I. DA RETIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES PRESTADAS À ADMINISTRAÇÃO



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Transcrição:

Curitiba, 09 de junho de 2014. À ASIA SHIPPING GROUP A/C Sr. Djalma Putrique e Alexandro Ferreira Prezados Senhores, A Consulente nos honra com solicitação de parecer jurídico acerca da vigência da multa administrativa decorrente de ato que retifique informações prestadas ao SISCOMEX Carga à Receita Federal do Brasil, especialmente em razão da revogação do dispositivo infralegal que regulamentava a aplicação da penalidade; assim como indaga acerca da legalidade/necessidade dos Termos (contratos) firmados entre a Consulente e o armador e a Consulente e seu cliente, o que passamos a descrever. Todas as informações aqui contidas são de uso exclusivo da ASIA SHIPPING GROUP e sua utilização, por pessoas não autorizadas a fazê-lo, inclusive sua reprodução, a qualquer título, total ou parcial, constitui crime punível na forma da lei. Os comentários ora apresentados levam em consideração a legislação atualmente em vigor no País, bem como as premissas assumidas em razão das informações que nos foram disponibilizadas. Alterações nas premissas assumidas e/ou mudanças legislativas e jurisprudenciais futuras podem interferir significativamente nas conclusões aqui discutidas. I. DA RETIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES PRESTADAS À ADMINISTRAÇÃO 1. Os serviços de transporte de cargas, sejam eles realizados pela via terrestre, aérea ou marítima, são monitorados pela administração fazendária para controle das operações de Página 1 de 10

mercancia, sobremodo aquelas envolvendo operações ligadas ao mercado exterior, seja na exportação ou na importação. 2. Insertos num complexo sistema de normas, os administrados se veem obrigados a depreender tempo e dinheiro no atendimento das referidas obrigações, almejando atender de forma inequívoca as obrigações acessórias, instrumentais ou formais, do pagamento de tributos ou do interesse da administração. 3. Por esta via, cumpre dizer que a prestação de informações relativas ao transporte de cargas, nada mais é do que auxiliar ao controle fiscalizatório exercido pela Administração, revelando importante ferramenta no combate aos diversos tipos de infrações tributarias e administrativas. 4. A limpidez das informações prestadas sempre foi objeto de zelo por parte da administração, vez que impõe penalidades àqueles que descumprem o que se estabelece como sendo o ideal no atendimento desta ou aquela obrigação. Exemplo disso se verifica quando há a imposição de multas pecuniárias com relação ao atraso na entrega de declarações. 5. Por vezes, é possível que haja a aplicação de multas em decorrência da retificação de informações, ou seja, embora as informações sejam entregues no tempo estipulado na norma, não foram entregues na forma pretendida pela administração, o que poderia ensejar a aplicação de penalidades. 6. Por este caminho, mesmo nos casos em que o contribuinte promove a retificação sem qualquer exigência por parte da administração isto é, espontaneamente o fisco lavrava auto de infração veiculando multa pecuniária. Página 2 de 10

7. Isso porque, além de entender que a denúncia espontânea não se aplica às obrigações meramente formais 1 (ou administrativas, não vinculadas a tributos), vigia dispositivo infralegal expresso (artigo 45 da IN RFB RFB 800 2 ) cominando penalidade pela retificação de dados apresentados anteriormente. 8. Na sombra da vigência do citado artigo 45, quando autuados, os contribuintes argumentavam que a retificação foi realizada de forma espontânea e que com a inserção do 2º ao artigo 102 do Decreto Lei 37 de 1966 3, o instituto da denúncia espontânea passaria a inibir a aplicação de multas. 9. Note-se que toda essa disposição encontra-se no teor da lei, que no ordenamento jurídico, encontra-se em posição hierárquica superior aos atos normativos proferidos pelos órgãos da administração pública, tais como as instruções normativas formuladas pela Receita Federal do Brasil. 1 Art. 683. A denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento dos tributos dos acréscimos legais, excluirá a imposição da correspondente penalidade (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 102, caput, com a redação dada pelo Decreto-Lei no 2.472, de 1988, art. 1o; e Lei nº 5.172, de 1966, art. 138, caput). (...) 2o A denúncia espontânea exclui somente as penalidades de natureza tributária (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 102, 2º, com a redação dada pelo Decreto-Lei no 2.472, de 1988, art. 1o). 2 rt. 45. O transportador, o depositário e o operador portuário estão sujeitos à penalidade prevista nas alíneas "e" ou "f" do inciso IV do art. 107 do Decreto-Lei nº 37, de 1966, e quando for o caso, a prevista no art. 76 da Lei nº 10.833, de 2003, pela não prestação das informações na forma, prazo e condições estabelecidos nesta Instrução Normativa. (Revogado pela Instrução Normativa RFB nº 1.473, de 2 de junho de 2014) 1º Configura-se também prestação de informação fora do prazo a alteração efetuada pelo transportador na informação dos manifestos e CE entre o prazo mínimo estabelecido nesta Instrução Normativa, observadas as rotas e prazos de exceção, e a atracação da embarcação. 2º Não configuram prestação de informação fora do prazo as solicitações de retificação registradas no sistema até sete dias após o embarque, no caso dos manifestos e CE relativos a cargas destinadas a exportação, associados ou vinculados a LCE ou BCE. 3 Decreto Lei 37 de 1966 Art.102 - A denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do imposto e dos acréscimos, excluirá a imposição da correspondente penalidade. 1º - Não se considera espontânea a denúncia apresentada da mercadoria; b) após o início de qualquer outro procedimento fiscal, mediante ato de ofício, escrito, praticado por servidor competente, tendente a apurar a infração. 2o A denúncia espontânea exclui a aplicação de penalidades de natureza tributária ou administrativa, com exceção das penalidades aplicáveis na hipótese de mercadoria sujeita a pena de perdimento. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010). Página 3 de 10

