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Transcrição:

DIREITO 07 A Propriedade 07.1 Introdução Noções gerais Conceito: A propriedade, palavra de origem latina (proprietas), que significa o que pertence à alguém, constitui-se juridicamente em um direito real em que há uma relação jurídica sobre um certo bem corpóreo ou incorpóreo. Compreende o direito de usar, gozar e dispor da coisa, bem como de reivindicá-la de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Art. 1.228 - O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. PROPRIEDADE Direito de usar Direito de gozar (jus fruendi) Direito de dispor (jus abutendi) Direito de reivindicar É a possibilidade de exigir da coisa os serviços que ela possa prestar sem o comprometimento de sua substância. É o direito à percepção dos frutos e a utilização dos produtos da coisa. Consiste no poder de consumir, alienar, gravar de ônus, colocar a serviço de terceiro, dar o destino que melhor lhe aprouver à coisa. Não pode, porém, o proprietário abusar da coisa de forma ilimitada. O proprietário pode obter ou reaver a posse de coisa de sua propriedade e tem a ação reivindicatória como medida defensiva. 1

Limites gerais ao uso da propriedade: O direito de propriedade não é absoluto. Ele deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. São também defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem (CC, art. 1.228, 1 e 2 ). Privação da propriedade: O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação promovida pelo Estado, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente (CC, art. 1.228, 3 ). Além disso, o proprietário também pode ser privado da coisa no caso do usucapião. Características da propriedade: São características da propriedade: é um direito oponível erga omnes e o proprietário pode desfrutar e dispor do bem como quiser, dentro dos limites estabelecidos pela lei; é exclusiva, ou seja, o direito sobre um bem exclui o direito de outro sobre o mesmo bem; é perpétua, pois o domínio subsiste independentemente de exercício, enquanto não sobrevier causa extintiva legal ou pela própria vontade do titular. O condomínio não anula a característica da exclusividade, pois os condôminos são, conjuntamente, titulares do direito de propriedade sobre as áreas comuns. Extensão da propriedade do solo: A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedí-las. A propriedade do solo também sofre certas restrições previstas no art. 1.230 do Código Civil. Art. 1.230 - A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. Parágrafo único - O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial. 2

Objeto da propriedade: Pode ser objeto da propriedade tudo aquilo que dela não for excluído por força de lei, bens móveis ou imóveis. Propriedade plena e limitada: A propriedade é plena quando todos os seus direitos elementares se acham reunidos na mão do proprietário: o uso, o gozo, a disposição e o direito de reivindicação. A propriedade é limitada quando um desses elementos passa a pertencer a um outro titular, como no caso de enfiteuse, servidão predial, superfície, usufruto, uso, habitação, penhor, hipoteca, anticrese ou compromisso de compra e venda. Conforme dispõe do art. 1.231 do Código Civil, a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário. Os frutos e produtos da coisa: Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem (CC, art. 1.232). A descoberta Noções iniciais: Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. (CC, art. 1.233) Recompensa: Aquele que restituir a coisa achada terá direito a uma recompensa não inferior a 5% do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos. (CC, art. 1.234) O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo. (CC, art. 1.235) Procedimento: A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar. Decorridos 60 dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. Sendo de pouco valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou (CC, arts. 1.236 e 1.237). 3

07.2 Aquisição e Perda da Propriedade Imóvel Noções gerais Aquisição originária e derivada: A aquisição é originária quando a coisa não tem dono anterior, como na ocupação ou na acessão. É derivada quando houver a transmissibilidade do domínio, por ato causa mortis ou inter vivos. Aquisição a título singular e universal: A aquisição também pode ser a título singular, quando se refere a um bem específico ou a título universal, na herança, quando se transmitem todos os bens de uma pessoa. Pressupostos para a aquisição da propriedade: São pressupostos para a aquisição da propriedade ser agente capaz, o objeto ser lícito e a observância dos procedimentos legais. O usucapião Noções iniciais: Já no direito romano, o usucapião significava a captação ou aquisição de um bem pelo uso prolongado (usus capere). É considerado forma originária de aquisição da propriedade móvel ou imóvel por um transcurso de um lapso temporal e obedecendo certos requisitos legais: 1) Coisa hábil: É a coisa usucapível. Não podem ser usucapidas as coisas fora do comércio, como as insuscetíveis de apropriação (ar, luz do sol, água, etc.). Os imóveis públicos também não podem ser usucapidos. 2) Posse: A posse deve ser mansa e pacífica (sem contestação), com ânimo de dono (animus domini). A posse clandestina (oculta, não praticada à vista de todos), a posse violenta ou a posse precária não se prestam para a concessão de usucapião. 3) Tempo: A posse deve ser contínua, exercida sem intermitência ou intervalos. Após o tempo previsto em lei, pode o possuidor, trazendo as suas provas, pedir em juízo que lhe reconheça a aquisição da propriedade por usucapião. 4) Justo título: É o ato jurídico que preenche os requisitos formais para a transmissão da propriedade, mas que não é valido por ser anulável (nulidade relativa), ou porque quem vendeu não era dono. 4

