Caracterização polínica e física de méis de Apis mellifera produzidos na área urbana e zona rural do município de Campo Mourão Paraná

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO POLÍNICA, FÍSICA E ORGANOLÉPTICA DE MÉIS COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO - PARANÁ

Caracterização polínica, física e organoléptica de méis de Apis mellifera produzidos e comercializados no estado do Paraná

DIFERENCIAÇÃO POLÍNICA E DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS DE MÉIS COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE CAMPO MOURÃO PR

MÉTODO PRODUTIVO DA ABELHA JATAÍ

Espectro polínico de amostras de mel de meliponíneos provenientes do Estado do Paraná

¹Acadêmicos do Curso de Engenharia Ambiental UTFPR. Campus Campo Mourão Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR BR 369 km 0,5

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Meio-Norte. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Perfil Polínico do Mel de Melipona scutellaris

Produção do mel 29/10/2010

18/10 a 09/11 de 2016 Câmpus de Gurupi, Araguaína e Palmas

MELISSOPALINOLOGIA. Pólen de Asteraceae

Identificação botânica do pólen encontrado em amostras de mel de Apis mellifera L. produzido no município de Bonito-MS

AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DO MEL E PREPARO DO PÓLEN COMO AGENTE DE CRISTALIZAÇÃO

MANEJO RACIONAL DE ABELHAS AFRICANIZADAS

Fontes do Mel. Fontes naturais do mel. Néctar (Honeydew)(Cana de açúcar

IDENTIFICAÇÃO E SAZONALIDADE DE TIPOS POLÍNICOS DE IMPORTÂNCIA APÍCOLA NO PERÍODO CHUVOSO, NO ECÓTONO CERRADO AMAZÔNIA.

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE UBERABA

CRIAÇÃO DE ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO (MELIPONICULTURA) NO MUNICÍPIO DE VISTA GAÚCHA. DIOGO CANSI

PRODUTIVIDADE DAS COLMEIAS DE

VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE MÉIS PRODUZIDOS E COMERCIALIZADOS NO SERTÃO PARAIBANO.

Ciência Rural, Tipos Santa polínicos Maria, encontrados Online em colônias de abelhas africanizadas sujeitas à doença cria ensacada brasileira.

Escola Superior de Agricultura "Luiz de. * Trabalho realizado com subvenção concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Meio-Norte. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

QUALIDADE DO MEL EM COMUNIDADES RURAIS NO SEMIÁRIDO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Subamostragem de pólen apícola para análise melissopalinológica

ANÁLISE POLÍNICA DE ALGUMAS AMOSTRAS DE PRÓPOLIS DO BRASIL MERIDIONAL 1

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Meio-Norte. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ELABORAÇÃO DE VINAGRE UTILIZANDO MEL DE ABELHA (APIS MELLIFERA) EXCEDENTE DE PRODUÇÃO

Recursos Alimentares de Apis mellifera em Diferentes Apiários Sergipanos

AVALIAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO MEL DE APIS MELLIFERA PRODUZIDO NA REGIÃO DE SINOP/MT

INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL ENERGÉTICA NA MANUTENÇÃO DE ENXAMES DE

FLORA APÍCOLA EM ÁREA DE CAATINGA, SERRA TALHADA-PE. Apresentação: Pôster

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MEL PRODUZIDO EM SANTO ANTÔNIO DO TAUÁ

Como ter sucesso em empreendimentos apícolas. Manoel Eduardo Tavares Ferreira Apis Flora

BOTÂNICA E FISIOLOGIA VEGETAL

Tipos polínicos em amostras de méis de abelhas sem ferrão de municípios do semiárido baiano

DETERMINAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS PRODUZIDOS EM PEQUENAS COMUNIDADES RURAIS DO INTERIOR DA PARAÍBA.

