entendimento valores éticos e morais, epistemológicos, e etc.), e, consequentemente, esta ligado ao âmbito estético (ou seja, é dado de modo subjetivo). E, por conseguinte, limita-se à esfera representativa. Por belo, vale ressaltar quem quando buscamos saber se algo é belo, a única preocupação que deve haver acerca do caráter contemplativo (intuitivo, reflexivo) e não o que possa proceder ou necessitar adquirir a partir desse ajuizamento (é uma busca desinteressada). E, para que possa deferir que algo seja concebido como belo (elevandose a uma premissa universal) deve haver uma complacência, sendo esta eximia qualidade a respeito do belo dado por indiferente que sempre possa ser com respeito a existência do objeto dessa representação Vale ressaltar que o belo para elevar-se a categoria universal, deve abster-se de conceitos, uma vez que conceitos não oferecem passagem para o sentimento de prazer ou desprazer (levando em consideração apenas juízos de gosto e o seu caráter estético). O belo é algo que está na esfera da imaginação, de caráter contemplativo e, para tornar um objeto universalmente belo deve haver uma complacência (desinteressada), logo, é um objeto que, ao contemplá-lo, traz sentidos às sensações, ou seja, é algo que, na imediatez, se torna agradável (pois traz uma sensação, seja ela de prazer ou desprazer). Um ponto chave para compreender a respeito da crítica do juízo e necessário para conhecer acerca desta crítica é saber se no juízo de gosto o sentimento de prazer precede o ajuizamento do objeto ou se o ajuizamento precede o prazer e, a resposta de dá partindo do: universal como capacidade de comunicação do estado de animo na representação dada que, como condição subjetiva do juízo de gosto, tem de jazer como fundamento do mesmo e tem como consequência o prazer de um sem, no entanto, conceituá-lo A sensação está intrinsecamente ligada aos sentidos e podemos relacioná-la à representação objetiva dos sentidos e por agradável (pelo sentimento de agradável) se constitui a parte subjetiva do objeto de complacência. Por agradável vale lembrar que tal sentimento é dado do particular, a exemplo, o céu é agradável para mim, já o belo dá-se contrariamente ao agradável, pois, quando dá a um objeto o valor de belo, aquela denominação deve ser dada não só como algo que apraz somente a ele, mas, esse objeto dado como belo (para o particular) a outros 8

deve haver o mesmo valor. E, quando se trata da terminologia bom, poder-se-á inferir que o bom é representado por um conceito como objeto de uma complacência universal, e que não é da esfera do agradável nem do belo e está ligado aos juízos de verdade (e, consequentemente, a razão ao entendimento -). Após esse breve ensaio acerca do belo, vale questionar-se sobre a finalidade do belo (em Kant), o télos do belo está fundado em suas determinações transcendentais (sem objetivar-se nas engenhosidades empíricas) tendo apenas como fundamento e finalidade a observação e reflexão em um dado objeto em sua representação. E o juízo de gosto, por sua vez, tem como objetivo imputar e/ou denominar se determinado objeto é belo ou não, tendo assim, sua consequência necessária e determinante (tendo então como finalidade o de tornar-se uma lei objetiva pelo intermédio da complacência). Desta forma Kant teoriza que O Belo é o que é conhecido sem conceito como objeto de uma complacência necessária Já a respeito do sublime sua análise se funda em duas divisões dele, um no caráter matemático e outro de caráter estético. Por sublime refere-se a tudo que é absolutamente grande, ou como uma disposição de animo no qual ultrapassa todo padrão de medida, engendrados na esfera dos sentidos. O que difere o belo do sublime é que o sublime contém uma consciência de uma conformidade a fim subjetiva no caso da nossa faculdade do conhecimento, mas não uma complacência no objeto como no belo, e sim a ampliação da faculdade da imaginação em si mesma. Aqui me objetivarei apenas a respeito de sua avaliação acerca do sublime em seu caráter estético (intuitivo), passando vagamente nos conceitos matemáticos a respeito da teoria do sublime e suas grandezas. Para a definição de grandezas faz-se uso de dois termos que são fundamentais para a objetivação da teoria kantiana a respeito do sublime, a saber: I) Apreensão: que seu limite se estende ao infinito, sendo o seu máximo a medida fundamental (esteticamente) da avaliação das grandezas; e II) Compreensão: que, ao passo que a apreensão segue seu curso evolutivo, mais difícil se torna a compreensão e, desta maneira, passível compreende o que fora apreendido. A natureza é, para Kant, um modelo estético ideal de poder no qual não lança nenhuma força sobre nós, mas é dinamicamente sublime uma vez que sucinta o medo. Kant define poder como uma faculdade que se sobrepõe à grandes obstáculos e força é quando se sobrepõe a resistência daquilo que possui ele próprio poder. 9

Em suma o sublime (ou o ato de sublimidade) é quando o indivíduo encontrase frente a um obstáculo, que o causa desprazer e, enquanto o fraco (como Kant expressa, inculto) sucumbe a primeira dor vivente, o forte (o culto), por sua vez, deve progredir ao passo que a dor, e sentimentos quaisquer providos do descontentamento são postos a sua frente e, a posteriori, superados, transformando tudo o que antes era tido como desprazer (quando era dado como um objeto a ser superado o confrontamento com tal estágio-) em uma explosão de prazeres infinitos (ao superar essas barreiras postas à frente do indivíduo), ou seja, atingindo seu estado de sublimação. Referência Bibliográfica: 1. Kant, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Martin Claret; 2. KANT, Immanuel. Analítica do belo. Trad. de Rubens Rodrigues Torres. Filhos. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1984. 10