10. Fixada a premissa de que a denúncia espontânea do administrado no âmbito aduaneiro tem potencial 4 para excluir as penalidades tributárias e administrativas por expressa autorização legislativa. Para o primado do trabalho, necessário se faz proceder a especificidade que a consulta ora impõe, qual seja, a possibilidade jurídica de haver a imposição de multa em decorrência da retificação das informações prestadas por meio do sistema SISCOMEX. II. DA RETIFICAÇÃO DAS INFORMAÇÕES PRESTADAS ATRAVÉS DO SISTEMA SISCOMEX CARGA NA SISTEMATICA DA IN 800/2007 11. Com relação à retificação de informações prestadas mediante o SISCOMEX, o dispositivo que norteava a atuação da RFB se posicionava no artigo 45 da Instrução Normativa RFB 800 de 2007, o qual possui o seguinte teor: Art. 45. O transportador, o depositário e o operador portuário estão sujeitos à penalidade prevista nas alíneas "e" ou "f" do inciso IV do art. 107 do Decreto-Lei nº 37, de 1966, e quando for o caso, a prevista no art. 76 da Lei nº 10.833, de 2003, pela não prestação das informações na forma, prazo e condições estabelecidos nesta Instrução Normativa. (Revogado pela Instrução Normativa RFB nº 1.473, de 2 de junho de 2014) 1º Configura-se também prestação de informação fora do prazo a alteração efetuada pelo transportador na informação dos manifestos e CE entre o prazo mínimo estabelecido nesta Instrução Normativa, observadas as rotas e prazos de exceção, e a atracação da embarcação. 2º Não configuram prestação de informação fora do prazo as solicitações de retificação registradas no sistema até sete dias após o embarque, no caso dos manifestos e CE relativos a cargas destinadas a exportação, associados ou vinculados a LCE ou BCE. 12. Da leitura e interpretação sumária do dispositivo, surge o entendimento de que independentemente de a retificação ter se dado por liberalidade do administrado (denúncia 4 A jurisprudência do CARF ainda é vacilante com relação à aplicação da denúncia espontânea (art. 102, 2º do DEL 37/66) às multas inerentes ao SISCARGA, eis que existem decisões para ambos os lados. Diante desse cenário, não há como cravar que as retificações atuais estão alheias à possibilidade de aplicação das multas. Página 4 de 10

espontânea), aplicar-se-ia a norma, impondo a penalização da conduta com a multa prevista no art. 107, inciso IV, alíneas e ou f conforme o caso: Art. 107. Aplicam-se ainda as seguintes multas: (...) IV - de R$ 5.000,00 (cinco mil reais): (...) e) por deixar de prestar informação sobre veículo ou carga nele transportada, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, aplicada à empresa de transporte internacional, inclusive a prestadora de serviços de transporte internacional expresso porta-a-porta, ou ao agente de carga; e f) por deixar de prestar informação sobre carga armazenada, ou sob sua responsabilidade, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, aplicada ao depositário ou ao operador portuário; 13. Assim, completando-se o raciocínio que a norma outrora impôs, quando houvesse retificação das informações prestadas fora do prazo, independentemente da retificação se dar por denuncia espontânea, o responsável pela entrega das informações estaria sujeito à exigência de multa de R$ 5.000,00. 14. Tecidas essas considerações contextuais de início, passa-se agora a análise das recentes alterações sofridas no bojo da Instrução Normativa n 800 de 2007 pela Instrução Normativa 1.473 de 2014, que excluiu a retificação como modalidade de infração. III. DA RETIFICAÇÃO DAS INFORMAÇÕES PRESTADAS ATRAVÉS DO SISTEMA SISCOMEX CARGA NA SISTEMATICA DA IN 1.473/2014 15. A Instrução Normativa 800 de 2007, sofreu profundas alterações com o advento da Instrução Normativa 1.473 de 2014, que além de trazer várias disposições acerca do procedimento de registro de informações nos sistemas da Receita Federal, revogou os Página 5 de 10