PRODUÇÃO DE RAINHAS DE Apis mellifera E GELÉIA REAL

MANEJO E SELEÇÃO GENÉTICA DE Apis mellifera NO MACIÇO DE BATURITÉ

INTRODUÇÃO. Sílvio José Reis da SILVA 1, Maria Lúcia ABSY 2

Ciência Viva Estágio de Apicultura

CONTROLE DE ABELHAS EM ÁREAS URBANAS

Mel e própolis. Casos de sucesso de produtores rurais que processam alimentos artesanais e tradicionais

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO UFERSA DISCIPLINA: INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

FONTES DE PÓLEN UTILIZADAS POR Apis mellifera LATREILLE NA REGIÃO SEMIÁRIDA. POLLEN SOURCES USED BY Apis mellifera LATREILLE IN THE SEMIARID REGION

CARACTERÍSTICAS POLÍNICAS DE MÉIS DE Apis mellifera L., 1758 (HYMENOPTERA, APIDAE, APINI) DO LITORAL NORTE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL RESUMO

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO MEL DE ABELHA Apis mellifera DO SERTÃO PARAIBANO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO MEL DE DIFERENTES ESPÉCIES DE ABELHAS NATIVAS CRIADAS NA CETREVI-EPAGRI-VIDEIRA

O aumento da produtividade nas lavouras de Girassol (Helianthus annuus L.) através da polinização apícola

Palavras-chave Diversidade de espécies, famílias botânicas, semiárido.

Análise polínica comparativa e origem botânica de amostras de mel de Meliponinae (Hymenoptera, Apidae) do Brasil e da Venezuela

Anais do 1º Seminário sobre Criação de Abelhas & 1 Economia Solidária, Estado do Rio de Janeiro 2008 UFRRJ Seropédica, RJ, Brasil

Grãos de Pólen P alergógenos genos no mês de setembro, Canoas, RS. Sabrina Castelo Branco Fuchs Soraia Girardi Bauermann (orientadora)

Portaria ADAB nº 207 DE 21/11/2014

Direção Geral de Alimentação e Veterinária. Medida 2, 4 e 5 Programa Apícola Nacional Casos práticos

Cuidados a serem tomados para que produtos apícolas tenham qualidade

ELABORAÇÃO DE LICOR DE FRUTAS NATIVAS E TROPICAIS

ANÁLISES PALINOLÓGICAS DE AMOSTRAS DE SUPERFÍCIE EM ÁREA DE TRANSIÇÃO (OU ECÓTONO) NO MUNICÍPIO DE QUARAÍ NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

ORIGEM FLORAL DOS RECURSOS COLETADOS POR Melipona subnitida e Plebeia aff flavocincta (Apinae, Meliponini) EM AMBIENTE DE CAATINGA.

DETERMINAÇÃO DE CINZAS EM DIVERSOS ALIMENTOS. Brusque/SC

Pollen analysis in honey samples from the two main producing regions in the Brazilian northeast

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA, FÍSICO-QUÍMICA E PALINOLOGIA DOS MÉIS DE APIS MELLIFERA AFRICANIZADA DA REGIÃO OESTE DO PARANÁ

COMPARAÇÃO POLÍNICA ENTRE A PRÓPOLIS DOS MUNICIPIOS DE FÊNIX E PEABIRU

Palavras-chave: Captura de enxames. Abelha africanizada. Manejo de abelhas.

Recursos tróficos de Apis mellifera L. (Hymenoptera, Apidae) na região de MorroAzul do Tinguá, Estado do Rio de Janeiro.

INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA Nº 1, DE 27 DE SETEMBRO DE 2006

PROJETO COLMEIA VIVA E AS BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS

Caracterização físico-química do mel de guaranazeiro (Paullinia cupana var. sorbilis) em Alta Floresta, Mato Grosso

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO E DO CONSUMO DO AÇÚCAR CRISTAL COMO RESUMO

ELABORAÇÃO DE GELEIA TRADICIONAL E LIGHT DE GUABIROBA BRUNA NAPOLI¹; DAYANNE REGINA MENDES ANDRADE²; CRISTIANE VIEIRA HELM³

IMPLANTAÇÃO DA CASA DO MEL AOS APICULTORES DE BOTUCATU

PÓLEN DE ABELHAS INDÍGENAS SEM FERRÃO Melipona fasciculata e Melipona flavolineata: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA, MICROBIOLÓGICA E SENSORIAL.