5) Boa fé: Tem aquele que pensava correta a sua aquisição, ou seja, que pensava ser dono. A palavra usucapião é no latim feminina, mas usada geralmente no masculino, em português, como vemos no Código Civil. Os lexicógrafos a registram ora como feminina, ora como masculina. Assim, tanto é correto dizer o usucapião, como a usucapião, mas devese sempre observar a concordância. São incorretas as expressões "da usucapião extraordinário" ou "do usucapião extraordinária". Objetivos do usucapião: O usucapião tem como objetivos garantir a estabilidade e segurança da propriedade; estimular a função social da propriedade; desestimular o não uso da propriedade. Usucapião extraordinário: É uma modalidade de usucapião que gera o domínio em 15 ou 10 anos, tendo como requisitos apenas a posse e o tempo, independentemente de título e boa-fé; podendo o possuidor requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Art. 1.238 - Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único - O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Usucapião especial: Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por 5 anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirirlhe-á a propriedade. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até 250 m², por 5 anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Art. 1.239 - Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirirlhe-á a propriedade. Art. 1.240 - Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 5

O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. Este direito, entretanto, não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. (CC, art. 1.240, 1 e 2 ) Os parágrafos 4º e 5º do artigo 1.228 do Código Civil fazem referência ao novo tipo de usucapião especial. De acordo com o texto, o proprietário será privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, ocupada por mais de cinco anos - de boa fé e ininterruptamente - por considerável número de pessoas que nela realizaram - em conjunto ou separadamente - obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante, fazendo o proprietário jus à indenização. As regras esculpidas nestes parágrafos mantém relação com o artigo 10º e seus parágrafos da Lei n.º 10.257 de 10 de julho de 2001, conhecida como o Estatuto da Cidade. Usucapião especial urbano familiar: Ainda há uma outra modalidade de usucapião mais recentemente introduzida pela Lei 12.424/2011. Ocorre no caso em que um casal, morando em casa própria de até 250 m², sendo este o único imóvel da família, há o fim do relacionamento conjugal. Nesta hipótese, quando um cônjuge sai da residência e o outro nela permanece, passados 2 anos, aquele que ficou passará a ser o único proprietário do imóvel, excluindo-se o outro, e adquirindo por usucapião o direito de propriedade do imóvel. Art. 1.240-A - Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 1º - O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. Usucapião ordinário: Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por 10 ou 5 anos. (CC, art. 1.242) Art. 1.242 - Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único - Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. O justo título é a causa que, exteriormente, preenche os requisitos legais necessários à transferência de algum direito. A boa fé é a crença que tem o sujeito na lisura do negócio, fundado em elementos de convicção carecedores de qualquer vício. 6