dispositivos constantes no Capítulo IV que tratava Das infrações e das penalidades que compreendia o intervalo de artigos do 45 à 48, conforme disposição expressa: Art. 4º Ficam revogados os 3º do art. 10, o 2º do art. 15, o parágrafo único do art. 16, o parágrafo único do art. 19, os arts. 23 a 27, os 4º e 5º do art. 32, o 1º do art. 36, a alínea "a" do inciso II do caput do art. 37, os 2º, 6º e 8º do art. 44, e os arts. 45 a 48 da Instrução Normativa RFB nº 800, de 27 de dezembro 2007. 16. Não obstante a revogação destes artigos, houve também a inclusão de outros, dentre os quais merece destaque o 9º do art. 27-C que assim dispõe: Art. 27-C. O resultado da análise da retificação pela RFB será registrado no Siscomex Carga, manualmente ou de forma automática. 1º Durante a análise, a RFB poderá registrar no Siscomex Carga as exigências a serem atendidas pelo transportador para a conclusão da análise. 2º Concluída a análise, a RFB registrará no Siscomex Carga a aprovação ou rejeição da retificação solicitada. 3º A aprovação da retificação solicitada poderá ocorrer automaticamente desde que: I - o campo a ser retificado encontre-se apto à retificação automática, assim determinado pela Coana; II - o prazo nacional ou local para o deferimento automático tenha sido cumprido; e III - a RFB ainda não tenha incluído exigências em decorrência do início de sua análise. 4º O prazo para o deferimento automático será definido nacionalmente, pela Coana, ou localmente, pela unidade da RFB, prevalecendo o prazo local. 5º O registro manual do resultado da análise compete à unidade com jurisdição sobre o porto de carregamento ou de descarregamento do manifesto, ou, no caso de cargas submetidas ao regime de trânsito aduaneiro, à unidade de destino do trânsito quando houver a informação de chegada do veículo. 6º O resultado da análise de solicitação de retificação por escrito será registrado de ofício pela RFB. 7º A aprovação ou rejeição pela RFB no Siscomex Carga retirará automaticamente o bloqueio gerado no momento da solicitação. 8º A aprovação da solicitação efetivará a retificação no sistema. 9º A retificação no sistema não exime o transportador da responsabilidade pelos tributos e penalidades cabíveis. Página 6 de 10

17. A leitura do dispositivo em tela revela que toda retificação será submetida a um procedimento revisional por parte da RFB, a qual registrará suas conclusões no ambiente virtual. 18. Como muito bem ressalta o 9º do artigo 27-C, o ato revisional poderá resultar na aplicação de penalidades, sempre que a administração constatar a existência de conduta punível nos termos da lei. 19. Necessário, então, avaliar se ausência de previsão regulamentar (em instrução normativa) para determinada conduta/penalidade inibe a sua aplicação. 20. A resposta a esta questão passa necessariamente pelo princípio da legalidade, segundo o qual penalidades somente poderão ser cominadas por lei, assim entendida como ato normativo proveniente ou referendado pelo Poder Legislativo. 21. O princípio da legalidade, entretanto, possui duas facetas: (a) não é permitido cobrar multas sem lei que a preveja; e, concomitantemente, (b) se completo, basta estar vigente o dispositivo legal para que surtam seus efeitos. 22. Quer isso significar, para fins de aplicação de penalidade prevista em lei, que é completamente irrelevante a existência de regulamentação infralegal, bastando a vigência do dispositivo legal para que a penalidade seja validamente exigível. 23. Cumpre, então, avaliar se é juridicamente possível aplicar a penalidade com base exclusiva no artigo 107 do Decreto Lei 37 de 1966, isto é, à margem de qualquer disposição regulamentar. Para tanto, válido reapresentá-lo: Art. 107. Aplicam-se ainda as seguintes multas: (...) IV - de R$ 5.000,00 (cinco mil reais): (...) e) por deixar de prestar informação sobre veículo ou carga nele transportada, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, Página 7 de 10