ADIÇÃO DE FIBRA DE CÔCO MACAÚBA (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd) NA PRODUÇÃO DE RICOTA

ESTUDOS DE PALINOLOGIA EM ÁREA DE MATA ATLÂNTICA COMO SUPORTE PARA MANEJO AMBIENTAL: PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA, RIO DE JANEIRO

Plantas Visitadas por Abelhas Africanizadas na Região Sul do Tocantins

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE PROCESSO PARA OBTENÇÃO DE MEL CO- CRISTALIZADO COM SACAROSE

Profª Me. Tatiane da Silva Poló

DIVERSIDADE POLÍNICA COLETADA POR TETRAGONISCA ANGUSTULA LATRIELLE (HYMENOPTERA) EM ÁREA URBANA DE ALEGRE, ES.

Aethina tumida: O que aprendemos? O que melhorar?

ROTULAGEM NUTRICIONAL DO QUEIJO DE COALHO DE COMERCIALIZADO NO ESTADO DE PERNAMBUCO. Apresentação: Pôster

INSTRUÇÃO NORMATIVA INTERMINISTERIAL Nº 1, DE 1º DE ABRIL DE 2004

Análise palinológica de geoprópolis do Brasil, da Bolívia e Venezuela: uma revisão

PRODUÇÃO DE HIDROMEL A PARTIR DE BLENDS DE MÉIS DE ABELHAS NATIVAS DA AMAZÔNIA ORIENTAL

PALINOLOGIA E A INTERAÇÃO PLANTA-ABELHA: REVISÃO DE LITERATURA

Validação de Métodos Baseados em Visão Computacional para Automação da Identificação e Contagem de Grãos de Pólen

O posicionamento do conjunto dos órgãos próprios dos Ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego explicita que:

AVALIAÇÃO DO MEL COMERCIALIZADO NO SUL DO BRASIL E NO URUGUAI 1. INTRODUÇÃO

IDENTIFICAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE MEL DE ABELHAS Apis mellifera DO SERTÃO PARAIBANO.

PAN Medida 6 Investigação Aplicada

A COLEÇÃO DE FRUTOS (CARPOTECA) DO HERBÁRIO HUPG

Código Sanitário para Animais Terrestres Versão em português baseada na versão original em inglês de Versão não oficial (OIE)

Origem botânica de cargas de pólen de colmeias de abelhas africanizadas em Piracicaba, SP

A APICULTURA NO ASSENTAMENTO ESTRELA: PLANEJAMENTO PARA OBTENÇÃO DA CERTIFICAÇÃO PELO SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL (S.I.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

O pólen coletado pelas abelhas sem ferrão (Anthophila, Meliponinae)

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA APICULTURA PARA PRODUTORES DE MÉIS DO MUNICÍPIO DE POÇO DE JOSÉ DE MOURA PB

Análise palinológica de amostras de mel de Apis mellifera L. produzidas no estado da Bahia

Identificação computadorizada de tipos polínicos através de Bag of Words

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

UTILIZAÇÃO DE IMAGENS AÉREAS OBTIDAS VIA SATÉLITE AUXILIANDO NA ESCOLHA DO LOCAL PARA IMPLANTAÇÃO DE UM APIÁRIO

Transcrição:

Caracterização polínica e física de méis de Apis mellifera produzidos na área urbana e zona rural do município de Campo Mourão Paraná Dandara Carlessi do Nascimento 1 (EPA, PIC, UNESPAR/FECILCAM) dandaa_ra@hotmail.com Mauro Parolin 2 (DPG, UNESPAR/FECILCAM) mauroparolin@gmail.com Resumo: As características físicas e sensoriais do mel são totalmente influenciadas pelas espécies botânicas utilizadas pelas abelhas para sua fabricação. Nos meses de novembro de 2011 e 2012, o Laboratório de Estudos Paleoambientais da Fecilcam, recebeu duas amostras de méis produzidos por Apis mellifera no sitio urbano de Campo Mourão. Diante desse fato, verificou-se como se daria a constituição polínica dos méis produzidos em áreas urbanas em relação à zona rural. Nesse sentido as duas amostras foram comparadas com uma amostra de mel produzido em área rural na mesma época. Para a extração dos grãos de pólen e montagem das lâminas de microscopia, os méis foram aquecidos em acetólise. A análise polínica foi realizada quantitativamente em três lâminas de microscopia. Sendo utilizado para a quantificação o software Tilia Graph. A amostra que apresentou maior concentração polínica foi a Amostra A 874 grãos. A Amostra B apresentou 54 grãos de pólen, e a Amostra C 258 grãos. Além da quantificação polínica foram feitos testes físicos nos méis, que indicaram bons resultados e conformidade com os padrões impostos pela Instrução Normativa da ANVISA n 11, de 20 de Outubro de 2000. Palavras-chave: Melissopalinologia; Espectro polínico; Grãos de pólen. 1. Introdução O mel, produto alimentício produzido pelas abelhas, com aspecto viscoso, aromático e açucarado, é obtido através do néctar das flores ou exsudatos sacarínicos, os quais são combinados e misturados com substâncias do próprio organismo das abelhas (LIANDA e CASTRO, 2008). Ao coletarem o néctar das flores, as abelhas coletam também o pólen, o qual é regurgitado nos alvéolos melíferos e aparece preservado no mel, tornando possível a identificação das espécies botânicas utilizadas pelas abelhas para sua fabricação (BARTH, 1989). A melissopalinologia é o estudo dos grãos de pólen em produtos apícolas (BAUERMANN, 2006) o qual compõe um dos principais indicadores da origem botânica e geográfica do mel (BARTH, 1989), sendo esses dois fatores responsáveis por suas características químicas, físicas e organolépticas (CRANE, 1983). O espectro polínico do mel (levantamento palinológico quantitativo e qualitativo de uma amostra), diz respeito às plantas produtoras de néctar (nectaríferas), as plantas que produzem apenas pólen (poliníferas), e as 1 Acadêmica do curso de Engenharia de Produção Agroindustrial e participante do Programa de Iniciação Científica (PIC) pela Universidade Estadual do Paraná Campus Campo Mourão (UNESPAR/FECILCAM). 2 Professor Doutor do Departamento de Geografia (DPG) da Unespar/Fecilcam.