Usucapião de imóveis Ordinário Extraordinário Especial Urbano Especial Familiar Especial Rural ART. 1.242 ART. 1.238 ART. 1.240 ART. 1240-A ART. 1.239 Coisa hábil Coisa hábil Coisa hábil Coisa hábil Coisa hábil Posse ininterrupta Posse ininterrupta Posse ininterrupta Posse ininterrupta Posse ininterrupta Ânimo de dono Ânimo de dono Ânimo de dono Ânimo de dono Ânimo de dono Sem oposição Sem oposição Sem oposição Sem oposição Sem oposição Justo título e boa fé Sem Justo título e sem boa fé Sem justo título e sem boa fé Justo título e boa fé Sem justo título e sem boa fé Imóvel urbano ou rural particular Imóvel urbano ou rural particular Imóvel urbano particular Imóvel urbano particular Imóvel rural particular Qualquer área Qualquer área Até 250 m2 - moradia própria ou da família (Só pode ser pleiteado uma vez) Até 250 m2 - moradia própria ou da família (Só pode ser pleiteado uma vez) Até 50 hectares - moradia própria ou da família Produtividade agrícola própria ou da família 10 anos. 5 anos, se houver sido adquirido com base em registro cancelado. 15 anos. 10 anos, se for moradia habitual ou se realizado obras de caráter produtivo 5 anos 2 anos 5 anos Declaração judicial: Poderá o possuidor requerer ao juiz seja declarada adquirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel. Esta declaração constituirá título hábil para o registro na serventia de Registro de Imóveis. (CC, art. 1.241) Contagem do tempo do antecessor: O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido para o usucapião, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do usucapião ordinário, com justo título e de boa-fé. (CC, art. 1.243) Causas que obstam, suspendem ou interrompem o usucapião: Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião (CC, art. 1.244). 7

A aquisição pelo registro de título Sistema de aquisição da propriedade imóvel: Importante relacionar três sistemas de aquisição da propriedade imóvel: o sistema franco-italiano: a transmissão opera por qualquer maneira; o sistema germânico: a transmissão da propriedade ocorre sempre pelo registro; neste caso as duas partes comparecem ao registro e a presunção é absoluta (jures et de jures), não admitindo anulação; o sistema brasileiro: assemelha-se ao sistema germânico, porém apenas uma parte comparece ao registro, gerando uma presunção relativa. Art. 1.245 - Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. 1 - Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. 2 - Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. Art. 1.246 - O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo. Art. 1.247 - Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. Parágrafo único - Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente. A aquisição por acessão Conceito: A acessão refere-se a acréscimos acontecidos em relação a um imóvel, pela mão do homem ou por causas naturais. A acessão pode ser natural ou artificial. Acessão artificial: A acessão artificial, resultado do trabalho do homem, dá-se pela construção de obras ou pelas plantações. Acessão natural: A acessão natural ocorre quando há uma movimentação de terra causada por circunstâncias da natureza. O Código Civil e o Código de Águas regulam de modo minucioso a atribuição da propriedade desses acréscimos naturais. Em regra, ficam pertencendo ao dono do imóvel ao qual aderiram, ou aos donos dos imóveis mais próximos, no caso da formação de ilhas, em proporção às suas testadas. Conforme o art. 1.248 do Código Civil, a acessão natural pode ser: por formação de ilhas; 8

por aluvião; por avulsão; por abandono de álveo. 1) Formação de ilhas. A formação de ilha é a aquisição do domínio pelo acréscimo ou incorporação de bem inesperado devido ao depósito de materiais, rebaixamento das águas ou movimentação da terra. Somente interessam ao Direito Civil as ilhas formadas em rios não navegáveis ou particulares, por pertencerem ao domínio particular. Art. 1.249 - As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes: I - as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram. Nem todas as ilhas que se formam pertencem aos particulares. As ilhas em rios navegáveis ou que banhem mais de um Estado, são de domínio público (art. 20, IV, da Constituição Federal). 2) Aluvião: Aluvião é o acréscimo de terras devido ao depósito de material trazido pelas águas, que vão se acumulando junto a imóveis lindeiros, de modo contínuo e de forma quase imperceptível. Esses acréscimos formados por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização (CC, art. 1.250). O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem. Aluvião impróprio são as partes descobertas de áreas de águas dormentes (lagos e represas que recuam e deixam um aumento na orla). 3) Avulsão: Avulsão é o deslocamento de uma porção considerável de terra, pela força das águas e o seu consequente arremesso de encontro a terras de outrem. O dono das terras assim acrescidas pode ficar com o acréscimo, pagando indenização ao reclamante ou consentir que a terra seja removida. Art. 1.251 - Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado. Parágrafo único - Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida. 9

