Estudo clínico e tratamento de oito pacientes

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Arq Neuropsiquiatr 2005;63(3-A):643-647 PAROXISMIA VESTIBULAR Estudo clínico e tratamento de oito pacientes Aline Mizuta Kozoroski Kanashiro 1, Paula Levatti Alexandre 2, Cristiana Borges Pereira 3, Antonio Carlos de Paiva Melo 4, Milberto Scaff 5 RESUMO - A paroxismia vestibular é uma síndrome de compressão do VIII nervo craniano e foi denominada inicialmente por Janetta vertigem posicional incapacitante. Esta síndrome é caracterizada por episódios c u rtos de vertigem, zumbido, déficit vestibular e auditivo. A RM pode mostrar compressão do VIII nerv o por vasos da fossa posterior, como a artéria basilar, artéria vertebral, artéria cerebelar inferior anterior, artéria cerebelar inferior posterior. A paroxismia vestibular pode ser tratada com terapia medicamentosa tais como carbamazepina, fenitoína ou gabapentina, ou com descompressão microvascular do VIII nervo. Este estudo descreve oito pacientes com paroxismia vestibular. Quatro deles mostraram também sinais clínicos sugerindo compressão do V e/ou VII nervos. Sete pacientes tratados com carbamazepina tiveram melhora significativa da vertigem e zumbido. PALAVRAS-CHAVE: vertigem, nervo vestibular, diagnóstico, tratamento. Vestibular paroxysmia: clinical study and treatment of eight patients ABSTRACT - Vestibular paroxysmia is a syndrome of cro s s - c o m p ression of the VIII cranial nerve and was first described by Jannetta who used the term disabling positional vertigo. This syndrome is characterized by brief attacks of vertigo, tinnitus, vestibular and auditory deficits. MRI may show the VIII nerve compre s s i o n f rom vessels in the posterior fossa, such as the basilar, vertebral, anterior-inferior cerebellar or the posteriorinferior cerebellar arteries. Vestibular paroxysmia may be treated either with medical therapy, such as carbamazepine, phenytoin or gabapentin or with the microvascular decompression of the VIII nerve. This study describes eight patients with vestibular paroxysmia. Four of them showed also clinical signs suggesting c ro s s - c o m p ression of the V and/or VII nerve. Seven patients treated with carbamazepine had significant improvement of vertigo and tinnitus. KEY WORDS: vertigo, eighth cranial nerve, diagnosis, treatment S í n d romes vestibulares como a vertigem de posicionamento paroxística benigna (VPPB), doença de Menière, neurite vestibular, vertigem fóbica e v e rtigem central são as mais freqüentes em ambulatório especializado 1-3.Existem,noentanto,outras doenças menos freqüentes, mas igualmente incapacitantes, de fácil reconhecimento e boa re s- posta ao tratamento. Entre estas está a paro x i s m i a vestibular (PV), denominada inicialmente por Jannetta (1984) 4 e Moller (1986) 5 v e rtigem posicional incapacitante ( disabling positional vertigo ). Há evidências de que a compressão vascular do VIII n e rvo craniano seja a causa mais provável da paroxismia vestibular 4-6, com hiperatividade e pro g re s- siva perda funcional. Pode ser diagnosticada pela o c o rrência de episódios curtos de vertigem ro t a t ó- ria, precipitados ou modulados pela mudança da posição da cabeça, podendo estar associada a hipoacusia e/ou zumbidos 7. É importante diferenciar a paroxismia vestibular de outras síndromes que cursam com vertigem episódica de curta duração, como VPPB, doença de M e n i è ree neurite vestibular. A vertigem da PV desencadeada por movimentos da cabeça não é fatigável como nos pacientes com VPPB, e seus sintomas não são aliviados com uso de supre s s o res ves- Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) São Paulo SP, Brasil: 1 Médica Estagiária do Ambulatório de Ve rtigem do Serviço de Neurologia do HSPE; 2 Médica residente da Divisão de Clínica Neurológica da FMUSP; 3 Pós-Graduanda do Departamento de Neurologia da FMUSP, responsável pelo Ambulatório de Distúrbios Ve s t i b u l a res do HC-FMUSP e Médica Assistente do HSPE e responsável pelo Ambulatório de Vertigem do HSPE; 4 Diretor do Serviço de Neurologia do HSPE; 5 Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Recebido 23 Outubro 2004, recebido na forma final 17 Dezembro 2004. Aceito 8 Março 2005. Dra. Aline Mizuta Kozoroski Kanashiro - Rua Martiniano de Carvalho 629/84-01321-001 São Paulo SP - Brasil. E-mail: kozoro s k i @ t e rra.com.br