plantas que produzem tanto néctar quanto pólen (nectaríferas-poliníferas) (BARTH, 2004). Conforme o seu espectro polínico, o mel pode ser classificado em monofloral ou multifloral. Os méis monoflorais procedem de flores de uma mesma família, gênero ou espécie, contendo mais que 45% de pólen dominante, e características físico-químicas e organolépticas próprias. Já os méis multiflorais são obtidos de diferentes origens botânicas, e não possuem pólen dominante (BARTH, 1989). Dependendo ainda da estação climática e da localização da colmeia, as abelhas podem ter dificuldade para encontrar plantas em estágio de florescimento, fazendo com que as mesmas busquem alimento em outras fontes e, consequentemente produzam méis com uma composição polínica restrita e características organolépticas pouco pronunciadas (SOFIA e BEGO, 1996). É ainda de senso comum que os méis oriundos de áreas silvestres trazem consigo maior valor comercial do que aqueles que foram produzidos próximos às atividades agropastoris, fato relacionado principalmente à possibilidade de contaminação por agrotóxicos e ou plantas geneticamente modificadas. Desta forma, com o intuito de conhecer melhor a flora apícola, a qualidade e a composição polínica de méis produzidos em áreas urbanas e zonas rurais do município de Campo Mourão Paraná, foram realizadas análises polínicas e testes físicos em três amostras de méis produzidos por Apis mellifera. O estudo realizado contribui para a caracterização dos méis produzidos no município de Campo Mourão Paraná, bem como a relação entre a composição polínica e as características físicas de méis produzidos em áreas urbanas e zonas rurais, a qual pode variar de acordo com a quantidade e tipos de famílias botânicas utilizadas na fabricação do mel. O artigo está estruturado em quatro partes. Após a contextualização e ambientalização da pesquisa, apresenta-se a metodologia utilizada para a realização dos procedimentos laboratoriais. Na terceira parte, apresentam-se os resultados obtidos a partir da quantificação polínica e testes físicos realizados nas três amostras de méis. Por fim, tem-se as considerações finais. 2. Material e Métodos Foram analisadas três amostras de méis produzidos por A. melífera, uma amostra coletada no mês de novembro de 2011 e duas amostras coletadas no mês de novembro de 2012 no Município de Campo Mourão Paraná, sendo duas amostras coletadas no sítio urbano e uma na zona rural, as amostras foram denominadas A, B e C respectivamente (Figura 1). Vale ressaltar que a localização das colmeias urbanas são diferenciadas, a colmeia A esta próxima a zona rural enquanto que a colmeia B localiza-se na área central da cidade. As duas colmeias instalaram-se nesses locais naturalmente, não sendo, portanto alvo de atividade ligada à apicultura, e, por conta desse fato, bem como da sua localização foram transferidas para um apiário da região. Durante o processo de transferência das colmeias para outro local, o apicultor responsável (Gilson Roberto Olah) entrou em contato com o Laboratório de Estudos Paleoambientais da Fecilcam (Lepafe), oferecendo o mel que as abelhas tinham produzido até então. Segundo informações desse mesmo apicultor as colmeia A estava a pelo menos 4 meses no local, enquanto que a B a cerca de 6 meses. 2

A colmeia C esta localizada em área rural próxima a cidade (Figura 1), sendo esta pertencente ao rol de colmeias do apicultor Gilson Roberto Olah. Figura 1. Imagem de satélite da cidade de Campo Mourão/PR, com destaque para a localização das colmeias analisadas. Fonte: Google Earth. As amostras de méis passaram pela técnica padrão de Loveaux et al. (1978), dissolvendo-se 10g de mel em 20ml de água destilada, passando por acetólise com ácido sulfúrico mais ácido glacial acético na proporção de 1 para 7 respectivamente. Em seguida as amostras passaram por centrifugação as lâminas do sedimento montadas com Entellan. Adotou-se para a análise polínica dos méis a análise quantitativa, que abrange todos os grãos de pólen contidos em cada lâmina de microscopia, bem como as relações entre diferentes grupos polínicos (BARTH, 1989), uma vez que a presença ou ausência de determinados grupos polínicos podem valoriza-lo ou desvaloriza-lo. Para cada amostra de mel foram analisadas quantitativamente três lâminas de microscopia, sendo utilizado para a quantificação o software Tilia Graph. Os tipos polínicos destas lâminas foram identificados de acordo com dados da literatura especializada, tais como: Salgado-Labouriau (1973), Barth et al. (1976), Melhem et al. (1993), e comparadas às lâminas da Palinoteca do Lepafe. As amostras passaram também por testes físicos de umidade e teor de cinzas (minerais), os quais foram realizados para averiguar se os méis analisados estão em conformidade com os padrões de qualidade impostos pela Agência Nacional de Vigilancia Sanitaria (ANVISA) Instrução Normativa n 11, de 20 de outubro de 2000, do Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel. A análise do teor de umidade foi realizada via refratômetro. Já para o teste do teor de minerais foi pesado 10g de mel em uma cápsula de porcelana, sendo o mel aquecido até o intumescimento e deixado em mufla por 4 horas a uma temperatura de 450 C. 3