4) Abandono de álveo: Álveo ou leito abandonado do rio público ou particular se observa quando um rio seca ou se desvia de seu curso naturalmente. Pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens com divisa no meio. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo (CC, art. 1.252). Acessões artificiais: São aquelas que derivam de um comportamento ativo do homem, dentre elas, as plantações e construções de obras. Art. 1.253 - Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário. Art. 1.254 - Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. Art. 1.255 - Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização. Parágrafo único - Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo. Art. 1.256 - Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Parágrafo único - Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua. Art. 1.257 - O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio. Parágrafo único - O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor. Art. 1.258 - Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente. Parágrafo único - Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. Art. 1.259 - Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro. 10

A perda da propriedade imóvel Noções gerais: Conforme a perpetuidade do domínio, este remanescerá na pessoa do seu titular ou de seus sucessores causa mortis de modo indefinido ou até que por um meio legal seja afastado do seu patrimônio. São os meios descritos no art. 1.275 do Código Civil: a alienação; a renúncia; o abandono; o perecimento da coisa; a desapropriação. Nos casos da alienação e da renúncia, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. Alienação: É a forma de extinção da propriedade em que o titular transmite a outrem seu direito sobre a coisa. Pode ser a título gratuito ou oneroso. Renúncia: Ocorre quando o proprietário declara o seu intuito de abrir mão de seu direito sobre a coisa, em favor de terceira pessoa que não precisa manifestar sua aceitação. Abandono: O abandono ocorre simplesmente quando o proprietário se desfaz voluntariamente de um imóvel com o propósito de não mais tê-lo para si. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições (CC, art. 1.276). O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. Será presumida de modo absoluto a intenção de abandonar o imóvel, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais. Perecimento do imóvel: A propriedade se extingue com o perecimento do imóvel. Desapropriação: É o procedimento administrativo pelo qual o Poder Público, despoja alguém de uma propriedade e toma para si, mediante uma indenização. Deve ser necessariamente motivada por um interesse público. 11

07.3 Aquisição e Perda da Propriedade Móvel Noções gerais Formas de aquisição: São formas de aquisição da propriedade móvel: o usucapião; a ocupação; o achado do tesouro; a tradição; a especificação; a confusão; a comistão; a adjunção; a sucessão hereditária. Modos originários de aquisição Ocupação Usucapião Modos derivados de aquisição Tesouro Especificação Confusão Comistão Adjunção Tradição Sucessão Hereditária O usucapião Usucapião de coisa móvel: Para coisas móveis o usucapião é de 5 anos, independentemente de justo título ou boa fé, ou de 3 anos, com justo título e boa fé, não importando se entre presentes ou ausentes. Na prática, porém, não é comum o usucapião de coisas móveis. Art. 1.260 - Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.261 - Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé. Art. 1.262 - Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244. 12

A ocupação A ocupação é o assenhoramento da coisa sem dono (res nullius) ou abandonada (res derelicta). Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei (CC, 1.263). Não se confunde a coisa sem dono ou abandonada com a coisa perdida; esta última deve ser restituída ao dono ou entregue à autoridade. O tesouro O tesouro é o depósito antigo de coisas preciosas, oculto, de cujo dono não haja memória. Achado, o tesouro deve ser dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o descobridor. A tradição Conceito: Tradição é o meio pelo qual se transfere a propriedade da coisa móvel, com a sua entrega ao adquirente, em cumprimento a um contrato. Forma: Geralmente a entrega é efetiva ou real. Mas em certos casos poderá ser simbólica ou ficta, com a entrega de algo que represente a coisa, ou até mediante uma simples declaração do transmitente. Às vezes é necessário que a tradição seja registrada, para valer contra terceiros. Assim ocorre, por exemplo, na alienação fiduciária ou na compra e venda de automóveis. Art. 1.267 - A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único - Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. O constituto possessório é uma forma de tradição ficta, operada pelo próprio contrato, em que o proprietário aliena a coisa, mas continua da posse direta desta, que passa ao nome do adquirente e a outro título. 13