644 Arq Neuropsiquiatr 2005;63(3-A) t i b u l a re s 4, 5. Na PV os pacientes não têm a perd a auditiva flutuante característica da doença de Men i è re. Em relação ao tratamento há tanto pro p o s- tas de uso de carbamazepina quanto de descompressão microvascular do VIII nervo. Este estudo teve como objetivos: identificar os pacientes com PV no ambulatório de vertigem e o b s e rvar a resposta ao tratamento com a carbamazepina. MÉTODO Foram analisados re t rospectivamente oito pacientes (média de idade: 63,5 anos, seis mulheres) atendidos no Ambulatório de Ve rtigem, na Divisão de Clínica Neuro l ó- gica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e no Ambulatório de Ve r- tigem do Serviço de Neurologia do Hospital do Serv i d o r Público Estadual de São Paulo. Por meio da anamnese e do exame físico dirigidos ao sistema vestibular foram identificados os pacientes com diagnóstico de PV. O diagnóstico foi estabelecido através das seguintes características: (1) episódios de vert i g e m rotatória de duração de segundos a minutos; (2) episódios freqüentemente desencadeados por determ i n a d a s posições da cabeça; (3) resposta ao tratamento com carbamazepina; (4) exclusão de uma causa central de vert i- g e m 7, 8. Hipoacusia ou zumbidos poderiam ocorrer perm a- nentemente ou durante os ataques de vert i g e m. A ressonância magnética (RM) de encéfalo foi solicitada com o propósito de confirmar o diagnóstico de PV e afastar causas centrais. A tomografia computadorizada de crânio foi realizada em 2 pacientes: um deles estava impossibilitado de realizar RM de encéfalo devido à pró- Tabela 1. Dados dos pacientes atendidos no ambulatório de vertigem. Gênero / Queixa Sintomas Características Outros Resposta ao Paciente idade principal associados do nistagmo comprometimentos RM / TC tratamento 1 M / 63 Episódios curtos Nistagmo TC - ectasia de Boa de vertigem espontâneo e artéria vertebral E para D 2 F / 65 Episódios curtos Nistagmo RM - normal Boa de vertigem para E 3 F / 61 Vertigem quando Zumbido à E, Nistagmo Hipoacusia RM - dolicobasilar Indeterm. vira a cabeça desequilíbrio neurossensorial E com contato vascular para o lado e náuseas para D com VII e VIII nervos esquerdo 4 F / 72 Episódios curtos Hipoacusia E Nistagmo Hipoacusia TC - normal Boa de vertigem neurossensorial E para D 5 F / 62 Episódios curtos Nistagmo Espasmo hemifacial E RM - contato vascular Boa de vertigem com VIII nervo à E para E 6 M / 55 Episódios curtos Zumbido à E Nistagmo Espasmo hemifacial E RM-megadolicovertebral E Boa de vertigem evocado pelo e aneurisma basilar oscilatória ao olhar para D fusiforme 7 F / 71 Episódios curtos Nistagmo Espasmo hemifacial E RM-megadolicobasilar Parcial de vertigem rotatório para D 8 F / 60 Episódios curtos Hipoacusia Nistagmo Espasmo hemifacial E, RM-megadolicobasilar Boa de vertigem e zumbido dor facial no à E para D território trigeminal E hipoacusia neurossensorial E

Arq Neuropsiquiatr 2005;63(3-A) 645 Fig 1. RM de encéfalo (caso 3) com seqüência ponderada em T2 mos - trando ectasia e tortuosidade da a rtéria basilar com compressão do VII e VIII nervos cranianos à es - querda. Fig 2. RM de encéfalo (caso 8) com seqüên - cia ponderada em T2 evidenciando mega - dolicobasilar com contato com V, VII e VIII nervos cranianos à esquerda. tese de platina na região temporal direita, e outro paciente aguardava o exame até a elaboração deste estudo. Todos os pacientes foram submetidos ao tratamento com carbamazepina na dose inicial de 200 mg até o máximo de 600 mg ao dia, e a resposta ao tratamento foi avaliada no retorno dos pacientes. RESULTADOS Os dados re f e rentes aos oito pacientes estão distribuídos na Tabela. Estes foram distribuídos nos seguintes grupos conforme a apre s e n t a ç ã o clínica: (1) quatro pacientes tinham somente queixas re f e