3. Resultados e Discussão Foram encontrados 29 tipos polínicos dentre as três amostras analisadas (Figura 2), pertencentes a 21 famílias polínicas sendo Asteraceae, Fabaceae, Myrtaceae e Poaceae as famílias com mais espécies representadas. Figura 2. Gráfico quantitativo dos grãos de pólen encontrados em três amostras de méis no município de Campo Mourão Paraná. Algumas espécies botânicas como Senécio brasiliensis (Asteraceae) e Lantana camara (Verbenaceae) apresentaram elevada concentração polínica e foram quantificadas nas três 4

amostras de méis, de acordo com Braga et al. (2012), essas duas espécies são plantas nativas da região de Campo Mourão, e apresentam potencial apícola, o que justifica a grande representatividade das mesmas nos méis. Pode-se observar a partir da figura 2, que embora as amostras B e C tenham apresentado uma baixa concentração polínica em relação a Amostra A, todas as amostras apresentaram grande diversidade de famílias polínicas em sua composição, tornando possível a classificação dos méis em monoflorais ou multiflorais, conforme a quantidade de pólens dominantes em cada amostra (Tabela 1). Tabela 1. Quantificação de pólens e classificação dos méis de acordo com o pólen dominante. Amostra Quantidade de Famílias Polínicas Quantidade de Grãos de Pólen Classificação do Mel Pólen Dominante A 21 874 Multifloral -- B 09 54 Multifloral -- C 13 258 Monofloral Lantana camara (Verbenaceae) Apenas a Amostras C apresentou pólens dominantes, nas proporções de 46%, sendo o mel monofloral de Lantana camara (Verbenaceae), uma planta nativa da região de Campo Mourão. Já a grande diferença entre a concentração polínica das amostras, pode ter acontecido devido a diferença de localização entre as colmeias. Conforme Sofia e Bego (1996), as divergências polínicas podem acontecer pelas diferentes localizações das colmeias, uma vez que as vegetações de cada região estão em constantes modificações e variam sua florada anualmente. E também devido à falta de plantas fornecedoras de pólen as abelhas podem ter buscado seus alimentos em sobras de refrigerantes, sorvetes, sucos e outros. Ou terem a disposição apenas plantas nectaríferas ou anemófilas. Diferindo assim, a disponibilidade de espécies botânicas em estágio de florescimento para a coleta de néctar e pólen pelas abelhas e consequentemente indicando a preferência das abelhas A. mellifera por determinados tipos polínicos (Figura 3). 5

Figura 3. A- Ruelia angustiflora (Acanthaceae); B- Apocynaceae; C- Arecaceae; D- Bidens pilosa (Asteraceae); E- Senecio brasiliensis (Asteraceae); F- Leucaena leucocephala (Fabaceae); G- (Fabaceae) Mimosoideae (Fabaceae); H- Myrtaceae; I- Oleaceae; J- Poaceae; K- Solanaceae; L- (Verbenaceae) Lantana câmara (Verbenaceae). Em relação aos testes físicos realizados nas três amostras (Tabela 2), de modo geral obteve-se bons resultados, uma vez que dois destes méis não pertenciam a atividades ligadas a apicultura, portanto os mesmos não foram fabricados e coletados para fins comerciais. 6