aplicada à empresa de transporte internacional, inclusive a prestadora de serviços de transporte internacional expresso porta-a-porta, ou ao agente de carga; e f) por deixar de prestar informação sobre carga armazenada, ou sob sua responsabilidade, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, aplicada ao depositário ou ao operador portuário; 24. O dispositivo transcrito faz emergir norma jurídica cuja eficácia está condicionada tão somente à existência de ato regulamentar determinando a forma e o prazo para prestação das informações sobre veículos para a administração. 25. Quer isso significar que, estando regulamentada a forma e o prazo, eventual conduta que se caracterize como deixar de prestar informações na forma e no prazo estabelecidos pela RFB poderá ser apenada com a multa de R$ 5.000,00 com base no inciso IV do artigo 107 do Decreto-Lei 37 de 1966. 26. É bem verdade que o contribuinte poderá alegar que a conduta típica é deixar de prestar informações e não retificar informações após o prazo, ou ainda alegar a espontaneidade da sua conduta para justificar a não aplicação da penalidade. 27. No entanto, estas são razões que não impedem que a Receita Federal de insista no entendimento de que a denúncia espontânea não se aplica a esta espécie de penalidade e, ainda, que qualquer espécie de retificação enseja a aplicação da multa sob o argumento de que a informação inicial, embora realizada no prazo, não se deu na forma prevista. 28. Imerso nesse cenário, conclui-se que o dispositivo que fundamenta a aplicação da multa em face da retificação de informações não foi alterado e seu vigor permite que a RFB mantenha o entendimento de que tal conduta é passível de punição. 29. Com a nova sistemática (regulada pelo artigo 27-C da IN SRF 800) tal multa seria veiculada como resultado do processo de revisão, conforme expressamente previsto no 9º do citado dispositivo. Página 8 de 10

30. Diante do exposto, conclui-se que a retificação de informações previa e tempestivamente apresentadas ao SISCOMEX CARGA continua sendo conduta passível de punição com a multa preconizada pelo artigo 107 do Decreto-Lei 37 de 1966. IV. DO TERMO DE AJUSTE DE PAGAMENTOS DE MULTAS ENTRE A CONSULENTES SEUS FORNECEDORES E CLIENTES 31. Antes de se iniciar as conclusões com relação ao tema deste subtítulo, cumpre dizer, que como é cediço no campo do direito, e principalmente no campo do direito tributário e aduaneiro, o acordo particular entre as partes com relação ao pagamento de tributos ou multas não é oponível à Administração. 32. Tecida essa primeira consideração, vale ainda ressaltar que com o advento Instrução Normativa 1.473/2014, continua válida a exigência de multa em decorrência do descumprimento das previsões normativas com relação às formalidades inerentes a prestação de informações no âmbito do SISCOSERV, sendo imperioso afirmar desde já, que o termo de compromisso firmado entre a Consulente e seus fornecedores, continua sendo uma medida de cautela extremamente válida e servirá de mecanismo para reparação civil em face do seu cliente por penalidade contra si imposta. 33. Reputando-se como ferramenta acessória de fundamental importância diante do cenário apresentado, recomenda-se à Consulente que os termos de compromisso continuem sendo firmados, como medida de cautela, já que patente a possibilidade da cobrança de multa mesmo após as alterações normativas. V. CONCLUSÃO Página 9 de 10

34. Conforme se verifica do que foi neste documento objeto de considerações, pode-se concluir o quanto segue: a) Apesar da revogação do dispositivo normativo que previa a imputação da multa em decorrência da retificação das informações prestadas à Administração através do SISCOSERV, a visão sintática e semântica dos dispositivos legais reguladores dessas obrigações, faz erigir a conclusão de que continua perfeitamente possível a aplicação da referida multa, muito embora o arrimo da fundamentação jurídica da mesma seja diverso. b) O termo de compromisso firmado entre a Consulente seus clientes e fornecedores, continua sendo fundamental, já que não houve mudança no que tange a possibilidade da imposição da multa; c) Recomenda-se, neste sentido, que a Consulente continue procedendo a elaboração deste termos; 35. Sendo esses nossos comentários para o momento, permanecemos à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que julgarem necessários. Atenciosamente, ANDRÉ ALQUIMIM CORDEIRO OAB/PR 34.651 EDUARDO S. NAVARRO BEZERRA OAB/PR 50.764 Página 10 de 10