Art. 1.268 - Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. 1 - Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição. 2 - Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo. A especificação A especificação é a transformação de matéria pertencente a uma pessoa pelo trabalho feito por outra. Os artigos 1.269 a 1.291 do Código Civil tratam do assunto. Art. 1.269 - Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior. Art. 1.270 - Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será do especificador de boa-fé a espécie nova. 1 - Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima. 2 - Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e outro qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie nova será do especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima. Art. 1.271 - Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano que sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do 1 do artigo antecedente, quando irredutível a especificação. A confusão, a comistão e a adjunção 1) Confusão: Segundo os romanos, era a união de líquidos, quer homogêneos, como vinhos de dois proprietários, quer heterogêneos, como vinho e mel. 2) Comistão: União de gêneros secos, como cereais ou legumes. 3) Adjunção: É a união de coisas alheias, de modo a não se poder separá-las sem detrimento do todo assim formado (ex.: reparações na casa de A com madeira pertencente a B). 14

Art. 1.272 - As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível separá-las sem deterioração. 1 - Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado. 2 - Se uma das coisas puder considerar-se principal, o dono sê-lo-á do todo, indenizando os outros. Art. 1.273 - Se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-fé, à outra parte caberá escolher entre adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado. Art. 1.274 - Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à confusão, comissão ou adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1.272 e 1.273. 07.4 A Propriedade Resolúvel Noções gerais É a propriedade que, no momento de sua constituição, tem uma causa de encerramento, seja através de um termo extintivo ou de uma condição resolutória (ou revogável). Realizada essa causa extintiva (advento do termo ou implemento de uma condição, por exemplo) a propriedade é resolvida, ou seja, será extinto o direito a que ela se opõe (não terá mais eficácia). Art. 1.359 - Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha. Art. 1.360 - Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor. 15

Questões de Concursos Nas questões a seguir, assinale a alternativa que julgue correta. 01 - (Magistratura/MG 2005) De acordo com o Código Civil, são formas de aquisição da propriedade móvel, exceto: ( ) a) a usucapião. ( ) b) a ocupação. ( ) c) a tradição. ( ) d) a acessão. 02 - (Magistratura/SP 2007) Em relação ao usucapião e à perda da propriedade, pode-se afirmar que I. são títulos justos a embasar o usucapião ordinário a escritura por instrumento particular, a escritura pública, o compromisso de compra e venda, a cessão de direitos hereditários e a sucessão em si mesma; II. no usucapião rural, tem legitimidade para usucapir a pessoa física, nata ou naturalizada, o estrangeiro aqui residente e a pessoa jurídica aqui sediada; III. o imóvel situado na zona rural que o proprietário abandonar com a intenção de não mais conservar em seu patrimônio, e que não se encontra na posse de outrem, poderá ser arrecadado como bem vago; IV. na servidão, o princípio consistente em serem os prédios vizinhos comporta restrições. Estão corretas apenas as afirmações ( ) a) I e II. ( ) b) III e IV. ( ) c) I, II e III. ( ) d) II e III. 03 - (Notário e Registrador/AM - 2005) Assinale a alternativa que complete corretamente a proposição a seguir: Adquire a propriedade do imóvel, não onerosamente, aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por. ( ) a) dez anos. ( ) b) quinze anos. ( ) c) vinte anos. ( ) d) dez anos entre presentes e quinze anos entre ausentes. ( ) e) quinze anos entre presentes e vinte anos entre ausentes. 16