rentes ao VIII nervo; (2) dois apre s e n t a v a m também espasmo hemifacial; (3) um tinha espasmo hemifacial e neuralgia do trigêmeo; (4) um tinha espasmo hemifacial e sinais de compro m e t i m e n t o de tronco encefálico. São descritos alguns exemplos para melhor ilustração. Caso 3 A paciente de 61 anos referia episódios de vertigem de forte intensidade com desequilíbrio e tendência à queda para o lado esquerdo desencadeados ao virar a cabeça para a esquerda. Ao exame neurológico estavam presentes nistagmo, nistagmo evocado pelo olhar e nistagmo posicional para direita e hipoacusia neuro s- sensorial à esquerda. A prova de Dix-Hallpike foi negativa e não havia sinais de compro m e t i m e n t o de tronco encefálico. A RM mostrou dolicobasilar com contato vascular com o VII e VIII nervos cranianos à esquerda (Fig 1). A paciente apresentou imp o rtante reação alérgica à carbamazepina e fenitoína e foi prescrita gabapentina 600 mg/dia. Caso 8 A paciente de 60 anos referia há quat ro anos contrações involuntárias na hemiface esq u e rda e episódios de dor intensa, em choque na

646 Arq Neuropsiquiatr 2005;63(3-A) região maxilar também à esquerda. Após alguns meses começou a apresentar episódios de curt a duração de vertigem rotatória e zumbido. Procurou assistência médica e devido à dor facial foi iniciado tratamento com carbamazepina. A paciente evoluiu com melhora da dor e concomitantemente apresentou diminuição na freqüência e intensidade dos episódios de vertigem. O exame n e u rológico mostrou espasmo hemifacial à esquerda, nistagmo para a direita e hipoacusia neurossensorial à esquerda. A RM evidenciou megadolicobasilar com contato vascular com V, VII e VIII nervos cranianos à esquerda (Fig 2). DISCUSSÃO A PV ocorre em uma freqüência de 2,0% entre as síndromes vestibulares em ambulatório de vert i g e m 1. No presente estudo as diferentes apre s e n- tações clínicas da PV foram: vertigem e sintomas auditivos isolados ou associados a espasmo hemifacial, a espasmo hemifacial e neuralgia do trigêmeo e a espasmo hemifacial e sinais de compro m e- timento do tronco encefálico. Estas apre s e n t a ç õ e s clínicas podem ser explicadas pelo contato vascular (a. basilar, a. vertebral, a. cerebelar ântero - i n f e r i o r ou a. cerebelar póstero-inferior) com os re s p e c t i v o s n e rvos cranianos - VIII, VII, V - e pela compre s s ã o de tronco encefálico. Conforme os estudos de Ry u 6 e de Moller 9 os sintomas de compressão vascular do VIII nervo estão relacionados com o sítio onde ela ocorre. Nos pacientes com sintomas vestibulare s isolados este sítio de compressão pro v a v e l m e n t e envolve a região ventral e rostral do VIII nervo, indicando que apenas a porção vestibular está comp rometida. Naqueles com vertigem e sintomas auditivos a compressão ocorre nas porções caudal e ventral do VIII nervo. Nos pacientes com sintomas v e s t i b u l a res, com ou sem sintomas auditivos, associados a sinais de comprometimento de outros nervos cranianos há compressão vascular dos nerv o s adjacentes na fossa posterior (V e VII nervos cranianos) 6. O mecanismo fisiopatológico não está completamente esclarecido e não é universalmente aceito, mas se admite que a compressão do VIII nervo possa ocorrer pelo mesmo mecanismo que afeta out rosnervoscranianos,resultandoemumadesmielinização focal do nervo no sítio de compressão e conseqüente facilitação da transmissão efática 10, 11. Os nervos cranianos apresentam uma zona de entrada da raiz, caracterizada pela junção da mielina de origem central (formada pelos oligodendrócitos) com a mielina de origem periférica (form a d a pelas células de Schwann). De maneira geral, o estímulo pulsátil nesta região do nervo craniano leva a perda da mielina formada pelas células de Schwann e conseqüente formação de nova mielina, desta vez produzida pelos oligodendrócitos. Esta modificação leva a hiperatividade 4, ou seja, a estimulação na zona de entrada da raiz pode re s u l t a r em um sinal amplificado ou aberrante, pro d u z i n d o os sintomas 10. Uma particularidade do VIII nerv o reside na extensão