Tabela 2. Teor de umidade e de cinzas de três amostras de méis produzidos por A. mellifera no município de Campo Mourão, PR. Amostra Teor de umidade Teor de minerais A 7% 3,% B 19% 0,01% C 15% 0,3% Conforme os dados da Tabela 2 pode-se observar que em relação ao teor de umidade, todas as amostras estão conforme os padrões estabelecidos no Regulamente técnico de identidade e qualidade do mel estabelecido pela ANVISA, o qual permite no máximo 20% de umidade. Já quanto ao teor de minerais a Amostra A não esta em conformidade com os padrões estabelecidos, uma vez que o valor percentual máximo de minerais é de 0,6%. O elevado teor de minerais da Amostra A, pode estar relacionado com a elevada concentração polínica da amostra, uma vez que méis com concentração polínica muita elevada tendem a baixos teores de umidade e elevados teores de minerais. 4. Conclusão As famílias Asteraceae, Fabaceae, Myrtaceae e Poaceae, se destacaram por apresentar maior número de espécies visitadas por A. mellifera, abrangendo 43% do total de plantas visitadas, mostrando o potencial apícola e a preferência das abelhas para estas espécies. A Amostra A coletada em área urbanizada do município de Campo Mourão em 2011, foi a que apresentou maior concentração polínica, entretanto foi também a amostra que apresentou o menor teor de umidade e o maior teor de minerais, fato estes relacionados à elevada concentração polínica e as espécies botânicas utilizadas na fabricação dos mesmos, uma vez que as características físicas do mel estão diretamente ligadas a esses dois fatores. Já as amostras B e C (54 e 250 grãos de pólen respectivamente) coletadas no ano de 2012, uma em área urbana e outra em área rural, concomitantemente, apresentaram uma concentração polínica mais restrita, que teve influência direta nas características físicas das duas amostras, tendo as mesmas maior teor de umidade e menor teor de minerais em relação a Amostra A, a qual foi a única não conforme com todos os padrões estabelecidos pelo Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel. Cabe ressaltar que das três amostras analisadas apenas a Amostra C faz parte de atividades relacionadas a apicultura, portanto as amostras A e B por não pertencerem a atividades ligadas a apicultura, também não são destinadas a comercialização. O conhecimento da composição polínica e física dos méis constitui uma importante ferramenta para os apicultores do município de Campo Mourão, orientando-os às espécies disponíveis próximas aos apiários e da preferência das abelhas por determinadas famílias botânicas. Referências BARTH, O. M. O pólen no mel brasileiro. Gráfica Luxor: Rio de Janeiro, 1989. BARTH, O.M; BARBOSA, C.R.S; MACIEIRA, E. G. Morfologia do pólen anemófilo e alergizante no Brasil, II. Polygonaceae, Amaranthaceae, Chenopodiaceae, Leguminosae, Euphorbiaceae e Myrtaceae. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 1976. 7

BAUERMANN, S. G. (org.). Grãos de Pólen: uso e aplicações. Canoas: ULBRA, 2006. Disponível em: <http://www.ulbra.br/palinologia/graosdepolem.pdf> Acesso em: 02 Jun. 2013. BRAGA, L. S. et al. Plantas apícolas nativas da região de Campo Mourão PR. 2012. Disponível em: <www.sei.utfpr.edu.br/sei_anais/trabalhos/comunicação_oral?sala%20d/plantas%20apícolas%20nati VAS%DA%20REGIÃO%20DE%20CAMPO%20mOURÃO-PR.pdf> Acesso em: 15 mar. 2013 BRASIL. Instrução Normativa n 11, de 20 de outubro de 2000. Estabelece o regulamento técnico de identidade e qualidade do mel. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 23 out. 2000. Seção 1, p.16-17. CRANE, E. O livro do mel. São Paulo: NOEL, 1983. LIANDA, R. L. P. & CASTRO, R. N. Isolamento e identificação da morina em mel brasileiro de Apis mellifera. Química Nova, 2008. LOUVEAUX, J.; MAURIZIO, A.; VORWOHL, G. Methods of melissopalynology. Bee World, 59: (1978). 139-157. MODESTA, R. C. D. A cor do mel. Viçosa, 2007. Disponível em: <www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=23565> Acesso em: 18 jul. 2013. SALGADO-LABORIAU, M.L. Cotribuição à palinologia dos cerrados. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 1973. 291p. SOFIA, S.E. & BEGO, R.L. As abelhas da família Apidae em suas visitas às flores do Campus da USP, Ribeirão Preto, SP. In: Encontro sobre abelhas, 2., 1996. Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, 1996. p. 339. 8