04 - (Ministério Público/SP 2005) Pode-se afirmar que constituem pressupostos da usucapião, a coisa hábil ou suscetível de ser usucapida, a posse mansa e prolongada, o decurso do tempo, o justo título e boa-fé. Diante de tal enunciado, indique a alternativa correta para as seguintes hipóteses: ( ) a) o justo título e a boa-fé apenas são exigidos nos casos de usucapião ordinária, dispensados os demais requisitos. ( ) b) os primeiros três requisitos acima referidos não são absolutamente indispensáveis e exigidos em apenas algumas situações de usucapião. ( ) c) o título anulável não é obstáculo para a obtenção da usucapião, porquanto sendo eficaz e capaz de produzir efeitos, válido será enquanto não for decretada a sua anulação. ( ) d) qualquer espécie de posse mansa pode conduzir à usucapião, desde que presentes a coisa hábil ou suscetível de ser usucapida, o decurso do tempo e o justo título. ( ) e) para a consumação da usucapião extraordinária exige-se que o possuidor ostente justo título e boa-fé. 05 - (Notário e Registrador/AM - 2005) Segundo o Código Civil, a aquisição por acessão não pode se dar: ( ) a) por avulsão. ( ) b) pela formação de ilhas. ( ) c) por aluvião. ( ) d) por usucapião. ( ) e) por plantações e contruções. 06 - (Notário e Registrador/RJ 2005) Aquele que, de boa-fé, trabalhando matéria prima alheia, obtém espécie nova: ( ) a) adquire a propriedade, de forma originária, através da especificação; ( ) b) não adquire a propriedade, mas apenas tem direito à indenização pelo trabalho que realizou na coisa; ( ) c) adquire a propriedade, de modo derivado, através da adjunção; ( ) d) poderá requerer o usucapião da espécie nova; ( ) e) não tem qualquer direito sobre a coisa. 07 - (Delegado/GO 2003) A propósito do direito de propriedade, marque a alternativa correta: ( ) a) O direito de propriedade abrange o solo e os cursos d água particulares, mas não as jazidas e demais recursos minerais. ( ) b) O direito de propriedade abrange o solo, o espaço aéreo e o subsolo. ( ) c) O direito de propriedade abrange o solo, e não só os cursos d água particulares, jazidas e outros recursos minerais. ( ) d) O direito de propriedade abrange o solo, os cursos d água particulares, o espaço aéreo e o subsolo em altura e profundidade úteis ao seu exercício. 17

08 - (Delegado/MG 2011) A Lei 12.424, de 16 de junho de 2011, inseriu no Código Civil, em seu artigo 1.240-A e seu parágrafo 1, uma nova modalidade de usucapião em nosso ordenamento jurídico, o usucapião familiar. Sobre esta modalidade de usucapião, é incorreto afirmar que ( ) a) permite que um dos ex-cônjuges ou até mesmo ex-companheiros, oponha contra o outro o direito de usucapir a parte que não lhe pertence, possibilitando neste caso o usucapião entre condôminos. ( ) b) tem como requisito o exercícios de posse direta por 2 anos ininterruptos, sem oposição e com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² ou rural de até 50 hectares. ( ) c) a parte que propõe a ação de usucapião não pode ser proprietária de outro imóvel urbano ou rural, sendo que o direito de usucapir nesta modalidade não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. ( ) d) tem como requisito o abandono do lar por um dos co-proprietários. 09 - (Delegado/PI 2009) Quanto à aquisição da propriedade móvel, é correto afirmar que: ( ) a) quem quer que ache coisa alheia perdida, adquire-lhe a propriedade, caso transcorram 60 dias da publicação na imprensa; ( ) b) não será admitida a usucapião de bens móveis quando a posse não for de boa-fé; ( ) c) aquele que, trabalhando em matéria prima totalmente alheia, obtiver espécie nova, a perderá para o dono do material utilizado, ainda que haja boa-fé; ( ) d) a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição; ( ) e) não é admitido, na lei civil, o assenhoramento de coisa sem dono. 10 - (Delegado/SP 2003) A propriedade ( ) a) móvel será adquirida pelo assenhoramento de coisa sem dono, desde que essa ocupação não seja proibida por lei. ( ) b) trata-se de direito constitucional individual, não podendo o seu exercício ser de forma alguma limitado. ( ) c) de área urbana, até duzentos e cinquenta metros quadrados, será adquirida por aquele que a possuir por cinco anos ininterruptos, independentemente de qualquer outra condição. ( ) d) do solo abrange a do espaço aéreo e do subsolo, incluindo as suas jazidas, minas e demais recursos minerais. 11 - (Procurador/Município de Belo Horizonte 2008) São formas de aquisição ou perda da propriedade, exceto ( ) a) avulsão. ( ) b) compra e venda. ( ) c) desapropriação. ( ) d) perecimento da coisa. 18