de sua zona de entrada da raiz. Enquanto no V nervo, por exemplo, esta zona se localiza a aproximadamente 1 cm da ponte, no VIII n e rvo esta junção se estende por todo seu trajeto intracraniano, de 2,5 cm 4,10. O diagnóstico diferencial deve ser feito com v e rtigem de posicionamento paroxística benigna, doença de Menière, fístula perilinfática, neurite vestibular e síndromes vestibulares centrais. Cada uma destas síndromes, no entanto, tem suas part i- cularidades e o uso dos critérios descritos acima auxilia no diagnóstico de PV. Neste estudo o nistagmo, presente em todos os casos, pôde sugerir o diagnóstico de PV. Por outro lado, esta forma de nistagmo não pode ser considerada patognomônica de PV, por também traduzir um desbalanço dinâmico do tônus vestibular, como na neurite vestibular parcialmente compensada e em s í n d romes vestibulares centrais. Em relação à direção do nistagmo, este sinal é de p o u- co auxílio na identificação do lado compro m e t i- d o 12, pois pode resultar de um estímulo excitatór i o, batendo para o mesmo lado, ou inibitório, batendo para o lado oposto, como ocorria no caso 5. O tratamento realizado com carbamazepina m o s t rou-se eficaz nos pacientes deste estudo, com exceção da paciente que apresentou reação alérgica à medicação. O tratamento cirúrgico não foi indicado pelas respectivas equipes neuro c i r ú rg i c a s. Em estudos prévios, os pacientes responderam adequadamente ao tratamento com carbamazepina mesmo com baixas doses iniciais 7. Outras opções medicamentosas são a fenitoína e gabapentina 7. Embora alguns autores refiram melhora dos sintomas e sinais somente com o tratamento cirúrgico e afirmem não haver eficácia do tratamento medicamentoso, a carbamazepina não foi utilizada nesses estudos 9,13. Pode-se concluir que, embora seja pouco freqüente, a PV pode ser facilmente diagnosticada através dos critérios específicos, e tratada adequa-

Arq Neuropsiquiatr 2005;63(3-A) 647 damente com carbamazepina na maioria dos casos. O tratamento cirúrgico proposto por alguns autores nem sempre se faz necessário. REFERÊNCIAS 1. P e reira CB, Campos CR, A l e x a n d re PL, Ciríaco JGM, Scaff M. Diagnóstico e evolução das principais síndromes vestibulares. Arq Neuropsiquiatr 2002;60(Supl 1):S14. 2. Ciríaco JGM, A l e x a n d repl, Pereira CB, Wang Y P, Scaff M. Ve r t i g e m postural fóbica. Arq Neuropsiquiatr 2004;62:669-673. 3. Strupp M, Arbusow V. Acute vestibulopathy. Curr Opin Neurol 2001; 14:11-20. 4. Jannetta PJ, Moller MB, Moller AR. Disabling positional vertigo. N Engl J Med 1984;310:1700-1705. 5. Moller MB, Moller AR, Jannetta PJ, Sekhar L. Diagnosis and surg i c a l treatment of disabling positional vertigo. J Neurosurg 1986;64:21-28. 6. Ryu H, Yamamoto K, Nishizawa S, Nozue M. Neurovascular compre s- sion syndrome of the eighth cranial nerve: can the site of compre s s i o n explain the symptoms? Acta Neurochir (Wien) 1999;141:495-501. 7. Brandt T. Vertigo, its multisensory syndromes, 2 n d Ed. London: Springer Verlag, 1999. 8. Brandt T, Dieterich M. Vestibular paroxysmia: vascular compre s s i o n of the eighth nerve? Lancet 1994;343:798-799. 9. Moller MB, Moller AR, Jannetta PJ, Jho HD, Sekhar LN. Micro v a s c u l a r d e c o m p ression of the eighth nerve in patients with disabling positional vertigo: selection criteria and operative results in 207 patients. A c t a Neurochir (Wien) 1993;125:75-82. 10. B e rgsneider M, Becker DP. Vascular compression syndrome of the vestibular nerve: a critical analysis. Otolaryngol Head Neck Surg 1995; 112:118-124. 11. Van HT, Deguine O, Esteve-Fraysse MJ, Bonafe A, Fraysse B. Relationship between cochleovestibular disorders in hemifacial spasm and neurovascular compression. Laryngoscope 1999;109:741-747. 12. Arbusow V, Strupp M, Dieterich M, Jäger L, et al. Alternating episodes of vestibular nerve excitation and failure. Neurology 1998;51:1480-1483. 13. Ryu H, Yamamoto S, Sugiyama K, Nozue M. Neurovascular comp ression syndrome of the eighth cranial nerve. What are the most re l i a- ble diagnostic signs? Acta Neurochir (Wien) 1998;140:1279-1286.