12 - São formas de aquisição da propriedade imóvel, exceto: ( ) a) a usucapião. ( ) b) a adjunção. ( ) c) o registro do título. ( ) d) a formação de ilhas. 13 - Em relação ao usucapião, é verdadeira a afirmação: ( ) a) Para a aquisição da propriedade por usucapião ordinário são necessários lapso de tempo, justo título e boa-fé. ( ) b) o Código Civil reconhece apenas duas espécies de usucapião: o ordinário e o extraordinário. ( ) c) o tamanho da área do imóvel para a aquisição pelo usucapião ordinário não pode ultrapassar o limite de 250 metros quadrados. ( ) d) o prazo para a aquisição da propriedade pelo usucapião extraordinário é de vinte anos. 14 - Constituem justo título, para efeito de usucapião ordinário, exceto a: ( ) a) escritura pública ou particular de compra e venda. ( ) b) sentença no juízo divisório. ( ) c) sucessão aberta. ( ) d) escritura particular de doação, sem assinatura do transmitente. 15 - A propriedade cujos direitos elementares se acham reunidos no do proprietário chama-se ( ) a) resolúvel. ( ) b) plena. ( ) c) limitada. ( ) d) imóvel, se está a natureza do bem. ( ) e) móvel, se está a natureza do bem. 16 - A aquisição da propriedade imobiliária pela avulsão dá-se ( ) a) com o acréscimo paulatino de terras, às margens de um rio, por meio de lentos e imperceptíveis depósitos ou aterros naturais ou de desvio de águas. ( ) b) pela formação de ilhas em rios não navegáveis em virtude de movimentos sísmicos. ( ) c) pelo repentino deslocamento de uma porção de terra por força natural violenta, despreendendo-se de um terreno para juntar-se a outro. ( ) d) pelo rebaixamento de águas, deixando a descoberto e a seco uma parte do fundo ou do leito do rio. 17 - Pode ocorrer pela formação de ilhas, por aluvião, por avulsão ou por abandono de álveo: ( ) a) a acessão artificial; ( ) b) a propriedade resolúvel; ( ) c) a aquisição por registro de título; ( ) d) a acessão natural. 19

18 - Tício esbulhou um imóvel urbano de 1.000m² de propriedade de Semprônio, ficando na posse por 08(oito) anos, quando foi esbulhado por Caio, que permaneceu no imóvel por 1(um) ano. Sabendo que Caio não estabeleceu no imóvel esbulhado sua moradia habitual e nem, tampouco, realizou qualquer tipo de obra ou serviço, diga, dentre as opções abaixo, qual representa o lapso temporal ainda necessário para que Caio venha a usucapir o imóvel: ( ) a) 1 (um) ano ( ) b) 6 (Seis) anos ( ) c) 14 (Quatorze) anos ( ) d) Caio nunca irá usucapir o imóvel 19 - Assinale a alternativa incorreta em relação ao direito de propriedade, previsto nos arts. 1.128 e seguintes do Código Civil brasileiro: ( ) a) O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. ( ) b) A propriedade do solo abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais, sem restrição. ( ) c) O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social. ( ) d) Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem. ( ) e) O proprietário pode ser privado da coisa, por requisição, em caso de perigo público iminente. 20 - Há propriedade resolúvel: ( ) a) Na superfície e na anticrese. ( ) b) Na retrovenda e na alienação fiduciária em garantia. ( ) c) Na venda a contento sob condição suspensiva e no fideicomisso. ( ) d) Na venda a contento sob condição resolutiva e no usufruto ( ) e) Nenhuma das alternativas é correta. 21 - Quanto ao usucapião, assinale a opção correta. ( ) a) Caso uma pessoa exerça com ânimo de dono a posse mansa, pacífica e ininterrupta do imóvel há 11 anos, adquirirá a sua propriedade por meio da usucapião extraordinária. ( ) b) Usucapião é modo originário de aquisição da propriedade e ocorre quando uma pessoa mantém a posse mansa e pacífica, por determinado espaço de tempo, de um bem, gerando, assim, a chamada prescrição aquisitiva, que lhe permite buscar, por meio de uma ação judicial, a declaração de seu domínio sobre aquele bem. ( ) c) O usucapião especial de imóvel localizado em área urbana possui como um dos requisitos o justo título, assim considerado o documento hábil à aquisição do domínio e a boa-fé, isto é, o desconhecimento do vício que lhe impede a aquisição do bem. ( ) d) No usucapião rural, o possuidor deve ser pessoa física ou jurídica que houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo, ou seja, que retire da terra a sua subsistência ou que torne a terra produtiva com atividade agrícola, extrativa ou agroindustrial. 20